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Oeste de Castela e Leão - Parte II - Centro-Norte da Espanha - 2009

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 1 de abr. de 2021
  • 16 min de leitura

Atualizado: 20 de mai. de 2021


Convento de San Esteban, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Saímos de Zamora e nos dirigimos a Salamanca.


a - Salamanca


Salamanca é muito conhecida internacionalmente pela sua universidade. Além disso, é umas das cidades que mais conserva edifícios com arquitetura renascentista plateresca.


Há vestígios arqueológicos que apontam que o lugar já era ocupado por volta do final da Idade do Bronze. Há relatos também de que a cidade dos vetões (celtiberos), conhecida como Helmántica, por volta de 220 a. C., foi sitiada e conquistada pelo grande general cartaginês Aníbal. Após o final da II Guerra Púnica (Roma x Cartago), os vitoriosos romanos a ocuparam, chamando-a de Salmantica, anexando-a à Província de Lusitânia.


A cidade cresceu de importância quando a Vía de la Plata, que ligava Asturica Augusta (Astorga) a Emerita Augusta (Mérida), cruzou seu perímetro, o que tornou a "calzada de la Plata" o eixo de ordenação da urbe, e a cidade em um grande centro comercial da época. Os romanos ainda construíram uma ponte sobre o rio Tormes, permitindo um acesso seco ao sul da Lusitânia, e uma muralha.


Com a derrocada do Império Romano do Ocidente, a região foi ocupada pelo alanos e posteriormente pelo Reino dos Visigodos, até sua tomada, por volta de 714, pelos mouros, comandados pelo caudilho militar Musa ibn Nusair. Apesar da vitória, a zona ficou como terra de ninguém, assediada por cristãos e muçulmanos alternadamente, o que levou a seu despovoamento. O lugar somente voltaria a ser ocupado de forma estável após a batalha de Simancas, em 939, por tropas de Ramiro II de Leão.


Em 1102, Raimundo de Borgonha (genro de Alfonso VI de Leão e primo-irmão de Henrique de Borgonha, este, por sua vez, pai de Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal), por ordem de Alfonso VI de Leão, trouxe vários imigrantes para fortalecer o repovoamento de Salamanca, dentre eles francos, castelhanos, serranos (da Extremadura), torenses (habitantes da região de Toro), moçárabes (população cristã que vivia na Andaluzia muçulmana), portucalenses (oriundos do condado de Portucale) e bragantinos (habitantes da região de Bragança).


Em Salamanca nasceu Alfonso XI, o Justiceiro, Rei de Castela e Leão, e que conquistou Gibraltar.


Foi em Salamanca que se publicou a primeira gramática da língua castelhana (espanhol), em 1492, por Antonio de Nebrija. Aqui, Cristóvão Colombo, durante a apresentação de seu projeto de navegação que redundaria no Descobrimento da América, contou com o apoio dos monges dominicanos, que o hospedaram no Convento de San Esteban. Fernão Cortez, conquistador do Império Inca, estudou em Salamanca. No Concílio de Trento, os matemáticos da Universidade de Salamanca propuseram ao papa Gregório XIII o calendário que hoje é empregado no mundo inteiro, chamado, por isso, de gregoriano.


A Ponte Romana, segundo algumas versões, dataria do sec. I a.C., quando a Vía de la Plata havia sido finalizada. Quatorzes arcos da ponte, os mais próximos da cidade, na margem direita do rio Tormes, são originalmente romanos. Hoje, serve apenas para passagem de pedestres e animais.


A Ponte Romana de Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Quase todas os povoados da Espanha se desenvolveram ao redor de uma "plaza mayor". Tinha mais função de centro da vida local do que de praça de mercado. No seu entorno, levantavam-se a igreja, a prefeitura, lojas e mansões aristocráticas.


A Plaza Mayor de Salamanca foi construída entre 1729 e 1756, em estilo barroco, com o projeto do arquiteto Alberto Churriguera. Embora tenha um formato de um quadrilátero irregular, ela é harmoniosa e é uma das praças mais importantes da Espanha.


Plaza Mayor, ao fundo, Pavilhão Real, onde está a Casa Consistorial (Ayuntamiento), Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Uma coisa interessante em Salamanca é que ela possui duas catedrais. A primeira, conhecida como Catedral Velha (de Santa María), foi construída entre os séculos XII e XIII e tem estilo românico. Mas, ao invés de destruí-la para construir outra, os salmantinos ergueram entre os séculos XVI e XVIII, em estilo gótico, com alterações posteriores renascentistas e barrocas, a Catedral Nova (de la Asunción de la Virgen), ao lado da anterior, mantendo as duas. Hoje, para acessar a velha, que ficou escondida, tem que passar pela nova.

Claustro da Catedral Velha, reconstruído após o terremoto de Lisboa, em 1755, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Zimbório da Catedral Nova, construído em estilo neoclássico, em substituição ao anterior, barroco, que foi danificado durante o terremoto de Lisboa, em 1755. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Órgão do Evangelho, estilo barroco, 1744, Mestre Pedro Echaverría, Catedral Nova, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Capela de Nuestra Señora de la Soledad, retábulo barroco com anjos de Joaquín de Churriguera, imagem de N. S. de Soledade esculpida por Mariano Benlliure em 1943, Catedral Nova, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Fachada principal da Catedral Nova, estilo barroco, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Portada del Nacimiento, na qual se destacam os relevos das cenas do Nascimento e da Epifania, tudo coberto por um grande arco cônico que é culminado por um Calvário, flanqueado por São Pedro e São Paulo (como se pode observar na fotografia anterior), Catedral Nova, Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


O embrião da Universidade de Salamanca foi uma instituição chamada Estudio General (Estudo Geral), status outorgado por Alfonso IX de Leão, em 1218. Passou a ostentar o título de Universidade pela real cédula de Alfonso X de Castela e Leão, em 1252.


O edifício mais famoso da Universidade é conhecido como Escolas Maiores. A fachada é do século XVI, estilo renascentista (plateresco), atribuída a Juan Talavera.

Fachada da Universidade de Salamanca: no primeiro corpo (embaixo) tem-se o medalhão dos Reis Católicos que seguram o mesmo cetro, e, sobre suas cabeças, o "jugo" de Fernando e as "flechas" de Isabel; no segundo corpo (médio), central, o escudo de Carlos V sob uma esplendorosa coroa, à direita, a águia de São João e dos Reis Católicos, à esquerda, a águia bicéfala do Sacro Império Romano-Germânico; no terceiro corpo (superior), há uma capelinha que se diz dedicada ao Papa Bento XIII ou ao Papa Martinho V. Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


A Casa de las Conchas foi construída entre 1493 e 1517, em estilo gótico tardio, mas sofreu mudanças no tempo com características renascentistas (platerescas). O dono inicial foi Rodrigo Maldonado de Talavera, cavaleiro da Ordem de Santiago, por isso as conchas, mais de 300 na fachada, que são o símbolo do santo. Mas há outra versão; o filho dele, Rodrigo Arias Maldonado, herdeiro da casa, teria esposado Juana Pimentel, cujo símbolo nobiliárquico da família seria composto por conchas. Outra característica interessante da fachada são as janelas, nenhuma igual a outra, conforme o gótico espanhol. Hoje, no prédio, funciona uma biblioteca pública.


Casa de las Conchas, em destaque, sobre a porta, o escudo dos Maldonado, composto de cinco flores de lis. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


O atual Convento de San Esteban teve seu início em 1524 e foi concluído em 1610, com planta de Juan de Ávala, também conhecido como Juan de Ibarra. Por conta do tempo de construção, é uma mescla dos estilos gótico tardio, renascentista (plateresco) e barroco. Mas o predomínio é do plateresco.


Diz-se que, durante a apresentação de seu projeto de navegação marítima aos dirigentes da Espanha, que durou anos e redundou com a Descoberta da América, Cristóvão Colombo, na sua estadia em Salamanca, entre 2 de novembro de 1486 e 30 de janeiro de 1487, teria sido auxiliado pelos dominicanos do Convento de San Esteban, lhe fornecendo alojamento e alimentação na instituição. É claro que não é o atual edifício, mas o primitivo, que foi demolido para a construção do novo.


Iglesia del Convento de San Esteban; a fachada toda se constitui numa tapeçaria renascentista em pedra, enquadrada por um grande arco triunfal, cuja abóbada de berço traz uma decoração interna em caixotões de estilo milanês; a parte superior, apartada da inferior por finíssimos relevos, está centrada em torno de um Calvário do escultor Juan Antonio Ceroni, início do séc. XVII, flanqueado por São Pedro e São Paulo; no centro, se destaca o "Martírio de San Esteban", patrono da igreja, também obra de Ceroni, ao redor do qual convergem, servindo-lhe de cortejo triunfal, estátuas de santos e beatos, em sua maioria da Ordem Dominica. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


O retábulo do altar-mor foi feito entre os anos 1691-93, estilo barroco, pelo famoso escultor José Churriguera. Houve influência do Concílio de Trento, ao qual assistiram vários teólogos do convento, e, em razão disso, os freis decidiram dedicar o retábulo central de sua igreja à Eucaristia. Um dos mais monumentais retábulos barrocos tipicamente espanhóis.


Retábulo do altar-mor da Iglesia del Convento de San Estaban; José Churriguera colocou no meio do retábulo um grande repositório do Santíssimo Sacramento e, no entorno, seis grandes colunas salomônicas pelas quais sobem parreiras com grandes folhas e belos cachos: a videira como imagem do Sangue de Cristo. Entre as colunas, encontram-se as estátuas de São Francisco de Assis e de São Domingos de Gusmão. No alto, a pintura de Claudio Coello representando o Martírio de San Esteban. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Para os dominicanos (Ordem dos Pregadores), a oração comunitária é muito importante. Para isso, eles se reuniam duas vezes no coro, pela manhã e à tarde, seguindo a Liturgia das Horas, para unir seus corações a Deus. Na oração, os monges louvavam e agradeciam a seu Criador e Salvador por tudo que Ele dava aos humanos e lhe pediam pelo bem da humanidade.


Coro da Iglesia del Convento de San Esteban; está assentado sobre um arco escarzano com uma balaustrada de pedra. O conjunto de cadeiras dos monges é obra de Alonso de Balbás, terminado em 1655 em estilo clássico. O atril (estante de madeira destinada ao apoio reclinado de livros), que fica no meio do coro, é obra de Juan de Mondravilla, peça fantástica, não somente por seu tamanho, mas também pela execução da talha. No alto, se destaca a pintura do Triunfo de la Iglesia, de Antonio Palomino. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


O Claustro do Convento de San Esteban foi iniciado em 1528 e terminado em 1544, tendo como autor o Frei Martin de Santiago, religioso do convento. Possui dois pisos: o inferior, desenhado para celebrar procissões; o superior, tem um fim mais funcional, servindo para comunicar diferentes partes do convento.


Claustro de Procesiones o de los Reyes; a planta baixa mescla elementos góticos e renascentistas. Os arcos que o separam do jardim são de meio ponto, renascentistas, mas com modelo gótico, posto que estão divididos por três mainéis (colunas). No centro, um templete. Salamanca, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Em Salamanca, fomos a Calle Meléndez para jantar e experimentamos coelho com batatas fritas. Diferente, mas é bom.


Conejo con papas (coelho com batatas), Calle Meléndez, Salamanca, Distrito de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Vamos à Sierra de Francia.


b - Sierra de Francia


A Sierra de Francia fica a sudoeste de Salamanca e as estradas são estreitas e cruzam espessos bosques de castanheiros, campos de oliveiras e amêndoas, passando por pequenos e belos povoados de pedra e madeira. Quando entrávamos nos povoados, era como se voltássemos no tempo, como se mergulhássemos em uma aldeia europeia da Idade Media.


No dia em que fomos, estava muito quente; chegamos a pegar mais de 40 graus na serra.


O Santuario de Nuestra Señora de la Peña de Francia foi construído, no séc. XV, no alto da Peña de Francia, que alcança 1727 metros acima do nível do mar, para abrigar uma imagem negra da Virgem, encontrada pelo francês Simón Vela em 1434. A imagem atual foi esculpida em 1890 em substituição a original, que, após um roubo, voltou bem deteriorada. Os restos da imagem original foram guardados no interior da atual. A estrada da subida é bem sinuosa e, muitas vezes, íngreme.


Santuario de Nuestra Señora de la Peña de Francia, Sierra de Francia Castela e Leão, Espanha.


Iglesia de la Virgen de la Peña, Santuario de la Peña, Sierra de Francia, Castela e Leão, Espanha.


Cripta sob a Capilla de la Blanca, local no qual o francês Simón Vela encontrou a imagem da Virgen de la Peña escondida. Santuario de la Peña, Sierra de Francia, Castela e Leão, Espanha.


A vista a partir do santuário é muito bonita, dominando as planícies castelhanas do sul.


Vista das planícies castelhanas a partir da Peña de Francia, Sierra de Francia, Castela e Leão, Espanha.


De todos os povoados que nós andamos na Europa até agora, um dos mais bonitos e preservados é La Alberca. Nas ruelas estreitas e sinuosas passamos entre as casas feitas de madeira e pedra, lembrando às alemãs de enxaimel; varandas ornadas com belas flores. Uma agradável lembrança.


O nome procede da palavra hebreia "bereka" com o árabe "al", ou seja, "Al-Bereka", "lugar de águas".


Calle Tablado em La Alberca, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Calle Tablado em La Alberca; as casas vão ocupando mais espaço quando sobem, ao ponto dos telhados das casas frontais quase se tocarem; Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Plaza Mayor porticada e "los balcones" floridos; La Alberca, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


A tradição do "Marrano de San Antón": se trata de um porco que, durante as festividades de Santo Antônio, em 13 de junho, é benzido e solto pelas ruas de La Alberca até 17 de janeiro, dia em que será sorteado.


Monumento ao "Marrano de San Antón" na frente da Igreja Paroquial, séc. XVIII (Virgen de la Asunción), La Alberca, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Miranda del Castañar é um povoado da Sierra de Francia que nasceu no séc. XII com a Ordem Hospitalária de Jerusalém (Ordem de Malta).


A muralha, iniciada no séc. XIII, é completa e conserva suas quatro portas, cada uma em um ponto cardeal.


Muralha medieval preservada e Castelo, Miranda del Castañar, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Fomos a Bodega La Muralla; a proprietária nos explicou que, no passado, os vinhos eram fabricados no local. Na parte superior, havia um lagar para a extração do sumo, utilizando o processo de esmagar as uvas com os pés. Depois o líquido era armazenado em barris; quando o comerciante vinha comprar o vinho, ele não ingressava no interior da cidade; deixava o transporte ao lado da muralha, e o vinho escorria pela muralha até alcançar os depósitos dentro do veículo do comprador.


Fachada da Bodega La Muralla, Miranda del Casteñar, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Interior da Bodega La Muralla, Miranda del Castañar, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Como ninguém é de ferro, fizemos um pequeno lanche com embutidos espanhóis na praça de Miranda del Castañar.


Saboreando embutidos em Miranda del Castañar, Sierra de Francia, Província de Salamanca, Castela e Leão, Espanha.


Agora, Ávila.


c - Ávila


Situada a 1.131 metros acima do nível do mar, Ávila é a capital de província castelhana-leonesa de maior altitude, por isso suas temperaturas são baixas.


Ávila, durante a chamada "reconquista cristã", fazia parte do "deserto estratégico", no qual não havia um domínio estável seja pelos cristãos seja pelos muçulmanos.


O seu repovoamento, à semelhança de Salamanca, por ordem de Alfonso VI de Leão, se deveu a Raimundo de Borgonha, que trouxe imigrantes para ocupar o lugar, entre o final do séc. XI e início do séc. XII.


A cidade, durante a Guerra da Independência, foi ocupada pelos franceses entre os dias 4 a 7 de janeiro de 1809, por ordem do marechal francês Lefèvbre. As tropas saqueram várias igrejas, além de casas particulares, e incendiaram o matadouro.


A maior fama da cidade, pelo menos entre os brasileiros, é ter sido o berço de Santa Teresa de Ávila ou Santa Teresa de Jesús, uma das grandes doutoras da Igreja Católica, mística e reformadora.


A muralha medieval de Ávila, levantada no séc. XII, é a mais bem conservada da Europa. Mais de 2 quilômetros de perímetro reforçados por 87 torreões e 9 portas.


Puerta del Alcázar, muralha medieval, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Puerta de San Vicente, muralha medieval, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Vista da Muralha Medieval de Ávila a partir do Parque de Encarnación, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


A Catedral del Salvador de Ávila, iniciada na segunda metade do século XII, foi concebida como templo e fortaleza. Sua abside, chamada localmente de cimorro, é uma das partes da muralha da cidade, sendo considerada o tramo mais forte. A parte externa da abside (cimorro) é dotada de um reforço que aumentou seu caráter bélico no final do século XIV. Há uma lenda de que foi nesse lugar onde se mostrou Alfonso VII de Leão, quando menino, a seu padrasto Alfonso I, o Batalhador, rei de Aragão e Pamplona, pelo fato de os habitantes de Ávila não confiarem nele. Alfonso de Aragão, incomodado com a desconfiança, ordenou a morte de cerca de 60 reféns; a lenda é conhecida como "Las Hervencias".


É considerada a primeira catedral gótica da Espanha, e teve influência francesa, por isso uma certa semelhança com a Igreja-abadia de Saint-Denis.


Na catedral repousam os restos mortais do ex-premier espanhol Adolfo Suárez (Presidente del Gobierno, em espanhol) e da sua esposa. Amparo Illana. Foi Adolfo o responsável, junto com o rei Juan Carlos I, depois da morte de Franco, pelo ingresso da Espanha, entre 1976 e 1981, no concerto dos estados europeus.


A porta ocidental do templo não é original. Está conformada por uma superposição de estilos, sendo que a entrada é do gótico tardio, enquanto o arremate, do séc. XVIII, obra do arquiteto Ceferino Enríquez de la Serna, foi realizado em pedra branca, contrastando com o resto, de pedras de granito.


Porta ocidental da Catedral del Salvador de Ávila; é composta por um arco de meio ponto, decorado com medalhões e flores; sobre o arco com medalhões, vê-se um pequeno tímpano, com a representação do "Martírio de San Segundo"; ao lado, temos dois selvagens, Gog e Magog; o arremate, de pedra branca, em cima da porta, é uma grande balaustrada, tendo no centro o Salvador, flanqueado pelos santos Vicente, Sabina, Cristeta, Teresa e Segundo. Sobre a imagem do Salvador, o escudo catedralício e a escultura de São Miguel Arcanjo.


A Basílica de São Vicente fica extramuros, ou seja, fora da cerca amuralhada. De estilo românico, foi iniciada no séc. XI, mas, posteriormente, foram-lhe acrescentados elementos góticos. É Patrimônio da Humanidade.


A basílica é dedicada aos irmãos e santos mártires Vicente, Sabina e Cristeta, que, no séc. IV, no tempo do imperador Diocleciano, em razão de se recusaram a renegar a fé cristã, foram supliciados e mortos, e os corpos abandonados nas proximidades da cidade. Dizem que no local em que os corpos foram deixados, um judeu que participou do suplício, arrependido, construiu um pequeno templo, que, posteriormente, foi substituído pela basílica.


Basílica de San Vicente, estilo românico, séc. XI, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


A nave central da Basílica de San Vicente; no alto, o teto com abóbodas de cruzaria (gótico), ao fundo, o retábulo dourado do altar-mor, estilo barroco, com San Vicente no centro, flanqueado por suas irmãs Sabina e Cristeta, entre colunas salomônicas. Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Portal ocidental da Basílica de San Vicente; séc. XII; são dez imagens de apóstolos, tamanho natural, conversando dois a dois, cinco de cada lado, rodeando a figura central, Cristo; por cima das portas, há dois semicírculos onde estão representadas cenas da parábola de Lázaro e o homem rico; no entorno desse conjunto, estão arquivoltas escalonadas, decoradas com motivos florais. Sobre todo o conjunto, uma cornija de pequenos arcos contendo figuras humanas olhando para cima, representando os ressuscitados que se levantam para o Juízo Final. Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.



Os restos mortais dos mártires não se encontram no interior do túmulo comemorativo (cenotáfio), mas em urnas, no altar-mor. O cenotáfio, de pedra policromada, é uma das obras mais sobressalentes da escultura românica da Espanha e está em ótimo estado de conservação.


Cenotáfio (monumento funerário comemorativo) dos Mártires Vicente, Sabina e Cristeta; na lateral, acima, baixos-relevos com cenas do martírio dos santos, da esquerda para direita: 1) a prisão; 2) o martírio e a morte; 3) os corpos abandonados numa cova na rocha; 4) o judeu, arrependido, pedindo perdão a Deus; 5) o judeu construindo o pequeno templo para enterrá-los. Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Teresa de Cepeda y Ahumada (Santa Teresa de Jesús ou de Ávila) nasceu em Ávila, em 28 de março de 1515. Conta-se que, com apenas sete anos, fugiu de sua casa para buscar o martírio e tornar-se merecedora da santidade. Sua mãe morreu quando ela tinha treze anos, o que a teria levado a decidir pela vida monástica. Ingressou em um convento aos dezesseis anos, e tornou-se freira carmelita muito jovem, no Convento de la Encarnación de Ávila. Durante sua vida religiosa, propôs uma reforma na Ordem do Carmelo, com maior austeridade na vida cotidiana e uma nova regra interna que recuperasse a pureza primitiva da ordem. Com a ajuda de outro religioso místico, San Juan de la Cruz, alcançou seus objetivos, bem como fundou o Convento de São José, em Ávila, com voto de pobreza absoluta, flagelação, clausura, hábitos toscos e uso de sandálias simples ao invés de sapatos, por isso, Ordem das Carmelitas Descalças. Aos 45 anos, ela teve sua grande experiência mística, a Transverberação do Coração: este é transpassado por uma flecha ou um dardo, manejado por um anjo, que, ao sair, deixa uma ferida de amor que queima, enquanto a alma é elevada à contemplação do amor de Deus.


Por conta de suas posições radicais para a época, terminou por ter que se explicar com a Santa Inquisição. Vejam o trecho abaixo:


"Em consequência, mais cedo ou mais tarde, havia de chegar o momento de comparecer ante o Santo Ofício e foi em 1575 quando ocorreu. A denúncia de uma monja expulsa de um convento sevilhano permitiu qualificar Teresa de 'alumbrada' [participante de uma seita mística herege] e obrigá-la a apresentar-se pessoalmente ante o tribunal inquisitorial. O interrogatório posterior esteve ao ponto de levá-la à prisão, mas, finalmente, se pode demonstrar a fragilidade do testemunho acusador. Contudo, a supervisão eclesiástica de todos os seus atos, obras e movimentos fui mais estreita que antes. O Definitório Geral de sua ordem mandou à carmelita que se recolhesse 'presa' em um convento de sua escolha e só pode recuperar sua liberdade total quando, em 1580, o papa Gregório XIII distribuiu os carmelitas em províncias separadas" (tradução livre do espanhol - pág. 31) - "La Odisea de Teresa de Jesús", de Juan José Sánchez-Oro, Revista"Historia de Iberia Vieja" n. 118, Prisma Publicaciones S.L, Madrid, 2015.


Mas o mais impressionante, após a sua morte em 1582, foi a luta por partes de seu corpo:


"Ao morrer foi enterrada em Alba de Tormes, mas, em seguida, começaram as disputas entre monastérios por seu apreciado cadáver. Um ano depois, Jerónimo Gracián amputou-lhe uma mão para enviá-la como relíquia ao monastério das carmelitas de Ávila. No entanto, a mão não chegou completa porque Jerónimo ficou com o dedo mindinho para ele. Dois anos mais tarde, o corpo completo foi exumado e trasladado a Ávila. Para consolar da perda o convento de Alba de Tormes, ali ficou um braço da santa. Os duques de Alba não se mostraram satisfeitos e conseguiram que o papa Sixto V revogasse o traslado e regressasse ao cenóbio de seu falecimento. Assim, por um motivo ou outro, à carmelita se lhe ofereceram três enterros.


"Mas o desmembramento da religiosa continuou e hoje, em Alba de Tormes, se conserva o grosso do corpo, ainda que seu coração e seu braço esquerdo foram separados e guardados ali em relicários à parte. Por outro lado, a mão esquerda jaz em Lisboa; um pé e parte da mandíbula estão em Roma; vários dedos foram repartidos por Paris, Bruxelas ou Sevilha; pedaços de sua carne em Madri, Valladolid e Malagón; enquanto a mão inicialmente amputada é guardada em Ronda. Esta relíquia, acabada a Guerra Civil, acompanhou até sua morte o ditador Francisco Franco, que a teria depositado em um altarzinho de seu próprio dormitório do Palacio del Pardo junto a outros vestígios sagrados" (tradução livre do espanhol - pág. 29) - "La Odisea de Teresa de Jesús", de Juan José Sánchez-Oro, Revista"Historia de Iberia Vieja" n. 118, Prisma Publicaciones S.L, Madrid, 2015.


Estátua de Santa Teresa de Jesús junto à Puerta del Alcázar da muralha de Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Iglesia-convento de Santa Teresa, construída sobre a casa em que supostamente nasceu Santa Teresa de Jesús, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.



Convento de la Encarnación, no qual Santa Teresa tomou os hábitos carmelitas e passou boa parte da vida, Ávila, Província de mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.



Cadeira utilizada por San Juan de la Cruz para conversar com Santa Teresa de Jesús no Convento de la Encarnación, Ávila, Província do mesmo nome, Castela e Leão, Espanha.


Daqui fomos para a Comunidade de Madrid. Mas isto é outro post.


Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.

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