Cartagena de Indias - Parte I - Colômbia - 2011
- Roberto Caldas

- 17 de jul. de 2023
- 17 min de leitura

Baluarte de Santiago, Muralha de Cartagena de Indias, a partir da Avenida Santander, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Cartagena de Indias
Após um voo de cerca de 1h:30min, partindo de Bogotá, chegamos à bela e histórica Cartagena de Indias, na região caribenha da Colômbia.
Nove anos depois de Colombo realizar sua primeira viagem ao Novo Mundo, o espanhol de Sevilha Rodrigo de Bastidas descobriu a baía de Cartagena, em 1501.
Mas foi o fidalgo espanhol Pedro de Heredia, que participou da conquista de Santa Marta, no Caribe colombiano, quem recebeu de Carlos I, rei da Espanha (Carlos V, Imperador do Sacro Império Romano-Germânico) a governança da Costa, em 1532.
Em seguida, Pedro de Heredia partiu da cidade andaluz de Cádiz, com cerca de 300 homens, algumas mulheres e 2 pregadores, e, em 20 de janeiro de 1533 (ou 1º de junho), fundou Cartagena de Indias, aproximadamente no mesmo local em que os índios caribes tinham um povoado chamado Camarí, que, na língua aborígine, significa caranguejo.
Há relatos contemporâneos dando conta que os índios não ofereceram resistência aos espanhóis, abandonando o povoado antes da chegada destes; apesar desse fato, a lenda conta que uma indígena, chamada Catalina, serviu de intérprete entre os índios e os recém-chegados colonizadores espanhóis.
A nova urbe recebeu o nome de Cartagena de Indias em razão de uma certa semelhança física com a cidade histórica de Cartagena, no Levante Espanhol, na costa mediterrânea, que, por sua vez, foi assim chamada (Cartago-Nova) para homenagear a matriz do Império Cartaginês, a Cartago africana.
Desde o início de sua fundação, Cartagena de Indias teve um papel importante no âmbito das colônias espanholas, dada sua posição estratégica no Caribe, posto que de seu porto saíam as riquezas extraídas das colônias, principalmente metais preciosos, como prata e ouro, para os portos espanhóis de Cádiz, Sevilha e Cartagena, bem como foi o maior local de comércio de escravos trazidos da África para serem empregados como mão-de-obra nas minas e nas lavouras do sistema plantation na América espanhola.
Por conta disso, a cidade chamou muita atenção das outras potências marítimas, entre os séculos XVI e XVIII, Inglaterra, França e Países Baixos (Holanda), que a atacaram, empregando forças oficiais e corsários, com o fito de ocupá-la ou de tomar-lhe as riquezas. Também sofreu, no período colonial, invasão de piratas, com o único objetivo de saqueá-la.
Assim pontuou Gustavo Placer Cervera, em seu livro "Inglaterra y La Habana: 1762":
"No último lustro do século XVI, quando a guerra de independência dos Países Baixos - apoiados pela Inglaterra - se decidia em prejuízo das tropas espanholas de ocupação, a burguesia holandesa se lançou a uma ofensiva marítima contra as possessões de Filipe II. Depois de ingleses e protestantes franceses ou huguenotes, os flamengos praticaram o contrabando. A magnitude desse intercâmbio era tão considerável, que somente para seus negócios com La Española e Cuba os holandeses dedicavam ao ano vinte barcos de duzentas toneladas cada um, com um tráfico de oitocentos mil florins anuais, números consideráveis para aquele século." - págs. 16/17, tradução livre do espanhol;
"(...)
"(...) A França manteve durante grande parte do século XVI um estado de guerra quase permanente com a Espanha. No Caribe, quando havia guerra, os franceses atacavam como corsários e, quando não havia, o faziam como piratas. (...)" - págs. 68/69, tradução livre do espanhol;
"(...)
"Não foi até a década de sessenta do século XVI que, ao aproveitar-se da complicada situação que a Espanha tinha na Europa- sobretudo em Flandres -, que traficantes e corsários ingleses começaram - como já o vinham fazendo os franceses - a percorrer as águas do Mediterrâneo Americano [Mar do Caribe] com impunidade quase absoluta. Estes atacavam cidades, apresavam barcos e trocavam negros escravos, tecidos e artigos de ferro por açúcar, pérolas, ouro, couro e madeiras. (...)." - págs. 70/71, tradução livre de espanhol;
"(...)
"Em 1640, o panorama da região do Caribe era o de um amplo campo de batalha. Neste espanhóis, holandeses, ingleses e franceses lutavam por arrebatar-se uns aos outros o que pudessem, e nas ilhas onde ainda existiam caribes, estes se defendiam com admirável bravura." (págs. 136/137, tradução livre do espanhol) - "Inglaterra y La Habana: 1762", de Gustavo Placer Cervera, 2007, Edição para e-book: Ailin Parra Llorens, Instituto Cubano del Libro, Editorial de Ciencias Sociais, 2015, La Habana, Cuba.
Os ataques mais famosos a Cartagena de Indias foram os realizados pelo corsário inglês Francis Drake, em 1586, pelo almirante e corsário francês Jean-Bernard Louis de Saint-Jean, Barão de Pointis, em 1697, e pelo almirante inglês Edward Vernon, em 1741, este último quando a cidade já fazia parte do Virreinato de la Nueva Granada, quase capital virtual da região.
Esses ataques obrigaram o governo colonial espanhol construir imponentes muralhas e fortificações no entorno da cidade, obras que se estenderam de 1614 a 1796, que hoje são parte integrante do patrimônio artístico e arquitetônico da cidade, sendo um dos circuitos amuralhados mais bem conservados do mundo.
Mas, após participar do movimento de independência, em 1811, iniciou-se para Cartagena de Indias uma época de declínio econômico; durante a reconquista espanhola, sob o comando do general espanhol Pablo Morillo, a cidade sofreu um cerco terrestre e naval, em 1815, com o fim de forçar a rendição dos rebeldes entrincheirados nas muralhas; foram três meses nos quais os insurretos passaram fome e sofreram com enfermidades, mas decidiram enfrentar os espanhóis até a morte, por isso a cidade recebeu o título de "Ciudad Heroica".
Apesar da resistência, Cartagena de Indias foi ocupada pelas tropas realistas em 6 de dezembro de 1815, somente vindo a ser libertada pelo movimento independentista, sob o comando do general do Exército Republicano Mariano Montilla, em 18 de outubro de 1821; a última cidade colombiana a ser liberada do jugo espanhol se transformou quase num povoado fantasma, com palácios e edifícios públicos em ruínas.
Isso está retratado no famoso livro de Gabriel García Márquez "O General em seu Labirinto", no qual o escritor colombiano conta os últimos meses de vida do generalíssimo Simón Bolívar:
"Pouco depois divisaram à distância a eterna mancha de urubus voando em círculos sobre o mercado público e as águas do matadouro. À vista das muralhas o general fez um sinal a José María Carreño, que se aproximou (...).
"Uma numerosa comitiva encabeçada por Montilla os esperava na estrada real, e o general se viu obrigado a terminar sua viagem na antiga carruagem do governador espanhol, puxada por uma parelha de mulas alegres. Embora o sol começasse a se pôr, os galhos de mangues pareciam ferver com o calor nos pântanos mortos que cercavam a cidade, cujo bafo pestilento era mais insuportável que o das águas da baía, apodrecidas há um século pelo sangue e pelas sobras do matadouro. Quando entraram pela porta da Media Luna, uma nuvem de urubus espantados se levantou do mercado ao ar livre. (...).
"(...) havia grinaldas de flores e mulheres vestidas à moda madrilenha nas sacadas, e os sinos da catedral e as músicas de regimento e as salvas de artilharia troavam até o mar, mas nada chagava a mitigar a miséria que queriam esconder. Cumprimentando com o chapéu, do coche desconjuntado, o general não podia deixar de se ver sob uma luz de comiseração, ao comparar aquela recepção indigente com sua entrada triunfal em Caracas, em agosto de 1813, coroado de louros numa carruagem puxada pelas seis donzelas mais formosas da cidade, e em meio a uma multidão banhada em lágrimas que naquele dia o eternizou com seu nome de glória: O Libertador. (...)".
"Aquela e esta não pareciam ser duas lembranças de uma mesma vida. Pois a mui nobre e heróica cidade de Cartagena de Indias, várias vezes capital do vice-reino e mil vezes cantada como uma das mais belas do mundo, não era nem sombra do que foi. Tinha sofrido nove cercos militares, por terra e mar, e fora várias vezes saqueada por corsários e generais. Mas nada a devastara tanto como as lutas de independência e, depois, as guerras entre facções. As famílias ricas dos tempos do ouro haviam fugido. Os ex-escravos ficaram ao acaso de uma liberdade inútil, e os palácios dos marqueses tomados pelos pobres soltavam na sujeira das ruas uns ratos do tamanho de gatos. O cinturão de baluartes inexpugnáveis que o rei da Espanha tinha desejado conhecer, olhando de seu palácio com seus aparelhos de ver longe, era apenas imaginável no meio do matagal. O comércio que fora o mais próspero do século XVII por motivo do tráfico de escravos achava-se reduzido a umas poucas lojas em ruínas. Era impossível conciliar a glória com a fedentina dos esgotos a céu aberto. O general suspirou ao ouvido de Montilla:
"- Como nos custou caro esta merda de independência!" (págs. 172/174) - "O General em seu Labirinto", de Gabriel García Márquez, tradução Moacir Werneck de Castro; Editora Record, Rio de Janeiro, 1989.
A cidade iniciou sua recuperação a partir da década de 1880, quando começaram a chegar muitos imigrantes vindos da China, Espanha, Alemanha, Itália, Síria, Líbano, dentre outros países, e a implantação da indústria, com a consolidação de uma elite empresarial; uma relativa paz em relação a outras regiões colombianas e a chegada da ferrovia unindo a cidade com o porto de Calamar, no rio Magdalena, permitiram a recuperação da baía de Cartagena como porto comercial estratégico no mar do Caribe.
Hoje, Cartagena de Indias é a capital do Departamento de Bolívar.

Mapa das Cidades, Fortalezas, Porto, Enseada e Arredores de Cartagena, de autoria do cartógrafo e geógrafo francês Nicolas de Fer, 1705.
https://abcblogs.abc.es/espejo-de-navegantes/wp-content/uploads/sites/99/2014/12/Mapa-de-las-ciudades-fortalezas-puerto-rada-y-alrededores-de-Cartagena.-Nilcolas-de-Fer-Hecho-con-privilegio-del-Rey1700.Colecci%C3%B3n-particular.jpg

Estátua de Pedro Heredia, o fundador de Cartagena de Indias em 1533. Plaza de los Coches, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Iniciamos nossa vista à "Cidade Heroica" pela Plaza de los Coches; é a primeira a receber os turistas do centro histórico de Cartagena de Indias em razão de se encontrar logo após a passagem da Puerta del Reloj,
A praça recebeu vários nomes ao longo do tempo: "el Juez", por conta de dom Francisco de Santa Cruz, um licenciado em Direito, que viveu em uma casa de esquina da praça; "el Esclavo", quando, posteriormente, tornou-se em lugar de venda dos escravos trazidos da África no período colonial; "los Mercaderes", já que, no final do século XVI, mercadores se instalaram em um dos lados da praça, onde ofereciam vários produtos, particularmente artigos vindos do Velho Continente; "Plaza de Yerba", posto que, anos mais tarde, foi autorizada a venda de ervas no local.
No final dos século XIX, a prefeitura da cidade autorizou os cocheiros a estacionar suas carruagens em um dos lados da praça, passando então os locais a chamá-la de Plaza de los Coches. Apesar de a prefeitura, em homenagem ao tratado de fronteiras colombo-equatoriano firmado em 1919, ter nominado o espaço de Plaza de Ecuador, os habitantes de Cartagena continuam a chamá-lo de Plaza de los Coches.
Um dos pontos de destaque da praça é o Portal de los Dulces, assim chamado por conta de alguns estabelecimentos que comercializam os mais tradicionais doces do Caribe colombiano.

Plaza de los Coches, espaço inicial da visita da cidade histórica. Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colombia.

Portal de los Dulces, local em que podem ser encontrados doces da culinária do Caribe colombiano. Plaza de los Coches, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
A principal porta do centro histórico de Cartagena de Indias (a entrada original do recinto amuralhado) e que dá acesso à Plaza de los Coches é a Puerta del Reloj (entre o n. 8 e o 9 do mapa).
Na época colonial, era conhecida também como Boca del Puente por que aos seus pés havia uma ponte levadiça sobre o canal de San Anastasio, unindo a cidade amuralhada à "Cidade Baixa", atual bairro de Getsemaní (assinalado pelos ns. 1 a 5 do mapa); a ponte servia como defesa da cidade, posto que, em caso de ataque, esta era levantada para dificultar o assalto de bucaneiros e piratas.
A porta atual é obra do engenheiro militar Juan de Herrera y Sotomayor, no início do século XVIII, em substituição à porta da Boca del Puente, de 1631, destruída parcialmente quando do ataque promovido pelo corsário francês Jean-Bernard Louis de Saint-Jean, Barão de Pointis, em 1697.
A Puerta del Reloj é uma das mais admiráveis da Escuela de Fortificación Hispanoamericana e uma das mais conservadas do Novo Mundo.
A Torre del Reloj foi acrescentada ao conjunto no final do século XIX, obra do arquiteto autodidata nativo Luis Felipe Jaspe, erguida entre 1876 e 1888; seu estilo arquitetônico é eclético, uma mistura de colonial e republicano; leva esse nome em razão do relógio instalado em seu corpo.

Puerta del Reloj, erguida provavelmente em 1704; um arco romano de meio ponto, flanqueado por dois pares de colunas toscanas, com entablamento com friso decorado com tríglifos; sobre a porta, a Torre del Reloj, concluída em 1888, estilo eclético, mistura de colonial com republicano. Plaza de la Paz ou Plaza del Reloj, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Em seguida nos dirigimos ao Paseo de los Mártires ou Plaza de los Mártires.
O passeio fica localizado em frente à Puerta del Reloj e vizinho à Bahía de las Ánimas; até meados do século XIX, o local era banhado pelas águas do canal de San Anastasio, que separava a "Cidade Amuralhada" (Camarí) da Cidade Baixa (Getsemaní).
Em 24 de fevereiro de 1816, no lugar, foram mortos (alguns enforcados, outros fuzilados) nove próceres do movimento independentista de Cartagena de Indias (Manuel del Castillo y Rada, Martín Amador, Pantaleón Germán Ribón, Santiago Stuart, Antonio José de Ayos, José María García de Toledo, Miguel Díaz Granados, José María Portocarrero e Manuel Anguiano), a mando do general Pablo Morillo, "el Pacificador", comandante da força expedicionária espanhola para reconquista das colônias.
Em 1911, o lugar passou a se chamar Plaza del Centenario, em comemoração ao primeiro centenário da Independência de Cartagena de Indias; na época, algumas esculturas e um monumento, criados pelo arquiteto Luis Jaspe, foram instalados no espaço.
Mas, em 1916, como lembrança de um século do atroz sacrifício dos mártires da independência, a cidade decidiu denominá-la de Camellón ou Plaza ou Paseo de los Mártires.
O passeio, hoje, é embelezado por duas fileiras de árvores em suas laterais.
A noroeste e a oeste do passeio, encontram-se, respectivamente, a Plaza de Cervantes e o Parque del Centenario.

Paseo de los Mártires, projeto do arquiteto autodidata Luis Jaspe, espaço construído em 1911, para homenagear o centenário da independência de Cartagena de Indias; teve o nome alterado, em 1916, como preito aos nove próceres do movimento executados por ordem do general espanhol Pablo Morillo, em 1816. Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
No passeio, encontramos o monumento "Noli Me Tangere"; em tradução livre: "Não Me Toque", também de Luis Jaspe.

Monumento "Noli Me Tangere", projetado pelo arquiteto autodidata Luis Jasper e instalado em 1911, em agradecimento às mulheres cartageneras atuantes do movimento independentista. Paseo de los Mártires, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Ao lado do Paseo de los Mártires, nos deparamos com a Plaza Cervantes, na qual encontra-se um monumento ao famoso escritor espanhol Miguel de Cervantes Saavedra.
O monumento é uma obra do escultor Héctor Lombana, em 2007, por ocasião do IV Congreso Internacional de la Lengua Española, realizado em Cartagena de Indias, com a presença do então presidente da República da Colômbia, Álvaro Uribe, e dos reis da Espanha, à época, Juan Carlos e Sofia.

Monumento a Miguel de Cervantes Saavedra, obra de 2007 do escultor Héctor Lombana; o famoso escritor espanhol é representado sentado numa cadeira, escrevendo sobre uma escrivaninha. Plaza Cervantes, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
A leste do Paseo de los Mártires, encontramos o chamado Muelle de los Pegasos (Doca dos Pégasos), na Bahía de las Ánimas ; o nome vem do monumento "Los Pegasos", obra do escultor colombiano Héctor Lombana, que foi doada pelo artista a Cartagena de Indias em 1992, instalada na doca.
De acordo com o mito grego, Pégaso era filho de Poseidon, o deus dos Mares, e Medusa (monstro em corpo de mulher, com cabelo formado por serpentes); de acordo com uma das versões, ele foi criado quando o herói Perseu matou Medusa, decapitando-a, e o sangue dela escorreu do pescoço e correu até a água; após o encontro do sangue com a água, ouviu-se um som de trovão e, da espuma gerada por uma onda, surgiu Pégaso, um cavalo alado divino. Pégaso representa criatividade, imaginação e imortalidade.

Monumento "Los Pegasos", obra do escultor Héctor Lombana, doada à cidade em 1992; são três figuras representando Pégaso. Muelle de los Pegasos, Bahía de las Ánimas, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Também no Muelle de los Pegasos, fomos ver o Galeón Bucanero.
O galeão foi construído, seguindo o modelo dos galeões do século XVII, em Santa Maria do Pará, Brasil, por iniciativa de Gerardo Batista Amaral, em 1991, que, após sua conclusão, trouxe-o até Cartagena de Indias, numa travessia de 28 dias, para comemoração da chegada de Cristóvão Colombo à América.
Após alguns anos de navegação, o Galeón Bucanero foi fundeado na Bahía de las Ánimas, passando a servir de museu e de local para eventos.

Galeón Bucanero, barco construído no Brasil, em 1991, no estilo dos galeões do século XVI. Muelle de los Pegasos, Bahía de las Ánimas, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Adentrando novamente no recinto amuralhado, nos dirigimos para a Plaza de la Proclamación.
À semelhança de muitos espaços públicos de Cartagena de Indias, a referida praça trocou de nome várias vezes; inicialmente, com a conclusão do edifício da Catedral, no início do século XVII, ela começou a ser chamada pelos habitantes de Plaza de la Catedral; em seguida, quando se ergueu o prédio do governo colonial, tomou o nome de Plaza del Cabildo; depois de algum tempo, foi rebatizada de Plaza del Palacio.
Ocorre que, no final do período colonial, quando Napoleão destituiu os reis da Espanha Carlos IV e seu filho Fernando VII, em 1808, exercendo o poder por meio de seu irmão José Bonaparte, alçado à monarca espanhol, o domínio do império nas colônias se diluiu nas chamadas Juntas Provisionales, que, inicialmente, reconheciam Fernando VII como rei, mas subordinado à Constituição, como fizera a Junta Central de Cádiz, na metrópole, que então, exercia a resistência ao usurpador José na península; mas, em seguida, influenciadas pelo ideário republicano das revoluções americana e francesa do final do século XVIII, as Juntas de Gobierno de Hispanoamérica derivaram para movimentos independentistas, como ocorreu em Santafé de Bogotá, em 20 de julho de 1810, com o grito da independência, o que motivou a Junta de Cartagena, a pedido do povo sublevado, a se levantar contra a Coroa espanhola e a proclamar a independência em 1811.
A decisão foi ratificada fisicamente na então Plaza del Palacio, quando o povo reunido, em 11 de novembro de 1811, respaldou a Acta de Independencia, e, a partir daí, as autoridades decidiram denominá-la Plaza de la Proclamación, nome que conserva até hoje.
A praça, além de haver sido o cenário desse fato histórico, é flanqueada por edifícios relevantes para a cidade, como a Catedral e o prédio que abriga a Gobernación del Departamento de Bolívar, antigo Cabildo.
A Casa del Cabildo, também conhecida como Palacio de la Gobernación, tem sua fachada principal voltada para a Plaza de la Proclamación.
O Cabildo (governo municipal na época colonial) funcionava originalmente em outro edifício, sendo que o andar superior servia de residência dos governadores, enquanto que o inferior fazia as vezes de prisão ( igual ao que ocorria nos edifícios das câmaras municipais, em alguns municípios brasileiros, até início do século XX).
Em 1676, iniciou-se a construção da nova sede do Cabildo, na então Plaza de la Catedral, seguindo o estilo de alguns ayuntamientos castellanos (edifícios das prefeituras de Castela, na Espanha), caracterizados pelas galerias duplas abertas para a praça.
Apesar das várias reformas que sofreu ao longo do tempo, pode-se dizer que o edifício ainda conserva grande parte de seus traços coloniais originais, contando hoje com terraço, balcões e balaustradas.
A Casa del Cabildo é um prédio histórico de primeira ordem, posto que, além de ter sido sede do Ayuntamiento colonial, residência de governadores e comandantes da praça forte de Cartagena de Indias, visitado por vice-reis, libertadores e presidentes, no seu salão principal foi assinada a Acta de Independencia de Cartagena, em 11 de novembro de 1811.
Hoje, o edifício é a sede da Gobernación de Bolívar, já que Cartagena de Indias é a capital do departamento; por isso o prédio é conhecido também como Palacio de la Gobernación.

Palacio de la Gobernación, antiga Casa del Cabildo, construção do final do século XVII, sede do Gobierno del Departamento de Bolívar, Plaza de la Proclamación, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Colada à Plaza de la Proclamación, nos encontramos na Plaza de Bolívar; típica praça de estilo espanhol, coberta por vegetação tropical, durante o período colonial foi o coração da cidade.
Chamada inicialmente de Plaza de la Iglesia, posto que lindeira de quina da Catedral, passou a ser denominada, no início do século XVII, de Plaza de la Inquisición, em razão da instauração na cidade, pela Real Cédula de Felipe III, rei da Espanha, em 1610, do Tribunal da Inquisição, tendo o primeiro Auto de Fé (sentença por heresia), ordenado em 2 de fevereiro de 1614 pelos inquisidores Juan de Mañozca e Pedro Mateo de Salcedo, ocorrido na praça.
O nome foi trocado para Plaza ou Parque de Bolívar após a inauguração, no centro da praça, em 11 de novembro de 1896, de uma estátua equestre de Simón Bolívar, "El Libertador", obra modelada em Munique, Alemanha, em 1893 ou 1894, pelo escultor venezuelano Eloy Palacios, feita em bronze com pedestal de granito da Finlândia.
O logradouro, portanto, nos tempos coloniais, tinha, no seu entorno, as instituições mais poderosas: o Cabildo, a Catedral e o Palacio de la Inquisición; atualmente esses edifícios históricos estão acompanhados dos prédios que sediam o Banco de la República e o Museo del Oro de Cartagena.

Estátua equestre de Simón Bolívar, obra do escultor Eloy Palacios, inaugurada em 1896; o "Libertador", vestido de casaco, faixa e dragonas, está representado sobre um cavalo, com o rosto voltado para a direita, fazendo uma saudação triunfal com o braço direito estendido e um chapéu bicorne na mão, enquanto a esquerda segura as rédeas do animal; o cavalo está com duas patas levantadas, caminhando, e com a cabeça abaixada. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Na Plaza de Bolívar, fomos conhecer o Palacio de la Inquisición ou Casa de la Inquisición, lugar onde funcionou o Tribunal del Santo Oficio, composto de dois inquisidores, um fiscal, empregados de secretaria e oficiais de justiça, instalado em Cartagena de Indias em 8 de março de 1610, por iniciativa de Felipe III, rei da Espanha, com o objetivo de ditar os autos de fé, julgamentos dos pretensos hereges.
Por conta do movimento independentista, o tribunal foi abolido em 1811 pela Junta de Gobierno de Cartagena, mas foi restabelecido em 1816 por ordem do general Pablo Morillo, comandante da força expedicionária espanhola, para ser definitivamente extinto em 22 de agosto de 1821, após a consolidação da República.
Inicialmente o tribunal ocupou duas casas localizadas na praça, mas, em razão da necessidade de um local mais apropriado para suas atividades e importância, os imóveis foram demolidos e iniciou-se a construção de uma casona, que foi concluída somente em 1770; na verdade, o que passou a chamar-se Palacio de la Inquisición é composto de três casas, duas voltadas para a praça e uma na rua vizinha, conhecida como a Casa de los Calabozos.
A fachada principal do palácio é impressionante: o andar térreo apresenta janelas com grades de madeira e, no superior, grandes balcões de madeira escura, contrastando com a brancura da parede.
Na portada barroca, lavrada em pedra coralina, podem ser observados arabescos, um escudo e a cruz cristã.
Na fachada lateral, voltada para a Calle de la Inquisición, observa-se o "Buzón de la Ignominia" (caixa de correio da ignomínia) ou "Ventana de la Denuncia" (janela de denúncia); é uma pequena janela encimada por uma cruz, que servia para os delatores deixarem anonimamente cartas informando sobre suas suspeitas de hereges.
Diz-se que os acusados eram pesados, já que se acreditava que os fiéis deviam pesar um quilo por cada centímetro que sua altura ultrapassasse a um metro; caso fosse muito superior ou inferior dessa medida era indício de que era praticante de bruxaria.
A partir de 1945, o imóvel passou a ser propriedade do governo federal e, atualmente, funciona nele o Museo Histórico de Cartagena de Indias.

Palácio de la Inquisición ou Casa de la Inquisición, estilo colonial e barroco, concluído em 1770, onde se destacam, no térreo, as janelas gradeadas, e, no andar superior, os grandes balcões de madeira, bem espanhóis; a portada principal talhada em pedra coralina, com arabescos e um escudo central coroado por uma cruz. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.

Ventana de la Denuncia ou Buzón de la Ignominia, local em que os delatores depositavam anonimamente suas denúncias contra os supostos hereges. Palacio de la Inquisición, fachada voltada para Calle de la Inquisición, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.

Pátio interno do Palacio de la Inquisición, no qual se encontrava um grande mosaico de azulejos contando a história da Inquisição no seio da Igreja Católica, na Espanha e em Cartagena de Indias. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
No interior do edifício nos deparamos com algumas dependências que apresentavam instrumentos empregados para interrogatório e tortura dos acusados.
Numa delas, segundo foi informado, os acusados de bruxaria eram sujeitos a um interrogatório, e as mulheres tinham seu peso avaliado por uma balança conhecida como "Peso de las Brujas"; se pesassem menos do que o esperado era porque podiam voar, o que era um forte indício de que era uma bruxa.

À direita, o Peso de las Brujas, equipamento utilizado para verificar o peso das mulheres suspeitas de bruxaria. Palácio de la Inquisición, Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
Em uma das salas do palácio, conhecida como "Cámara de Tormentos", encontra-se a "Cama de Estiramiento" ou "Potro", na qual se deitava o suspeito e se amarravam os pés e as mãos dele para, logo em seguida, os membros superiores e inferiores serem esticados em sentidos contrários, por meio das cordas enroladas em carretéis, provocando dores excruciantes nos músculos e articulações, até obter-se a confissão do "herege".

Cama de Estiramiento ou Potro, na qual o suspeito tinha suas mãos e pés amarrados e esticados em sentidos contrários com o objetivo de obter a confissão do acusado. Cámara de Tormentos, Palácio de la Inquisición, Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.

Parede do pátio externo do Palacio de la Inquisición, na qual se vê, no piso inferior, as janelas e portas com grades de madeira e, no andar superior, os balcões de madeira. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.

Guilhotina, pátio externo do Palacio de la Inquisición. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.

Forca instalada em um patíbulo. Horta do Palacio de la Inquisición. Plaza de Bolívar, Cartagena de Indias, capital do Departamento de Bolívar, Colômbia.
No nosso próximo post, visitaremos a Catedral de Cartagena de Indias.
Fontes:
Wikipédia;






Comentários