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Dresden e Bamberg - Alemanha - 2010

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 10 de jun. de 2022
  • 18 min de leitura

Hotel Restaurant Brudermühle (Moinho dos Irmãos). Schranne,1, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.



1 - Dresden


Saímos de Berlim em excursão, a bordo de um ônibus, para Dresden, na Saxônia.


Dresden a joia histórica da Alemanha, cortada pelo rio Elba. Pode-se dizer que é a Ouro Preto da Alemanha.


O nome deriva do sorábio, língua eslava utilizada na época na região, que significa pântano.


A primeira citação escrita sobre Dresden que se tem notícia data de 1206, quando então fazia parte da Marca de Meissen, integrante do Sacro Império Romano Germânico; a partir de 1423, passou a integrar o Eleitorado da Saxônia, governado pela Casa Nobre de Wettin; em 1485, a família se partiu em dois ramos: Ernest recebeu o título de Eleitor da Saxônia, com a sede de seu principado em Wittenberg, enquanto seu irmão mais novo, Albert de Saxe, ficou com o Ducado da Saxônia, escolhendo Dresden como capital, elevando, obviamente, o status da cidade, tornando-a um centro político e cultural. Cabe observar que dessa Dinastia de Wettin descendem a atual monarca britânica, Elisabete II, da família conhecida como Casa de Windsor, e o atual rei da Bélgica, Albert I, da família intitulada Saxe-Coburgo-Gota.


A cidade tornou-se uma referência arquitetônica e cultural no início do século XVIII, por iniciativa do príncipe-eleitor Frederico Augusto I da Saxônia, conhecido como Augusto II da Polônia, o Forte (em razão de sua compleição física avantajada e de seu temperamento ardente) e de seu filho Frederico Augusto II da Saxônia, também chamado Augusto III da Polônia, com a construção de seu conjunto barroco formado pelos Palácio Real de Zwinger, Palácio Japonês (para abrigar a coleção de porcelanas japonesas), Taschenbergpalais, Schloss Pillnitz, Hofkirche (Catedral de Dresden católica) e Frauenkirche (Igreja Luterana). Por conta disso, passou a ser chamada Florença do Elba.


Durante a Campanha da Alemanha, no contexto das guerras napoleônicas, houve, nos arredores da cidade, a Batalha de Dresden, travada em 26 e 27 de agosto de 1813 entre as tropas francesas, comandadas por Napoleão, e o exército de coalizão constituído de austríacos, russos e prussianos, com efetivo bem superior ao dos franceses, na qual o imperador francês obteve uma acachapante vitória, redundando na perda de 27 mil soldados, entre os aliados, enquanto os franceses perderam 8 mil.


O episódio da passagem de Napoleão por Dresden é contado por seu biógrafo Max Gallo:


"Ele tem quarenta e quatro anos hoje, domingo, 15 de agosto de 1813. Ele está a cavalo sob uma tempestade, fria, e ele passa revista nas colunas de soldados que pelo portão e o subúrbio de Pirna deixam Dresden para marchar em direção ao leste, em direção a Bautzen, Görlitz, e aos rios Spree, Neisse, Katzbach, um afluente do Óder.


"Ele para por um momento na entrada da ponte que, para sair de Dresden, cruza o rio Elba. A noite caiu, mas a chuva ainda é mais pesada. Ele sente a água escorrendo pelo chapéu, impregnando o feltro, encharcando a sobrecasaca. Ele estremece. Ele experimentou isso tantas vezes, nas margens dos rios italianos, nas bordas do Reno, do Vístula, do Niemen. Quantos pontes cruzaram, quantos rios margearam sob chuva. (pág. 1197)


(...)


"Ele lança suas ordens sob a chuva que recomeçou. Meia-volta. Refaz-se a rota. As colunas refluem, e ele as passa, galopando em direção a Dresden.


"Ele atravessa a ponte sobre o Elba, no meio da multidão de soldados. Tudo isso cheira a pânico, quase derrota. É possível. Ele desmonta, vê o general Gouvion-Saint-Cyr e lhe assegura. 'Os reforços estão chegando. Eu os comando'.


"Os soldados o reconhecem, enquanto ele, no meio da ponte, dá ordens aos comandantes dos corpos, como se a fuzilaria e os tiros de canhão não anunciassem a chegada dos austríacos e prussianos, marchando em colunas serradas precedidos de cinquenta canhões disparando metralha. Eles são quase duzentos e cinquenta mil e nós somente cem mil. 'Nós venceremos'." (tradução livre do francês - pág. 1200) "Napoléon", de Max Gallo, Éditions Robert Laffont, S.A., Paris, 2012.




Napoleão atravessando o rio Elba, em Dresden, pintura de Józef Brodowski, 1895; ao fundo, à esquerda, a luterana Frauenkirche, com sua grande cúpula, o símbolo da cidade, e à direita, a torre da Hofkirche, a catedral católica, By Józef Brodowski - http://www.desa.art.pl/aukcje/aukcja48/aukcja_48.htm, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=618367.


Infelizmente, durante a 2ª Guerra Mundial, a Força Aérea Britânica (RAF) realizou um ataque à cidade, em 13 de fevereiro de 1945, que, no dia seguinte, foi seguido de outros, realizados pelos britânicos e americanos, chegando a lançar quase quatro mil toneladas de bombas. Os ataques provocaram o que se chama "tempestade de fogo", matando cerca de 25 mil pessoas e destruindo o centro da cidade, exatamente onde ficava grande parte dos edifícios históricos. Os bombardeios não foram uma unanimidade entre os aliados. O próprio primeiro-ministro britânico Winston Churchill questionou a utilidade do furioso ataque aéreo.




O centro de Dresden destruído após os ataques aéreos dos aliados, em fevereiro de 1945, no final da 2ª Guerra Mundial. Fotografia de Richard Peter. Par Deutsche Fotothek‎, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=7937338


A reconstrução dos monumentos históricos feita pelo alemães, após o fim da guerra, é admirável, como pode ser visto a seguir.


A Semperoper é uma ópera que abriga atualmente a Sächsische Staatskapelle Dresden (Orquestra Estatal Saxônica de Dresden), uma das orquestras mais antigas do mundo, fundada em 1548.


O primeiro teatro real foi um projeto do professor e arquiteto Gottfried Semper, construído em estilo neorrenascentista entre 1838 e 1841, considerado, na época, o mais bonito do mundo; nele trabalhou o grande compositor de óperas alemão Richard Wagner, entre 1843 e 1849, tendo estreado as suas óperas "Rienzi", "Tannhäuser" e "O Navio Fantasma" (também conhecida como "O Holandês Voador"); esta última serviu de inspiração para a série cinematográfica "Piratas do Caribe".


Infelizmente, em 1869, o edifício foi destruído por um incêndio.




O primeiro teatro, construído por Gottfried Semper, em fotografia por volta de 1860. Das erste Hoftheater von Gottfried Semper um 1860, Archiv der Sächsischen Staatstheater Dresden, Foto Friedrich und Ottilie Brockmann.


A segunda ópera foi erguida, também em estilo neorrenascentista, entre 1871 e 1878, sob a supervisão do filho de Semper, Manfred; tornou-se internacionalmente famosa, tendo sido palco das estreias das óperas "Feuersnot" (1901) "Salomé" (1905), baseado em texto de Oscar Wilde, "Elektra" (1909) e "O Cavaleiro da Rosa" (1911), obras do compositor alemão Richard Strauss.


Após o bombardeio de Dresden em 13 e 14 de fevereiro de 1945, a casa de ópera ficou praticamente destruída.


Sua reconstrução iniciou-se em 1977, o mais fielmente possível ao original, tendo sido oficialmente reinaugurada em 1985.




Semperoper, ópera em estilo neorenascentista, inaugurada em 1878, com o projeto de Gottfried e Manfred Semper, e reinaugurada em 1985. Theaterplatz, 2, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


Zwinger é um complexo palaciano, erguido entre 1709 e 1719, por iniciativa do príncipe-eleitor Frederico Augusto I da Saxônia, conhecido como Augusto, o Forte, também rei da Polônia, em estilo barroco, tendo como projetistas o arquiteto Matthäus Daniel Pöppelmann e o escultor Balthasar Permoser. Servia como local de entretenimento, torneios e festas da corte da Saxônia.


O conjunto foi terminado apenas no século XIX, com a construção da ala que abriga a galeria das pinturas, conhecida como Semperbau, realizada por Gottfried Semper, entre 1847 e 1854.


Em 1945, o complexo foi bastante danificado quando do bombardeio promovido pelos aliados, mas sua reconstrução foi uma das primeiras realizadas após o final da guerra, com término nos anos 1960.


O complexo, com edifícios em sua maior parte em estilo barroco, é constituído de seis pavilhões ligados por galerias. Os pavilhões mais importantes são o Wallpavillon, onde encontram-se esculturas barrocas e o Glockensplelpavillon, com um carrilhão em porcelana de Meissen. Ao norte, está a Semperbau ou Sempergalerie, erguida no século XIX, em estilo neorrenascentista.


Hoje, o complexo abriga diversos museus: 1) parte do acervo do Gemäldegalerie Alte Meister (Galeiria de Pintura dos Antigos Mestres), expondo obras de diversos pintores famosos, com Rubens, Sandro Botticelli, Albrecht Dürer, Paolo Veronese, e, o ponto alto, o quadro "Madona Sistina", o original de Rafael Sanzio. 2) Rüstkammer (Sala de Armas), que abriga uma coleção de armas (de fogo, espadas, sabres, armaduras e equipamentos de montaria), a maior parte dos séculos XVI e XVII; 3) Prozellansammlung (Coleção de Porcelanas), a maior e a mais importante coleção especializada em cerâmica do mundo, com peças do Japão, China e da manufatura de Meissen, fundada por Augusto, o Forte; e 4) Mathmatisch-Physikalischer Salon (Salão de Matemática e Física), reunindo uma coleção de relógios históricos e instrumentos científicos de renome mundial, inclusive um globo celeste de 1586.


Um dos destaques do Zwinger é sua portão monumental, conhecido como Kronentor (Portão da Coroa). No seu alto, encontra-se uma coroa ornamentada.




Kronentor (Portão da Coroa), visto da ponte do fosso; no térreo, uma passagem em arco perfeito, ladeada de duas colunas, e, ao lado delas, nos nichos, à esquerda, a escultura do deus romano Vulcano, e à direita, a do deus Baco; no alto da passagem, a cabeça esculpida do herói Hércules; o piso superior apresenta um hall aberto nos quatro lados, encimado pelo brasão saxão-polonês e doze esculturas; a cúpula verde e dourada, em forma de cebola, age como uma almofada em que repousa a coroa real polonesa, suportada por quatro águias polonesas, tudo em dourado; seu conteúdo simbólico, ou seja, a cúpula de cebola do leste europeu, em verde e dourado saxões, representa a Polônia-Saxônia, a simbiose do eixo saxão em Varsóvia, "um mediador da cultura entre o Oriente e o Ocidente", como afirmou o historiador de arte alemão Udo August Ernst von Alvensleben. Zwinger, Theaterplatz, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.




Pátio do Zwinger; ao fundo, Kronentor visto do interior, ladeado pela galerias. Theaterplatz, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.




Pátio do Zwinger; ao fundo, Kronentor visto do interior, agora a partir do terraço superior da galeria nordeste. Theaterplatz, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


A Nymphenbad, situada no nordeste do complexo, em um pátio interno embutido entre as muralhas, é uma das fontes barrocas mais opulentas, tendo sido projeto do escultor Balthasar Permoser; ao fundo, no alto, tem-se a fonte d'água, que desce em cascata artificial, sendo capturada em uma grande bacia semicircular; na composição, têm-se golfinhos e tritões cuspidores de água; no centro do conjunto, há outra bacia com chafariz, nas laterais da qual encontram-se esculturas das ninfas em nichos.




Nymphenbad ; ao fundo a cascata com golfinhos e tritões cuspidores de água; nas laterais, à direita, a ninfa com concha que vai para o banho, e, à esquerda, a ninfa que sai do banho, esculturas realizadas pelo próprio Balthasar Permoser; as demais esculturas de ninfas que se encontram nos nichos ao redor do conjunto são obras de Johann Benjamin Thomae, Johann Joachim Kändler e Johann Christian Kirchner, dentre outros. Zwinger, Theaterplatz, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


Katholische Hofkirche, oficialmente Kathedrale Ss. Trinitatis (Catedral da Santíssima Trindade) é uma catedral católica, erguida em uma cidade então predominantemente protestante.


Isso ocorreu porque o príncipe-eleitor Frederico Augusto I da Saxônia também queria ser rei da Polônia, país católico. Para conseguir sentar no trono polonês como Augusto II, ele teve que se converter ao catolicismo. Não havia, na capital da Saxônia, um templo adequado para o príncipe-eleitor assistir missa. Assim, o sucessor de Augusto II, seu filho Augusto III da Polônia, que também se convertera ao catolicismo para assumir o trono polonês, determinou, com projeto do arquiteto italiano Gaetano Chiaveri, o erguimento, em estilo barroco, entre 1739 e 1754, da catedral católica de Dresden, uma das maiores igrejas da Saxônia.


Na cripta da catedral, sob o coro do templo, estão 49 sarcófagos com os restos mortais dos eleitores, reis e parentes católicos da Casa de Wettin; também está o coração de Augusto II, o Forte, em uma cápsula de estanho, enquanto seu corpo encontra-se enterrado no túmulo dos reis poloneses, na Catedral de Cracóvia, na Polônia.


No interior do templo, podem-se admirar um enorme órgão feito por Johann Gottfried Silbermann, um púlpito rococó, obra do escultor Balthasar Permoser, e uma pintura intitulada "Assunção", do grande mestre alemão Anton Raphäel Mengs.


A catedral foi bastante danificada quando do bombardeio de Dresden, no final da 2ª Guerra Mundial, tendo a reconstrução sido iniciada em 1962 e durado o resto do século XX.




Katholische Hofkirche, em estilo barroco romano, projeto do arquiteto italiano Gaetano Chiaveri, terminada em 1754; como pode-se observar na fotografia, os nichos e as balaustradas são adornadas por 78 esculturas de pedra, representando apóstolos, santos e dignitários da Igreja Católica, e, no alto da torre, 4 esculturas alegóricas representando as três virtudes teologais (fé, caridade e esperança) e a justiça, obras dos escultores italianos Lorenzo Mattielli e seu filho Francesco. Theaterplatz, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


Ainda nos arredores da Theaterplatz, nos deparamos com o passadiço elevado que liga o Residenzschloss (Palácio Residencial) ao Taschenbergpalais, hoje um hotel de luxo, Hotel Taschenbergpalais Kempinski Dresden.


A construção do Residenzscholoss, a residência dos príncipes-eleitores (1547-1806) e reis saxões (1806-1918) teve seu início na primeira metade do século XIII, por volta de 1220/1230, por iniciativa do burgrave (comandante militar de uma praça-forte do Sacro Império Romano Germânico) de Dohna; por volta de 1400, o margrave (governador de uma marca, território existente na fronteira do Sacro Império Romano Germânico) da Marca de Meissen, Guilherme I, o Caolho, iniciou a expansão da residência principesca; o complexo palaciano sofreu várias alterações ao longo da história, como em 1548/1556, tornando-se um palácio renascentista, e no início do século XVIII, durante o reino de Augusto II, o Forte, com introdução de elementos barrocos; no período de 1889 a 1901, houve nova modificação, com uma fachada neorrenascentista.


Bastante danificado após o bombardeio de Dresden, em 1945, ele foi vagarosamente restaurado ao longo do tempo, tendo sua última parte concluída em 2019, o pequeno salão de baile.


Atualmente o palácio abriga cinco museus.


Já o Taschenbergpalais foi construído de 1705 a 1708, com projeto do arquiteto Johann Friedrich Karcher, por ordem de Augusto II, o Forte, para servir de residência, inicialmente, para sua amante Ursula Katharina, Princesa de Taschen, mas, após o banimento desta da corte saxã, foi destinado para moradia de sua próxima amante, Anna Constantia von Brockdorff, futura Condessa de Cosel.


Em 1713, Anna Constantia foi também banida da corte, e promoveu-se a renovação do palácio, passando a chamar-se Turkish Palais (Palácio Turco).


Praticamente destruído após o bombardeio de 1945, ele foi restaurado a partir de 1992, com término em 1995, com um custo final de cerca de 128 milhões de euros; no mesmo ano, tornou-se um hotel cinco estrelas, sob a administração do grupo hoteleiro Kempinski, tendo hospedado Barack Obama, Vladimir Putin, Jacques Chirac, Helmut Schmidt, Margarete II da Dinamarca, Beatriz da Holanda, Príncipe Alberto II de Mônaco e o estilista alemão Karl Lagerfield.




Passagem elevada ligando o Residenzschloss, à esquerda, e o Taschenbergpalais. Taschenberg, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


Em um dos extensos muros do complexo de edifícios que forma o Resindenzschloss, encontra-se o mural conhecido como Fünrstenzug (Procissão dos Príncipes).


Originalmente as figuras foram pintadas pelo artista Wilhelm Walther entre 1871 e 1876, para comemorar antecipadamente os 800 anos da Casa de Wettin, que ocorreria em 1889, mas, como a obra se deteriorou rapidamente, as figuras passaram a ser representadas, após trabalhos artísticos realizados entre 1904 e 1907, por 23.000 peças de porcelana de Meissen.


A obra mural representa 35 governantes saxões, dentre margraves, príncipes-eleitores, duques e reis, desde Conrado, margrave de Meissen, que governou no século XII, até George da Saxônia, que reinou por 2 anos, no século XX, bem como 59 outras figuras, entre cientistas, artistas, artesãos, crianças e agricultores. Estão ausentes somente Henrique I de Meissen e o último rei saxão, Frederico Augusto III, deposto em 1918.



Fünrstenzug, cortejo dos governantes saxões, todos a cavalo: à esquerda, de capa real, vê-se Alberto I, o Soberbo, na sequência, Teodorico I, o Oprimido (interior), Henrique III, o Ilustre, Alberto II, o Degenerado, Frederico I, o Valente (interior), Frederico II, o Sério, Frederico III, o Severo, margraves de Meissen, Frederico I da Saxônia, o Belicoso, Frederico II da Saxônia, o Bom (interior), Ernesto da Saxônia (meio), Alberto III da Saxônia, o Corajoso, Frederico III da Saxônia, o Sábio (interior), João da Saxônia, o Constante (meio) e João Frederico I da Saxônia, o Magnânimo, príncipes-eleitores da Saxônia. Augustusstrasse, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


No espaço público conhecido como Neumarkt (Mercado Novo), encontram-se vários edifícios de importância histórica, como o Coselpalais, o complexo Kunstakademie-Lipsiusbau e a grande igreja luterana Frauenkirche.


O Coselpalais (Palácio de Cosel) foi mandado construir pelo general de infantaria Friedrich August Graf von Cosel, filho ilegítimo de Augusto II, o Forte, e sua amante Anna Constantia, Condessa de Cosel, em estilo barroco de Dresden, entre 1764-1765.


Reconstruído primorosamente após o bombardeio de 1945, abriga hoje, no seu andar térreo, o Coselpalais Grand Café & Restaurant.


A Hochschule für Bildende Künste Dresden (Academia ou Universidade de Belas Artes de Dresden), fundada em 1764, tem um da suas partes funcionando no conjunto Kunstakademie-Lipsiusbau, no Brühlsche Terrasse, à margem do rio Elba, concebido pelo arquiteto Constantin Lipius, em estilo historicista, e construído entre 1887 e 1894. No conjunto funcionam a escola de arte e um centro de exposição de artes.




Neumarkt (Mercado Novo), vendo-se, ao fundo, o complexo Kunstakademie-Lipsiusbau, de 1894, em estilo historicista, onde funciona parte da Academia de Belas Artes de Dresden; à direita, o Coselpalais, de 1765, em estilo barroco. Frauenkirche, 12, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


A comunidade luterana de Dresden, que representava a maioria esmagadora da população, queria uma igreja da congregação à altura; assim, por meio do engenho do mestre-construtor George Bähr, entre 1726 e 1743, ergueu-se Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), com planta quadrada e abside a leste, de arenito, em uma área relativamente pequena. Nas laterais, há 4 torres que delimitam o prédio, onde estão localizadas as escadas.


O que mais chama atenção na Frauenkirche é sua cúpula, também de arenito, pesando mais de 12.000 toneladas. São 24 metros de altura com 26 metros de diâmetro, com um formato singular: sua curva superior é convexa mas a inferior é côncava, dando a impressão de um sino, daí o apelido "sino de pedra". Sobre a cúpula, está uma lanterna, onde fica a plataforma de observação da igreja, encimada por uma cruz, formando um conjunto belíssimo.


Antes mesmo da conclusão da igreja, ela foi consagrada em 1734, bem como foi instalado no seu interior, em 1736, o grande órgão Silbermann, com o qual um dos maiores compositores alemães Johann Sebastian Bach realizou um concerto.


Outros fatos importantes ocorridos na Frauenkirche foram a visita, em 1813, do grande escritor alemão Johann Wolfgang Goethe à plataforma de observação, logo após concluir sua obra-prima "Fausto", e a estreia, em 1843, da obra para coral "Das Liebesmahl der Apostel" (A Festa do Amor dos Apóstolos), conduzida pelo próprio compositor, Richard Wagner.


Infelizmente, no final da Segunda Guerra Mundial, após o bombardeio do centro de Dresden, a igreja foi quase toda destruída. Sua primorosa reconstrução foi feita entre 1993 e 2005.


Transcrevemos o que foi citado sobre a sua reconstrução no guia turístico "Alemanha, dia a dia", da Frommer's, à pág. 177:


"Durante a Guerra Fria, a Igreja de Nossa Senhora, datada de 1743 e com cúpula barroca, um dos monumentos mais apreciados da cidade, permaneceu em ruínas. O governo da Alemanha Oriental deixou o entulho como uma lembrança da guerra e da ameaça da 'agressão' anglo-americana. A reconstrução começou em 1993, e a igreja foi reconsagrada para os 800 anos de Dresden em 2005. Partes originais da pilha de pedregulhos foram usadas junto com outros materiais. A ajuda financeira e material veio de todo o mundo - inclusive da Grã-Bretanha, que doou uma nova cruz para a cúpula. A igreja se tornou um símbolo de reconciliação".




Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora - de confissão luterana), à direita, a abside, à esquerda, a base de uma das 4 torres laterais, sobre o conjunto, vê-se a parte inferior da grande cúpula (o sino de pedra). Neumarkt, Dresden, capital do Estado Livre da Saxônia, Alemanha.


Seguimos para Bamberg, na Alta Francônia.



2 - Bamberg


Bamberg é uma das poucas cidades importantes alemãs que não tiveram seus centros destruídos pelos ataques dos aliados, durante a Segunda Guerra Mundial. Assim, com esse patrimônio preservado, particularmente medieval e da idade moderna, foi incluída na Lista do Patrimônio Mundial da Unesco, em 1993. Por isso ficou conhecida como a "obra de arte total de mil anos".


Bamberg, na era medieval, fazia parte da Francônia, uma região cultural que, no século X, abrangia as regiões atuais de Hesse, do Palatinado, partes de Baden-Wurtemberg e a maioria do que se conhece hoje por Francônia. O nome deriva dos francos, mas isso ocorreu porque os povos que viviam ali, não necessariamente de origem franca, passaram a ser governados por uma elite franca. Assim, naquele século, foi criado o Ducado de Francônia (Herzogtum Franken), no seio do que se conhecia como Francia Oriental (Francia orientalis). Dessa forma, passou a fazer parte do Sacro Império Romano Germânico, mas nunca constituiu mesmo uma unidade, sendo um mosaico de condados e bispados.


O imperador Frederico I, o Barba-ruiva, em 1168, concedeu o Ducado da Francônia ao bispado de Würzburg, cujos príncipes-bispos o governaram até 1803, quando foi secularizado e absolvido pelo eleitorado da Baviera.


Hoje, em parte da Francônia histórica, existem três circunscrições administrativas pertencentes ao Estado Livre da Baviera: Média, Baixa e Alta Francônia. Bamberg faz parte da Alta Francônia.


Bamberg foi mencionada a primeira vez em 718, ainda com o nome Babenberg, em homenagem a uma família nobre que governou a região até o início do século X. A diocese foi fundada em 1007, pelo imperador Henrique II, tendo mandado construir a catedral.


Um dos episódios mais macabros que ocorreram no local foi a "caça às bruxas", tendo por base jurídica a Constitutio Criminalis Bambergensis, que entrou em vigência em 1507, a qual estipulou, dentre outras coisas, que a pena para feitiçaria era a morte em fogueira; segundo os arquivos do período, entre 1595 e 1631, mais de 880 pessoas foram acusadas de bruxaria e feitiçaria e executadas; o ápice da perseguição às bruxas e aos magos se deu na década de 1620 e o início da de 1630, durante o governo do príncipe-bispo de Bamberg, Johann Georg II Fuchs von Dornheim, conhecido como "queimador de bruxas"; uma das vítimas foi o próprio prefeito da cidade, Johannes Junius.


O centro histórico de Bamberg está localizado numa região insular da cidade, ou seja, em uma ilha formada por dois braços do rio Regnitz; com essa regência das águas, lembra (de longe) Veneza.


O antigo assentamento de pescadores nessa parte insular da cidade é chamado de Klein-Venedig, ou seja, "Pequena Veneza". Casas, algumas em enxaimel datadas da Idade Média, alinhadas em fileira, são vistas ao longo da margem do Regnitz, enquanto barcaças que emulam aquelas de Veneza (gôndolas) circulam no leito do rio, para que os turistas apreciam essa singularidade.




Gôndola singrando o rio Regnitz. Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.




Klein-Venedig (Pequena Veneza), antigo bairro dos pescadores, com suas casas enfileiradas às margens do rio Regnitz. Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


Nos arredores da principal praça de Bamberg, a Domplatz (Praça da Catedral), ficam prédios de grande importância histórica, com diversos estilos arquitetônicos: românico, gótico, renascentista, barroco e rococó.


Nela se encontram dois edifícios que eu e Eunice tivemos o prazer de conhecer, embora, infelizmente, de forma superficial, em razão da necessidade de o ônibus da excursão ter que partir em curto espaço de tempo.


A Bamberger Dom (Catedral de Bamberg) ou Kathedrale St. Peter und Georg é uma catedral imperial de quatro torres e a obra de arte mais importante da região, remontando ao lançamento da pedra inaugural da igreja, em 1002, pelo futuro imperador Henrique II, que, na companhia de sua esposa Cunegundes, fundou a diocese de Bamberg em 1007; o templo foi consagrado em 1012, tendo como patronos, além da Virgem Maria, São Pedro e São Jorge, com o fito de estabelecer uma ligação entre as igrejas ocidental e oriental (Romana e Bizantina, respectivamente).


Em 1185, o edifício do templo foi tomado por um incêndio devastador que o deixou praticamente destruído; em razão dos danos, resolveu-se construir um novo prédio, já iniciado em 1190, mas somente vai ser concluído em 1237, com elementos estilísticos do românico tardio (edifício leste - São Jorge) e do gótico inicial (edifício oeste - São Pedro), pelo empenho do bispo de Bamberg, Ekbert von Andechs-Meranien. Depois disso, sofreu apenas pequenas modificações, que não alteraram muito sua estrutura antiga.


Na catedral estão o túmulo do casal Henrique II e Cunegundes, os imperadores e santos fundadores do templo, em um lindo sarcófago elaborado por Tilmann Riemenschneider, concluído em 1513, e o túmulo papal de Clemente II, nascido Suidger von Morsleben, que foi bispo de Bamberg e eleito papa em 1047, tendo morrido no mesmo ano. É o único papa cuja tumba se encontra ao norte dos Alpes.


Uma das grandes atrações do interior da catedral é uma escultura que se encontra no pilar noroeste do coro de São Jorge: o Bamberger Reiter (Cavaleiro de Bamberg), datada por volta de 1230, cuja identidade ninguém descobriu até hoje.




Bamberger Dom, concluída em 1237, em estilos românico tardio e gótico inicial; aqui, se vê a abside do coro dedicado a São Jorge, com suas duas torres; no outro lado, ao fim da nave, há o coro dedicado a São Pedro, também ladeado por duas torres. Domplatz, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.




Gnadenpforte (Porta da Graça), uma das portas da Catedral de Bamberg; no tímpano, veem-se as representações, com tamanhos proporcionais às suas importâncias, da esquerda para direita: Bispo Ekbert von Andechs-Meranien de Bamberg, São Jorge, São Pedro, Maria entronizada com o Menino Jesus, Henrique II, Cunegundes e o reitor da Catedral Poppo von Andechs. Domplatz, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.




Lateral da Catedral de Bamberg, com vista das torres em estilo românico tardio, do coro de São Jorge. Domplatz, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


Em frente, do outro lado da praça da catedral, encontra-se a Neue Residenz (Nova Residência) com o magnífica Kaisersaal (Salão do Imperador).


A Nova Residência foi construída em duas fases ao longo de cerca de 100 anos. Por determinação do príncipe-bispo Johann Philipp von Gebsattel, a partir de 1604, antigos prédios foram substituídos por um novo edifício estilo renascentista, erguido em frente à Catedral de Bamberg, tendo a expansão continuado no governo do príncipe-bispo Johann Gottfried von Aschhausen, mas, possivelmente, a Guerra dos Trinta Anos terminou por atrapalhar os planos.


Somente em 1695, o príncipe-bispo Lothar Franz von Schönborn, que também foi eleito arcebispo de Mainz e arqui-chanceler imperial, pertencendo, assim, ao poderoso colégio eleitoral, começou a planejar a expansão e a conclusão da residência renascentista. Com projeto do mestre de obras Johann Leonhard Dientzenhofer, fez-se uma grande ampliação do edifício, já com elementos barrocos, incluindo o Apartamento do príncipe-bispo, o Apartamento Imperial, para acolher o imperador do Sacro Império Romano Germânico quando em visita, os dois com trabalhos de estuque de Johan Jakob Vogel, e o Kaisersaal (Salão Imperial), decorado com afrescos, no teto e nas paredes, do pintor tirolês Melchior Steidl, ultimados em 1709.


O conjunto oferece uma visão de como viviam os príncipes-bispos de Bamberg no período barroco.




Neue Residenz, iniciado em 1604 e concluído em 1709, estilos renascentista e barroco, residência dos príncipes-bispos. Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


O Rosengarten (Jardim de Rosas), fica no pátio do Neue Residenz e oferece uma bela vista da cidade velha.


O jardim barroco foi projetado e executado em 1733 por Balthasar Neumann, por determinação do príncipe-bispo Friedrich Karl von Schönborn, em substituição a um jardim renascentista do século XVI.


As esculturas são obras de Ferdinand Tietz, artista da corte, realizadas em 1760/61, representando putti (meninos nus) e as divindades romanas Júpiter, Apolo, Netuno, Mercúrio, Juno, Diana, Ceres e Vênus. No verão, são cerca de 4.500 rosas em floração.




Rosengarten (Jardim de Rosas) da Neue Residenz. Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.




Detalhe do Rosengarten (Jardim de Rosas) da Neue Residenz. Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


Diz a lenda que o bispo de Bamberg não queria dar aos cidadãos lugar para construção de uma prefeitura. Assim, os moradores de Bamberg empilharam pedras no rio Regnitz criando uma ilha artificial, na qual ergueram o edifício, a Altes Rathaus (Prefeitura Velha).


A atual estrutura foi erguida entre 1461 e 1467, em estilo gótico, e redesenhada em estilo barroco, entre 1744 a 1756, por Johann Jakob Michael Küchel. As pinturas que decoram suas fachadas foram repintadas entre 1959 a 1962 por Anton Greiner.


A casa anexa, provavelmente do século XIV, em enxaimel, conhecida como Rottmeisterhaus, servia de alojamento para os comandantes da guarda.


Hoje o prédio da Altes Rathaus abriga a Coleção Ludwig, particularmente peças de faiança de Strasburg e porcelana de Meissen.




Altes Rathaus (Velha Prefeitura), em destaque a casa anexa em enxaimel conhecida como Rottmeisterhaus. Rio Regnitz, Ponte Superior, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


Um dos pontos interessantes da cidade é um antigo moinho conhecido como Brudermühle (Moinho dos Irmãos); o prédio atual foi erguido em 1762. após um incêndio. Hoje, administrado pela família Vogler, funciona um hotel/restaurante.




Hotel Restaurant Brudermühle, construído em 1762. Schranne,1, Bamberg, região administrativa de Alta Francônia, Estado Livre da Baviera, Alemanha.


Na sequência, Nuremberg.


Fontes:


Wikipedia;


"Alemanha", Guia Visual, PubliFolha, São Paulo, SP, 7ª edição, 2012; 1ª reimpressão: 2013.


"Frommer's Alemanha Dia a Dia", por George McDonald e Donal Olson, Alta Books, Rio de Janeiro, RJ, 1ª edição, 2014.





https://www.residenz-bamberg.de/

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