Andaluzia - Parte VIII - Sul da Espanha - 2009
- Roberto Caldas
- 13 de jun. de 2021
- 17 min de leitura

Estátua de Manuel María González Ángel, o fundador da empresa González Byass; obra do escultor valenciano Manuel Boix, inaugurada em 19 de setembro de 1997; ao fundo, a cúpula barroca da Catedral de San Salvador. Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
a - Tarifa
O muçulmano Tarif Abu Zara, comandante subordinado ao general Tarik, desembarcou na Isla de Las Palomas, em 710, para realizar reconhecimento na área do Estreito de Gibraltar com o objetivo de levantar o tamanho das forças militares do lugar. Após constatar a ausência de defesa, levou a informação a Tarik, que, um ano depois, desembarcou à frente de cerca de 7.000 homens, nas proximidades do Rochedo de Gibraltar, e iniciou a conquista da Península Ibérica.
Assim, em homenagem ao pioneiro islâmico, fundou-se, no lugar onde se encontra a cidade atual, uma medina chamada Al Yazirat Tarif (Ilha de Tarif).
Sancho IV de Castela, entendendo a importância estratégica da cidade, sitiou-a em 1292, ocupando-a em 21 de setembro do mesmo ano. Após a tomada da cidade pelos cristãos, estes a chamaram de Tarifa, respeitando a herança muçulmana.
Guerreiros berberes fizeram cerco à Tarifa de 23 de setembro a 29 de outubro de 1340, mas, com a chegada de reforços de Castela e de Portugal, os sitiadores foram obrigados a abandoná-la em direção a Algeciras, tendo sido perseguidos e atacados pelas tropas cristãs, que os derrotaram na Batalha de Salado.
Dentro da cidade, está o ponto mais meridional da Península Ibérica, a Punta de Tarifa. Esta fica na Isla de las Palomas, hoje ligada à cidade por meio de uma estrada-rua, pela qual se acessa o farol. A Punta de Tarifa serve, também, de divisor de águas: a leste, mar Mediterrâneo; a oeste, oceano Atlântico. Além disso, está a 14 quilômetros da costa marroquina, tornando Tarifa a cidade europeia mais próxima da África.

Estrada-rua Segismundo Moret, que liga Tarifa à Isla de las Palomas, onde fica a Punta de Tarifa; o divisor de águas: à esquerda, mar Mediterrâneo; à direita, oceano Atlântico; ao fundo, à esquerda, o farol. Tarifa, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

A Punta de Tarifa e o mar Mediterrâneo. Tarifa, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Em direção à cidade, o Castillo de Santa Catalina, construído pelo Ministério da Marinha espanhola de 1930 a 1933, em estilo renascentista, mas com materiais atuais. Tarifa, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
Em razão da proximidade com a África, o porto de Tarifa é o terceiro da Espanha em tráfico marítimo de passageiros, atrás apenas de Algeciras e de Barcelona. Nele atracam os navios de passageiros e veículos (ferries) que ligam Tarifa a Tânger, na costa do Marrocos.

Ferry-boat de Tarifa para Tânger, no Marrocos. Porto de Tarifa, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
Fato interessante é a lenda de Guzmán el Bueno. Em 1294, Sancho IV de Castela recorreu a Alonso Pérez de Guzmán para a defesa de Tarifa, ameaçada pelo infante Dom Juan, irmão do monarca, com auxílio dos berberes marroquinos e tropas nacéridas de Granada. Nessa oportunidade, ocorreu a heroica defesa de Tarifa, que culminou com o sacrifício do filho menor de Guzmán. Diz a lenda que Guzmán el Bueno lançou sua própria adaga aos sitiadores para que matassem com ela seu próprio filho para não sucumbir à chantagem que faziam, após aprisioná-lo. Conta-se que, na ocasião, Guzmán exclamou: "Mata-o com esta, se o haveis decidido, que mais quero honra sem filho, que filho com minha honra manchada".

Monumento a Guzmán el Bueno, segurando na mão direita a famosa adaga; erguido em 1960, obra de Manuel Reiné Jiménez, no extremo sul do Paseo de la Alameda (segunda metade do século XIX). Tarifa, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
Vamos para Cádiz, a capital da província.
b - Cádiz
Cádiz é um dos assentamentos fenícios mais antigos da Espanha.
Diz a lenda, que a cidade foi fundada pelo herói Hércules, cujas colunas (Rochedo de Gibraltar, na Península Ibérica, e Monte Hacho, em Ceuta, no norte da África) delimitariam o mar Mediterrâneo, na sua passagem para o oceano Atlântico.
Fundada na costa atlântica, por volta do século IX a.C., como colônia de Tiro e denominada Gádir, foi uma cidade vocacionada para o mar e para o comércio. Após Tiro, no século VI a.C., ser conquistada pelos babilônios, sob o comando de Nabucodonosor II, Gádir passou para o controle dos cartagineses. Diz-se que da cidade partiu Aníbal, o famoso general cartaginês, para a conquista da Itália.
Após a derrota de Cartago, os romanos passaram a chamar a cidade de Gades (daí vem o gentílico atual gaditano). Na época romana, a cidade tornou-se próspera; foram construídos aquedutos, anfiteatros, termas, tendo se convertido, durante um curto período de tempo, na segunda cidade mais povoada do império. Tal era a importância de Gades que, nessa época, habitavam a cidade mais de quinhentos integrantes da ordem equestre, uma casta romana, chegando a rivalizar com Pádua e Roma, na Península Itálica.
Com a decadência do Império Romano, a cidade passou a fazer parte do Reino Visigodo, foi conquistada pelo bizantinos, em 522, reconquistada pelos visigodos em 620, e, em 711, ocupada pelos muçulmanos, comandados por Tariq Ibn Ziyad, após a batalha de Guadalete, quando os islâmicos derrotaram o rei visigodo Rodrigo (ou Roderico).
A Coroa de Castela incorporou Cádiz em 1264, após o rei Alfonso X, o Sábio, derrotar os islâmicos.
Cádiz retomou sua importância na era dos descobrimentos; dos portos de sua região, partiram expedições marítimas comandadas por Cristóvão Colombo e Álvar Núñez Cabeza de Vaca e, depois, de conquistadores, na época colonial, com tráfico de escravos de mais de 10.000 cabeças. A cidade, a partir de 1717, foi sede da Casa de Contratação e da Frota das Índias. Com a riqueza, criou-se uma sociedade burguesa, liberal e revolucionária.
Durante a invasão francesa, no contexto das guerras napoleônicas, Cádiz foi cercada pelas tropas estrangeiras entre 1810 e 1812, enquanto nela se redigia a primeira constituição espanhola, promulgada em 1812, que veio a influenciar também a sociedade portuguesa.
Cádiz caiu em desgraça, em razão dessas ideias liberais, após o retorno da dinastia Bourbon, em 1814, com Fernando VII (irmão da nossa Carlota Joaquina), que suprimiu a Constituição de Cádiz, restaurou o absolutismo e perseguiu os liberais.

Playa de Santa María del Mar, com vista do casco antigo de Cádiz ao fundo; em destaque as torres e a cúpula amarela da catedral. Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Playa de Santa María del Mar ou Playita de las Mujeres, tendo ao fundo a parte mais moderna da cidade. Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O Teatro Romano de Cádiz, provavelmente edificado no século I a.C., teria sido obra financiada por uma família importante da cidade, os Balbo, pertencente a ordem equestre. Fala-se que é o segundo maior teatro romano da Espanha, superado apenas pelo de Córdoba, e o mais antigo da Península Ibérica. O diâmetro da cavea alcança cerca de 120 metros de diâmetro e sua lotação era por volta de 10.000 espectadores.

Resto da muro curvo correspondente à fachada traseira do Teatro Romano, junto a summa cavea. Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O Sítio Arqueológico da Casa del Obispo resultou das escavações promovidas a partir da metade da década de 1990, no terreno onde estava edificado o Palacio Episcopal, ou simplesmente o que se conhece como Casa del Obispo.
O lugar está localizado na zona intramuros do "casco" antigo da cidade, no atual bairro de El Pópulo. O solar está limitado a este pela Catedral Velha, atual Paróquia de Santa Cruz, e a oeste pela Catedral Nova, conhecido, em razão disso, como "entre catedrais". Os restos de construções encontrados nas diferentes intervenções arqueológicas permite acompanhar a evolução da urbe a partir do século IX a.C. (período fenício) até a segunda metade do século XX, quando cessa o uso da residência pela máxima autoridade católica de Cádiz. Foram identificados, até hoje, oito períodos, com suas mudanças estruturais resultantes das adaptações funcionais e culturais.
A construção da antiga casa episcopal, erguida reutilizando restos de grandes edifícios públicos romanos, que, por sua vez, se sobrepunham aos fenício-púnicos, foi, talvez, uma das causas da preservação dos restos arquitetônicos fenício-púnicos e romanos.
Los Palacios y Casas del Señor Obispo foram referidos documentalmente pela primeira vez quando da dotação do segundo Sínodo Diocesano celebrado em Cádiz por Dom Juan González em 07 de agosto de 1435. O Palacio Episcopal tornou-se, efetivamente, residência permanente na governança do Bispo García de Haro, a partir de 1565. Atualmente se conserva do edifício religioso parte das dependências do andar inferior e o semi-sótão destinado aos estábulos, currais e armazéns, distribuídos em torno de um pátio empedrado Seu acesso se dava por uma porta de serviço apropriada para carruagens, localizada na atual viela Arquillo del Obispo.

Quadro impresso representando a Casa del Obispo, provavelmente durante o século XVI ou XVII, onde se veem as dependências privadas do andar inferior, bem como as dependências de serviços, no sótão. Sítio Arqueológico da Casa del Obispo, Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Entre os restos arqueológicos encontrados nas escavações da Casa del Obispo, têm-se: 1) um edifício arcaico fenício, datado do século VIII a.C.; 2) um monumento funerário da época fenícia do século VI a.C.; 3) um edifício monumental da era púnica, construído a partir do final do século VI a. C.; 4) um novo complexo construído sobre os restos púnicos na época republicana romana, a partir do século II a.C., com a transformação do ritual com a introdução da água, um fato que até então não tinha sido documentado; 5) a restruturação desse espaço, dotando-o de grande monumentalidade, no qual se destacam os restos de um templo romano, provavelmente dedicado a Apolo, Esculápio e Higeia (Asklepieion), do século I d.C..

Provavelmente ruínas da época púnica (cartagineses), a partir do final do século VI a.C., que sofreram reestruturações na época romana, a partir do século II a.C.. Sítio Arqueológico Casa del Obispo, Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Ruínas do que se supõe ter sido um templo romano dedicado ao deus Esculápio, também conhecido como Sala de las Pinturas, em razão dos afrescos romanos pintados nas paredes, século I d.C.. Sítio Arqueológico Casa del Obispo, Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Puerta de Tierra é um trecho do que foi a muralha de entrada da cidade de Cádiz. A primeira muralha nesta zona foi construída no século XVI, sendo que, por volta de 1574, fez-se uma ampliação, acrescentando-se dois baluartes: San Roque e Santa Elena.
A configuração atual ocorreu no século XVIII, tendo no centro a Puerta de Tierra, erguida no século XVIII, com conclusão em 1756, por Torcuato Cayón, baseada no projeto de José Barnola; o portal está lavrado em mármore e foi concebido mais como um retábulo religioso do que militar.
O Torreão da Puerta de Tierra foi levantado pelo então diretor das Linhas de Telegrafia Ótica, o Brigadeiro José María Mathé, no final de 1850, com a finalidade de servir como estação telegráfica ótica da Andaluzia (torre n. 57), que podia enviar mensagens a partir do Ministério da Governação (em Madrid) até Cádiz em cerca de 2 horas.
Em razão do crescimento urbano para as áreas extramuros, na primeira metade do século XX, aventou-se na demolição do conjunto; no final, preservou-se o tramo da muralha, mas preenchendo parcialmente os fossos e abrindo-se dois novos arcos largos, para passagem de veículos.

Conjunto Puerta de Tierra, na entrada da cidade antiga; o tramo da muralha do século XVI, tendo no centro o portal de mármore (1756), no qual há uma inscrição referente à sua construção e, sobre ela, o escudo real com uma alegoria militar; dominando o conjunto, o torreão erguido em 1850 (Torre Mathé), com a bandeira vermelha do Cantão de Cádiz (escudo oval representando Hércules sobre um porrete, flanqueado por suas duas colunas e dois leões); à direita da porta, um dos grandes arcos abertos na muralha, no século XX, para o trânsito de veículos, e, na ponta, o baluarte de Santa Elena; na esplanada central, em frente ao conjunto, aparecem dois triunfos de mármore, realizados em Gênova, no início do século XVIII, com as imagens de San Servando e San Germán, os padroeiros da cidade de Cádiz. Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Santa y Apostólica Iglesia Catedral de Cádiz é a sede episcopal da Diocese de Cádiz e Ceuta. É chamada também de "Santa Cruz sobre el Mar" ou "Santa Cruz sobre las Aguas", por se encontrar bem próxima do mar.
A Catedral Nova de Cádiz foi construída para substituir a antiga, hoje Paróquia de Santa Cruz, pelos seguintes motivos: o péssimo estado de conservação da primeira e a vontade de ter um templo mais monumental que fosse proporcional à importância que Cádiz havia adquirido com o traslado da Casa de Contratação de Sevilha para essa cidade, em 1717.
A construção do novo edifício foi iniciada em 1722 e concluída somente em 1838. A demora se deveu às crises econômicas, à invasão francesa e à posterior perda das colônias americanas.
Várias arquitetos trabalharam na obra, durante 116 anos, começando por Vicente Acero, depois Gaspar Cayón, Torcuato Cayón, Miguel Olivares, Manuel Machuca y Vargas e, por último, Juan Daura.
Por conta desse tempo, a construção é uma mescla dos estilos barroco, rococó e neoclássico.
Na catedral, está enterrado um dos maiores compositores espanhóis do século XX, Manuel de Falla y Matheu, representante do nacionalismo musical.
Infelizmente, uma das partes mais famosas da catedral não temos a fotografia: no cruzeiro, a cúpula hemisférica sobre tambor, obra de Juan Daura, cujo exterior é rombudo e recoberto de cerâmica amarela e rodeado de imagens de santos

Fachada principal da Catedral de Cádiz: tem muito movimento, a base de formas côncavas e convexas, como é característico da arte barroca; o pórtico central tem dois corpos; o inferior possui quatro colunas coríntias, na base, com fuste profusamente decorado, e acima, com colunas estriadas; o corpo superior é uma grande janela flanqueada pelas imagens dos santos padroeiros, San Germán e San Servando, obras do escultor genovês Esteban Frucos, realizadas no século XVII, que anteriormente estiveram na Catedral Velha; tudo arrematado por um grande arco. Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Terceiro corpo da Torre de Nascente (campanário), com colunas, fechado com um casquete hemisférico, visto do mirante da Torre de Poente (similar); entre as torres, tem-se o frontão triangular com a imagem do Divino Salvador, esculpida pelo genovês Esteban Frucos, em mármore de Carrara, e ladeada de candelabros. Catedral de Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Catedral Nova de Cádiz deve muito ao monge beneditino Frei Domingo de Silos Moreno, nomeado bispo da cidade em 1824. Com sua humildade e sensibilidade, colocou todo o seu empenho para a conclusão do templo católico, que foi consagrado em 1838. Prova de sua humildade se vê na inscrição colocada na sua tumba: "Indigno monge beneditino, mais indigno bispo de Cádiz".
Em razão do respeito e da admiração dos habitantes da cidade, contratou-se uma estátua de bronze do Frei Domingo de Silos, obra do escultor sevilhano Lorenzo Baglietto, e um pedestal ao encargo do arquiteto madrileno Jerónimo de la Gándara, sob a direção de Juan de la Vega, sendo o monumento inaugurado na praça lateral da Catedral em 1856.

Monumento ao Bispo Frei Domingo de Silos Moreno, inaugurado em 1856, na pracinha ao lado da Catedral de Cádiz, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Partimos para Jerez de la Frontera.
c - Jerez de la Frontera
Não há certeza de onde provém o topônimo; uma das versões é de que, durante a ocupação muçulmana, a aglomeração urbana do lugar era conhecida como Sherish, do qual teria surgido, após a conquista cristã, o nome castelhano Xerez e depois Jerez. O complemento "de la Frontera" já foi explicado no post "Andaluzia - Parte VI", ou seja, a sua localização fronteiriça entre o Reino Nacérida de Granada e o de Castela.
Jerez é conquistada em 1249 pelas tropas comandadas por Fernando III de Castela, por meio da capitulação de seus habitantes, depois das hostes castelhanas terem devastado as plantações e as fazendas dos islâmicos e sitiado a cidade durante vários meses. No entanto, como o monarca castelhano precisava repovoar Sevilha, também conquistada há pouco, tarefa complexa e urgente, este aceitou que os mouros ficassem em suas casas na cidade e nas propriedades rurais, apenas mantendo o controle direto do Alcázar, empregando uma guarnição cristã ao comando de Nuño Gonzáles de Lara el Bueno.
Porém, em 1264, os muçulmanos de Jerez se rebelaram, invadindo o Alcázar e passando toda a guarnição cristã ao fio da faca. Em razão disso, Alfonso X de Castela, o Sábio, assediou a cidade, durante 5 meses, no fim dos quais as tropas islâmicas se renderam e deixaram a cidade, que foi repovoada por meio da concessão de mercês e privilégios aos cristãos.
O descobrimento da América e a conquista de Granada, em 1492, trouxeram prosperidade a Jerez, graças ao comércio e sua proximidade com os portos de Sevilha e Cádiz.
A partir do século XVIII, Jerez passa a ser mundialmente famosa em razão de seus vinhos, particularmente o denominado jerez (xérès ou sherry), com grande reconhecimento de suas "bodegas" especializadas nesse tipo de bebida: González Byass (Tío Pepe), Bodegas Lustau, Bodega Dios Baco, Bodegas Domeq, Bodega El Maestro Sierra e Bodegas Barbadillo.
Jerez também é conhecida pela sua escola de equitação de cavalos da raça andaluz "Real Escuela Andaluza del Arte Ecuestre", fundada em 1973 por Álvaro Domecq Romero, matador de touros a cavalo (rejoneador), pecuarista e vinicultor. A referida escola, que tem sede no Palacio Duque de Abrantes, tem a finalidade de adestramento (doma clásica), e, nas quintas-feiras, proporciona o belíssimo espetáculo "Cómo bailan los caballos andaluces". Infelizmente, por conta de nossa agenda apertada, não podemos assisti-lo.
O Alcázar de Jerez de la Frontera (fortaleza-palácio) é um dos edifícios mais antigos da cidade, tendo sua construção provavelmente sido iniciada no século XII, na época da dinastia islâmica Almôada (berberes vindos do Marrocos), e muito modificado posteriormente.
A chamada "Guerra da Reconquista", sustentada pelos reinos cristãos da Península Ibérica contra o Islã, e as tensões internas entre as diferentes facções de Al-Andalus tornaram a vida perigosa, decidindo-se pela construção de um castelo no qual, por um lado, vivessem os governantes e, por outro, se pudesse aquartelar as tropas de maneira que estivessem sempre prontas para entrar em ação.
O Alcázar e a cidade foram tomadas definitivamente pelos cristãos em 1264.

Torre oeste do Conjunto Monumental del Alcázar de Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
A Catedral de Jerez de la Frontera foi erguida inicialmente para ser uma Igreja Colegiada, ou seja, governada por um colégio de cânones, uma comunidade de sacerdotes seculares, presidida por um reitor, porém não sendo sede de um bispo nem tendo responsabilidades diocesanas.
O traçado do templo, provavelmente, foi encargo, em 1695, do mestre-mor de Jerez, Diego Moreno Meléndez, tendo a obra se prolongado por mais de 80 anos, com a sua inauguração em 1778. Nesse tempo, as obras foram dirigidas pelos mestres Ignacio Díaz de los Reyes, Juan de Pina e Miguel de Olivares, que atuou sob as ordens de Torcuato Cayón de la Vega.
Do edifício anterior (antiga Iglesia del Salvador), derrubado em 1695, sob o qual foi construída a Igreja Colegiada, restou somente a torre-campanário, separada do templo.
O templo foi elevado à dignidade catedralícia pela Bula "Archiepiscopus Hispalenses", de 03 de março de 1980, do então Papa São João Paulo II, tendo como primeiro bispo o monsenhor Rafael Bellido Caro.

Fachada Principal da Catedral de Nuestro Señor San Salvador, estilo barroco; são três portas com lintéis, e sobre elas óculos circulares e um rico amálgama de colunas e decorações barrocas; sobre a porta lateral esquerda tem um alto-relevo representando a "Adoração dos Reis Magos"; já na direita, a "Encarnação de Jesus"; na calha central, no nicho sob o arco, a imagem possivelmente de Nossa Senhora da Conceição; sobre o arco, um conjunto escultórico com a representação da "Ascensão de Jesus". Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

A Torre-Campanário da Catedral de Jerez, estrutura que restou da igreja anterior, derrubada em 1695; o corpo inferior, de estilo gótico-mudéjar, é obra do século XV; o corpo superior, do século XVIII, foi realizado pelo mestre Juan de Pina no estilo barroco. Jerez de la Frontera, Andaluzia, Espanha.
Como já dito anteriormente, Jerez é a capital do jerez, o sherry, o tipo de vinho fortificado feito a partir das uvas Palomino e Pedro Ximénez, tão características da região do país.
Uma das bodegas mais famosas de Jerez é a do Tío Pepe, da empresa González Byass.
Tudo começou com Manuel María González Ángel, que, aos 23 anos, criou, em 1835, sua empresa para produção de vinhos especiais. Como se tratava de um negócio que lhe era desconhecido, Manuel buscou conselho no seu tio materno José María Ángel y Vargas, que ele chamava de Tío Pepe (Pepe é modo carinhoso pelo qual os espanhóis chamam as pessoas que têm o nome José), que lhe ensinou todos os segredos da arte vinícola de Jerez. Como forma de agradecer o apoio recebido, Manuel cedeu uma parte da bodega ao seu tio e mandou marcar os tonéis com o nome "Solera del Tío Pepe". Assim, nasceu o nome da bodega de sherry mais famosa da Espanha: Tío Pepe.
O vinho de Jerez passa a ser apreciado mundialmente. Por conta da necessidade de exportar cada vez mais, nasce a sociedade de Manuel com Robert Blake Byass, comerciante de vinho inglês e agente comercial do espanhol no Reino Unido. Daí o nome da empresa: González Byass.
Tío Pepe, em 1886, tornou-se uma das primeiras marcas registradas da Espanha, e a sua bodega foi a primeira a contar com luz elétrica, dois anos antes de que esta fosse adotada pela cidade de Jerez de la Frontera.
Nos festejos do centenário da empresa, em 1935, o chefe da propaganda da bodega, Luis Pérez Solero, decidiu vestir a garrafa de Tío Pepe com uma jaqueta, um chapéu de aba larga e uma guitarra espanhola. Estava criado o símbolo da marca e um dos ícones mais conhecidos no mundo.
O Conjunto Monumental Tío Pepe (González Byass) possui diversas bodegas no seu interior, e tem como produtos mais importantes as bebidas alcoólicas sherry e brandy.
O sherry é um vinho fortificado de forma clássica, ou seja, com adição de aguardente vínica, e envelhecido pelo método Solera, consistente em dispor tonéis de carvalho em fileiras sobrepostas, e o preenchimento com a bebida é feito a partir do alto, com mistura de safras nos níveis inferiores até chegar aos tonéis que estão no solo, dos quais é retirado o vinho para ser engarrafado, resultando em uma mistura de vinhos de safras diferentes, e, assim, ganhando mais sabores com o passar dos anos.
Já o brandy é uma bebida destilada (teor alcoólico de 40%, como uísque, cachaça e vodca), elaborada com uva normalmente branca, posto que o tanino presente na tinta interfere negativamente no resultado. O mais conhecido dos brasileiros, o conhaque, é o brandy produzido especificamente na região de Cognac, na França. O brandy da Espanha é conhecida como Brandy de Jerez.

Entrada do Conjunto Monumental das Bodegas Tío Pepe (González Byass), Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Muro externo das Bodegas Tío Pepe (González Byass), Jerez da la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Ícone do Tío Pepe reconhecido internacionalmente: a garrafa de Tío Pepe com uma jaqueta, um chapéu de aba larga e uma guitarra espanhola. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Trenzinho para o passeio no Conjunto Monumental Tío Pepe, González Byass, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Passeando de trem no Conjunto Monumental Tío Pepe, González Byass, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Jardins da Real Bodega de La Concha, passeio de trem; a arquitetura original e revolucionária dessa bodega é atribuída ao famoso engenheiro francês Gustave Eiffel (o construtor da Torre Eiffel de Paris). Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Interior da Real Bodega de La Concha, erguida em honra da Rainha Isabel II da Espanha, após a visita da monarca às Bodegas Tío Pepe em 1862; o espaço também foi utilizado para recepcionar os Reis Alfonso XII, Alfonso XIII e Juan Carlos e Sofía, todos da Espanha; há um total de 206 tonéis cheios da bebida Amontillado La Concha, nos quais podemos ver as bandeiras dos 115 países para os quais se exporta o vinho produzido por González Byass. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Tonéis empilhados na Real Bodega de La Concha; no centro da fileira superior, o tonel com a bandeira do Brasil. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Bodega Lepanto, na qual é produzido o Brandy de Jerez Lepanto, destilado de uvas brancas Palomino Fino. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Bodega de Los Apósteles e o tonel conhecido como "el Cristo", com capacidade para 33.000 litros de vinho. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Bodega de Los Apósteles e o tonel do apóstolo Pedro (nome e chaves cruzadas), com capacidade para 12.000 litros de vinho. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Bodega Los Reyes, construída em 1857, que guarda os tonéis assinados pelos monarcas espanhóis da Dinastia Bourbon que visitaram as Bodegas Tío Pepe, da esquerda para direita, de baixo para cima: Suas Majestades Rainha Isabel II, Rei Alfonso XII, Rei Alfonso XIII, Suas Altezas Reais D. Juan de Borbón (Juan III, que nunca reinou efetivamente) e Felipe, Príncipe das Astúrias (atual Rei Felipe VI, após a abdicação do pai) e Rei Juan Carlos I (que abdicou do trono em favor do filho Felipe). Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Bodega La Constancia, que data também de 1857 e reúne toda uma coleção de tonéis assinados por visitas ilustres que foram recebidas durante toda a história de González Byass; na fotografia, o tonel assinado pelo grande piloto brasileiro Ayrton Senna, em 10 de fevereiro de 1989; Senna venceu no circuito de Jerez de la Frontera em 1986 e 1989. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Fotografia superior que registrou o momento em que Ayrton Senna assinou o tonel guardado na Bodega La Constancia. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.

Ícone de Tío Pepe pronto para viajar ao redor do mundo, interessante é a mala rígida para transportar a guitarra espanhola. Bodegas Tío Pepe, Jerez de la Frontera, Província de Cádiz, Andaluzia, Espanha.
No próximo post, grande Sevilha, a terra do Flamenco.
Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.
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