Andaluzia - Parte X - Sul da Espanha - 2009
- Roberto Caldas
- 14 de jul. de 2021
- 20 min de leitura

Painel publicitário de azulejos de 1924 para a fábrica de automóveis norte-americana Studebaker, Calle Tetuán, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
a - Sevilha
Sevilha foi um grande centro de produção de azulejos da Espanha. A arte chegou à região com os árabes, que criaram belíssimos mosaicos de formas geométricas para servir de revestimento às paredes de seus palácios, como já visto nos posts anteriores deste blog - Alhambra, em Granada, e Real Alcázar, em Sevilha. Fala-se que o nome azulejo provém do árabe az-zulayj ou az-zulaiŷ, que significa "barro vidrado" ou "ladrilho". No século XVI, foram adotadas novas técnicas que proporcionaram o emprego do azulejo em letreiros, fachadas de comércios e painéis publicitários, como vimos na fotografia acima, referente aos veículos produzidos pela Studebaker, na Calle Tetuán, em Sevilha.
A Plaza de Toros de la Maestranza, de estilo tardo-barroco, pertencente a Real Maestranza de Caballería, fica localizada no bairro El Arenal e é uma das mais antigas da Espanha, tendo sido construída entre 1761 e 1881. A praça tem lugar para 14.000 espectadores e sua arena é rodeada por uma magnífica arcada sustentada por colunas de mármore.
As origens da Real Maestranza de Caballería remonta à época da conquista de Sevilha pelo Rei Fernando III de Castela, o Santo, em 1248; os cavaleiros que o acompanhavam na empreitada formaram uma confraria ou irmandade cavaleiresca que foi a semente da Real Maestranza de Caballería de Sevilla.

Vista da Plaza de Toros de la Maestranza a partir de La Giralda da catedral. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Portal frontal da Plaza de Toros de la Maestranza, projeto de José Guerrero em estilo barroco, nas cores branca e ocre, formado por um grande arco de meio ponto ladeado por duas colunas toscanas, tendo sobre elas um balcão com balaústres arrematado por um frontão triangular. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
No Paseo de Colón, próximo à Plaza de Toros e à Real Maestranza de Caballería, foi erguido um monumento a Sua Alteza Real Dona Maria de las Mercedes de Borbón y Orleáns, mãe do Rei Juan Carlos I e avó paterna do atual Rei Felipe VI da Espanha; foi inaugurado em 22 de maio de 2008. A homenagem se deve ao fato de Dona Maria de Borbón sempre ter se declarado admiradora dos touros e de todas as tradições e festas espanholas.

Monumento a Dona Maria de las Mercedes de Borbón y Orleáns, projetado pelo escultor sevilhano Miguel García Delgado; a estátua é de bronze e nela a homenageada é representada montada a cavalo, vestida de corto (uma espécie de traje de toureiro) e coberta por um sombrero; mede 5,6 metros, incluindo o pedestal de mármore de Macael. Plaza de Toros de Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
É comum, nas praças de touros espanholas, homenagens aos grandes personagens das touradas que passaram pelo lugar; em Sevilha, tem-se a escultura de Francisco Romero López, conhecido como Curro Romero, que, em 19 de maio de 1966, cortou oito orelhas a seis touros, sendo o toureiro que mais orelhas cortou em uma tarde em la Maestranza.
Em 2001, Curro Romero foi escolhido por um corpo de jurados, formado por jornalistas e amantes da arte, como um dos 10 maiores toureiros do século XX. Em 2020, ganhou a comenda Hijo Predilecto de Andalucía, a mais alta distinção da Comunidade Autônoma da Andaluzia.

Estátua de Curro Romero, realizada pelo escultor Sebastián Santos Calero e inaugurada em 2001. Plaza de Toros de la Maestranza, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O Teatro de la Maestranza foi erguido sobre um antigo solar público que abrigava anteriormente o Cuartel de la Maestranza de Artillería; o projeto do teatro, um auditório coberto polivalente, foi dos arquitetos Aurelio del Pozo e Luis Marín, com as obras iniciando em 1987. Foi inaugurado em 1991 pela a então Rainha Sofía da Espanha. É utilizado para apresentações de óperas, música erudita e balé. O teatro relançou Sevilha, tão protagonista no repertório operístico e no desenvolvimento do flamenco, na cenário artístico mundial, ao ponto de a Unesco lhe conceder, em 2006, o título de Cidade da Música.

Entrada do Teatro de la Maestranza; a fachada do antigo Cuartel de Artillería foi preservada, vendo-se na grade de ferro da parte superior do grande arco o símbolo da Artilharia da Espanha (dois tubos de canhão do século XVIII). Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Torre de la Plata, do século XIII, fazia parte de um trecho da muralha islâmica de Sevilha que se ligava com a Torre del Oro (passando na atual Calle Santander).

Torre de la Plata, de formato octogonal, erguida no século XIII. Sevilha, Província do mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Torre del Oro foi construída na época da Dinastia Almôada, entre 1220 e 1221, completando o sistema defensivo de Sevilha, tornando-se o ponto mais importante da muralha islâmica, posto que defendia o porto, na altura da margem esquerda do rio Guadalquivir. Após a conquista cristã, a torre foi utilizada como capela dedicada a San Isidoro de Sevilla e, posteriormente, prisão. Na revolução de 1868, as muralhas foram demolidas, mas a torre foi mantida. Em 1944, passou a abrigar o Museo Marítimo, tendo recebido por volta de 400 peças do Museo Naval de Madrid. Atualmente, em exposição, têm-se instrumentos antigos de navegação, maquetes de barcos, documentos históricos e cartas náuticas.
A torre, inicialmente, era composta de dois corpos, ambos de forma dodecagonal, provavelmente construídos no século XIII. O terceiro corpo, cilíndrico e arrematado por uma cúpula dourada, foi incorporado ao edifício em 1760, conforme projeto do engenheiro militar Sebastián Van der Borcht, após o terremoto de Lisboa de 1755. Atualmente, tem 36 metros de altura.

Torre del Oro, construída entre 1220 e 1221, na época almôada, é composta de três corpos, sendo os dois primeiros de formato dodecagonal, tendo o inferior 15,20 metros de largura e três andares; o terceiro corpo, cilíndrico e com uma cúpula dourada, foi acrescentado ao conjunto em 1760. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Entrada da Torre del Oro (Museo Marítimo); ao lado da porta, dois tubos de canhão. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Maquete da Caravela de Santa María, barco utilizado por Colombo, em 1492, na sua primeira viagem à América. Museo Marítimo, Torre del Oro, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Maquete de navio espanhol em exposição no Museo Marítimo, Torre del Oro, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Mascarão (Carranca) de proa, em madeira policromada, do Iate Real "Giralda", final do século XIX, pertencente ao Rei Alfonso XIII da Espanha. Museo Marítimo, Torre del Oro, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O rio Guadalquivir tem seu nome derivado do árabe al-wādi al-kabīr, ou seja, "o rio grande".
O curso do rio Guadalquivir foi importante para o desenvolvimento de Al-Andalus, a Espanha islâmica, durante o governo da Dinastia Omíada (756-1031). Os omíadas, predominantemente urbanos, priorizaram as aglomerações humanas ao longo das terras irrigadas, proporcionadas pelas águas do rio.
"Mais uma vez, criou-se uma nova capital: Córdoba, sobre o rio Guadalquivir. O rio proporcionava o curso d'água para trazer o volume de produtos necessários à alimentação e à indústria; nas planícies em torno, os grãos e outros produtos agrícolas que a cidade precisava eram cultivados em terras irrigadas. Córdoba era um ponto de encontro de estradas, e um mercado para o intercâmbio de produtos agrícolas entre as regiões. (...)" (pág. 60) - "Uma história dos povos árabes", de Albert Hourani, tradução de Marcos Santarrita, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.
"Como na Síria, os omíadas, citadinos desde suas origens no Hedjaz, usaram seu poder para promover os interesses das aldeias e do interior colonizado. As cidades cresceram - primeiro Córdoba, depois Sevilha - sustentadas por terras irrigadas, nas quais se produzia um excedente, com técnicas importadas do Oriente Próximo. Nessas áreas, os árabes eram importantes como proprietários rurais e cultivadores, embora a maior parte da população nativa tenha permanecido. (...)." (pág. 61) - "Uma história dos povos árabes", de Albert Hourani, tradução de Marcos Santarrita, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.
"A quinta área é a península Ibérica, ou Andalus, a área que foi governada e em grande parte habitada por muçulmanos (a maior parte no século XI, mas diminuindo aos poucos até desaparecer no fim do século XV). Sob certos aspectos semelhante à Síria, consistia de pequenas regiões mais ou menos isoladas umas das outras. O centro da península é um vasto planalto cercado e cortado por cadeias de montanhas. Dali, vários rios atravessam baixadas em direção à costa; o Ebro corre para o Mediterrâneo no norte, o Tejo para o Atlântico, cortando baixadas portuguesas, e o Guadalquivir para o Atlântico mais ao sul (...) No clima quente dos vales ribeirinhos e planícies costeiras, cultivavam-se cítricos e outras frutas. Era ali, em áreas de rico cultivo e com acesso a transporte fluvial, que ficavam as grandes cidades - Córdoba e Sevilha." (pág. 111/112) - "Uma história dos povos árabes", de Albert Hourani, tradução de Marcos Santarrita, Companhia das Letras, São Paulo, 1994.

Rio Guadalquivir visto da Torre del Oro; ao fundo, em destaque, o prédio redondo da Consejería de Educación de la Junta de Andalucía. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Em destaque, a Puente de Isabel II (Puente de Triana), finalizada em 1852, que liga o centro da cidade ao bairro Triana, cruzando o rio Guadalquivir. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
No nosso post "Comunidade de Madrid - Parte II", falamos sobre os tipos de presuntos espanhóis mais conhecidos, dentre eles o considerado de melhor qualidade e sabor, o que recebe a etiqueta negra, o jamón ibérico de bellota, ou seja, feito com carne de porcos de raça pura (pata negra), criados em liberdade e alimentados somente com bolotas e pasto.
Na ocasião, esclarecemos que a bolota ou "bellota" é o fruto de árvores que pertencem à família dos carvalhos, bem como que o processo de cura do ibérico dura entre 2 a 4 anos; a carne tem um tom vivo e brilhante com muitas manchas brancas de gordura, o que lhe confere um gosto saboroso e suculento; também não é tão salgado, porém tem um cheiro bem forte e característico.
Em Sevilla, há uma casa especializada no verdadeiro jamón 100% ibérico de bellota e outros produtos também confeccionados com essa carne como paleta, lomo e salchichón: a Mesón Cinco Jotas (5J), que fica localizada na Calle Castelar, 1.
Em alguns supermercados brasileiros podemos ver pernis do 5J para venda, sempre cobertos por um pano de cor preta.

Mesón Cinco Jotas, loja vista da Calle Arfe, especializada em produtos da carne de cerdos ibéricos de bellota. Sevilla, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Jamón 100% Ibérico de Bellota
Como ninguém é de ferro, demos uma paradinha na "Confitería La Campana", que fica no cruzamento das Calles Campana e Sierpes, para repor as energias e nos refrescarmos.
Fundada em 1885, tem no seu escudo o lema "proveedor de la Real Casa". É famosa pelos seus pastéis artesanais (pastel, para os espanhóis, é uma espécie de doce, semelhante ao pastel de nata português). A casa ainda produz outras doces tradicionais da região como merengues, tortas de polvorón, lenguas de almendra e yemas sevillanas.

Confitería La Campana, confeitaria e sorveteria, uma loja de doces tradicionais sevilhanos. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Interior da Confitería La Campana, no qual se vê a grande variedade de doces, bem como as belas colunas brancas com capitéis dourados. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Calle Sierpes (rua serpentes) é a principal rua do comércio e de pedestres do bairro antigo, que comunica a Calle La Campana com a Plaza de San Francisco. Nela, as antigas chapelarias e comércios de leques e mantilhas convivem com confeitarias, lojas de roupas e de souvenires.
Durante o verão, em razão do forte calor, com temperaturas que passam, às vezes, dos 40 graus centígrados, a administração municipal cobre a Calle Sierpes com painéis de tecido para proteger os pedestres do sol abrasador.

Calle Sierpes, em direção à Calle La Campana, passeio de pedestres, coberto de painéis de tecido durante o verão. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Calle Sierpes, em direção à Calle La Campana, passeio de pedestres, coberto de painéis de tecido durante o verão. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Na Avenida de la Constitución, encontra-se o belo Edifício La Adriática, também conhecido como Edificio Renta Antigua Lopez-Brea, projetado pelo arquiteto José Espiau y Muñoz e levantado entre 1914 e 1922 para a importante Compañía de Seguros La Adriática. De arquitetura eclética, muito comum no final do século XIX e início do século XX, no prédio são combinados elementos de inspiração islâmica com outros de estilo plateresco (renascentista) e regionalista.

Edifício La Adriática, na Avenida de la Constitución; o elemento mais vistoso é o seu mirante de planta circular, na esquina: um cilindro de quatro pisos, com uma espetacular galeria de arcos sobre um pórtico curvo no segundo corpo, inspirado nos antigos minaretes islâmicos, tudo coroado por uma cúpula de azulejos vitrificados policromados; o conjunto todo combina arcos de meio ponto emoldurados por alfiz, de clara inspiração muçulmana, com arcos apontados, de estilo gótico. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Basílica Menor de Jesús del Gran Poder, apesar de, na arquitetura, combinar estilos de séculos anteriores, como barroco e renascentista, foi erguida no século XX, entre 1960 e 1965, por iniciativa da Hermandad del Gran Poder, com projeto dos arquitetos sevilhanos Alberto Balbontín de Orta e Antonio Delgado y Roig. É um templo de modelo historicista, construído com materiais contemporâneos e acabamento clássico.
Junto à basílica, na mesma Plaza de San Lorenzo, encontra-se a Iglesia de San Lorenzo Mártir, fundada no século XIII, mas a edificação atual foi construída no século XIV, no estilo gótico-mudéjar, mas sofreu reformas nos séculos XVIII e XIX que alteraram seu estilo primitivo.

À esquerda, parede exterior lateral direita da Iglesia de San Lorenzo Mártir, ocre com colunas amarelas; à direita, portal da Basílica Menor de Jesús del Gran Poder, que mescla elementos renascentistas e barrocos que repetem o mesmo esquema ascendente: o da porta para acolher, em um frontão partido, o escudo da Hermandad del Gran Poder; um segundo, para o cartaz da data da consagração; e um terceiro, para o campanário, já em tamanho descendente, com três sinos e uma cruz de ferro forjado; o resto da fachada da basílica se integra na praça com a edificação das dependências da Hermandad e da própria Iglesia de San Lorenzo. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O flamenco é uma expressão artística andaluz, mesclando música, canto e dança, embora em Sevilha tenha um tratamento todo especial.
Segundo uma das versões mais acolhidas, o flamenco teve origem em manifestações folclóricas ciganas, misturadas com as árabes e andaluzas, incorporando a música judaico-cristã, porém, somente no século XVIII, começou essa arte a desenvolver sua forma atual.
O flamenco é constituído do cante (cantos andaluzes), interpretado pelo cantaor (cantador); do toque (música), executado pelo tocaor (tocador), e do baile, dançado pelo bailaor (bailarino) e pela bailaora (bailarina). A composição desse elementos é apresentada no tablao (tablado).
No tablao flamenco, há, pelo menos, quatro pessoas: o cantaor; o tocaor, o bailaor (ou a bailaora) e o palmero (batedor de palmas).
O cantaor interpreta o canto com a voz áspera e vibrante; a bailaora se caracteriza por seu sapateado e a força de seus movimentos, empregando a saia como elemento cênico; o bailaor desempenha um papel de menos destaque do que o da bailaora, mas seus movimentos firmes e o barulho dos tacos dos sapatos no tablado podem surpreender; já o tocaor utiliza a guitarra flamenca, surgida no século XIX, na Espanha, de construção mais leve e que leva na parte baixa da caixa uma placa grossa que serve para golpear com os dedos; o tocaor é acompanhado pelo palmero ou, no conhecido como "nuevo flamenco", por um cajonero (percursionista de cajón, instrumento de origem peruana, que o tocador senta sobre a caixa e bate na lateral com as palmas ou os dedos).
As bailaoras expressam todo tipo de sentimento, como dor, pena ou alegria, com os graciosos movimentos de suas mãos que, igualmente ao resto do corpo, não respondem, na maioria das vezes, a uma coreografia definida, variando de uma pessoa para outra.
O ritmo flamenco é extraodinariamente vibrante e é marcado pela guitarra (tocaor), pelas palmas (palmero) e pelas batidas dos saltos dos sapatos (bailaor), podendo ser reforçado pelos sons emitidos pelas castanholas de madeira (castañuelas ou palillos) da bailaora.
Nós fomos assistir a um espetáculo de flamenco no tablao mais antigo de Sevilha, "El Patio Sevillano", situado no Paseo de Cristóbal Colón, no centro da cidade; fundado em 1952.

Fachada da casa de espetáculos El Patio Sevillano, que exibe apresentações de flamenco. Paseo de Cristóbal Colón, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Três bailaoras com castañuelas, palco de El Patio Sevillano. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Um bailaor e uma bailaora dançando ao som de uma das músicas da ópera Carmen, palco de El Patio Sevillano. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Um tablao flamenco, com um palmero, dois tocaores (guitarras flamencas), um cantaor e uma bailaora. El Patio Sevillano, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Estando em Sevilla, na Andaluzia, não há como fugir da sua receita salgada mais tradicional: a tapa, um aperitivo, servido na maioria dos bares e restaurantes andaluzes, acompanhando a bebida. O consumo itinerante das tapas (de bar em bar) é conhecido na Espanha como tapeo. Cada bar é conhecido por uma especialidade; alguns são famosos por seus croquetes (podem ser de batata, de presunto ou de bacalhau) e outros por seu jamón ou suas almôndegas.
Fomos provar tapas no bar El Buzo, um dos mais tradicionais da zona da Calle Arfe, no bairro El Arenal, bem próximo à Plaza de Toros. Parece que não mais existe.

El Buzo, tradicional bar de tapas, localizado na Calle Antonia Díaz, 5, El Arenal, Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Voltando para o hotel, não resistimos e paramos no Bar Rodríguez, na Plaza San Antonio de Padua, 6, cruzamento da Calle San Vicente com Calle Marqués de la Mina. Lá saboreamos uma tapa bem peculiar. O preparador fez na hora, em cima do balcão de metal quente; jogou os ovos, empana-os e, touché, a tapa estava pronta para ser degustada, como foi registrado na fotografia abaixo.

Comendo tapas no Bar Rodríguez, Plaza San Antonio de Padua, 6, Casco Antiguo; ovos empanados. Sevilha, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Em seguida, Huelva, quase fronteira com Portugal.
b - Huelva
Huelva foi fundada pelos fenícios provavelmente no século X a.C., com o nome Onuba Aestuaria.
Após a ocupação da região pelos romanos, esta se tornou muito importante para o império, particularmente pela exploração das minas de chumbo, cobre e prata. O auge da mineração é alcançada nos séculos I e II d.C. As duas principais explorações minerais de Huelva foram as de Riotinto e de Tharsis (Alosno).
"As minas de chumbo e prata se localizavam nos distritos mineiros de Posadas (Córdoba), Azuaga-Fuenteovejuna (Badajoz e Córdoba), La Alcudia (Ciudad Real e Badajoz), Los Pedroches (Córdoba), Almería, Huelva (...). O mercúrio era obtido em Almadén e o cobre das minas de Huelva. (...)" (tradução livre do espanhol - pág. 39) - "Historia de España - de Tartessos al Siglo XXI", de José A. Nieto Sánchez, Editorial libsa, Madrid, 2008.
Na época da ocupação muçulmana, Onuba foi conquistada em 713 pelo árabes, passando a chamar-se Welba, da qual derivou o nome atual. Em 1252, finalmente a cidade é tomada pelas tropas de Alfonso X de Castela, o Sábio.
O Convento de las Hermanas de la Cruz, instalado em Huelva em 1910, fica localizado na Plaza Niña. A fundadora da congregação, Santa Ángela de la Cruz, sevilhana, pertencia a uma família numerosa e pobre e, desde muito jovem, trabalhou a serviço dos pobres e marginalizados. As irmãs vivem em grande austeridade, atendendo enfermos e carentes.

Capilla del Convento de las Hermanas de la Cruz, Plaza Niña, pertencente à Compañia de la Cruz. Huelva, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Casa Colón foi erguida entre 1881 e 1883 para servir como um hotel de luxo na cidade, a fim de acolher os negociantes e estrangeiros atraídos pelas companhias dedicadas à exploração das minas, bem como as futuras celebrações do IV Centenário do Descobrimento da América (1892), por isso o nome Colón. O empreendimento foi de iniciativa do empresário Guillermo Sundheim, encarregando o projeto ao arquiteto José Peréz Santamaría, que desenhou um edifício mesclando elementos arquitetônicos britânicos, modernistas e coloniais.
Após as comemorações do Centenário do Descobrimento da América, o prédio deixou de ser hotel e se tornou em edifício de escritórios e residência para membros e convidados de Rio Tinto Company Limited..
Atualmente, a Casa Colón é propriedade municipal e serve como palácio de congressos e estacionamento.

Entrada da Casa Colón (Casa Colombo), antigo hotel do luxo, erguido no final do século XIX; atualmente palácio de congressos. Huelva, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O método mais utilizado pelos romanos para secar os túneis das minas, inundados pelo lençol freático, era a nora (noria, em espanhol), uma roda hidráulica, originária da Ásia Menor, construída inteiramente em madeira, com exceção do eixo que era de bronze (empregado porque as águas ácidas que inundavam as minas corroíam metais ferrosos). Normalmente eram colocadas em dupla que funcionavam em sentido anti-horário, lançando a água em um canal do qual era recolhida pela dupla seguinte, até chegar à superfície.
As minas de Riotinto e Tharsis (Alosno), na região de Huelva, contavam com esses engenhos. Na segunda, foram achadas duas duplas; nas de Riotinto, foram descobertas, entre os séculos XIX e XX, quarenta noras. No Museo de Huelva, há uma nora das minas de Riotinto possivelmente datada entre os séculos I e II d.C., encontrada em 1928.
A montagem das rodas hidráulicas era realizada dentro da própria mina, numerando-se as distintas peças que a compunham.

Quadro falando da nora (roda hidráulica) encontrada nas Minas de Riotinto, datada entre século I e II d.C., na época do Império Romano; seu diâmetro é de 4,30 metros, tem 25 baldes de seção retangular e 50 raios, 25 de cada lado, unidos por dois discos centrais de seção geralmente oval onde se encaixava o eixo de bronze, recoberto por um peça de madeira hoje desaparecida. Museo de Huelva, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Agora, ao ponto onde Colombo partiu pela primeira vez para a América: Palos de la Frontera.
c - Palos de la Frontera
Palos foi fundada como vila por Álvar Pérez de Guzmán, por volta do último quarto do século XIV.
Palos de la Frontera ficou mundialmente conhecida como "o berço do Descobrimento da América", em razão de terem partido do seu porto, em 3 de agosto de 1492, as caravelas La Pinta e La Niña e a nau capitânia Santa María, com o Almirante Cristóvão Colombo, os irmãos Pinzón, os marinheiros de Palos e das comarcas próximas, rumo ao desconhecido, encontrando, ao final, o continente americano.
A esquadra era assim formada: a nau Santa María, comandada pelo Almirante Cristóvão Colombo; a caravela La Pinta, tendo como capitão Martín Alonso Pinzón; e La Niña com o capitão Vicente Yáñez Pinzón.
Assim registrou essa aventura Isabel Alonso-Muñumer, em seu livro "Los Reyes Católicos":
"As bases e os direitos de Colombo e da Coroa ficaram estabelecidos nas 'Capitulaciones de Santa Fe', outorgadas em abril de 1492. A fórmula das capitulações havia sido utilizada na colonização das Canárias e supunha-se referendar legalmente as expedições, controlar os benefícios e impedir o abuso de poder dos colonizadores. Colombo seria nomeado Almirante de 'la Mar Océana' e vicerrei das terras que fossem descobertas, teria direito a apresentar à Coroa três candidatos para a nomeação de cargos e ofícios, e se lhe reservava dez por cento das riquezas da terra.
"A primeira viagem que realizou o genovês ia com duas caravelas, la 'Pinta' e la 'Niña', e com outro navio, Santa María, e com um total de 87 homens. Saíram em agosto de Palos e não avistaram terra até outubro. As condições da viagem eram precárias e a impaciência dos marinheiros, que se viam sem água e alimentos no meio do oceano, estiveram a ponto de desembocar em um motim, mas a sorte e os ventos quiseram que a expedição chegasse a ilhas do Caribe antes que se produzisse uma rebelião a bordo. Colombo estava convencido de haver chegado à Índia e buscava as terras descritas por Marco Polo, cheias de riquezas e do esplendor do grande Khan. Em seu lugar, encontraram umas terras habitadas por homens seminus e de costumes primitivos. Eram as atuais Lucayas, Cuba, que chamaram Ilha Juana, e Haiti, que batizaram como La Española. Deixaram ali uma guarnição de homens no Fuerte Natividad, construído com os restos da Santa María, que havia encalhado, e iniciaram a viagem de regresso. Colombo relatou o sucedido aos Reyes Católicos e, nas seguintes viagens, seguiu buscando as Ilhas das Especiarias, ainda que já haviam começado os rumores do descobrimento de um Novo Mundo". (tradução livre do espanhol - págs. 28/29) - "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñemer, Ediciones Akal. S. A., Madrid, 2001 (2ª reimpressão, 2013).
Também temos os apontamentos de Maria Pilar del Hierro, em sua "Historia de España":
"(...) o ofereceu aos Reis de Castela e Aragão. Após uma negativa inicial, Luis de Santángel, escrivão de ração da Coroa de Aragão persuadiu a rainha da viabilidade e conveniência do projeto e as 'Capitulaciones de Santa Fe' fecharam a negociação. Nelas se determinava que Colombo e seus herdeiros ostentariam o cargo de almirante em todos os territórios que o primeiro pudesse descobrir. (...) Formada a tripulação da tropa, composta por três caravelas, zarpou do porto de Palos de Moguer na madrugada de 3 de agosto de 1492, Após uma breve escala nas Canárias, a longa duração da travessia impacientou a tripulação, dando-se alguma ameaça de sublevação. Em 12 de outubro de 1492 Colombo pisou pela primeira vez terra americana e no ano seguinte regressou a Espanha (...)." (tradução livre do espanhol - págs. 68/69) "Historia de España", de María Pilar Queralt del Hierro, Susaeta Ediciones S.A., Tikal Ediciones, Madrid, 2006.
Existe uma versão de que Vicente Yánez Pinzón esteve no Brasil antes da chegada de Pedro Álvares Cabral. Há relatos em documentos históricos que afirmam que Vicente, no dia 26 de janeiro de 1500, teria aportado na Ponta do Mucuripe, em Fortaleza. Tanto que um dos bairros da capital cearense chama-se Vicente Pinzón.
A Iglesia parroquial de San Jorge Mártir é um templo católico de estilo gótico-mudéjar, iniciado por determinação dos Condes de Miranda, em meados do século XV, provavelmente sobre uma edificação mais antiga.
Na praça dessa igreja, em maio de 1492, reunidos o Cabildo e os residentes a toque de sino, se deu a leitura da Real Pragmática que ordenou a certos residentes a entrega de duas caravelas a Cristóvão Colombo e requisitava o recrutamento dos marinheiros de Palos. Da Puerta de los Novios desse templo saíram os marinheiros para embarcar na madrugada de 3 de agosto de 1492, singrando as águas do rio Tinto, em direção ao Mediterrâneo, e depois rumo ao desconhecido.

Iglesia Parroquial de San Jorge Mártir, estilo gótico-mudéjar; a austeridade de seus contrafortes, a severidade de sua porta principal, construída em pedra, e suas paredes com ameias dão ao conjunto uma imagem de edifício militar; seu campanário, arrematado por uma pirâmide facetada, é obra da segunda metade do século XVIII, construído para reparar os danos causados pelo terremoto de Lisboa de 1755; o ponto interessante é o ninho de cegonhas no alto do campanário. Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

A cabeceira gótica da Iglesia de San Jorge, com sua abóboda de cruzeiro. Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Placa alusiva à passagem do Papa São João Paulo II: "A este templo onde rezaram os marinheiros em 3 de agosto de 1492 antes de tomar rumo ao desconhecido, acudiu Sua Santidade João Paulo II para dar graças a Deus no V Centenário do Descobrimento e Evangelização da América. 14 de junho de 1993". Iglesia de San Jorge. Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Monumento a Martín Alonso Pinzón, capitão da caravela La Pinta, na viagem de Colombo para encontrar as terras americanas; Calle Padre Marchena, 2, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.
Vamos a la Rábida.
d - La Rábida
O Monasterio de Santa María de la Rábida foi erguido em uma colina localizada na confluência dos rios Tinto e Odiel, no início do século XV (provavelmente, 1403), pela Ordem Franciscana.
O monastério teve um papel importante no Descobrimento da América e seus desdobramentos. Colombo esteve pela primeira vez no convento em 1485, onde se hospedou e recebeu apoio científico e espiritual para sua empresa. Alguns religiosos do monastério, como os freis Juan Pérez e Antonio de Marchena, foram fundamentais para os interesses do navegador genovês, posto que o ajudaram em seus contatos com a Coroa (Reis Católicos) e com os marinheiros locais. Foram eles, inclusive, que levaram Colombo a contatar Martín Alonso Pinzón, rico armador e líder natural local, por meio do qual se conseguiu ajuda econômica e o recrutamento dos homens necessários para o empreendimento.
Assim assinalou Isabel Alonso-Muñumer, em seu livro "Los Reyes Católicos"
"(...) Colombo estava disposto a levar a cabo seus planos e pediu ajuda aos Reis Católicos. Tal era sua determinação que desde 1487 até 1492 seguiria insistindo na ideia e pedindo o financiamento dos monarcas. Seguramente, os monges de la Rábida, onde se alojou por um tempo, e vários conselheiros de Fernando, o Católico, intercederam pelo genovês, e, após longos anos de espera, conseguiu seu propósito (...)". (tradução livre do espanhol - pág. 28) - "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñemer, Ediciones Akal. S. A., Madrid, 2001 (2ª reimpressão, 2013).
Por aqui se hospedou também Hernán Cortés (Fernão Cortez) em maio de 1528, após a conquista da Nova Espanha (México). Logo depois, Francisco Pizarro, o conquistador do Peru, chegou em Palos de la Frontera e veio ao convento para visitar seu parente Cortez.

Monumento a Cristóvão Colombo, inaugurado em 2006, em comemoração aos 500 anos de seu falecimento (1506), situado nos jardins externos do monastério. La Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Monasterio de Santa María de la Rábida, início do século XV, de estrutura medieval. Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

"Las Conferencias", afresco do pintor vanguardista (neocubista) Daniel Vázquez Díaz representando Colombo com os frades franciscanos, que faz parte do conjunto de pinturas murais "Poema del Descubrimiento" realizado entre 1929 e 1930. Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

O altar da Capilla de Santa María de la Rábida, onde se vê a imagem mais valiosa do monastério: Nuestra Señora de los Milagros; é uma virgem muito pequena, de estilo gótico (franco-catalão), provavelmente do século XIV, esculpida em alabastro; o Papa São João Paulo II a visitou em 1993, quando a coroou canonicamente recebendo o título "Madre de España y América". Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Claustro mudéjar, datado do século XV, é o que melhor se conservou do edifício após o terremoto de Lisboa de 1755; nas galerias inferiores ainda existem pedaços da primitiva decoração mudéjar do século XV (afrescos); no século XVII, construiu-se o segundo piso com ameias para a defesa das invasões piratas. Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Maquete da caravela "La Pinta", em sala do segundo piso do claustro. Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

O refeitório dos frades é uma sala retangular, com púlpito branco para leitura; vê-se, no centro, um crucifixo de estilo românico, possivelmente do começo do século XIV, e, nas outras paredes, vários quadros de épocas diversas. Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.

Sala de exposição com arcas com a terra dos países ibero-americanos; em destaque, a arca com a terra brasileira e, atrás, a bandeira do Brasil. Monasterio de la Rábida, Palos de la Frontera, Província de Huelva, Andaluzia, Espanha.
Agora, partimos para Portugal, entramos por Castro Marim, mas aí é outro post: "Sul de Portugal - 2009".
Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.
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