Andaluzia - Parte IV - Sul da Espanha - 2009
- Roberto Caldas
- 23 de mai. de 2021
- 16 min de leitura

Porta de entrada do Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
a - Jaén
Jaén foi cidade ibera, depois ocupada pelos romanos, até que, em 712, caiu em poder dos muçulmanos. Tinha grande importância militar para os islâmicos, em razão de sua posição estratégica no caminho que ligava Castela e Andaluzia.
A fortaleza edificada pelos árabes sobre o monte, por volta do século X, foi tomada por Fernando III de Castela, o Santo, em 1246, e reconstruída, por ordem do rei, com o nome de Castillo de Santa Catalina, em homenagem à Santa Catarina de Alexandria.
No século XV, durante algum tempo, o castelo foi usado como residência oficial pelo Condestável de Castela, Miguel Lucas de Iranzo, e sua família. Condestável era o título que recebia o maior representante militar do rei, na ausência dele.
Um dos episódios mais traumáticos para a Espanha foi a invasão do seu território pelas tropas napoleônicas e a Guerra da Independência que os espanhóis, auxiliados pelos britânicos, tiveram que travar com as forças francesas para retomar a liberdade.
Em Jaén, o exército napoleônico tomou o castelo-fortaleza, tornando-o a maior e mais importante base das tropas francesas do Alto Guadalquivir e promovendo, entre janeiro de 1810 e setembro de 1812, várias alterações, construindo novas edifícios e modificando, muitas vezes, as estruturas anteriores. Ao retirar-se de Jaén, as tropas napoleônicas explodiram as construções, deixando seriamente danificadas algumas partes da fortaleza.
Após a saída dos franceses, a recuperação da fortaleza foi lenta, sendo que, até hoje, há obras de restauração, de estudo arqueológico e de reposicionamento para uso turístico e cultural. Hoje, funciona no local um museu aberto ao público.
As vistas a partir do castelo são muito bonitas e reveladores, como se pode observar por meio das fotografias aqui colocadas.
O castelo possui seis torres: del Homenaje; de las Damas; duas Albarranas (uma delas é a Capela de Santa Catarina de Alexandria); de la Vela e de las Troneras.
A Torre del Homenaje é a mais alta da fortaleza e o último refúgio do castelo quando de um cerco militar, por isso que a base dela é empregada como um depósito de víveres a que se tem acesso a partir do primeiro andar. Possui elementos defensivos como janelas seteiras, de onde se lançam flechas, e matacães, que são balcõezinhos de onde se arrojam todo tipo de objetos (pedras, óleo quente, etc) para combater o inimigo.

Torre del Homenaje, podendo se observar dois matacães na parte superior e seteiras nos seus muros. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A de las Damas é a torre porteira da fortaleza e serviu de alojamento para parte da guarnição. No seu terraço, é possível contemplar vistas incríveis do entorno da fortaleza e da cidade.

Torre de las Damas, à esquerda, e Torre del Homenaje, à direita, com seus matacães. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
As Torres Albarranas, que possuíam função fortemente defensiva, estão separadas do muro principal da fortaleza por uma ponte em forma de arco. Uma delas foi convertida em capela, no século XV, para o casamento da irmã do Condestável Iranzo. Hoje é a capela da co-padroeira de Jaén, Santa Catarina de Alexandria.

Uma das Torres Albarranas (a que não é capela), à esquerda, e a Torre de la Vela, à direita. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Torre de la Vela ou de la Guardia é uma construção pentagonal e era a principal de vigilância da fortaleza, servindo, também de depósito de víveres e de dormitório da guarnição; as vistas a partir de seu terraço são espetaculares, englobando a cidade, as muralhas, as serras e alguns municípios próximos. Servia também como ponto de comunicação com outros castelos e torres de vigia, especialmente nas ocasiões de perigo. O seu nome se deve exatamente porque, a partir de seu terraço, se emitiam sinais luminosos a outros postos defensivos do entorno.

Torre de la Vela ao fundo; à esquerda da Eunice, outra Torre Albarrana (capela), e na sequência, à direita, Monte la Sierra. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A partir da Torre de la Vela, baixando uma escada, tem-se acesso à prisão; o que fora um antigo depósito de grãos na época muçulmana e cristã, foi transformado em calabouço durante a ocupação francesa, no início do século XIX.

Prisão do castelo; no seu interior, representação de um prisioneiro espanhol durante a ocupação francesa. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.

Vista da cidade de Jaén a partir do terraço da Torre de las Damas, direção norte; no centro, olivais, e, logo depois, na cor cinza, uma central de produção de energia solar. Castillo de Santa Catalina, Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Ao lado da fortaleza e sobre o Cerro Santa Catalina, nos terrenos ocupados pelas ruínas do Alcázar Viejo islâmico, levantou-se, em 1965, o Parador Nacional de Turismo, da mesma rede dos outros paradores apresentados em posts anteriores deste blog: Pontevedra, Santiago de Compostela, Leão e Zamora.

Parador de Turismo de Jaén, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
b - Priego de Córdoba
Região ocupada pelos romanos entre os séculos III e V, logo após a invasão muçulmana passou a chamar-se Medina Bahiga. Foi tomada pelos cristãos sob o comando de Fernando III de Castela, o Santo, em 1225, e depois entregue à Ordem de Calatrava para sua defesa, em razão de tratar-se de ponto estratégico para o desenvolvimento da Reconquista Cristã.
Ocorre que Bahiga foi retomada pelos muçulmanos, passando a integrar o Reino Nacérida (Nazarí, em espanhol), sediado em Granada. Somente em 1341 houve sua conquista definitiva por Alfonso XI de Castela, que reconstruiu a muralha do castelo e fomentou o repovoamento por meio da concessão de certos tributos, passando a fazer parte da Casa de Aguilar por meio da intervenção de seu senhor Gonzalo Fernández de Córdoba; posteriormente, foi concedido pelos Reis Católicos, em 1501, ao descendente de Gonzalo, Pedro Fernández de Córdoba y Pacheco, passando a ser titular do Marquesado de Priego.
Priego de Córdoba, no século XVIII, passou a ser um grande centro da indústria da seda, o que possibilitou o acúmulo de riqueza pela elite da cidade. Nesse período, foram erguidas muitas obras em estilo barroco, o em voga naquele século: igrejas, casas, fontes, etc. Tanto que Priego teve a pretensão de ser a capital do barroco cordobês.
Uma das mais impressionantes obras barrocas da cidade é a Fuente del Rey, chamada assim porque diz a tradição que o rey Alfonso XI de Castela montou acampamento ali para conquistar definitivamente Priego de Córdoba dos muçulmanos em 1341.
A Fuente del Rey é abastecida pela Fuente de la Salud, construção do século XVI, cujo nome se deve à imagem da Virgen de la Salud que se encontra no centro do muro almofadado.
A Fuente del Rey foi realizada pelo escultor Remigio del Mármol, tendo sido concluída em 1803. É composta por 139 canos, muitos deles com mascarões (carrancas) de pedra assustadores, e três tanques situados em diferentes níveis e forma alongada em que predominam contornos curvos. No primeiro tanque, há uma escultura de um leão e uma serpente lutando, possivelmente obra do escultor José Álvarez Cubero. No segundo tanque, de Remigio, tem-se a escultura de Poseidon e Anfitrite, que cavalgam sobre um carro puxado por cavalos que saem da água. Em seguida, a água cai do segundo para o terceiro tanque por meio de uma cascata e sai pelo mascarão do Clero.

Fuente de la Salud, com a imagem da Virgem da Saúde, Priego de Córdoba, Província de Córdoba, Andaluzia, Espanha.

Fuente del Rey, estilo barroco; à esquerda, Fuente de la Salud; no centro do primeiro tanque, a escultura do leão e da serpente lutando; no centro do segundo tanque, a escultura de Poseidon e Anfitrite. Priego de Córdoba, Província de Córdoba, Andaluzia, Espanha.

Escultura de Poseidon e Anfitrite, segundo tanque da Fuente del Rey. Priego de Córdoba, Província de Córdoba, Andaluzia, Espanha.
c - Alcalá la Real
Alcalá la Real teve ocupações iberas e romanas, mas a região se tornou importante somente após a invasão muçulmana. No alto do monte, Cerro de La Mota, que domina a região, os islâmicos construíram uma cidade-fortaleza para dominar as vias de comunicação. No século XII, a cidade passou a ser chamada Qal'at Banī Sa'īd (Fortaleza dos Bani Sa'id) ou apenas Al-Qal'a (Fortaleza), de onde derivou seu nome atual.
Terminou conquistada por Alfonso XI de Castela, em 1341, que lhe concedeu o título la Real.
Depois da conquista de Granada pelos Reis Católicos, em 1492, a cidade-fortaleza, agora conhecida como Fortaleza de La Mota, perdeu sua importância militar. A população começou a migrar do recinto amuralhado para a parte plana, no sopé do morro. A decadência se deu quando tropas napoleônicas ocuparam La Mota de 1810 a 1812, e, com a derrota para as tropas nacionais, na Guerra da Independência, os franceses a abandonaram após incendiá-la.

Fortaleza de La Mota, no alto do Cerro de mesmo nome; à esquerda, se vê a Torre del Homenaje; à direita, as ruínas da Iglesia de Santo Domingo de Silos com sua torre, tudo isso abarcado pela muralha. Alcalá la Real, Província de Jaén, Andaluzia, Espanha.
d- Granada
Granada é um caso à parte na Espanha. O último reduto muçulmano na Península Ibérica, manteve-se, no final do século XV, apenas como Cidade-Estado.
Próximo à atual cidade de Granada, havia um povoado ibero chamado Iliberri ou Ilíberis que, na época romana, iniciada por volta de 180 a.C, teve alguma importância, porém, no início do século VIII, estava despovoada.
Mesmo com a chegada dos muçulmanos, o lugar serviu apenas como fortaleza para ação de guerrilheiros muladis (descendentes de cristãos convertidos ao islamismo) em uma rebelião contra o Emirado de Córdoba, no século IX.
Por volta de 1010, o chefe berbere Zawi ben Ziri fundou Madinat Garnata na colina de Albaicín, na margem direita do rio Darro. Esse primeiro núcleo urbano, bem no centro da atual Albaicín, era conhecido como Alcazaba Cadima. O bairro ainda conserva o traçado original da medina, com ruas estreitas e tortuosas típicas dos centros urbanos árabes.
O Bañuelo de Granada, provavelmente do século XI, é um dos poucos banhos árabes que conseguiram se salvar da destruição promovida pelos Reis Católicos, posto que os cristãos os comparavam com bordéis. São os banhos mais antigos, importantes e completos da Espanha.
Os baños do Bañuelo estão sob uma casa particular, na Carrera del Darro, Albaicín, aos pés de Alhambra, e demonstram o grau de refinamento que os islâmicos de Al-Andalus possuíam.

Porta de entrada do Bañuelo de Granada, baños árabes do século XI, bairro Albaicín. Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O rio Darro foi a coluna vertebral da Granada Muçulmana, fornecendo água aos palácios e jardins de Alhambra e do conjunto do Generalife por meio de uma rede de aquedutos conhecida como Acequia Real. Dois logradouros de Granada são batizados com seu nome: a Carrera del Darro e a Acera del Darro.

Ponte sobre o rio Darro, bairro Albaicín, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Com a tomada de Granada em 1492 pelo casal Isabel de Castela e Fernando de Aragão, os Reis Católicos, a Corte deles, por certo tempo, ficou instalada na cidade, tendo impulsionado a sua ocupação pela nobreza, que passou a construir no antigo centro urbano árabe palácios renascentistas. Também foram erguidos prédios públicos e igrejas católicas, normalmente respeitando o estilo em voga na época, o renascentista.
O Monasterio de Santa Catalina de Siena, conhecido como Convento de Zafra, localizado na Carrera del Darro, 39, Albaicín, foi fundado em 1520 por iniciativa, diz-se, da viúva de Hernando de Zafra, secretário dos Reis Católicos. Possui portal renascentista, e a igreja do convento foi muito modificada após o incêndio ocorrido em 1678.
O Convento é administrado pelas monjas dominicanas pregadoras, que também elaboram doces e pastéis (não são os nossos) reconhecidos como de excelente qualidade, sendo possível comprá-los por meio da roda do convento.

Fachada do Monasterio de Santa Catalina de Siena (Zafra), estilo renascentista; portal de entrada de pedra branca, no qual pode-se contemplar, em um nicho, a imagem de Santa Catarina de Sena, ladeada de escudos possivelmente da família de Hernando de Zafra. Albaicín, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A Iglesia Parroquial de San Gil y Santa Ana, conhecida como Iglesia de Santa Ana, onde convivem os estilos mudéjar e renascentista, foi erguida em 1537, como sede da paróquia de mesmo nome, segundo projeto de Diogo de Siloé, o arquiteto (artista) mais renomado de sua época na região. Diz-se que a igreja foi construída no lugar onde existia anteriormente uma mesquita conhecida como Almanzora.
A torre, construída entre 1561 e 1563 por Juan Castellar, é, à semelhante do restante do templo, de tijolos, com quatro corpos com aberturas em forma de arco, apresentadas da menor para a maior na ordem crescente de altura.
O portal principal da igreja, voltado para a Plaza Nueva, é um dos grandes valores arquitetônicos do templo, e foi projetado por Sabastián de Alcántara em 1542 e concluído por seu filho Juan de Alcántara em 1547. As imagens da fachada são do escultor Diego de Aranda.

Iglesia de Santa Ana; o portal, estilo renascentista, é formado por um alto arco de meio ponto ladeado por colunas da ordem coríntia de fuste estriado, que suportam uma cornija sobre a qual há três nichos com imagens, e, sobre elas, um medalhão com a imagem da Virgem e o Menino Jesus. Albaicín, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
A criação da Real Audiencia y Chancillería de Granada, órgão judicial, foi determinada pelos Reis Católicos, os quais, em 1505, decidiram transferir a Audiencia da Ciudad Real para Granada.
O assunto é muito bem abordado por Isabel Enciso Alonso-Muñumer, no seu livro "Reyes Católicos", no qual aponta, nessa medida, dentre outras, a intenção dos monarcas em cada vez mais centralizar a criação e a ordenação das leis, bem como a sua administração, de forma a homogeneizar o corpo legal e, consequentemente, aumentar o poder real em detrimento do das oligarquias locais:
"Outros dos objetivos fundamentais da política interior foi a reforma do sistema judicial. Os reis encarregaram a recopilação das Ordenanças de Castela a Díaz de Montalvo, em 1480, em uma primeira tentativa para codificar as leis castelhanas, e a essa iniciativa se somaram a recopilação e impressão de pragmáticas, em 1503, por Juan Ramírez de Alcalá, e das Leis de Toro em 1505. Os monarcas pretendiam homogeneizar o corpo legal castelhano para garantir a correta e igual administração da justiça no território da Coroa de Castela, e, assim, sublinhar a teoria da preeminência real. (...).
"Reformaram-se, além disso, as instituições. Em Castela, havia uma justiça municipal, na primeira instância, distribuída pelos corregedores e os alcaides maiores, que se podia recorrer, a modo de apelação, às Chancillerías e, na última instância, ao Conselho de Castela. Na época dos Reis Católicos, a Chancillería de Valladolid, auxiliada por outra criada na Galiza, e a Chancillería de Ciudad Real, criada em 1494 e transladada, em 1505, a Granada, eram as encarregadas de distribuir justiça ao norte e ao sul do rio Tejo, em duas jurisdições diferentes. Seu funcionamento e sua estrutura adquiriram forma definitiva com as Ordenanças de 1486, que garantiram o controle por parte dos monarcas dos organismos judiciais." - (tradução livre do espanhol - pág. 18) "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñumer, Série: "Historia de España", Coleção "Historia del Mundo", Diretor: Miguel Morán Turina, Ediciones Akal S.A., Madrid, 2001, 2ª reimpressão, 2013.
Apesar da determinação, o edifício onde funcionou a Real Chancillería somente foi construído em 1530, no reinado de Carlos I (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico), neto dos Reis Católicos. Foi o primeiro edifício desse tipo erguido na Espanha para abrigar um tribunal de justiça.
A fachada principal é considerada a obra mais emblemática do maneirismo (última parte do Renascimento) em Granada. Foi atribuída muito tempo a Juan de Herrera, mas hoje se acredita que seu autor foi o mestre Francisco del Castillo, El Mozo, arquiteto formado na Itália e que trabalhou nessa parte de Andaluzia fazendo obras renascentistas de grande qualidade.
Atualmente, funciona no prédio o Tribunal Superior de Justiça de Andalucía, Ceuta y Malilla.

A fachada do prédio da Real Audiencia y Chancillería de Granada está dividida em dois corpos; na parte inferior, três portas com lintéis; na superior, seis balcões laterais com colunas da ordem coríntia (na foto, aparecem quatro), e um central, maior, sobre o qual estão um grande escudo e as estátuas representando a Justiça e a Fortaleza, ambas sentadas sobre o frontão; sobre o conjunto, se vê uma balaustrada de pedra arrematada com altos pináculos decorativos e na parte central um templete que acolhe um relógio no centro. Albaicín, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
O Museo Arqueológico Provincial de Granada foi criado em 1879, tendo como seu primeiro diretor Francisco Góngora del Carpio (1879-1919), filho do arqueólogo Francisco de Góngora y Martínez.
Mas o museu vai ter uma sede definitiva somente em 1917, quando se adquiriu a Casa de Castril, localizada na Carrera del Darro, no antigo bairro árabe, ocupado no século XVI pela nobreza granadina, por isso várias construções brasonadas.
A Casa de Castril foi concluída em 1539 e é uma dos melhores palácios renascentistas de Granada. Pertenceu, inicialmente, à família de Hernando de Zafra, secretário dos Reis Católicos, que participou da conquista de Granada e das Capitulações da Guerra. A obra foi iniciativa de um neto de Hernando, de mesmo nome, e é atribuída a Sebastián de Alcántara, um dos discípulos de Diego de Siloé.
O portal da casa se desenvolve em três corpos em estilo plateresco e de pedra arenítica.

Portal da Casa de Castril (Museo Arqueológico de Granada), estilo plateresco; no corpo inferior se encontra a porta de acesso rodeada por uma ampla moldura de relevos com couraças e armas romanas, árabes e cristãs; nos seus ângulos, serpentes ou dragões, e no centro, a Torre de Comares, do Palácio de Alhambra; o conjunto é flanqueado por colunas dóricas estriadas e conchas; no corpo intermediário, enquadrado por duas pilastras, a metade inferior tem os escudos da família sustentados por pares de meninos alados: a da Casa de Zafra e a da Casa de Cobos; no escudo de Zafra vê-se representada novamente a Torre de Comares; na metade superior, sobre os escudos, surge a cena central do portal: dois leões rampantes sujeitando um tímpano semicircular que contém uma representação da Ave Fênix sobre a fogueira, a ave que, de acordo com a mitologia, ardia no pôr do sol e, ao nascer do astro, ressurgia das cinzas. Albaicín, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
Como já dito no início do texto sobre Granada, tratava-se do último reino islâmico que havia sobrevivido à chamada Reconquista Cristã. Duas razões justificavam a sua sobrevivência até então: a instabilidade política da Coroa de Castela e a relativa inexpugnabilidade das defesas do reino muçulmano.
Porém, com o fim da Guerra da Sucessão Castelhana e a realização das Cortes de Toledo em 1480, houve maior estabilidade política na Coroa de Castela, que, em razão do matrimônio da monarca castelhana com Fernando, uniu-se, pelo menos ideologicamente, com a Coroa de Aragão. Isso permitiu que os Reis Católicos planejassem a conquista do Reino de Granada com os fins de alcançar a unificação dos territórios peninsulares e de fazer triunfar o Cristianismo. Além disso, uma conquista de tal envergadura traria um capital político junto a seus súditos, fortalecendo uma ideia de pertencimento a uma única comunidade.
A longa guerra, iniciada em 1482 e que durou dez anos, teve três fases distintas: na primeira, após lutas entre suas tropas e as do reino islâmico, sem muito sucesso para os Reis Católicos, estes, aproveitando-se de dissensões internas na família real islâmica, conseguiram colocar o sultão Muley Hacén e seu filho Boabdil em campos opostos; na segunda, que durou de 1484 a 1487, houve algumas conquistas cristãs na parte ocidental do reino islâmico, como Ronda e suas serras, Loja e Málaga; com a morte do sultão em 1485, assumiu o trono seu irmão, El Zagal, que também entrou em conflito com o sobrinho Boabdil, sendo que este último tomou Granada; na terceira, de 1487 a 1492, os Reis Católicos derrotaram El Zagal, em Baza, tomaram Almería e partiram para conquistar o último reduto, Granada.
O cerco a Granada durou quase um ano. A instalação do acampamento de Santa Fé demonstrou a vontade dos Reis Católicos de conquistar Granada a qualquer custo e forçou os muçulmanos a se renderem. Em novembro de 1491, Boabdil firmou a Capitulação de Granada, na qual entregava a cidade, mas era concedido aos andaluzes o direito de permanecer em Granada com suas posses, religião e cultura, e Boabdil receberia alguns terrenos. Em janeiro de 1492, os Reis Católicos fizeram sua entrada triunfal na cidade, e Boabdil lhes entregou as chaves de Granada.

Pintura "A Rendição de Granada", de Francisco Pradilla, que reproduz o momento em que o rei Boabdil entrega as chaves da cidade aos Reis Católicos, Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, em 2 de janeiro de 1492. Por Francisco Pradilla - See below., Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=17424140
Mas o futuro mostrou que os fatos não ocorreram como previsto no tratado:
"Nas capitulações se preservava a dignidade dos vencidos e se garantia a convivência entre muçulmanos e cristãos, mas o repovoamento, a convivência e as tentativas de evangelização por parte de Hernando de Talavera fracassaram e, após se adotar pela Coroa uma atitude mais intransigente com a população mudéjar, se lhes deu a escolha entre a conversão forçada ou a expulsão" - (tradução livre do espanhol - pág. 26) "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñumer, Série: "Historia de España", Coleção "Historia del Mundo", Diretor: Miguel Morán Turina, Ediciones Akal S.A., Madrid, 2001, 2ª reimpressão, 2013.
"Durante a Idade Média haviam convivido na Península distintas culturas e religiões: a cristã, a islâmica e a judia. No entanto, a politica religiosa dos Reis Católicos, com a reforma moral e espiritual do clero e as medidas para apaziguar os conflitos entre cristãos e judeus e muçulmanos, tendeu a unificar a fé sob o signo do Cristianismo. Os judeus foram expulsos em 1492, e os problemas religiosos e sociais surgidos após a conquista de Granada deram como resultado a expulsão dos mudéjares da Coroa de Castela, em 1500-1502" - (tradução livre do espanhol - pág. 22) "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñumer, Série: "Historia de España", Coleção "Historia del Mundo", Diretor: Miguel Morán Turina, Ediciones Akal S.A., Madrid, 2001, 2ª reimpressão, 2013.
Os problemas com a comunidade judia já era mais antigo. Remontam às revoltas populares do final do século XIV, como já relatado no nosso post "Oeste de Castela-Mancha - Parte I" quando falamos de Toledo. O antissemitismo se acentuou com a carestia e a pobreza que assolaram a Península Ibérica, já que os espanhóis cristãos as viam como resultado, pelo menos em parte, da usura e da acumulação da riqueza praticadas pelos membros da comunidade judaica.
Após essas revoltas, muitos integrantes da comunidade judaica optaram pela conversão à religião cristã e ficaram residindo na Península, enquanto outros resolveram ir embora. Ocorre que as conversões deram origem ao problema dos "falsos conversos", ou seja, o judeu fingia a conversão, mas continuava a manter todas ou parte das práticas sociais e religiosas do Judaísmo, como guardar certos feriados e não comer alguns animais considerados impuros, como porco ou camarão. Fato verdadeiro ou apenas pretexto para fazer acusações da prática clandestina do Judaísmo, isso, no entendimento dos cristãos da época, colocava em risco a ortodoxia católica em uma época em que a religião era considerada um elemento chave na sociedade.
"(...) Os conversos no século XV, assentados nas cidades, controlavam as atividades financeiras de empréstimos e a arrecadação de impostos, e continuou a atitude hostil ao povo judeu. Os Reis Católicos adotaram medidas preventivas, com a criação da Inquisição, para lutar contra a heresia e os 'falsos conversos', e, nas Cortes de Toledo de 1480, se decidiu recolher os judeus em uns bairros, as juderías, e se lhes distinguir pela roupa que deviam usar. Essas medidas não resolveram os problemas e, pelo édito de 31 de março de 1492, os judeus foram expulsos da Espanha. Na decisão confluíram razões sociais, políticas e religiosas. Os Reis Católicos queriam alcançar a unidade da fé, movidos tanto pelo zelo político como religioso e, ainda que não atuaram por pressão social, era um motivo constante de conflito entre a população.
"Se não abraçassem a fé católica deviam abandonar a Península em um prazo de quatro meses. Muitos se refugiaram em Portugal e voltaram ao cabo de um tempo, outros se dirigiram à França, Inglaterra, Flandres, Itália e Turquia. (...).
(...)
"Com a conquista de Granada surgiria o problema da assimilação da população muçulmana, e, ainda que, em princípio, a política de Hernando de Talavera, encarregado da evangelização e nomeado arcebispo do reino, fosse de condescendência com a cultura e a religião islâmicas, os escassos frutos levaram a aplicar, por meio de Cisneros, umas medidas mais rígidas. O resultado final foram as revoltas e o decreto de expulsão de 1500-1502. A antiga convivência entre as diferentes culturas se viu interrompida pelos Reis Católicos na intenção de unificar seus reinos sob o signo da cruz. A unidade religiosa seguia, portanto, as diretrizes da unidade política. Ademais, ía atuar com todo rigor o novo tribunal da Inquisição" - (tradução livre do espanhol - pág. 22-24) "Los Reyes Católicos", de Isabel Enciso Alonso-Muñumer, Série: "Historia de España", Coleção "Historia del Mundo", Diretor: Miguel Morán Turina, Ediciones Akal S.A., Madrid, 2001, 2ª reimpressão, 2013.
Um exemplo da tolerância cultural e religiosa em Al-Andalus foi o desenvolvimento da comunidade judia na Península, com o surgimento de muitos poetas, filósofos, teólogos, médicos, físicos e astrônomos, que deixaram legados muito importantes para o povo judeu. Em Granada, tem-se o exemplo de Judá ben Saúl ibn Tibbón, nascido na cidade em 1120 e que foi tradutor, médico, filósofo e poeta, porém, por volta de 1150, teve que se exilar na França provavelmente em razão da perseguição promovida pela dinastia berbere dos Almôadas, muçulmanos radicais.

Monumento a Judá ben Saúl ibn Tibbón, patrono dos tradutores, Calle Colcha com Calle Pavaneras, Granada, Província de mesmo nome, Andaluzia, Espanha.
No próximo post, continuamos em Granada.
Fontes: Wikipedia e "España" Guías Visuales, DK El Pais Aguilar, Octava edición, Santillana Ediciones Generales, S. I. Madrid, 2011.
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