Mendoza - Parte II - Oeste da Argentina - 2010
- Roberto Caldas
- 3 de ago. de 2021
- 9 min de leitura

Vista externa da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.
Seguimos nossa viagem pela bela cidade de Mendoza.
O Centro Cívico de Mendoza, resultado do Plano Regulador de 1941, foi construído em terrenos que pertenceram à Quinta Agronómica e está em um parque que ainda conserva algumas das suas antigas oliveiras.
É uma das intervenções urbanísticas mais importantes do século XX em Mendoza. O projeto foi apresentado pela primeira vez em 1948, contemplando o que seria o novo centro político e administrativo provincial, acolhendo os edifícios dos três poderes - executivo, legislativo e judiciário -, que até esse momento estavam dispersos em diferentes lugares da cidade.
A arquitetura governamental é monumental, com volumes isolados em espaços verdes (lembra Brasília), conectados por vias de trânsito desniveladas, moldada ao eficiência funcionalista do urbanismo moderno.
Apesar desse planejamento, dos equipamentos provinciais, somente foram erguidos a Casa de Gobierno (Executivo Provincial), em 1951, e o Palacio de Justicia (Judiciário Provincial), em 1966; o edifício do Legislativo nunca foi construído no Centro Cívico.
Neste setor, são encontrados a Casa de Gobierno, o Palacio de Justicia, os Tribunales Provinciales e Federales, a Municipalidad, o Concejo Deliberante, o Centro de Congresos y Exposiciones, a Policía de Mendoza e a Escuela de Comercio Martín Zapata (Enoteca).
A arquitetura do período peronista, década de quarenta, propunha uma busca da identidade nacional, caracterizada por dois estilos, o neoclássico-monumental e o neocolonial. O arquiteto dos dois prédios provinciais do Centro Cívico, Belgrano Blanco, seguiu o modelo internacional neoclássico dos edifícios oficiais.
A Casa de Gobierno teve sua ala este inaugurada em 1951, enquanto as alas central e oeste somente foram concluídas em 1958. Sua arquitetura sintetiza elementos dos dois estilos do período peronista, traduzido no uso das escadarias e colunas colossais (neoclássico-monumental) e de arcadas, telhados com materiais regionais como a pedra (neocolonial).

Casa de Gobierno, sede do Executivo da Província de Mendoza, 1951-58; estilos neoclássico-monumental (frontão triangular, escadaria e colunas monumentais) e neocolonial (telhas vermelhas e materiais regionais, como a pedra). Avenida Virgen del Carmen de Cuyo, 283, Centro Cívico, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
Mendoza é centrada ao redor da Plaza Independencia, com uma rua de pedestres, a Avenida Sarmiento.
O atual Paseo Peatonal Sarmiento foi inaugurado em 1989 e está localizado no coração da cidade, no qual se encontram cafés, bares e restaurantes com mesas ao ar livre nas calçadas sob a sombra das árvores. É um lugar obrigatório de encontro dos mendocinos e dos turistas. Abriga em suas três quadras edifícios destacáveis como a Pasaje San Martín, Iglesia San Nicolás y Santiago Apóstol, a Bolsa de Comercio e a Legislatura Provincial.
Saímos à noite e fomos jantar no Paseo Peatonal, regado com uma cerveza Andes, bebida da Província de Mendoza, fundada em 1921 pelo imigrante alemão Otto Bemberg; atualmente é propriedade da Cervecería y Maltería Quilmes. Um das receitas mais deliciosas da culinária mendocina é "Rabas a la Romana", anéis de lula empanados.

Jantando no Paseo Sarmiento, 35, próximo à loja Maximiniano. Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
A cidade possui uma excelente cobertura vegetal, com muitas árvores regadas por canais pequenos (aquedutos), que ficam junto a quase todas as ruas, proporcionando-lhes a irrigação necessária.

Canal de irrigação, Paseo Sarmiento, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
Na época em que visitamos Mendoza, em fevereiro de 2010, ao longo da Avenida Las Heras, entre as Avenidas 25 de Mayo e Perú, estavam instalados vários dioramas, representando a história da Avenida Las Heras, conhecida como "calle de los inmigrantes" ou "calle de las carretas", em cem anos (1850-1950), formando o Museo Popular Callejero.
O diorama (do grego di (através de) e orama (aquilo que é visto, uma vista) é uma espécie de maquete que mostra figuras humanas, veículos e animais como ponto focal de sua composição (normalmente figuras tridimensionais), apresentados dentro de um entorno (normalmente pintado), com o propósito de apresentar uma cena.

Diorama representando cenas cotidianas da Avenida Las Heras (calle de las carretas) do final do século XIX e início do século XX (entrega de mercadorias em um armazém, distribuição do leite, homens preparando um comboio de carroças (carretas)). Museo Popular Callejero, Avenida Las Heras, entre as Avenidas 25 de Mayo e Perú, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Diorama do Mercado Central, localizado na Avenida Las Heras, final do século XIX e início do século XX; à esquerda, comércios de queijos, pães e embutidos; à direita, verduras e frutas, e carnes frescas. Museo Popular Callejero, Avenida Las Heras, entre as Avenidas 25 de Mayo e Perú, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
A Avenida Las Heras se transformou com o tempo em uma artéria especializada no comércio regional. Nela ainda se conserva o tradicional Mercado Central (Las Heras com Patricias Mendocinas), fundado por Luis Lavoisier em 1883 (pelo menos é a data registrada sobre seu portal), tendo sido remodelado recentemente, pondo em evidência, além de seus usos e costumes, a cobertura original de suas naves tipo industrial.
No Mercado Central são encontrados produtos da terra mendocina: frutas e hortaliças frescas e secas, vinhos, doces caseiros e comidas típicas; é um lugar onde a tradição deixa sua marca, já que há pontos que são administrados pela quarta geração da mesma família. Há também a comodidade de comer no lugar desde uma pizza simples a um elaborado prato na sua praça de alimentação.

Mercado Central com sua cobertura tipo industrial; neste corredor, veem-se, à esquerda, Avícola San José, o Frigorífico Cabaña San José e um café; à direita, uma padaria e a Pizzería "De un Ricón de la Boca". Avenida Las Heras, 279, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Posto da Torrent, desde 1922, tradição em embutidos e queijos, herança dos espanhóis e dos imigrantes italianos. Mercado Central, Avenida Las Heras, 279, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
A sub-região de Mendoza é a maior produtora de vinhos finos tintos e brancos da Argentina. Está localizada na região de Cuyo e seus principais vinhedos ficam nos departamentos de Luján de Cuyo e Maipú.
A grande estrela da indústria vinícola argentina é a uva Malbec, importada da França, país em que o seu cultivo foi quase extinto. Essa variedade de uva tinta teve uma excelente adaptação ao microclima árido do interior do país sul-americano, tornando-se uma referência mundial, com vários vinhos de grande reputação.
Visitamos duas "bodegas", como são chamadas as vinícolas na Argentina: a Bodega Norton, no departamento de Luján de Cuyo; e a Bodega Santa Julia, pertencente ao grupo Familia Zuccardi, no departamento de Maipú.
A Bodega Norton foi fundada, em 1895, pelo engenheiro nascido na fronteira da Alemanha com a Dinamarca, de ascendência inglesa, Edmund James Palmer Norton. Chegou na Argentina para auxiliar na construção de uma estrada de ferro, mas, tendo se impressionado com o terroir de Mendoza, mudou drasticamente de vida, criando seu próprio vinhedo com videiras importadas da França, no distrito de Perdriel, departamento de Luján de Cuyo.
A construção das instalações da bodega que visitamos foi iniciada em 1919; em 1989, a bodega foi adquirida pelo empresário austríaco Gernot Langes-Swarovski, o então CEO da indústria de cristais Swarovski; em 1991, Norton passou a ser dirigida por Michael Halstrick Swarovski, filho do bilionário, que, com investimento e expansão, levou Norton a ser uma das primeiras a se desenvolver no mercado de exportação de vinhos argentinos.
Não somos especialistas em vinhos, mas nos agrada muito o Norton D.O.C Malbec; excelente qualidade com valor acessível.

Vista externa da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Gramado da Bodega Norton; ao fundo, o vinhedo. Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Entrada da Bodega Norton, estrada Ruta Provincial 15, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Entrada da Bodega Norton, com visão de vinhedo, estrada RP 15, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Hall de entrada e receptivo da Bodega Norton, vinho Ofrenda da Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Receptivo da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Tonel de vinho da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Adega da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Passeio nos vinhedos da Bodega Norton, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.

Vinhedo da Bodega Norton, ao fundo, os Andes, Perdriel, departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.
A história da Bodega Santa Julia iniciou com a implantação de um vinhedo com sistema de irrigação pelo engenheiro Alberto Zuccardi, por volta de 1963, no departamento Maipú, Mendoza. Seu nome posterior veio de uma neta do fundador. Foi a primeira bodega da região a criar um centro de visitas com restaurante, em 2001, cujo projeto é tocado por Julia Zuccardi. A bodega ainda hoje pertencente ao grupo Familia Zuccardi.
Na verdade, pelo horário, não foi possível fazer a visita do vinhedo. Fomos à Casa del Visitante, degustamos uma especialidade da casa e os vinhos da bodega.

Vinhedo Maipú, Bodega Santa Julia, Familia Zuccardi; as roseiras, plantadas na frente da fila, são para indicar pragas. Ruta Provincial 33, km 7,5, departamento de Maipú, Mendoza, Argentina.

Desfrutando de uma especialidade e provando os vinhos da Bodega Família Zuccardi, Casa del Visitante, RP33, km 7,5 (M5531), departamento de Maipú, Mendoza, Argentina.

Casa del Visitante, Família Zuccardi; o vinhedo foi iniciado pelo engenheiro Alberto Zuccardi em 1963. Ruta Provincial 33, km 7,5 (M5531), departamento de Maipú, Mendoza, Argentina.
Como havíamos alugado um "coche" em Mendoza, decidimos fazer um passeio em direção aos Andes, margeando o rio Mendoza, até o complexo turístico Termas de Cacheuta: hotel, spa e parque de águas termais.
Sempre que podemos e há um local apropriado, gostamos de nos refrescar nas águas dos cursos d´água. Não foi diferente em Mendoza; quando observamos uma entrada para o rio, fomos até a margem, porém tivemos um problema; cães, que possivelmente eram de moradores ribeirinhos, nos estranharam, se mostrando agressivos; a solução que encontramos foi entrar no rio, que na época não estava caudaloso, e ficamos aguardando que os cachorros se desinteressem da gente e se afastassem; somente assim, saímos da água e embarcamos no carro rumo a Cacheuta.

Dentro do rio Mendoza, após o susto com os cães bravios. Nas proximidades da Ruta Panamericana (RP82), Mendoza, Argentina.
Fomos até as Termas de Cacheuta, mas resolvemos não ingressar. Observamos apenas por fora o parque de águas e as piscinas termais. As águas oscilam entre 28º e 40º c em diversos mananciais. Também registramos a passagem pelo local do rio Mendoza.

Entrada do Parque das Águas das Termas de Cacheuta; além das piscinas termais, churrasqueiras, quiosques, restaurantes e base para turismo de aventura. Departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina

Rio Mendoza, visto da Puente Colgante (ponte suspensa) de Caucheta, Departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina

Puente Colgante (ponte suspensa) de Cacheuta, à direita. Departamento de Luján de Cuyo, Mendoza, Argentina.
Parque San Martín
Mendoza foi, entre 1814 e 1817, o local onde se planejou e preparou a Travessia dos Andes pelo exército libertador liderado pelo General José Francisco de San Martín, que tinha sido, na época, nomeado governador-intendente de Cuyo. O acampamento militar para a preparação da expedição do Ejército de los Andes ficou estacionado na localidade de El Plumerillo, do qual partiu em 6 de de janeiro de 1817.
Após o terremoto de 1861, no planejamento da Ciudad Nueva, decidiu-se criar, a oeste do núcleo urbano, um parque, e, em 1896, contratou-se o arquiteto e paisagista francês Charles Thays para tornar realidade o projeto.
Em 1947, para homenagear o grande herói militar argentino e sua passagem pela cidade, o local passou a chamar-se Parque General San Martín.
Dentre suas atrações principais têm-se: os Portões do Sultão, que estão na entrada do parque, que foram adquiridos em Paris de uma encomenda nunca finalizada por um sultão turco caído em desgraça; o Roseiral; o Jardim Botânico, o Club Mendoza de Regatas; o Club Hípico Mendoza; o Lago; o Museo de Ciencias Naturales, a Fuente de los Continentes e o Cerro de la Gloria, uma elevação que recorda o grande feito do Ejército de los Andes, sob o comando de San Martín, onde se ergueu o Monumento al Ejército de los Andes.

Fuente de los Continentes, inspirada na obra de Jean Baptiste Carpeaux, conhecida como "Fontaine des Quatre-Parties-du-Monde", existente nos Jardins de Luxemburgo; é atribuída à escultora Lola Mora, mas, na verdade, não se sabe ao certo a autoria; foi comprada em Paris e colocada em frente ao Roseiral por volta de 1911; simboliza somente quatro continentes, Europa, África, Ásia e América, já que a Oceania, na época, era considerada parte da Ásia; na parte inferior, tem-se um espelho d'água; sobre ele, quatro sereias segurando conchas; no centro do espelho d'água, quatro atlantes sentados sustentando um prato quadrilobulado; sobre esse prato, quatro crianças sustentam um prato circular. Parque General San Martín, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Figura do condor (ave símbolo dos Andes) e placas comemorativas na escadaria de acesso ao Monumento al Ejército de los Andes. Cerro de la Gloria, Parque General San Martín, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Vista dos Andes a partir do caminho pedestre do Cerro de la Gloria, Parque General San Martín, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Monumento al Ejército de Los Andes visto da base da escadaria; obra do escultor uruguaio Juan Manuel Ferrari, foi inaugurada sobre o Cerro de la Gloria em 1914, em comemoração ao centenário da Independência da Argentina. Cerro de la Gloria, Parque General San Martín, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.

Monumento al Ejército de Los Andes: na parte inferior, sobre uma base de pedra da cordilheira, a estátua equestre do General José de San Martín, tendo dos dois lados corpos de granadeiros a cavalo; mais acima, o escudo argentino; na parte superior, reina o símbolo da Liberdade (mulher com a corrente quebrada em suas mãos), e, ao seu redor, um grupo de granadeiros a cavalo em ataque, e, um pouco mais abaixo, se vê, no lado direito, um condor planando (símbolo dos Andes). Cerro de la Gloria, Parque General San Martín, Mendoza, Província de mesmo nome, Argentina.
Após nossa exitosa visita a Mendoza, embarcamos novamente no ônibus de volta a Santiago para continuarmos nossa viagem pelo Chile.
Fontes:
- Wikipédia;
https://www.juntadeandalucia.es/fomentoyvivienda/estaticas/sites/consejeria/areas/arquitectura/fomento/guias_arquitectura/adjuntos_ga/mendoza_ex1x.pdf
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