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Parma - Parte I - Norte da Itália - Região Emilia-Romagna - 2023

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 10 de abr. de 2024
  • 18 min de leitura

Fachada do Palazzo del Governatore, após as reformas do século XVIII; em destaque a torre barroca, que conserva em seu campanário o sino que se encontrava anteriormente na torre cívica, que ruiu em 1606, e a imagem da Virgem coroada, do artista francês Jean-Baptiste Boudard. Piazza Garibaldi, 17, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Ingressando na Região Emilia-Romagna, fomos visitar Parma.


Fundada em 183 a.C. pelos romanos, Parma tornou-se logo um importante centro de referência, particularmente em razão da construção da Via Emilia (187 a.C.), que favoreceu um rápido desenvolvimento da agricultura e da criação de ovinos em toda a região.


Em 569, a cidade foi conquistada pelos lombardos e tornou-se sede de Ducado.


Progressivamente, os bispos assumiram o poder temporal, e Parma gerou dois antipapas - Honório II (1061 a 1072) e Clemente III (1080-1100) - durante o longo conflito entre o poder sacro (Roma) e o secular (Sacro Império Romano-germânico) sobre as investiduras (nomeação de bispos pelo papa ou pelo imperador); com a criação da Comuna, por volta de 1140, iniciou-se o renascimento da cidade, após o período de desintegração ocorrido na Alta Idade Média.


Parma foi conquistada pelos Viscontis, em meados do século XIV, depois passou para os Sforzas (1440-1500), que a dominaram por meio das grandes famílias nobres: os Pallavicinos, Rossis, Sanvitales, e Da Correggios.


A cidade ficou sob o poder dos franceses de 1500 a 1521, e, depois, da Igreja Católica até 1545; nesse ano, o papa Paulo III, com o objetivo de criar um estado-tampão entre os Estados Pontifícios e o poder espanhol na Lombardia, atribuiu o Ducado de Parma e Piacenza ao seu filho ilegítimo Pier Luigi Farnese; a partir daí, graças também à sua disponibilidade financeira e patrimonial, os Farneses reinaram incontestes durante quase dois séculos; a cidade tornou-se uma grande capital, rica em monumentos e obras de arte.





Com a extinção da dinastia Farnese, em 1731, o Ducado passou para Carlo di Borbone (Carlos I, duque de Parma, depois Carlos V, rei da Sicília, e Carlos VII, rei de Nápoles, e, por fim, Carlos III, rei da Espanha), filho de Elisabetta Farnese e Filipe V, rei da Espanha (e neto de Luís XIV, rei da França, o Rei-sol), e graças à Paz de Aachen (1748), já sob o governo de Filippo I di Borbone-Parma, também adicionou boa parte da área conhecida como Bassa Reggiana a seus territórios, passando a denominar-se Ducado de Parma, Piacenza e Guastalla.


Com a invasão das tropas francesas revolucionárias, lideradas por Napoleão Bonaparte, o Ducado de Parma foi anexado à França, tornando-se o Departamento de Taro.


O Congresso de Viena de 1815 atribuiu o ducado a Maria Luísa da Áustria, segunda esposa de Napoleão, que governou de 1816 a 1847, com uma política de estado absoluto; o prestígio da “amada soberana” era tal que o Ducado de Parma não foi afetado pelos primeiros movimentos do Risorgimento; em 1847, com a morte de Maria Luísa, o ducado regressou aos Bourbons; o plebiscito de 1860 decidiu pela anexação ao Reino da Sardenha- Piemonte e, portanto, ao Reino da Itália.


Não podemos esquecer, também, que Parma é conhecida mundialmente pelo queijo parmesão (formaggio Parmigiano Reggiano) e pelo presunto de Parma (Prosciutto di Parma), dois produtos muito apreciados por seus sabores marcantes e qualidade.


Nossa primeira visita foi ao Palazzo del Governatore.


Localizado no lado norte da Piazza Garibaldi, o palácio une, na longa fachada de linhas clássicas, dois edifícios originalmente do século XIII. Antiga sede do capitão do povo, o edifício, posteriormente, abrigou o governador e passou por inúmeras reformas até 1760, ano em que foi modificado para sua aparência atual por Ennemond Alexandre Petitot, arquiteto francês da corte de Felipe de Bourbon (Filippo I di Borbone-Parma, Duque de Parma, Piacenza e Guastalla), que foi responsável por grande parte do planejamento urbano da cidade.


A torre barroca, datada de 1763, conserva no seu campanário o sino da altíssima torre cívica que ruiu em 1606.


A Virgem coroada, no nicho da torre sineira, é obra do século XVIII do escultor francês Jean-Baptiste Boudard, e, na fachada principal, merecem destaque os dois relógios de sol que datam de 1829.


Hoje o palácio abriga obras de arte moderna e contemporânea.




Fachada do Palazzo del Governatore, após as reformas do século XVIII; em destaque a torre barroca, que conserva em seu campanário o sino que se encontrava anteriormente na torre cívica, que ruiu em 1606, e a imagem da Virgem coroada, do artista francês Jean-Baptiste Boudard. Piazza Garibaldi, 17, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Em frente ao Palácio do Governador, pode-se ver o monumento de bronze dedicado ao herói Giuseppe Garibaldi, localizado no centro da praça de mesmo nome; foi criado em 1893 pelo escultor Davide Calandra. Representa o Herói dos Dois Mundos em pé com as mãos apoiadas no punho da espada, sobre uma base alta decorada com três baixos-relevos representando os episódios da vida de Garibaldi conhecidos como "A Defesa de Roma", "A Batalha de San Fermo" e "O Desembarque em Marsala".




Monumento a Giuseppe Garibaldi, de 1893, no qual se observa o Herói dos Dois Mundos em pé, com as duas mãos sobre o punho da espada. Piazza Garibaldi, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Estátua de Giuseppe Garibaldi; veem-se, ao fundo, na fachada do palácio, os dois relógios de sol, datados de 1829. Piazza Garibaldi, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


A oeste da Piazza Garibaldi, encontramos a Chiesa di San Pietro.


Essa Igreja é citada pela primeira vez num documento datado de 26 de abril de 955: erguendo-se perto da praça principal da cidade, era frequentemente mencionada como San Pietro in Foro, ou de Platea, ou de Plaza; foi totalmente reconstruída em estilo gótico entre 1418 e 1492, sob a direção de Cristoforo Zaneschi; originalmente a igreja era oficiada por dois padres diocesanos (regulares), mas em 1516 foi confiada ao Capítulo Colegiado de San Gerolamo. Em 1707 os cónegos mandaram demolir o edifício para construir um novo, desenhado por Ennemond Alexandre Petitot e concluído em 1762 e reconsagrado por Alessandro Pisani, bispo de Piacenza. Em 1978 foi aberta uma janela na fachada, segundo projeto original de Petitot.


A igreja tem nave única; a fachada é decorada com um troféu com a tiara, chaves e festões papais, desenhado por Pititot e modelado em estuque por Benigno Bossi. No altar-mor encontra-se uma pintura atribuída a Alessandro Mazzola com a Madona, o Menino e os Santos Pedro e Paulo.




Chiesa di San Pietro, com sua atual formatação, realizada entre 1707 e 1762, com base no projeto do arquiteto francês Ennemond Alexandre Petitot. Piazza Garibaldi, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.





Porta de entrada da Chiesa di San Pietro, na qual se podem observar, no centro, as chaves cruzadas, que representam as chaves do céu, das quais Pedro é guardião, conforme está escrito na passagem bíblica do "Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus" (Mt 16, 13-20): "(...) Jesus lhe disse: 'Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus' (...)”. Piazza Garibaldi, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Frontão da Chiesa di San Pietro, decorado com um troféu com a tiara, chaves e festões papais, símbolos que recordam que São Pedro foi o primeiro papa da igreja e é o guardião das chaves do céu. Piazza Garibaldi, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Na mesma Piazza Garibaldi, em frente à Chiesa di San Pietro, visualizamos o prédio da Residenza Municipale ou Palazzo del Comune.


O grande edifício de tijolos, iluminado por uma loggia no térreo, ocupa o lado sudeste da praça; projetado pelo arquiteto de Parma Giovanni Battista Magnani em 1623 e concluído em 1673, os elementos externos que incluem pilastras, nichos e painéis obedecem o estilo renascentista tardio.


O Salão do Conselho foi pintado com afrescos de Girolamo Magnani e Cecrope Barilli em 1885-86; no interior do palácio encontram-se pinturas de Bernardino e Gervasio Gatti, Annibale Carracci e Ilario Spolverini.


Ladeando o edifício vê-se, voltado para a praça, um monumento ao pintor Antonio Allegri, conhecido como Antonio da Correggio, de 1870, obra de Agostino Ferrarini, enquanto no lado oposto está uma fonte do século XIX, desenhada por Paolo Toschi, e encimada por uma cópia do grupo em bronze do século XVII, com as figuras de Hércules e Antaeus, feito pelo escultor flamengo Teodoro Vandersturck, cujo original hoje encontra-se na Casa della Musica, em Parma.




Palazzo del Comune ou Residenza Municipale, em estilo renascentista tardio, edifício de tijolos aparentes erguido entre 1623 e 1673; em destaque, a fachada voltada para a Piazza Garibaldi, e a loggia na parte inferior (espaço aberto, acessível por meio de arcos e sustentado por pilastras). Strada della Repubblica, 1, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Monumento al Correggio, conjunto em mármore dedicado ao pintor renascentista Antonio Allegri conhecido como "da Correggio", está localizado em um nicho da Prefeitura na Piazza Garibaldi; foi criado em 1870 pelo escultor Agostino Ferrarini, que retratou o artista observando sua própria obra colocada sobre uma placa apoiada no seu joelho esquerdo. Palazzo del Comune, Strada della Repubblica, 1, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Na loggia do Palazzo del Comune, encontramos algumas placas comemorativas a efemérides, como por exemplo, a que trata dos filhos de Parma mortos na Batalha de Dogali, na Eritreia, norte da África, ocorrida em 26 de janeiro de 1887.


Entre os séculos XVIII e o XX, dá-se o fenômeno do Imperialismo, iniciado após a Revolução Industrial, que era uma prática expansionista, adotada, principalmente, por alguns países europeus, para busca de matérias-primas e por novos mercados consumidores, particularmente com domínio pelas potências de grandes territórios na África, Ásia e Oceania. A Itália entrou um pouca atrasada nesse "clube", mas, a partir do final do século XIX, ocupou terras no litoral da Líbia, da Eritreia e da Somália, que fazem parte do conhecido "Chifre Africano".


Durante o processo de ocupação de parte da Eritreia, houve a Battaglia di Dogali: em 26 de janeiro de 1887, na confluência do rio Dogali com o Desset; a coluna comandada pelo tenente-coronel do Exército Italiano Tommaso De Cristoforis, formada por quatro companhias de infantaria e uma seção de metralhadoras de um regimento de artilharia, no total de um pouco mais de 530 soldados, foi praticamente massacrada (cerca de 430 mortos e 100 feridos) por 7.000 abissínios, sob o comando do ras etíope Alula.




Placa de mármore em homenagem aos filhos de Parma mortos durante a Batalha de Dogali, na Eritreia, ocorrida em 26 de janeiro de 1887. Loggia do Palazzo del Comune, Strada della Repubblica, 1, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Porta de entrada do Palazzo del Comune, na qual se observa representado o brasão de armas de Parma: cruz azul sobre campo de ouro, encimado por uma coroa ducal. Loggia do Palazzo del Comune, Strada della Repubblica, 1, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Monumento a Ercole e Anteo, obra em bronze, criado pelo artista flamengo (Flandres, atual Bélgica) Teodoro Vanderstruck entre 1684 e 1687, representando a luta entre o herói mitológico Hércules e o gigante Antaeus; o original foi colocado inicialmente em frente ao Palazzo del Giardino, mas, depois de várias mudanças, atualmente encontra-se no centro do pátio do Palazzo Cusani, sede da Casa da Música; a escultura também é conhecida pelo nome de "I du brasè" (no dialeto de Parma "Os dois abraçados"); existe uma cópia colocada no Palazzo del Comune, em direção à Chiesa di San Vitale, acima da fonte projetada em 1829 por Paolo Toschi.




Cópia do Monumento a Ercole e Anteo, do original de Teodoro Vanderstruck, criado entre 1684 e 1687, que representa a luta entre o herói mitológico Hércules e o gigante Antaeus, instalada acima da fonte projetada em 1829 por Paolo Toschi, cuja base tem a reprodução do brasão de armas de Parma. Palazzo del Comune, Strada della Repubblica, 1, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Próximo ao Palazzo del Comune, nos deparamos com a bela Chiesa de San Vitale


A primeira menção de um edifício de culto dedicado a São Vital remonta ao século IX e é tradição que tenha sido fundado pelo rei Pepino de França; ficava nas proximidades da praça principal da cidade, o que correspondia, na época romana, ao cruzamento do cardus maximus (via principal, direção norte-sul) com o decumanus maximus (via principal, direção leste-oeste).


A igreja original era pequena, mas, na primeira metade do século XVII, a prestigiosa e rica Compagnia del Suffragio, protegida pela duquesa Margherita Medici Farnese, decidiu reconstruir o edifício, maior e com a fachada voltada para rua principal.


Provavelmente em 1651, o templo foi demolido; o novo foi erguido na forma de cruz latina; o projeto geral foi confiado a Luca Reti, estatuário ducal, e ao engenheiro de Módena, Felice Pasciuti, com a colaboração do arquiteto Cristoforo Rangoni, que ergueram um edifício barroco de nave única com cinco capelas laterais de cada lado e ampla abside, encimada por uma cúpula de estilo vignolesco.


O edifício religioso foi consagrado pelo bispo Carlo Nembrini, em 1658, e, ao longo dos séculos foram realizadas diversas alterações e restaurações; a última intervenção, provocada pelos estragos do forte terremoto de 1996, teve lugar entre o final do século passado e o início dos anos 2000; durou por volta de dez anos e devolveu à igreja todo o seu encanto secular.


A decoração da elegante fachada, dividida em duas ordens, é obra do escultor Felice Pascetti, e é enriquecida por seis estátuas do século XVIII, atribuídas a Pietro Sbravati: na parte superior, temos imagens representando São Vital e Santa Valéria, sua esposa; na inferior, nos nichos externos, seus filhos, Santos Gervásio e Protásio, e, nos voltados para o centro, São Gregório Magno e São Bernardo degli Uberti, bispo de Parma.




Fachada da Chiesa di San Vitale, estrutura atual da segunda metade do século XVII, na qual se veem, nos nichos da parte superior, da esquerda para direita, as imagens de São Vital e de sua esposa Santa Valéria; nos da inferior, São Gervásio, São Gregório Magno, São Bernardo degli Uberti e São Protásio. Strada della Repubblica, 3, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


O grande presbitério côncavo da Chiesa di San Vitale, onde fica o altar-mor, foi redesenhado em 1726 pelo cenógrafo da corte Pietro Righini, que o delimitou com uma ritmada balaustrada de mármore, fechada por um portão refinado.


O mármore resplandece em todo lugar: no chão, nas decorações, mas, sobretudo, no imponente altar e no grandioso retábulo encostado na parede.


O altar - com a elegante urna contendo as relíquias de São Vital - se destaca no centro do santuário e foi realizado por Andrea e Domenico Della Meschina com algumas modificações feitas por Maurizio Lottici.


À frente foi colocada a mesa com frontal em madeira dourada com relevos arabescos. Ao fundo, o complexo e grandioso retábulo de mármore policromo do século XVIII, esculpido por Antonio e Giuseppe Orlandi, que contém a pintura clássica de 1832 (ou 1838), com a representação da condenação ao martírio de São Vital, que, ao centro, declara ao juiz Paulino a sua fé cristã, obra do pintor de Parma Michele Plancher.


A exposição cenográfica é completada pelas sinuosas estátuas rococós, do século XVIII, de Giuliano Mozzani, artista de Carrara ligado à família Farnese, com as alegorias da Fé com o Cálice e da Caridade com bebê. Os bancos de madeira do coro datam da mesma época.


A decoração pictórica do presbitério, datada de 1760, é de Antonio Betti de Reggio, enquanto os painéis que retratam episódios da vida de São Vital são obras de 1763 do pintor de Parma Giuseppe Peroni.




O altar-mor da Chiesa di San Vitale; em destaque, a balaustrada em mármore, com seu belo portão, obra de Pietro Righini; o retábulo em mármore policromo, realizado por Antonio e Giuseppe Orlandi, tendo, ao centro, encoberto pelo crucifixo, a pintura de Michele Plancher, representando a condenação de São Vital pelo juiz Paulino, no momento em que o mártir reafirma sua fé cristã; nas laterais do retábulo, as imagens rococós esculpidas por Giuliano Mozzani, representando, da esquerda para a direita, a Caridade com bebê e a Caridade com o Cálice. Strada della Repubblica, 3, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


A quinta capela do lado esquerdo da Chiesa di San Vitale é uma obra-prima de exuberância barroca em torno do altar dedicado à Santíssima Virgem de Constantinopla, representada como a Mãe de Deus em uma tela do século XVII, atribuída a Fortunato Gatti. Em torno da imagem sagrada - mantida em uma suntuosa moldura de mármore e encimada por dois anjos segurando uma coroa de ouro e um pergaminho com o escrito In me omnis gratia, extraído de Eclesiastes - os irmãos Leonardo e Domenico Reti, entre 1666 e 1669, construíram uma obra-prima cenográfica em estuque com santos, querubins e decorações naturalistas repletas de lírios farnesianos que ocupam todas as paredes e se estendem até o teto. A obra, considerada uma das mais prestigiosas da escultura barroca emiliana, foi financiada por Carlo Beccaria, tesoureiro do duque e membro da Compagnia del Suffragio, que escolheu a capela como local de sepultamento.


Na parte inferior, nas laterais do quadro da Virgem, destacam-se, com gestos teatrais, os santos fundadores da Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos (Ordem dos Trinitários), Félix de Valois e João de Matha com escravos acorrentados aos pés; os quatro santos da família Beccaria se destacam nas paredes: nos extremos das laterais, o beato Tesauro, vallombrosiano (ordem pertencente à confederação beneditina), e Francesco, franciscano; e, perto do retábulo, Lanfranco, o teólogo, que segura devotamente um ostensório dourado, e Lanfranco, bispo de Pavia.



Capela da Santíssima Virgem de Constantinopla e Altar do Santíssimo Sacramento; em destaque, a belíssima decoração barroca em estuque, realizada pelos irmãos Leonardo e Domenico Reti, na segunda metade do século XVII, com santos, anjos, flores, frutos e outras decorações naturalistas; no centro, a pintura do século XVII, Madonna di Costantinopoli, atribuída a Fortunato Gatti; nas laterais do quadro, da esquerda para direita, os Santos Félix de Valois e João de Matha, fundadores da Ordem dos Trinitários, tendo aos seus pés cativos acorrentados, e, nas paredes, dois santos da família Beccaria: São Lanfranco, o teólogo, segurando um ostensório, e São Lanfranco, bispo de Pavia. Chiesa di San Vitale, Strada della Repubblica, 3, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Na sequência, nos dirigimos à Basilica Santa Maria della Steccata, um exemplo do Renascimento em Parma, com planta central em cruz grega em estilo Bramante (Bramantesco), construída, entre 1521 e 1539, por Bernardino e Giovanni Francesco Zaccagni, com base em projeto de um anônimo.


Antes, no local, havia um oratório, sede da Confraria da Virgem da Anunciação; no final do século XIV, foi criada na fachada do edifício uma pintura de uma Madona amamentando, que logo se tornou objeto de particular devoção por parte do povo de Parma; pelo fato de a área do edifício estar protegida por um “steccato” (uma cerca), criado precisamente para regular o afluxo de numerosos peregrinos, a Virgem passou a ser invocada com o título de Madonna della Steccata; para melhor preservar a preciosa imagem, em 1521 a congregação decidiu construir o grande santuário.


No arco acima do altar-mor, vê-se a última obra do pintor renascentista de Parma, Francesco Mazzola, conhecido como Parmigianino, o afresco intitulado "Tre Vergini Sagge e Tre Vergini Stolte" (As Três Virgens Sábias e as Três Virgens Tolas). As pinturas das duas portas do órgão nas laterais da entrada também são de Parmigianino, enquanto o afresco "Incoronazione della Vergine" (Coroação da Virgem), de 1540, é de Michelangelo Anselmi, e o da cúpula, Assunzione di Maria (Assunção de Maria) é de Bernardino Gatti (1560). São importantes, também, as esculturas tumulares e a Nobre Sacristia (1665) de Giovanni Battista Mascheroni e Carlo Rottini.


Da igreja pode-se acessar o tesouro de arte e história da Ordine Costantiniano di San Giorgio (Ordem dos Cavaleiros do Imperador Constantino, que atualmente administra o edifício religioso), preservado no Museo Constantiniano.




Abside da monumental Basilica Santa Maria della Steccata, estilo renascentista, erguida entre entre 1521 e 1539. Piazza della Steccata, 9, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Ao lado da basílica, no centro da Piazza della Steccata, encontra-se o monumento em mármore branco dedicado ao pintor renascentista do século XVI, Francesco Mazzola, conhecido como "Parmigianino", natural de Parma, um dos artistas que decorou o interior do edifício religioso; o monumento, constituído por uma fonte esculpida de base quadrangular, sobre a qual repousa sobre um alto pedestal a estátua do artista, foi criado pelo escultor Giovanni Chierici em 1879 com financiamento da Ordem Constantiniana e do Município.




Monumento al Parmigianiano, realizado em 1879 por Giovanni Chierici, no qual se vê o artista sobre um pedestal tendo em alto-relevo a cruz da Sacro Militare Ordine Costantiniano di San Giorgio. Piazza della Steccata, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Saindo da Piazza della Steccata e ingressando na Strada Garibaldi, encontramos o edifício do Teatro Regio di Parma.


Erguido entre 1821 e 1829 por iniciativa de Maria Luísa de Áustria, segunda esposa de Napoleão Bonaparte e então soberana do Ducado, e projetado por Nicola Bettoli, o teatro tem fachada neoclássica, composta por um pórtico com 10 colunas dóricas e, no terceiro estágio, uma ampla janela térmica. As decorações representam a Fama e a Lira.


A partir do átrio neoclássico se acessa à plateia elíptica, decorada por Girolamo Magnani em 1853, rodeada por quatro níveis de camarotes e pela galeria; o lustre foi produzido em Paris e pesa cerca de uma tonelada; após recentes obras de renovação, surgiram achados da época romana que ainda são visíveis no interior do edifício.


Todos os anos acontecem na sala de espetáculos a Temporada de Ópera e o Festival Verdi, onde participam artistas de renome internacional.




Teatro Regio, edifício neoclássico, erguido entre 1821 e 1829, observando-se na fachada, parte inferior, o pórtico com dez colunas dóricas, e, no terceiro corpo, uma grande janela térmica, ladeada pelas representações da Fama e da Lira. Strada Garibaldi, 16, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Belo poste de iluminação pública em frente à fachada do Teatro Regio. Strada Garibaldi, 16, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


Seguindo pela Strada Garibaldi, deparamo-nos com a Piazzale della Pace.


Uma das atrações da praça é o Ara del monumento a Giuseppe Verdi (Altar do monumento a Giuseppe Verdi).


Criado com projeto de Lamberto Cusani, o altar data do início do século XX, sendo um fragmento recomposto do monumento anteriormente erguido próximo à estação ferroviária e destruído, em 1944, por bombas durante a Segunda Guerra Mundial; tendo sobrevivido ao bombardeio, o altar Verdiano ocupava originalmente o espaço em frente à estação ferroviária, rodeado por um pórtico coroado por estátuas.


As placas de bronze nas duas fachadas, projetadas por Ettore Ximenes, relembram cenas das obras e episódios da vida do grande mestre.


Um dos mais talentosos compositores de ópera, Verdi nasceu, em 10 de outubro de 1813, na aldeia de Le Roncole (rebatizada de Roncole Verdi, em sua homenagem), pertencente à cidade de Busseto, localizada no então Ducado de Parma; Verdi é o autor, dentre outras, de várias óperas encenadas até hoje:"Nabucco", "Macbeth", "La Traviata", "Il Trovatore", "Rigoletto", "Simon Boccanegra", "La Forza del Destino", "Don Carlos" e "Aida".


Verdi também teve uma participação política que redundou na anexação de Parma à Itália: em 1859, ele foi eleito representante de Busseto na assembleia do então Ducado de Parma, que decidiu pela sua incorporação ao Reino da Sardenha, em 12 de setembro; em 15 de setembro do mesmo ano, Verdi fez parte da delegação que entregou o resultado da decisão, em Turim, a Vittorio Emanuele II, então rei da Sardenha; posteriormente, houve um plebiscito, em 1860, no qual a população da província de Parma confirmou a união com o Reino da Sardenha, que, posteriormente, tornou-se Reino da Itália.




Parte frontal da Ara del monumento a Giuseppe Verdi; constituída por um grande alto-relevo que representa ao centro Giuseppe Verdi em meditação, rodeado pelas Musas que lhe sugerem, por ordem, a Inspiração, a Melodia, o Canto, o Ritmo da Dança, do Amor e da Morte. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Detalhe da parte frontal da Ara del monumento a Giuseppe Verdi, no qual se vê a representação de Verdi sentado. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




A parte posterior da Ara del monumento a Giuseppe Verdi; está dividida em três altos-relevos distintos, que representam, sucessivamente, da esquerda para direita: o cenário da aprovação, pela assembleia das Províncias de Parma, da anexação ao então Reino da Sardenha-Piemonte (12 de setembro de 1859); a cena, com a famosa epígrafe "Viva Verdi", da recepção triunfal dada pela cidade de Turim ao Mestre, delegado da assembleia, ao chegar para entregar o resultado das decisões tomadas nas mãos do Rei Vittorio Emanuele II; o cenário da entrega das deliberações de Verdi e outros delegados ao rei (15 de setembro de 1859). Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Placa de bronze central da parte posterior da Ara del monumento a Giuseppe Verdi, na qual se vê a representação da cena, com a famosa epígrafe "Viva Verdi", da recepção triunfal dada pela cidade de Turim ao Mestre, delegado da assembleia, ao chegar para entregar o resultado das decisões tomadas nas mãos do Rei Vittorio Emanuele II. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Placa na parte posterior da Ara del monumento a Giuseppe Verdi, fazendo referência aos episódios ocorridos nos dias 12 e 15 de setembro de 1859, nos quais houve participação de Verdi. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.

Em seguida, ainda na Piazzale della Pace, visitamos o Monumento al Partigiano (Monumento ao Partisan).


Partisan é o nome que se dá ao membro de tropa irregular (semelhante a um guerrilheiro) que se opõe militarmente ao controle estrangeiro de uma determinada área nacional; o termo ficou muito conhecido, durante a Segunda Guerra Mundial, para se referir a determinados movimentos de resistência à dominação alemã.


Portanto, o monumento é dedicado à Resistência Italiana contra a ocupação nazista e foi iniciado em 1954 pelo escultor Marino Mazzacurati a partir de projeto do arquiteto Guglielmo Lusignoli; foi inaugurado em 1956, na presença do então Presidente da República da Itália, Giovanni Gronchi, e retrata três aspectos da guerra e da resistência: um combatente com uma metralhadora na mão, um guerrilheiro caído e um muro de tiros, feito de tijolos de casas de Parma destruídas pelos bombardeios de 1944.




Monumento al Partigiano: primeira parte, uma estátua representando um partisan armado com uma metralhadora de mão. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.




Monumento al Partigiano: segunda e terceira partes: um guerrilheiro caído; e um muro de tiros, levantado com os  tijolos de casas de Parma destruídas pelos bombardeios de 1944. Piazzale della Pace, Parma, capital da província de mesmo nome, da Região Emilia-Romagna, Itália.


No nosso próximo post, continuamos na Piazzale della Pace, em Parma.



Fontes:


Wikipedia;


Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.




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