Verona - Parte I - Região de Vêneto - Norte da Itália - 2023
- Roberto Caldas
- 27 de out. de 2024
- 19 min de leitura
Atualizado: 20 de nov. de 2024

Fachada principal do Castelvecchio di Verona, na qual se vê a entrada principal inscrustrada em uma das torres, onde existia anteriormente uma ponte levadiça por sobre o fosso. Corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Verona
As primeiras menções sobre Verona datam do século IV a.C., tornando-se romana três séculos depois, tendo sido um dos grandes centros políticos e comerciais da época, redundando na construção da famosa Arena, até hoje utilizada, do Arco dei Gavi e da Porta Borsari.
Após a queda do Império Romano do Ocidente, a cidade foi ocupada pela tribo germânica dos lombardos, do século VI ao VIII, que a tornaram capital de seu reino, antes de passar ao domínio do carolíngios, que perdurou do século VIII ao final do IX.
Em seguida, Verona caiu nas mãos do Sacro Império Romano-Germânico, mas houve turbulências em razão da existência de dois partidos rivais: os gibelinos, que apoiavam o imperador germânico, e os guelfos, simpáticos ao Papado; nessa ocasião, surgiram famílias que se colocavam como senhores da Comune; dentre elas estava a familia Scala, que formou a dinastia Scaligera, tornando-se uma Signoria, iniciada por Mastino I della Scala, que durou por cento e vinte e cinco anos, de 1262 a 1387, aliados do imperador germânico.
Seguiu-se o domínio dos Visconti, duques de Milão, exercitado por Gian Galeazzo Visconti entre 1388 e 1402, e, após a sua morte, pelo senhor de Pavia, Francesco II da Carrara, até 1405, quando foi expulso pela República de Veneza, que passou a controlar a cidade.
Em 1797, após a invasão napoleônica, a República de Veneza foi dissolvida, passando Verona a compor a República Cisalpina, criada pelos franceses; depois, a cidade foi dividida, tendo o rio Ádige como marco, entre os franceses e os austríacos; o lado controlado pelos franceses, em 1805, passou a fazer parte do Reino da Itália, controlado pelo Império Francês.
Após a derrocada francesa, Verona, em razão do que foi decidido no Congresso de Viena, em 1815, tornou-se parte do Reino Lombardo-Vêneto, controlado pelo Império Austríaco, até 1866, quando, após as lutas empreendidas pelos italianos pela sua independência e unificação, conhecida como Risorgimento, foi anexada ao Reino da Itália.
Começamos o nosso passeio nos dirigindo ao centro histórico, percorrendo a Stradone Porta Palio, ocasião em que nos deparamos com a Caserma Pianell, conjunto de prédios militares, instalado no século XIX em edificações conventuais pré-existentes adaptadas, que, inicialmente, abrigava tropas de infantaria e de transportes militares.
A Itália, no final da Primeira Grande Guerra, em 1918, observando o emprego inovador de carros de combate blindados (conhecidos como tanques de guerra) durante aquele importante conflito por outros países, resolveu criar, naquele mesmo ano, um núcleo dessas viaturas especializadas no seio do Exército Italiano; em 15 de setembro de 1936 (ou 1º de outubro de 1936), foi constituído o 2º Reggimento Fanteria Carrista (2º Regimento de Infantaria de Carros de Combate), mais conhecido como 2º Reggimento Carri (2º Regimento de Carros), com sede instalada na Caserma Pianell, em Verona; em 1938, foi renomeado para 32º Reggimento Fanteria Carrista "Ariete" (32º Regimento de Infantaria de Carros de Combate).

Caserma Pianell (quartel), que foi a primeira sede do 2º Reggimento Fanteria Carrista (2º Regimento de Infantaria de Carros de Combate (Tanques)), constituído em 1936. Stradone Porta Palio, 47, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Placa alusiva à estadia do 2º Reggimento Carri, constituído em 1º de outubro de 1936 (ou 15 de setembro de 1936), na Caserma Pianell: "Neste quartel, onde os carros de combate (tanques) italianos iniciaram, com as primeiras instalações, sua gloriosa história. Em 1º de outubro de 1936, foi constituído o 2º Regimento de Carros, depois 32º Regimento de Carros de Combate 'Ariete' (...)" (tradução livre do italiano). Caserma Pianell, Stradone Porta Palio, 47,Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Em frente ao Castelvecchio, encontramos o monumento a Camillo Benso, Conde de Cavour; um dos maiores estadistas italianos, o grande tecelão, o político dos pequenos passos que uniu a Itália; presidente do Conselho dos Ministros do Reino da Sardenha-Piemonte (1852-1859) e presidente do Conselho dos Ministros do Reino da Itália (1861), morreu no exercício do poder no mesmo ano.
O monumento, com mais de seis metros de altura, apresenta a figura do estadista em pé sobre uma base quadrangular de mármore com aproximadamente quatro metros de lado. Criado pelos escultores Carlo e Attilio Spazzi, foi inaugurado pela primeira vez em 5 de julho de 1908 pela Società Fratellanza Militare, que o encomendou através de um concurso. Em ambos os lados do monumento são comemoradas a irmandade militar e a data da inauguração.

Monumento a Camillo Benso, Conde de Cavour, instalado em 1908 em homenagem ao grande estadista italiano, o grande mentor e executor da unificação italiana. Pequena praça do Castelvecchio, confluência da via Roma com o corso Castelvecchio, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Monumento a Camillo Benso, Conde de Cavour, instalado em 1908 em homenagem ao grande estadista italiano, o grande mentor e executor da unificação italiana. Pequena praça do Castelvecchio, confluência da via Roma com o corso Castelvecchio, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Visitamos o Castelvecchio di Verona; o castelo foi construído entre 1354 e 1356 por Cangrande II della Scala, filho de Mastino II della Scala e sobrinho de Cangrande I della Scala, para ter um núcleo fortificado de controle sobre o rio Ádige no acesso norte à cidade, após a conspiração de seu meio-irmão Fregnano della Scala; defendido a norte pelo rio Ádige, o castelo foi construído sobre estruturas pré-existentes - talvez uma fortaleza romana ou mesmo uma ponte, certamente uma igreja de origem medieval, San Martino in Aquaro, cujos vestígios são visíveis no interior do pátio de armas - num tramo da muralha urbana dos séculos XI-XII que inclui uma das portas de acesso à cidade do século XIII, a chamada Porta del Morbio.
O castelo está dividido em duas partes: na nascente, a praça de armas da Caserma, rodeada por altas muralhas com ameias, onde se encontram 7 torres, entre as quais se destaca a Torre de Menagem de 42 metros de altura, construída por volta de 1376; a oeste o palácio residencial, o Reggia. O complexo está integrado por uma arrojada ponte de três arcos (o mais longo com 48 metros), atribuída a Giovanni da Ferrara e Jacopo da Gozo, que atravessa o rio Ádige e liga o castelo à margem esquerda, onde se situava a localidade denominada Campagnola. Durante o governo da República Sereníssima de Veneza (1409-1797), foi usado como quartel e depois como paiol de pólvora; nos séculos XVIII-XIX, tornou-se sede da Academia Militar.
Na década de 1920, o complexo torna-se o Museo di Castelvecchio.

Fachada principal do Castelvecchio di Verona, na qual se vê a entrada principal inscrustrada em uma das torres, onde existia anteriormente uma ponte levadiça por sobre o fosso. Corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Fachada principal do Castelvecchio di Verona, na qual se vê, à esquerda, a Torre do Relógio. Corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
A galeria do térreo da Caserma é denominada Galleria delle Sculture em razão de ser inteiramente dedicada à exposição de esculturas do século XII ao século XV.

Um dos lados da Arca dos Santos Sergio e Baco, obra do Mestre de 1179, pedra, oriundo do Monastério de São Silvestre de Nogara, Verona. Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Um dos lados da Arca dos Santos Sergio e Baco, obra do Mestre de 1179, pedra, oriundo do Monastério de São Silvestre de Nogara, Verona. Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

"Cristo entre os Santos Pedro e Paulo", autor Pelegrinus, do terceiro decênio do século XII, peça oriunda do Duomo di Verona. Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
A segunda sala que percorremos é conhecida como Sala do Maestro di Sant'Anastasia em razão de reunir uma série de esculturas da primeira metade do século XIV; estátuas em tamanho natural, esculpidas na pietra gallina, uma pedra macia extraída das pedreiras de Avesa, pequena localidade situada perto de Verona; originalmente essas esculturas eram todas pintadas, mas conservam hoje poucos traços de suas cores vivas; geralmente elas são atribuídas a um único mestre ou a uma única oficina ativa em Verona no primeiro período do domínio dos Scaligeri, conhecido pelo nome Maestro di Sant'Anastasia porque ele é igualmente o autor do friso que adorna o lintel do portal dessa igreja.

Santa Catarina de Alexandria, obra do Maestro di Sant'Anastasia, esculpida em pietra gallina, primeira metade do século XIV, proveniente da Chiesa di Santa Caterina, Verona; é uma das mais refinadas do grupo; de cada lado do rosto da santa, dois anjos seguram uma cortina de pano verde, ornada com tiras douradas; a santa tem na sua mão esquerda uma pequena roda e a palma de mártir que conservou sua cor original; seu vestido era vermelho e, sobre seu peito, ela porta um grande broche que a representa provavelmente diante de Cristo em majestade; seu manto era azul; a linha diagonal do rosto, ligeiramente voltada à direita, anima todo o personagem representado de frente. Sala do Maestro di Sant'Anastasia, Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

São Martinho e o Pobre, de autoria do Maestro del 1436, proveniente da Chiesa di San Martino di Avesa, Verona. Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

São Pedro, de autoria de Bartolomeo Giolfino, segunda metade do século XV, pietra gallina. Galleria delle Sculture, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na ligação da Torre de Menagem à Reggia (Palácio), construída pelos Scaligeri, este espaço, modernizado pelo arquiteto Carlo Scarpa durante a restauração, exibe, além de importantes sinos (séculos XIV - XVI), um capitel gótico proveniente da via Nuova, a atual via Mazzini, cujo suporte cilíndrico foi desenhado por Arrigo Rudi, principal colaborador de Carlo Scarpa em Castelvecchio.

Ligação de Torre de Menagem com a Reggia (Palácio dos Senhores); no local, encontram-se sinos dos séculos XIV a XVI e um capitel gótico. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Nas salas do primeiro andar da Reggia Scaligera conservam-se afrescos danificados, painéis e telas que datam do século XIII ao XV.

Restos de afrescos nas paredes da Reggia, mantidos pelo arquiteto Carlo Scarpa, quando da restauração iniciada em 1958. Primeiro andar da Reggia, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
A partir da segunda sala, há alguns exemplos importantes de pintura veronense do século XIV em painel.

Políptico de Boi, atribuído a Altichiero, terceiro quartel do século XIV, têmpera sobre madeira; representa Nossa Senhora com o Menino Jesus, ladeada, a partir da esquerda, por Santiago Maior (Iacobus), Santo Antônio Abade (Antonius), São João Evangelista (Iohanes) e São Cristóvão (Xphorus), proveniente da Capela da Villa Zanardi a Boi di Caprino Veronese. Primeiro andar da Reggia, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Políptico da Trindade, de autoria de Turone di Maxio, 1360, têmpera sobre madeira; na parte superior, temos a Coroação de Maria; no centro do políptico, temos a representação da Santíssima Trindade: o Pai Eterno sentado ao trono, tendo à sua frente o Filho crucificado e, sobre a trave da cruz, o Espírito Santo pousado; a Trindade encontra-se ladeada por Santos, sendo os da esquerda São Zeno e São João Bastista, enquanto os da direita, São Pedro e São Paulo. Primeiro andar da Reggia, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Trinta estórias da Bíblia, pintura de Verona da metade do século XIV, proveniente do Convento di Santa Caterina, Verona. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Salone della Reggia, que abriga esculturas e pinturas do século XV, produção de Verona e estrangeira.

Madonna del Parto con Santi, conhecida como Ancona Fracanzani, o políptico, oriundo do Convento di San Martino di Avesa, em Verona, foi encomendado pela abadessa Lucia Fracanzani, que fez apor nele a data de 1428. Está muito próximo do estilo de Giovanni Badile, a quem foi atribuído, e apresenta a singular iconografia da Virgem grávida, ladeada dos santos cavaleiros protetores do convento, São Jorge e São Martinho, e com a adição de outros pequenos elementos nos quais estão representados São Miguel e a Anunciação. Salone della Reggia, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Polittico detto di San Luca (Retábulo dito de São Lucas), artista veronense, realizado entre 1460-1480; dois andares, cada um com três escaninhos; no superior, a Madona com o Menino no trono, rodeada por São Bernardino de Sena e São Vicente Ferrer; no inferior, São Lucas Evangelista sentado à escrivaninha, ladeado por São Roque e São Sebastião. Salone della Reggia, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Saletta dei Fiamminghi, na qual estão expostas algumas obras de autores nórdicos: alemães e flamengos (Flandres, atual região da Bélgica).

Dama do lícnis, pintura do artista flamengo Pieter Paul Rubens, provavelmente realizada em 1602; o nome se dá em razão da tiara de flores do gênero lícnis na cabeça da senhora; obra encomendada ao famoso pintor pelo duque Vincenzo Gonzaga, de Mântua. Saletta dei Fiamminghi, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Nas salas do segundo andar da Reggia Scaligera estão expostos afrescos danificados, esculturas, painéis e telas da segunda metade do século XV e da primeira metade do século seguinte.

Cruz Estacionária, pintura veronense da metade do século XV, proveniente da Chiesa di San Silvestro, Verona; a cruz tem quatro medalhões trilobados nas extremidades; os medalhões laterais retratam, da esquerda para direita, os santos Pedro e Paulo, o superior representa o pelicano alimentando seus filhotes (símbolo de Cristo derramando seu próprio sangue pela redenção dos homens) e o inferior, o Gólgota com a caveira de Adão. Segundo andar da Reggia Scaligera, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Sala di Liberale, destinada principalmente às obras do artista Liberale de Verona, mas contempla outros artistas.

Sant’Anna, la Madonna e il bambino, conhecida também como Sant’Anna Metterza, de autoria Giovanni Zebellana, século XV, representando Sant'Ana, Nossa Senhora e o Menino Jesus, obra proveniente da Chiesa di Sant'Anna, em Verona. Sala di Liberale, segundo andar da Reggia Scaligera, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Sala di Francesco Morone; a exposição na sala é composta pelas obras de Francesco Morone, "filho de Domenico", que foi uma figura central da arte veronense do início do século XVI.

Pala della Trinità, de autoria de Francesco Morone, final do século XV ou início do século XVI; o retábulo provém da capela Fumanelli da Chiesa di Santa Maria della Vittoria Nuova, Verona, e retrata o episódio em que Jesus é batizado, e logo depois, ao sair da água, os céus se abrem, e o Espírito de Deus desce como uma pomba e anuncia “Este é meu Filho amado, em quem muito me agrado”; ao lado de Jesus Cristo, estão, à esquerda, Nossa Senhora, e, à direita, São João Batista. Sala di Francesco Morone, segundo andar da Reggia Scaligera, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na altura do segundo andar da ala da Caserma voltada para o rio, próximo à Torre de Menagem, encontra-se a estátua de Cangrande I della Scala, senhor de Verona de 1309 a 1329, esculpida no século XIV; foi erguida inicialmente sobre o túmulo do homenageado, localizado próximo à Piazza dei Signori; em 1909, por razões de conservação, foi retirada dos Túmulos Scaliger (monumento funerário excepcional da Signoria) e posteriormente transferida para o Museo di Castelvecchio; durante a restauração do complexo fortificado, planejada pelo arquiteto Carlo Scarpa, que se estendeu de 1958 a 1975, a estátua foi colocada no local onde até hoje está exposta.

Estátua em mármore de Cangrande I della Scala, senhor de Verona de 1309 a 1329, o membro mais conhecido e querido da dinastia Scaligera; atribuída ao escultor veronês Giovanni di Rigin ou a Bonino da Campione, metade do século XIV; vê-se, no peito da estátual, o brasão dos Scala (uma escada, scala em italiano). Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Do castelo, podemos ver a ponte sobre o rio Ádige, que liga o complexo fortificado à antiga localidade de Campagnola, hoje bairro Borgo Trento.
A ponte foi erguida por volta de 1355, na mesma época do castelo; está assentada sobre três pilares de mármore branco e vermelho e tem uma parte superior com ameias de tijolo; em 25 de abril de 1945, soldados alemães em fuga a explodiram; a ponte foi reconstruída, respeitando o projeto original entre 1949 e 1951, sob a direção de Pietro Gazzola.
Ponte sobre o rio Ágide, erguida por volta de 1355; durante a Segunda Grande Guerra, foi bastante danificada pelos alemães em fuga; reconstruída, respeitando o projeto original, em 1951. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Em seguida, nos dirigimos à Torre do Relógio.
O percurso até a Torre do Relógio é um pequeno tramo da ligação com a Cittadella criada por Gian Galeazzo Visconti no final do século XIV; no interior da torre, encontra-se a estátua equestre de Mastino II della Scala, sobrinho de Cangrande I della Scala e pai de Cangrande II della Scala, o criador da fortaleza; a estátua foi retirada em 1986, também por razões de conservação, dos túmulos Scaliger e transferida para o Museo di Castelvecchio.

A Torre do Relógio vista da altura da Torre de Menagem; à esquerda, as ameias do tramo que liga a Cittadella à Torre do Relógio. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Estátua equestre de Mastino II della Scalla, signore de Verona de 1329 a 1351, de autoria do mestre da tumba do homenageado, segundo quartel do século XIV; Mastino é representando com um elmo, cuja parte superior tem um mastim (categoria de cães) alado, se mostrando, assim, como um cinocéfalo (ser mitológico, um humanoide com cabeça de cachorro), evocando o mito dos antigos guerreiros lombardos; no manto que cobre o pescoço do cavalo está representando o brasão da família, a escada (scala). Torre do Relógio, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
A partir do segundo andar da torre, nós acessamos um jardim suspenso secreto entre as torres do castelo.

O Jardim Suspenso Secreto tendo ao fundo a Torre do Relógio. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Alguns edifícios da Corte della Reggia Scalagiera e a Torre de Menagem, parte oeste do complexo fortificado. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Corte d'Armi (Corte de Armas), na qual se vê ao centro o Pátio de Armas, e, ao fundo, ao longo do rio, uma ala da Caserma; no andar térreo encontra-se a Galleria delle Sculture. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
No Pátio das Armas, ao longo da muralha que se volta para a cidade, encontram-se as ruínas da Chiesa di San Martino in Aquaro; o edifício religioso, já atestado entre os séculos VIII e IX, continuou a funcionar mesmo depois de ter sido incorporado no recinto defensivo Scaliger, transformando-se em capela castrense, até à sua completa destruição, durante a modernização do conjunto promovida nos primeiros anos do século XIX.

Ruínas da Chiesa di San Martino in Aquaro, templo já documentado desde o século VIII, encontradas ao longo da muralha do complexo fortificado voltado para a cidade. Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na ala da Caserma erguida no século XIX, encontra-se a Galleria dei Dipinti, que guarda obras sobre tela e painel e algumas esculturas dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Retrato de um menino com desenho, de autoria de Giovan Francesco Caroto, por volta de 1520; trata-se de uma pintura singular, transgressora; numa época em que se imprimia seriedades às obras, Caroto mostra o retratado segurando um desenho infantil, feito por ele, com uma cabeça desproporcional ao corpo. Galleria dei Dipinti, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Presumido retrato de Girolamo Savonarola, de autoria de Alessandro Bonvicino, conhecido como Il Moretto, provavelmente do terceiro decênio do século XVI, datado de 1524; por muito tempo, pensou-se que o retrato representasse o visionário e pregador dominicano Savonarola, queimado na fogueira, possivelmente em 1498; no entanto o frade representado está vestido com um hábito escuro dos franciscanos e segura uma palma do martírio com uma fita enrolada tendo como lema "justus ut palma florebit" (O justo crescerá como a palmeira - tradução livre do latim). Galleria dei Dipinti, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Retrato alegórico de Matilde di Canossa, de autoria de Paolo Farinati, final do século XVI; Galleria dei Dipinti, Museo di Castelvecchio, corso Castelvecchio, 2, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Saindo do castelo, à direita, nos deparamos com o Arco dei Gavi, erguido no século I d.C, pelo arquiteto romano Lucio Vitruvio Cerdone (que inclusive, apôs sua assinatura no monumento), para celebrar uma das famílias mais importantes da Verona romana, os Gens Gavia; originalmente ele se encontrava entre as muralhas Scaliger e a Torre do Relógio, sendo empregado como uma das portas da cidade.
Durante a ocupação napoleônica, os franceses o demoliram, colocando suas pedras na Piazza Cittadella, sendo trasferidas posteriormente para a Arena.
Em 1932, o arco foi reconstruído no local atual empregando os blocos originais.

Arco dei Gavi, provavelmente erguido no século I da era cristã, obra do arquiteto Lucio Vitruvio Cerdone homenageando uma das famílias mais importantes da Verona romana, Gens Gavia; construído com calcário e pedra branca local; as frentes amplas são decoradas com quatro semicolunas coríntias; a base é um pequeno trecho da Via Postumia (estrada romana que cortava o arco), feita de basalto preto, na qual se veem ainda os rastros de carroças. Corso Cavour, 47, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Continuando pelo Corso Cavour, nos deparamos com o Palazzo Bevilacqua, do século XVI.
Um dos palácios da antiga e importante família veronense Bevilacqua, foi projetado pelo prestigiado arquiteto veronense Michele Sanmicheli, por volta da década de 1530; a fachada do edifício caracteriza-se pela sua divisão em duas ordens com vãos de comprimentos alternados, sendo a ordem inferior mais maciça e fechada e a ordem superior mais esbelta, elegante e aberta.

Palazzo Bevilacqua, prédio renascentista projetado pelo arquiteto veronense Michele Sanmicheli e erguido durante a década de 1530; o térreo tem uma fachada mais maciça e fechada, enquanto o primeiro andar se mostra mais esbelto, elegante e aberto, lembrando uma loggia. Corso Cavour, 19, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na sequência, nos deparamos com a Porta Borsari, uma das construções romanas que se mantêm em pé.
A porta constitui a fachada ocidental acrescentada, nos primeiros anos do Principado do imperador Cláudio, a um edifício mais antigo em tijolo, que fazia parte do recinto amuralhado do traçado urbano, concebido e construído entre 50 e 40 a.C.. na curva direita do rio Ádige.
O edifício, denominado Porta Iovia na época romana devido à sua proximidade com o templo de Júpiter Lustrale e localizado no extremo oeste do decumanus maximus ( via leste-oeste das urbes romanas), era a entrada principal da cidade. Foi construída em tijolo e era, em tipologia e planta, quase idêntico à Porta Leoni, o monumento mais bem preservado da cidade; como esta, possuía pátio central, galerias nos andares superiores, arcos duplos nas fachadas e, nos cantos da fachada voltada para o campo, duas torres de dez lados (diâmetro 7,40 m); provavelmente por meio delas, empregando escadas de madeira, tinha-se acesso aos pisos superiores; no âmbito do programa monumental de reorganização e embelezamento da cidade na época da dinastia júlio-claudiana, a porta, como todas as outras portas da cidade de Vernona, teve as suas duas fachadas principais renovadas com pedra branca local. Tendo perdido o interior, permanece o exterior, caracterizado por um gosto arquitetônico cenográfico e algo “barroco”.
A inscrição na arquitrave lembra enfaticamente a restauração da muralha pelo imperador Galiano, em 265 d.C., após a invasão dos alamanos (tribo germânica) no Vale do Pó. O atual nome medieval tardio lembra os bursarii, que cobravam impostos no local.

Porta Borsari, erguida no início do séc. I d.C, era uma das portas acrescentadas ao recinto amuralhado, este erguido no séc. I a.C.. Corso di Porta Borsari, 57A, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Detalhe da Porta Borsari; originalmente a porta tinha base quadrangular com pátio interno e, como se pode observar na fotografia, pelo menos dois andares superiores, que eram acessados, provavelmente, por escadas de madeira existentes nas duas torres laterais, em formato de decágono; nos frontões dos dois portais inferiores, vê-se uma inscrição que faz alusão à reconstrução do recinto amuralhado da cidade, em 265 d.C., por iniciativa do imperador romano Galiano (bem no final da inscrição, no frontão esquerdo, é possivel ver o nome do imperador, em latim - Gallieno). Corso di Porta Borsari, 57A, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Seguindo no Corso di Porta Borsari, encontramos o palácio Stal delle Vecie (na língua italiana atual, "Lo Stallo delle Vecchie", ou, a "Tenda das Velhas") um antigo edifício imponente, erguido no século XIII, no estilo românico, como residência de um rico comerciante; por muito tempo, foi empregado como loja (tenda) - no latim medieval, stallum - ; como na fachada do edifício há um baixo-relevo representando a Virgem e o Menino Jesus, a Santíssima Trindade, e os Anjos Miguel e Gabriel, estes últimos vistos pelos cidadãos como duas velinhas, bem como, sob o arco da entrada tem uma chapa de metal representando duas velhinhas, o edifício passou a ser conhecido como Stal delle Vecie (Stallo delle Vecchie), ou seja, "Tendas das Velhas".
O edifício é composto por 5 pisos com portal de acesso em arco de volta perfeita fechado por portão em ferro forjado.

Palazzo Stal delle Vecie (Tenda das Velhas); erguido no século XIII, em estilo românico, para servir de residência para um rico comerciante; sob o arco de volta perfeita da entrada vê-se uma chapa de metal representando duas "velhas"; incrustrado na fachada, sob o arco, um baixo-relevo representando, da esquerda para direita, Madona e o Menino Jesus, a Santíssima Trindade (Deus-Pai, segurando a cruz, na qual está pregado o Filho, e o Espírito Santo, em forma de pomba, pousado sobre a parte central da cruz), e os Anjos São Miguel e São Gabriel. Corso di Porta Borsari, 32, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Ainda no Corso Porta Borsari, nos deparamos com uma pequena igreja, quase imperceptível pela sua forma: Chiesa di San Giovanni in Foro, erguida entre os séculos X e XII.
Localizada antigamente na diretriz nodal da cidade romana, conhecida como Decúmeno Máximo (principal via direção leste-oeste), hoje Corso Porta Borsari, a igreja deve seu nome ao fato de confinar, do outro lado da via, com o Fórum, centro citadino da época romana; a sua existência no século X é documentada pela citação num ato de 959; a reconstrução em forma românica ocorreu em seguida a um incêndio que devastou Verona em 1172.

Fachada de Chiesa di San Giovanni in Foro, erguida possivelmente no século X, em homenagem a São João Evangelista e restaurada no estilo românico, no século XII, após ter sido destruída num incêndio ocorrido em 1172. Corso Porta Borsari, 20, Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Portal renascentista do século XVI instalado na entrada da Chiesa di San Giovanni in Foro, atribuído a Gerolamo Giolfino; as imagens de pedra que circundam o portal são, provavelmente, à esquerda, São João Evangelista, ao centro e no alto, São Pedro (a base tem o brasão papal) e, à direita, São Paulo; na luneta (semicírculo), o afresco de Niccolò Giolfino, representanto São João Evangelista, na ilha de Patmos, no ato de escrever o Apocalipse. Verona, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
No próximo post, continuamos vistando Verona, agora na Piazza Erbe.
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.
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