Trieste - Parte II - Região de Friuli-Venezia-Giulia - Norte da Itália -2023
- Roberto Caldas
- 1 de mai.
- 12 min de leitura

Trieste - Parte II
Continuamos nossa visita descendo a colina de San Giusto pela estreitas ruas medievais.

Na descida da colina, encontramos a Basilica di San Silvestro (hoje Basilica di Cristo Salvatore, de confissão evangélica), que é a igreja mais antiga da cidade em uso, cuja construção ocorreu a mando do bispo Bernardo por volta do séc. XII, fora das muralhas romanas, no local onde a tradição diz que ficava localizada a casa das santas mártires Eufemia e Tecla.
Até 1784, foi um importante templo de culto católico; no entanto, alguns membros da Comunità Evangelica di Confessione Elvetica (Comunidade Evangélica Suíça), na sua maioria imigrantes suíços do Cantão dos Grigioni (Grisões), adquiriram-no em 1785 e, depois de o terem restaurado de forma sóbria, reabriram-no ao culto reformado, dedicando-o a Cristo Salvador.
Em 1927, devido aos danos causados por um violento terremoto, foi restaurada, regressando ao estilo primitivo do século XIV e, em 1928, pelas suas características peculiares e pela sua relevância histórica, a basílica foi declarada monumento nacional.

Ao lado, está a Chiesa di Santa Maria Maggiore, edificada em 1627 com o anexo Collegio dei Gesuiti (Colégio dos Jesuítas); a cúpula foi terminada somente em 1817; a igreja é dedicada à veneração popular à Nossa Senhora da Saúde; situava-se no coração da cidade antiga, escondida da vista até a demolição de Cittavechia (1934-38) e a construção da escadaria (1956).
Em 1773, a Companhia de Jesus foi extinta da cidade, e o cuidado da igreja e o ministério pastoral foram assumidos pelo clero secular.
Em 1922, os franciscanos da província veneziana de S. Antonio passaram a dirigir a igreja e a paróquia de Santa Maria Maggiore, mas, em 2001, eles se retiraram da cidade, voltando o clero secular a administrar o templo; em 2011, a igreja foi confiada à Congregação dos Frades Franciscanos da Imaculada Conceição.

O altar-mor, dedicado à Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, construído entre 1672 e 1715-17, colocado no meio do arco em 1838, apresenta a mesa de sacrifício em mármore amarelo, o antipêndio (parte frontal do altar) em mármore misto e o sacrário com volutas em espiral encimado por um cibório, coroado por uma pequena cúpula com a estátua de Cristo ressuscitado.
O altar é enriquecido por quatro estátuas de santos jesuítas e dois anjos orantes, provável obra de escultura veneziana entre os séculos XVII e XVIII no estilo Bonazza.
A atual abside em forma de ciclóide (que substitui a anterior retangular com afrescos do jesuíta Antonio Werles em 1753) apresenta um grande afresco em têmpera de 1840 com a "Apoteose da Imaculada Conceição" de Sebastiano Santi (1789-1866) de Murano.

O púlpito, que se tornou uma peça fundamental no mobiliário litúrgico das igrejas da Contrarreforma, foi feito em 1742.
É dividido em "espelhos" (laterais do balcão) côncavos e convexos sustentados por uma "pinha" (a base) em espiral; os "espelhos" são decorados ao centro com um motivo espiral de mármore branco.
No dossel, de formato poligonal curvilíneo e linhas quebradas de madeira, há seis volutas que sustentam a figura de um anjo com o monograma IHS (transcrição do nome abreviado de Jesus em grego ou Iesus Hominum Salvator (Jesus Salvador dos Homens), emblema dos jesuítas); no céu azul do dossel, pode-se ver a Pomba do Espírito Santo com um raio dourado.

O altar de Santo Inácio foi erguido, de acordo com a tradição historiográfica do século XIX, pela nobre família Conti, de Trieste, no ano de 1689.
Localizado na nave esquerda, na altura do transepto, tem pedestal decorado com espelhos de mármore misto, antipêndio ricamente elaborado, colunas duplas tendo duas estátuas de anjos da arte veneziana do século XVII-XVIII inseridas entre elas, encimadas por frontão recuado enriquecido com estátuas e, no fastigio, um anjo segurando a divisa "Omnia ad maiorem Dei gloriam" (Tudo para maior glória de Deus - tradição livre do latim).
O retábulo com a "Aparição de Cristo a Santo Inácio" é atribuído à escola de Giovanni Barbieri conhecido como Guercino (1591-1666) ou a Francesco Maffei de Vicenza (1600-1660) ou a um pintor da zona emiliana da segunda metade do século XVII.

O Altar de São Francisco Xavier foi construído entre 1665 e 1670 por iniciativa da condessa Beatrice Dornberg por ocasião da morte de seu marido Nicolò Petazzi.
O altar encontra-se no transepto, na nave direita, com mesa de sacrifício e antipêndio com azulejos de mármore preto e vermelho, possui colunas duplas encimadas por frontão arqueado e outro frontão superior recuado, arrematado por obeliscos e brasões ladeando o monograma de Cristo. Nas laterais, há dois memoriais lapidares em mármore preto em memória dos doadores.
O retábulo, representando a "Glória de São Francisco Xavier", é atribuído a um aluno de Luca Giordano (1632-1705) ou a um pintor da escola veneziana de finais dos anos 1600 ou inspirado em Francesco Maffei (1600-1660).

Sobre a mesa do Altar de São Francisco Xavier está uma urna relicária do século XIX contendo os restos mortais do beato Monaldo da Capodistria, da Ordem dos Frades Menores (franciscanos), provavelmente falecido em 1278, vinda da igreja de Sant'Anna di Capodistria.

Já no sopé da colina, nos deparamos com o Teatro Romano de Trieste.
O teatro, provavelmente erguido entre os séculos I e II d.C., foi projetado para acomodar até 3.500 espectadores, tendo sido construído quase inteiramente de tijolos, com exceção do palco, que possivelmente foi feito de madeira.
Identificado em 1814 por Pietro Nobile graças ao nome da vila que surgiu acima, Rena Vecia (Arena Velha), ele foi trazido à luz somente em 1938, após grandes obras de demolição e requalificação urbana.

Ainda na baixa, em direção ao mar, vê-se o Palazzo della Borsa Vecchia (hoje Camera di Commercio), templo neoclássico inaugurado em 1805 com base no projeto do arquiteto Antonio Mollari.
O edifício, de planta trapezoidal, é construído em estilo neoclássico. A fachada principal, voltada para a Piazza della Borsa, é constituída por um pronaos (pórtico anterior a entrada do templo) com colunata dórica que sustenta um entablamento decorado com tríglifos e métopas ornamentadas e culmina com um tímpano triangular. No centro do tímpano encontra-se um relógio ladeado nas laterais por duas esculturas de figuras aladas. No piso térreo da fachada voltada para a Piazza della Borsa, quatro estátuas estão colocadas em nichos. A entrada principal do edifício abre-se ao centro. No primeiro andar os nichos são intercalados com janelas. Nesta fachada também são colocados quatro painéis em alto relevo. A cobertura do terraço do edifício é delimitada por uma balaustrada adornada com estátuas.
Na frente do prédio da Bolsa, encontra-se a Fontana del Nettuno (Fonte do Netuno), atribuída a Giovanni Mazzoleni, erguida na segunda metade do século XVIII; nela, o deus do mar, de todas as águas e dos marinheiros, está sobre uma concha colocada no centro da bacia; é representado com uma barba esvoaçante, na mão esquerda segura o tridente símbolo da divindade, enquanto a direita repousa sobre um duplo ouriço barroco representando uma onda espumante; na base dos pés estão três cavalos, animais sagrados à divindade, de cujas bocas escorre água.

Logo a seguir, ingressamos na Piazza Unità d'Italia; inicialmente conhecida como Piazza San Pietro, depois Piazza Grande, e, na época dos Habsburgos, Piazza Francesco Giuseppe; no término da I Grande Guerra, com anexação ao Reino da Itália, em 1918, foi batizada com o nome atual.
Está ladeada por edifícios muito significativos para a cidade como o Palazzo del Municipio, edifício eclético da segunda metade do século XIX, e o Palazzo del Governo, mistura de estilos neorrenascentista e Secessão Vienense, início do século XX;
|O Palazzo del Municipio foi projetado por Giuseppe Bruni, em estilo eclético, parisiano e maneirismo germânico, e inaugurado em 1875; caracteriza-se pela torre com o relógio encimado pelos dois mouros - Michez e Jachez - que batem as horas. No seu interior encontram-se os escritórios de representação da Comune di Trieste.
Na varanda central do edifício, em 18 de Setembro de 1938, Mussolini promulgou as leis raciais para a Itália.
Em frente ao palácio, encontra-se a Fontana dei Quattro Continenti (Fonte dos Quatro Continentes), criada entre 1751 e 1754 pelo escultor de Bérgamo Giovanni Battista Mazzoleni, a quem também é atribuída a autoria da Fontana del Nettuno, na Piazza della Borsa.
Leva esse nome porque na época de sua construção somente quatro continentes eram reconhecidos; na obra, as quatro estátuas no canto da bacia representam os quatro continentes por meio de animais característicos de cada região: Europa com o cavalo, Ásia com o camelo, África com o leão e América com o crocodilo.

O Palazzo del Governo, também na Piazza Unità d'Italia, fez parte de um projeto de embelezamento da cidade e foi projetado pelo arquiteto vienense Emil Artman. Foi erguido entre 1901 e 1905 e, na sua fachada principal, há uma loggia com dois níveis sobrepostos divididos em três vãos arquivoltados, sustentados na parte inferior por colunas e pilares que reproduzem o motivo de silhar do primeiro nível do edifício e, na parte superior, por colunas lisas com capitéis jónicos. Na balaustrada do terraço acima da loggia encontram-se grupos de querubins com significado alegórico. Estilisticamente, o edifício é inspirado em parte na arquitetura renascentista e em parte no estilo da Secessão Vienense; é ocupado hoje por escritórios da Prefeitura e a residência do prefeito.


Na sequência, fomos para o norte, em direção ao Canal Grande di Trieste.
O Palazzo Berlam ou Palazzo Aedes, localizado no flanco do Canal Grande di Trieste, foi construído entre 1926 e 1928 com base no projeto de Arduino Berlam; o edifício é um dos melhores exemplos da arquitetura modernista do século XX em Trieste; em estilo entre a Secessão Vienense e o Expressionismo Nórdico, inspirado nos novos arranha-céus de tijolos vermelhos de Nova York, passou a ser patrimônio do grupo Assicurazioni Generali, em 1932.
Reestruturado completamente, a partir de 2015, de acordo com o projeto do arquiteto e designer Mario Bellini, vencedor de uma competição internacional, o edifício, em 2019, passou a abrigar a Generali Group Academy, o novo centro de treinamento global do grupo



Caminhando ao longo do canal, encontramos a Chiesa Serbo Ortodossa di San Spiridione Taumaturgo.
Em 1751, um decreto da Imperatriz Maria Teresa da Áustria autorizou a construção no bairro teresiano de um templo ortodoxo de propriedade da Irmandade Greco-Ilírica dedicado a San Spiridione (Espiridião) e à Santíssima Trindade.
Em 1781, a comunidade dividiu-se em dois grupos que foram alocados em dois locais de culto: a igreja de San Nicolò para a comunidade grega e a igreja de San Spiridione para o grupo ortodoxo sérvio. Em 1861, após o aterramento das salinas do bairro teresiano, o templo de San Spiridione foi demolido e o projeto da nova igreja ortodoxa sérvia foi confiado à Academia de Belas Artes de Veneza.
A direção das obras foi confiada ao engenheiro de Trieste Pietro Palese enquanto a parte decorativa externa foi confiada ao milanês Antonio Caremmi e a interna a Giuseppe e Pompeo Bertini.
A estrutura da nova igreja, completada em 1869, é em forma de cruz grega encimada por uma grande cúpula sustentada por quatro "plumas", também finalizadas por cúpulas, dando a impressão de um edifício com salão central. Quatro cúpulas de canto, como se fossem torres sineiras, constituem uma solução original, enquanto a fachada principal lembra o românico italiano

No mesmo espaço, encontra-se a Chiesa di Sant’Antonio Taumaturgo.
A Igreja, também conhecida como Chiesa di Sant'Antonio Nuovo, foi erguida no lugar de uma anterior, do século XVIII; projetada pelo arquiteto Pietro Nobile, no estilo neoclássico, foi consagrada em 1849 pelo bispo Bartolomeo Legat.

Seguindo pela Via San Francesco D'Assisi, nos deparamos com a Sinagoga di Trieste, uma das maiores da Europa, obra dos arquitetos Ruggero e Arduino Berlam, que, em 1912, substituiu as quatro pequenas sinagogas preexistentes.
Por volta de 1226, registrou-se o primeiro rastro da presença hebraica em Trieste e, em 1746, nasceu a comunidade; em 1938, contava com cerca de 5.000 pessoas; hoje, pouco mais de 500.




A nossa viagem continua no próximo post em direção às Dolomitas, passando por Treviso e Belluno
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.
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