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Galiza - Noroeste da Espanha - 2009

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 25 de mar. de 2021
  • 15 min de leitura

Atualizado: 2 de abr. de 2021


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Igrexa da Toxa, coberta de conchas de vieiras, A Toxa (La Toja), Galícia, Espanha.


Ingressamos na Espanha pelo município de Tui, província de Pontevedra, vindos da cidade de Viana do Castelo, Minho, Portugal.


Antes de nós iniciarmos o roteiro da extensa viagem que fizemos pela parte ocidental da Espanha, cabe uma pequena introdução sobre a história desse país sui generis.


Somente para esclarecer por que é sui generis. O que nos parece uma unidade, com todos falando a língua espanhola (ou castelhana), na verdade, há pelo menos seis comunidades autônomas que possuem uma segunda língua oficial: 1) Galícia - galego; 2) Navarra - euskera (basco); 3) País Basco - euskera (basco); 4) Catalunha - catalão; 5) Ilhas Baleares - catalão; 6) Comunidade Valenciana - valenciano.


Além dessas, têm-se, ainda, outras línguas, que apesar dos nativos as entenderem assim, não são reconhecidas como oficiais pelo estado espanhol: 1) Aragão - aragonês; 2) Principado de Astúrias - asturo-leonês; 3) Castela e Leão - asturo-leonês.


Em torno do séc. X a.C., a região que hoje é denominada por Catalunha foi ocupada por povos centro-europeus, vindos a maioria do sul da atual França e do norte da Itália e Suíça, conhecidos como pertencentes à cultura dos campos de urnas, em razão de ter o costume de incinerar seus mortos e guardar as cinzas em urnas de barro. A agricultura era sua base econômica; numa segunda onda, vieram pastores. Não tiveram dificuldade de se mesclar como os nativos, que já ocupavam a área. Assim, passaram a ser conhecidos como celtiberos.


Vieram as invasões do povos do Mediterrâneo oriental. Os fenícios, com sede em Tiro, atual Líbano, criaram vários entrepostos para controlar as rotas dos metais no Mar Mediterrâneo: na África, Lixus e Utica; na Espanha, Gádir (Cádiz). Posteriormente, entre os séc. IX e VIII a.C., na costa andaluza, os fenícios fundaram Abdera (Adra), Sexi (Almuñecar) e Malaka (Málaga).


Em seguida, no séc. VI a.C., a onda dos gregos, com o primeiro assentamento em Palia Polis, atual Ampurias.


Os fenícios fundaram na costa africana, em território atual da Tunísia, a colônia de Cartago. Com o tempo, esta suplantou a sede no domínio mercantil do Mediterrâneo Ocidental. Com a queda de Tiro nas mãos dos babilônios, Cartago herdou também as colônias originalmente fenícias. No séc. V a. C., os cartagineses passaram a dominar a Península Ibérica, com o centro em Gádir (eixo da mineração de prata), enquanto Baria (Villaricos) e Ibiza se transformaram em centros de distribuição de mercadorias cartaginesas.


Com o choque das potências da época, Cartago e Roma, pelo domínio do Mediterrâneo, a Península Ibérica passou a ser a base central do primeiro e o ponto inicial para a confrontação futura com os romanos. Com a ascensão de Asdrúbal, o Belo, em substituição a Amilcar Barca no comando do exército de Cartago, fundou-se, em 227 a.C., Cartago Nova (Cartagena), que passou a ser o novo centro de poder cartaginês na península.


O historiador inglês Edward Gibbon, no seu ambicioso trabalho "História da Decadência e da Queda do Império Romano", salienta o interesse das duas potências no controle do território da futura Hispânia:


"Por uma fatalidade singular, a Espanha era o México e o Peru do mundo antigo. A descoberta das ricas terras do Ocidente pelos Fenícios, e a violência exercida contra os nativos dessas regiões, forçados a se enterrar nas suas minas, e a trabalhar para os estrangeiros, apresenta o mesmo quadro que a história da América espanhola. Os Fenícios só conheciam as costas da Espanha. A ambição e a avareza levaram os Cartagineses e os Romanos a penetrar no coração deste país; e eles descobriram que a terra continha, em quase todos os lugares, cobre, prata e ouro. Fala-se de uma mina perto de Cartagena, que rendia por dia vinte e cinco mil dracmas de prata, ou perto de trezentos mil libras esterlinas por ano. As províncias de Astúrias, de Galiza e de Lusitânia dariam anualmente vinte mil libras de ouro" (tradução livre do francês - Capítulo VI, pág 136/137) - "Histoire de la Décandence et de la Chute de l'Empire Romain", de Edward Gibbon, 1776, Primeiro Tomo, traduzido por M.F. Guizot, Chez Lefèvre, Paris, 1819, exportado eletronicamente por Wikisource em 04/11/2016


Aníbal Barca, que sucedeu seu cunhado Asdrúbal, resolveu conquistar a cidade de Sagunto, umas das maiores aliadas dos romanos no levante espanhol. Em seguida, Aníbal, com um exército imenso e bem equipado, atravessou os Pirineus e os Alpes, com elefantes. Ao final, após uma campanha com muitas vitórias em território italiano, Aníbal acabou derrotado. Com isso, a Península Ibérica passou à órbita de Roma.


Os romanos, com a conquista gradual da Península Ibérica, iniciaram a sua urbanização, com a fundação das colônias de Corduba (Córdova), Carteia (posteriormente abandonada), Metellium (Medellín), Graccurris (Alfaro), Hispalis (Sevilha), Barcino (Barcelona), Caeser Augusta (Saragoça) e Emérita Augusta (Mérida).


Com a incorporação de quase todo o território peninsular, o Imperador Augusto dividiu a Hispânia em três províncias: Lusitânia, com capital em Emérita Augusta (Mérida); Bética, com capital em Corduba (Córdova); e Tarraconense, com capital em Tarraco (Tarragona).


Com a decadência do Império Romano, a península foi invadida por várias ondas de bárbaros: francos, vândalos, suevos, asdingos, até a consolidação do poder visigótico.


Por volta do final do séc. V, o Reino dos Visigodos controlava quase toda a Península Ibérica. Mas divisões internas vieram enfraquecê-lo no curso do século seguinte, até a expansão muçulmana alcançá-lo em 711, quando o berbere Tárique ibn Ziade desembarcou com suas tropas mouras nas proximidades de Gibraltar ou Algeciras e derrotou o rei visigodo Rodrigo na Batalha de Guadalete.


A conquista da península foi muita rápida, terminando em 720, mas os mouros não conseguiram consolidá-la nas Astúrias, com a reação do nobre supostamente visigodo Pelágio, que os venceu na Batalha de Covadonga, assim, criando o Reino das Astúrias.


Daí, é a história da chamada reconquista cristã, que vai se expandindo pelo território com a criação dos Reinos de Leão, Castela, Aragão, até a união dos Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão e com a conquista do último bastião muçulmano em território espanhol, o Reino de Granada, em 1492.


Ufa! Agora vamos para os locais visitados durante a viagem.


GALIZA


A Galícia ou Galiza tem muito conexão com Portugal. A segunda língua deles é o galego; poder-se-ia dizer uma mistura de espanhol com português. Também há uma certa identidade cultural com o Minho e Douro, posto que estes pertenceram ao antigo Reino de Galicia, até o séc. XI.


A Galiza foi ocupado por povos celtas, depois denominados galaicos, por volta da segunda metade da Idade do Ferro, havendo ainda vestígios de seus assentamentos.


A submissão total dos galaicos pelos romanos ocorreu tardiamente, em 23 a.C.. Três importantes cidades foram fundadas na época do Imperador Augusto: Lucus Augusti (Lugo), Bracara Augusta (Braga) e Asturica Augusta (Astorga), pertencentes à província de Tarraconense. Com a reforma promovida pelo Imperador Diocleciano, provavelmente em 298, foram unificadas na província Gallaecia, destacada da anterior.


Com a decadência do Império Romano, por volta do séc. V, a região foi ocupada por povos bárbaros: suevos, na Galiza, e alanos, em Leão.


Em 585, os visigodos incorporam Galiza ao seu reino, mas, em 715, os mouros a conquistaram, não por muito tempo, haja vista que, por volta de 741, o Rei Alfonso I das Astúrias a retomou.


Utilizaremos, nos títulos, os topônimos em galego


a- A Guarda


O mais interessante de A Guarda (La Guardia, em espanhol), província de Pontevedra, um pequeno porto pesqueiro, famoso pelos mariscos e lagostas, é o assentamento celta, provavelmente ocupado entre o séc. I a.C. e o séc. I d.C., formado por cerca de 200 habitáculos redondos de pedra, conhecido, em galego, como Castro de Santa Trega (Castro de Santa Tecla).


A partir do Monte Santa Tecla, tem-se uma belíssima vista do Rio Minho desaguando no Oceano Atlântico.


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Castro de Santa Trega, Monte de Santa Trega, A Guarda, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


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Choça reconstruída, Castro de Santa Tecla, Monte de Santa Tecla, La Guardia, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


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Ruínas dos habitáculos celtas, Castro de Santa Tecla, La Guardia, Galiza, Espanha.

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A partir do Monte de Santa Tecla (Espanha), vista da foz do Rio Minho e Aldeia Moledo do Minho (Portugal).


b- Pontevedra


O nome deriva do latim "pontem veteram", que faz alusão à primeira ponte construída na época dos romanos para passar sobre o Rio Lérez e a Ria de Pontevedra.


Ria é um vale fluvial no entorno da foz de um rio; na prática, é um braço de mar que adentra na terra, sujeito às marés.


É considerada uma das melhores cidades para viver na Europa, bem como é exemplo de planejamento urbano.


A construção do Convento de Santo Domingo foi iniciada por volta de 1304/1305 pelos dominicanos. De estilo gótico, era o maior dos templos dominicanos galegos, mas pouco ficou do convento; o claustro e as dependências se perderam. As cinco capelas ficaram em pé. No século XVIII, começou-se uma reconstrução em estilo neoclássico, porém nunca se finalizou.


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Ruínas do Convento de Santo Domingo, Pontevedra, Província de mesmo nome, Galiza, Espanha.

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Túmulo de nobre galego, Convento de Santo Domingo, Pontevedra, Galiza, Espanha.


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Escudos no interior da igreja: de cima para baixo, da esquerda para direita: 1) Escudo da Família García Flórez, Pontevedra; 2) Escudo de Espanha e Portugal, séc. XVII, proveniente do Quartel de São Fernando, Pontevedra; 3) Escudo dos Ulloa, Araujo e Castro, séc. XVIII, proveniente da Casa dos Sangro, Pontevedra; e 4) Escudo de José Carrillo Albornoz, 1º Duque de Montemar, séc. XVIII, proveniente do Quartel de São Fernando, Pontevedra. Convento de Santo Domingo, Pontevedra, Espanha.


O Pazo de los Condes de Maceda é um palácio renascentista do séc. XVI. O Conde de Maceda, no séc. XVIII, fez a reforma que lhe deu o aspecto atual. Hoje, no prédio, funciona um hotel público de quatro estrelas, da rede Paradores de Turismo de España, chamado Casa del Barón.


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Parador Casa del Barón, Pazo de los Condes de Maceda, Pontevedra, Galiza, Espanha.


O Mercado Municipal de Pontevedra é muito limpo e organizado. Mesmo comercializando peixes e frutos do mar, não se sente aquele cheiro desagradável que normalmente ocorre em outros mercados e feiras.


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Mercado Municipal, Rúa Serra, 5, Pontevedra, Galiza, Espanha.


Sanxenxo é uma localidade na margem da Ria de Pontevedra. O nome provém de San Gínes, o padroeiro da vila.


Alguns habitantes ainda utilizam o hórreo gallego, uma construção de pedra de uso agrícola destinada a secar e guardar os cereais: uma câmara de armazenagem estreita, permeável à passagem do ar e afastada do solo para evitar a entrada da umidade e de animais.


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Hórreo gallego, Sanxenxo, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


c - A Toxa


A Toxa (La Toja, em espanhol) é uma pequena ilha com um balneário de luxo, com lamas termais.


Há uma ponte que liga a Illa da Toxa à vila O Grove (El Grove).


Umas das atrações da ilha é uma Ermida consagrada a San Caralampio y a la Virgen del Carmen, mas também conhecida como Ermida de San Sebastian; diz-se que o templo data do séc. XII, mas hoje está totalmente coberto por conchas de vieiras.


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Ermida de San Caralampio y de la Virgen del Carmen, Igrexa da Toxa, coberta de conchas de vieiras, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


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Interior da Ermida de San Caralampio, Illa da Toxa, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


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Condomínios da Toxa; o carro Renault Clio, que alugamos para a viagem. Província de Pontevedra, Espanha.


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Vista de O Grove (El Grove) a partir de Isla de La Toja, Província de Pontevedra, Galiza, Espanha.


Na sequência, Padrón.


d - Padrón


Há vestígios da ocupação do lugar pelos galaicos; posteriormente, próximo à atual cidade de Padrón, os romanos instalaram Iria Flavia.


Segundo a tradição, o apóstolo São Tiago ou Santiago, quando de sua passagem pela Hispânia, teria pregado pela primeira vez em Iria Flavia. Morto na Judeia, seu corpo teria sido trazido por seus discípulos, em uma barca, até o porto fluvial próximo da antiga cidade romana. A barca foi amarrada a um pedrón, o que justificaria o topônimo Padrón. Esta pedra, hoje, se conserva sob o altar da Iglesia de Santiago de Padrón, ao lado das águas do rio Sar.


No mesmo lugar da antiga igreja gótica, demolida, começou-se a construir, em 1859, a Iglesia de Santiago de Padrón, finalizada em 1876, no estilo neoclássico. Nela, sob o altar, repousa a pedra em que foi amarrado o barco que trouxe o corpo de Santiago, o Apóstolo.


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Iglesia de Santiago de Padrón, sob o altar está a pedra (pedrón) em que foi amarrado o barco que trazia o corpo de Santiago, o Apóstolo, Padrón, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


A Iglesia de Santa Maria de Iria Flavia ou Colegiata de Iria Flavia foi reconstruída por volta do séc. XII, mas, após muitas alterações, restou pouca coisa do estilo românico, predominando o gótico mesclado com o barroco galego. Durante as obras de restauração, surgiu um importante cemitério do qual se extraiu uma trintena de sarcófagos da Alta Idade Média, entre os séculos VI e X.

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Iglesia de Santa María de Iria Flavia, aldeia de Iria Flavia, Padrón, Província de La Coruña, Galiza, Espanha. No tímpano do portal, os três Magos adorando a Virgem do Leite, esta flanqueada por dois anjos que a estão coroando.


Os nativos de Padrón se orgulham de que a poetisa Rosalía de Castro, que lutou pela valorização da língua galega, faleceu em Padrón, onde ficou enterrada, até seus restos mortais serem transladados para o Panteão dos Galegos, em Santiago de Compostela. Outro orgulho é o fato de que o escritor Camilo José Cela, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1989, nasceu em Iria Flavia, aldeia pertencente ao município de Padrón.


Quem vai a Padrón não pode deixar de provar uma tapa famosa da região: pimientos de Padrón fritos (pimentões verdes): pimentões fritos no azeite de oliva e temperados com sal grosso. Não faltamos; uma delícia.


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Saboreando a tapa Pimientos de Padrón, Padrón, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


e - Santiago de Compostela


A cidade de Santiago de Compostela (alguns dizem que significa Campo da Estrela) é famosa no mundo todo porque é o ponto final da peregrinação do chamado Caminho de Santiago de Compostela, cuja rota mais tradicional sai da cidade francesa de Saint-Jean-Pied-de-Port, percorrendo aproximadamente 800 quilômetros.


Segundo a tradição, os restos mortais de Santiago, o Apóstolo, teriam sido descobertos, em 813, neste lugar, onde se ergueu a catedral em sua honra, por ordem de Alfonso II das Astúrias. A urbe foi se desenvolvendo ao redor do templo cristão.


A atual Catedral de Santiago foi construída entre os séculos XI e XIII, no lugar onde se encontrava a anterior, inicialmente em estilo românico, tendo sofrido alterações ao longo do tempo com adição de elementos góticos, renascentistas e barrocos.


Os restos mortais do santo encontram-se em uma urna de prata colocada sob o altar da catedral. O local pode ser visitado pelos peregrinos e pelos turistas.


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Fachada oeste da Catedral de Santiago, estilo barroco, construída no séc. XVIII, em virtude da deterioração da anterior, Praça do Obradoiro, Santiago de Compostela, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


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Urna de prata onde estão depositados os restos mortais de Santiago Maior, Cripta sob o altar da Catedral de Santiago, Santiago de Compostela, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


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Interior da Catedral de Santiago, Santiago de Compostela, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


Em Santiago de Compostela, há também um luxuoso hostal da rede pública Paradores de Turismo de España, conhecido como Hostal de los Reyes Católicos. Instalado no antigo Hospital Real de Santiago, este erguido entre 1501 a 1511 pelo arquiteto real Enrique Egas, por ordem dos Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, com o fim de abrigar os peregrinos bem como lhes prestar auxílio médico. O prédio é de estilo plateresco, transição entre o gótico e o renascentista, com componentes do mudéjar (influências mouriscas), bem em voga na época dos Reis Católicos.


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Hostal de los Reyes Católicos, antigo Hospital Real, Praça do Obradoiro, Santiago de Compostela, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


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Portal da fachada do Hostal de los Reyes Católicos, estilo plateresco: à esquerda, de baixo para cima: Adão, Santa Catarina e São João Batista; à direita, de baixo para cima: Eva, Santa Luzia e Santa Maria Madalena; no friso, os doze Apóstolos; nos cantos do portal: medalhões de Fernando de Aragão e Isabel de Castela; à esquerda da janela central: Cristo, Santiago e São Pedro; à direita da janela central: Virgem com o Menino, São João Evangelista e São Paulo.


Santiago de Compostela é a terra natal da escritora e poetisa María Rosalía Rita de Castro, conhecida como Rosalía de Castro, considerada uma das mais importantes poetisas espanholas do séc. XIX e uma das responsáveis pelo Rexurdimento Gallego (Resurgimento Galego), criando a primeira grande obra contemporânea na língua galega, "Cantares Gallegos". Seus restos mortais repousam no Panteón de Gallegos Ilustres.


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Monumento a Rosalía de Castro, 1917, Paseo da Ferradura, Parque da Alameda, Santiago de Compostela, Província de La Coruña, Galiza, Espanha. Neste lado do monumento está representado um casal de jovens com trajes tradicionais galegos, conhecido como "A Despedida", alusão à emigração, tema que a escritora era boa conhecedora.


Partimos para A Coruña.


f - A Coruña


A Coruña (La Coruña) é mais conhecida pelos brasileiros por abrigar a equipe de futebol Real Club Deportivo de La Coruña, pela qual atuou o grande jogador Bebeto, nas temporadas de 1992/1993 a 1995/1996, levando o time a vencer a Copa del Rey, o primeiro grande título da equipe galega.


As tropas do general romano Julio Cesar chegaram em A Coruña no ano de 62 a.C., ocupando um antigo porto marítimo dos nativos. Os romanos a chamaram Brigatium e, no séc. I, construíram o farol conhecido como Torre de Hércules, o mais antigo em funcionamento na Europa.


A região, depois da desintegração do Império Romano, foi ocupada pelos suevos e depois vieram os visigodos. Os mouros expandiram sua ação até aqui, após invadir a península em 711, mas ficaram pouco. No séc. IX, A Coruña passou a ser parte do reino cristão das Astúrias, mas os ataques dos víquingues levaram ao despovoamento do local. Somente em 1208, que ela vai ser refundada por Alfonso IX de Leão.

Do porto de A Coruña saiu a Invencível Armada, montada por Felipe II, em 1588, para invadir a Inglaterra, governada por Isabel I, mas a frota foi derrotada pelos ingleses, auxiliados por uma tempestade, no Canal da Mancha. A partir desse episódio, começou o gradual declínio da Espanha.


A Coruña é o grande centro comercial e de negócios da Galiza.


Um dos destaques de A Coruña é o Palacio Municipal, terminado em 1914 e ocupado pelo Ayuntamiento (prefeitura) em 1917, com estilo eclético grandiloquente, muito em moda no século XIX.


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Palacio Municipal de La Coruña, plaza de María Pita, A Coruña, Galiza, Espanha.


María Pita é a grande heroína de A Coruña. Após a tentativa de invasão da Inglaterra pela Invencível Armada de Felipe II, em represália, Isabel I ordenou um ataque a A Coruña, em 1589, capitaneado pelo famoso corsário Francis Drake. Durante a ação, após os ingleses romperam a muralha, o marido de María Pita foi morto. Cheia de ira, María Pita tomou a lança da bandeira inglesa e com ela matou o alferes que comandava o assalto, irmão do corsário. A reação desmoralizou a tropa inglesa, que se retirou.


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Monumento a María Pita, escultura em bronze realizada por Xosé Castiñeiras, 1998. A heroína é representada empunhando a lança da bandeira. Plaza María Pita, A Coruña, Galiza, Espanha.


Alfonso Castelao, político, desenhista e dramaturgo, é considerado um dos pais do nacionalismo galego. Na guerra civil espanhola, esteve do lado republicano, terminando por se exilar em Nova Iorque. Em razão de sua luta antirracista em Cuba e nos Estados Unidos, foi nomeado presidente de honra da Federação Mundial de Sociedade de Negros. Morreu em Buenos Aires e, posteriormente, seus restos mortais foram transladados para a Galícia, onde repousam no Panteón de Gallegos Ilustres.


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Alfonso Castelao, Plaza del Humor, A Coruña, Galiza, Espanha.


A Colegiata de Santa María del Campo é um templo católico, estilo românico tardio, provavelmente construído no séc. XII. Foi alçada a colegiata, em 1441, por uma bula papal.


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Colegiata de Santa María del Campo; no tímpano, representa-se uma epifania. A Coruña, Galiza, Espanha.


Partimos para um passeio na Costa da Morte. Nós não tínhamos muita intimidade com o aparelho de GPS. Ele estava programado para não andar em rodovias com pedágios. Então, nós fomos levados para estradas muito estreitas, algumas em que passava apenas um veículo por vez. Não bastasse isso, chegamos em um trecho que havia um aviso de perigo - CUIDADO COM OS URSOS. Mas tudo bem; chegamos em Camariñas, cujas atividades econômicas giram em torno de renda de bilros, pesca e colheitas de mariscos. Lá, visitamos o Castelo de Soberano.


O Castelo de Soberano foi construído em 1740, no reinado de Carlos III; era uma bateria curva para a defesa de toda a entrada da ria, tendo dezessete troneiras. O castelo era protegido por um recinto amuralhado com um baluarte, dois meio-baluartes e um fosso no meio. No interior, um prédio-armazém que servia de habitação e paiol. Nos anos 1940, a bateria perdeu sua funcionalidade, e, infelizmente, as pedras do velho castelo foram empregadas para a construção do novo porto.


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Ruínas do Castelo de Soberano, Camariñas, Província de La Coruña, Galiza, Espanha.


g - Lugo


Lugo iniciou como um acampamento romano montado sobre um castro nativo. Paulo Fabio Máximo, no séc. I a.C., fundou, em nome do Imperador Augusto, Lucus Augusti, se convertendo, posteriormente, em um importante núcleo urbano, incorporando a cultura e o modo de vida dos romanos.


O que mais nos impressionou em Lugo foi a muralha construída pelos romanos, entre o final do séc. III e IV a.C., única no mundo conservada na sua integralidade, com mais de 2.000 metros de perímetro. Tanto que a Unesco a declarou Patrimônio da Humanidade em 2000.


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Muralha romana na Puerta de la Estación, Lugo, Província homônima, Galiza, Espanha.


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A ronda sobre a Muralha romana de Lugo, Província de mesmo nome, Galiza, Espanha.


A Casa Consistorial de Lugo, onde funciona o Ayuntamiento, teve sua construção iniciada entre 1736 e 1738 e terminada em 1744. É um belo exemplo do que é conhecido como barroco gallego.

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Casa Consistorial de Lugo (Ayuntamiento), Lugo, Província do mesmo nome, Galiza, Espanha.


Em torno de 1129, iniciou-se, por ordem do Bispo Pedro III, a construção da Catedral de Santa María de Lugo, sob a responsabilidade de Mestre Raimundo de Monforte, com estilo românico, dedicada a Virgen de los Ojos Grandes, padroeira da cidade. Com o tempo, o templo sofreu modificações e acréscimos, com sacristia, sala capitular e claustro em estilo barroco; a fachada foi alterada no último terço do séc. XVIII, passando a apresentar o estilo neoclássico.


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Catedral de Santa María de Lugo, Província de mesmo nome, Galiza, Espanha.


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Capela da Virgen de los Ojos Grandes, imagem de alabastro, Catedral de Lugo, Província de mesmo nome, Galiza, Espanha.


Agora, para uma das paradas mais famosas do Caminho de Santiago de Compostela: O Cebreiro.


h - O Cebreiro


Santa María do Cebreiro (Cebrero, em espanhol) é um povoado da Província de Lugo muito conhecida por alguns brasileiros que leram o best-seller de Paulo Coelho: "O Diário de um Mago". É o primeiro ponto de apoio em solo galego aos peregrinos do Caminho de Santiago de Compostela.


A fama do lugar veio com o "Milagre da Eucaristia" ou "A Lenda do Santo Graal da Galiza". No séc. XIV, um homem humilde, que vivia em um povoado que distava cerca de 3 quilômetros da Igreja do Cebreiro, ia à missa nesse templo, mesmo nos dias com chuva, vento ou frio. Em um dia em que desabou uma forte tempestade, e o padre acreditava que ninguém compareceria à celebração, o homem entrou. O sacerdote zombou do fiel dizendo: "Qual vem este outro com uma grande tempestade e tão fatigado a ver um pouco de pão e de vinho", completando que sua presença "não havia valido a pena". Deus, então, para penalizar a falta de fé e caridade do padre, no momento em que a hóstia e o vinho estavam sendo consagrados, realizou o milagre da conversão da hóstia e do vinho em carne e sangue, respectivamente.


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Eunice e o Apóstolo Santiago, O Cebreiro, Piedrafita del Cebrero, Província de Lugo, Galiza, Espanha.


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Plaza do Cebreiro, Piedrafita del Cebrero, Província de Lugo, Galiza, Espanha.


O Santuario de Santa María la Real de O Cebreiro, estilo pré-românico, foi fundado por monges beneditinos reformados (Ordem de Cluny) no séc. IX. A igreja é o local onde ocorreu o "Milagre da Eucaristia" e no seu interior está guardado o Cálice do Santo Graal.


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Iglesia de Santa María la Real de O Cebreiro, Piedrafita del Cebrero, Província do Lugo, Galiza, Espanha.


Daí, fomos para Castela e Leão, entrando por Villafranca del Bierzo. Mas aí é outro post.


Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.

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