Pádua - Parte II - Região de Vêneto - Norte da Itália - 2023
- Roberto Caldas
- 23 de dez. de 2024
- 18 min de leitura

Fonte no centro da Isola Memmia. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Pádua - Parte II
Continuando a conhecer Pádua, especificamente Piazza Antenore.
Na mesma Piazza Antenore, está a sede histórica da Província de Pádua e da Prefeitura; o Palazzo Santo Stefano é um tesouro de belezas e memórias ainda pouco conhecidas pelos cidadãos e turistas; as suas origens remontam ao ano 1000 como mosteiro beneditino feminino, mas muitas transformações ocorreram, especialmente após as supressões das ordens religiosas, no período napoleônico, ocorridas em 1810; seu aspecto atual foi dado pela grande reforma realizada na década de 1930; desde 1868 o edifício alberga a administração provincial, a Prefeitura e a residência do Prefeito; é um local à espera de ser descoberto, com as belezas artísticas e arquitetônicas contidas nos seus quartos e na escadaria da entrada histórica, e com uma novidade desconhecida pela maioria, graças às obras recentemente realizadas pela Província: um abrigo subterrâneo de gás e um abrigo antiaéreo construído em período de guerra.

Palazzo Santo Stefano, que foi levantado sobre as antigas estruturas de um mosteiro beneditino feminino, desativado em 1810; sua feição atual se deve às grandes reformas empreendidas no edifício na década de 1930; abriga a sede da Província de Pádua, da Prefeitura da cidade e é também a residência do prefeito; em parte dele funciona um museu. Piazza Antenore, 3, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
No interior da Piazza Antenore, encontramos duas arcas funerárias, muito famosas na cidade; a Tomba di Antenore e a Arca di Lovato Lovati.
A Tomba di Antenore tem a história mais interessante.
Em 1274, durante a construção de um hospício para enjeitados na Via San Biagio, foi encontrada uma arca funerária com dois caixões de cipreste e chumbo, contendo restos humanos com uma espada e dois potes de moedas de ouro. O juiz Lovato Lovati, poeta e estudioso pré-humanista, chamado a opinar sobre a identidade do guerreiro, atribuiu os restos mortais ao príncipe troiano Antenor que, segundo Tito Livio, foi o responsável pela fundação de Pádua. Os notáveis da cidade, em busca de uma legitimação mitológica que beneficiasse o desenvolvimento da cidade, decidiram endossar a tese.
Em 1283 foi então decidido construir um monumento para conter a arca, e Lovati recebeu o privilégio de ter duas de suas quadras latinas gravadas nas laterais da arca. O monumento, uma edícula cuspidada construída em pedra e tijolo, foi colocado junto à fachada de San Lorenzo, uma igreja medieval que já não existe, que deu nome à ponte da época romana que atravessava o Naviglio interno e hoje sepultado (um arco da ponte ainda hoje é visível na passagem subterrânea de pedestres que atravessa a Riviera Tito Livio).
Com a supressão dos mosteiros, a igreja foi desconsagrada em 1808 (ou 1810), e em 1937 foi demolida juntamente com os edifícios circundantes, para criar a piazza.
O túmulo de Antenor permaneceu assim no centro da praça e, posteriormente, em 1942, foi colocado ao lado dele o túmulo de Lovati, que originalmente se localizava no lado oposto à entrada da igreja.
Em 1985 a arca foi aberta e os restos encontrados foram submetidos a análises científicas que demonstraram pertencer a um guerreiro húngaro, falecido durante as invasões do século IX; já outros estudiosos acreditam que o artefato remonta a uma época anterior (séculos II-III).

Tomba di Antenore, erguida por volta da década de 1280, para abrigar os supostos restos mortais do heroi troiano Antenor, mítico fundador da cidade de Pádua; monumento idealizado pelo juiz, humanista e poeta Lovato Lovati; trata-se de uma arca de pedra, com inscrições nas laterais, quadras latinas feitas por Lovati, abrigada numa edícula feita de tijolos e pedras, com uma cúspide no alto. Piazza Antenore, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Agora, vamos falar da Arca di Lovato Lovati
Como já dito acima, Lovato Lovati, que viveu de 1240 (ou 1241) a1309, era juiz e também se dedicou aos estudos humanísticos e à poesia; quando um antigo sarcófago foi encontrado em Pádua, em 1274, ele afirmou que era o mítico fundador da cidade, o heroi troiano Antenor, e providenciou a construção de uma edícula sepulcral digna do personagem.
Próximo à arca de Antenor, também ao lado da extinta Chiesa di San Lorenzo, Lovato mandou construir aquela para si, quando ainda era vivo, e provavelmente compôs as epígrafes em verso: dois dísticos elegíacos seguidos de quatro hexâmetros; em 1874, a arca de Lovato foi transladada para a Piazza del Santo, onde ficou exposta até 1942, quando então a arca foi colocada ao lado do monumento de Antenor, seu lugar original.

Arca di Lovato Lovati; na frente da arca, dois escudos clássicos laterais com lobos rampantes, brasão de armas da família Lovati; ao centro, um escudo clássico com uma cruz; a arca está sustentada por quatro colunas com capitéis jônicos. Piazza Antenore, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Continuando a nossa visita, fomos a bela Piazza Garibaldi, com seus elegantes prédios.
A praça anteriormente era conhecida por Piazza della Paglia ou dei Noli, porque ali ficavam estacionadas carruagens dos "nolesini", em razão de serem carros de frete (nolo, em italiano).
Em 1756, por vontade dos cocheiros e paroquianos da Chiesa di San Matteo, a imagem de Nossa Senhora, valiosa obra do século XVIII, atribuída ao artista paduano Antonio Bonazza, foi colocada no centro da praça, passando a ser conhecida como Madonna dei Noli.
A praça passou a chamar-se Garibaldi quando a estátua do heroi do Risorgimento Italiano foi instalada no centro do logradrouro, em 1886, substituindo a imagem da Virgem, que foi guardada na Chiesa di Sant'Andrea.
Em 1954, voltou a Madonna dei Noli ao centro da praça, instalada no alto de uma coluna romana, enquanto a estátua de Giuseppe Garibaldi foi colocada nos Giardini dell'Arena (Jardins da Arena).
No entorno da praça podem ser vistos prédios elegantes, como o Palazzo Menato, inaugurado em 1928, com projeto do arquiteto Duilio Torres, onde funcionaram o Grande Magazzino Menato (que deu nome ao edifício) e o Albergo Regina (hotel), e o Palazzo Società Igea ou Palazzo Belloni-Peressutti, no estilo Liberty ou monumental italiano, erguido entre 1930 e 1933, tendo como arquiteto Gino Peressutti, conhecido como o "Arquiteto da Cinecittà", a Hollywood italiana, encomendada pelo ditador Benito Mussolini.

Piazza Garibaldi, tendo no centro a imagem da Madonna dei Noli, sobre uma coluna romana; à esquerda, o Palazzo Belloni-Peressutti ou Palazzo Società Igea, erguido entre1930 e 1933, no estilo monumental italiano (no térreo, funciona uma loja da marca Gucci); à direita, o Palazzo Menato, inaugurado em 1928, também no estilo monumental italiano (no térreo, funciona uma loja da marca Louis Vuitton). Piazza Garibaldi, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na sequência, fomos aos Giardini dell'Arena (Jardins da Arena); dentro você pode admirar: 1) as ruínas da Arena, o antigo teatro romano de Pádua, construído por volta de 70 d.C.; 2) a Cappella degli Scrovegni, construída entre 1303 e 1305 e decorada com esplêndidos afrescos de Giotto; e 3) o complexo Eremitani, com o convento, hoje sede do Museo Eremitani, e a Igreja, dedicada aos Santos Filipe e Tiago, mas tradicionalmente conhecida como Igreja dos Eremitas.

Portão dos Giardini dell'Arena, a partir do qual pode-se ver a Cappella degli Scrovegni. Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na praça, no início dos Jardins da Arena, encontra-se o monumento em mármore em homenagem a Giuseppe Garibaldi, obra de Ambrogio Borghi de 1886, que antes ficava na Piazza Garibaldi.

Monumento ao grande heroi italiano Giuseppe Garibaldi, obra de Ambrogio Borghi, concluída em 1886. Giardini dell'Arena, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Passamos então pelo antigo Teatro Romano de Pádua, comumente chamado de Arena porque ali se espalhava areia ou porque ali aconteciam lutas de gladiadores; o espaço é cercado por uma parede elíptica feita de blocos de calcário que formava a base dos degraus que delimitavam a arena.
Construído ao norte da cidade por volta de 70 d.C., na época da dinastia Flaviana, lembrava a Arena de Nimes e certamente não era inferior em tamanho à Arena de Verona; isto demonstra a excepcional prosperidade econômica de Pádua naquela época.
Se o teatro não tivesse sido demolido e usado como pedreira na Idade Média, Pádua ainda hoje teria sua arena.
No século XIV a área foi adquirida pela rica família Scrovegni que aí mandou construir o seu palácio, demolido em 1803, e a famosa capela.

Ruínas do muro elíptico do Teatro Romano de Pádua, conhecido como Arena. Giardini dell'Arena, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Ruínas do muro elíptico do Teatro Romano de Pádua, conhecido como Arena, nas quais são vistas três portas. Giardini dell'Arena, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
No interior dos Giardini dell'Arena, encontra-se a Cappella degli Scrovegni.
A área da Arena foi comprada, no século XIV, pelos Scrovegni, uma rica família de banqueiros e usurários de Pádua, que aqui construiu o seu palácio em 1300; entre 25 de março de 1303 e 25 de março de 1305, foi construída a capela dedicada a Santa Maria della Carità, a mando de Enrico Scrovegni, para repouso da alma de seu pai Reginaldo, colocado por Dante Alighieri, nas páginas da "Divina Comédia", no inferno, por ser usurário.
A Cappella degli Scrovegni apresenta uma arquitetura muito simples: elegante janela gótica de três luzes na fachada, janelas altas e estreitas na parede sul; no interior, uma única nave que termina com um presbitério onde se encontra o sarcófago de Enrico Scrovegni, obra de Andriolo de Santi; não se conhece o arquiteto do edifício: para alguns teria sido o próprio pintor florentino Giotto.
Para adornar o edifício, destinado a acolher a si e aos seus descendentes após a sua morte, Enrico Scrovegni convocou dois dos maiores artistas da época: a Giovanni Pisano encomendou o altar de mármore com a representação da Madona com o Menino entre dois anjos; Giotto pintou a decoração pictórica das paredes internas: os acontecimentos dos pais de Maria, Joaquim e Ana, as Histórias da Virgem e de Jesus, e, em contraste, o Juízo Final narrado no Apocalipse; além disso, catorze alegorias monocromáticas dos Vícios e Virtudes.
Giotto já era um artista famoso: tinha trabalhado para o papa na Basilica di S. Francesco, em Assis, e em S. Giovanni in Laterano, em Roma; em Pádua, na Basilica di Sant'Antonio e no Palazzo della Ragione.
O ciclo Scrovegni de Giotto constitui a maior obra-prima do pintor e uma das mais importantes da história da arte ocidental, igual apenas à Capela Sistina de Michelangelo, em Roma.
Com esta obra, Giotto iniciou uma nova era na história da pintura, superando a abstração formal da corrente bizantina então dominante, para propor formas humanas mais naturais e realistas e por isso também foi definido como o primeiro pintor moderno.

A fachada da Cappella degli Scrovegni, na qual se observa a janela gótica com três "luzes", erguida entre 1303 e 1305 por determinação de de Enrico Scrovegni. Giardini dell'Arena, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Parede sul da Cappella degli Scrovegni; em destaque, as janelas altas e estreitas, e, à esquerda, trecho da parede elíptica da Arena. Giardini dell'Arena, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Ao lado do portão dos Giardini dell'Arena, encontra-se a Chiesa degli Eremitani.
O edifício atual remonta ao ano de 1276, mais já havia, no mesmo lugar, uma igreja dedicada aos Santos Filipe e Tiago (Menor), apóstolos de Cristo; quatro pequenas capelas flanqueiam o lado direito da nave única e três outras se abrem ao lado da capela principal, na abside.
Na primeira capela à direita, a partir da entrada, dedicada a Santo Agostinho, encontram-se alguns episódios da vida do santo, executadas por Giusto de' Menabuoi, por volta de 1370, e representações das Virtudes e das Ciências nas paredes; na capela que se segue, dedicada a Santo Antônio, os bustos de santos no interior são do pintor paduano Guariento di Arpo; na terceira capela não há afrescos, enquanto que na quarta, ao contrário, encontramos uma bela Virgem com o Menino em majestade, acima do altar, e um Ecce Homo, sempre de Guariento, no interior do arco, à esquerda; esses fragmentos representam um importante testemunho da arte local por volta do sexto decênio do século XIV; à direita da abside se abre a célebre Capela Ovetari, na qual Andrea Mantegna pintou os afrescos a partir de 1448 com auxílio de outros pintores, Jacques e Christophe; atualmente, podem-se ver alguns fragmentos das mais belas histórias que se salvaram do bombardeio de 1944; na parede da direita, "O Martírio e Transporte de São Cristóvão", e na abside, a "Assunção da Virgem"; na Capela Principal, os afrescos que Guariento di Arpo realisou por volta de 1368 com episódios da vida dos Santos Filipe e Agostinho, na parte superior da parede da esquerda, e as cenas mitológicas, na base, se salvaram dos bombardeios.
As paredes são decoradas com faixas alternadas de tijolos vermelhos, brancos e ocres.

Altar Ave Regina Caelorum, no qual se vê ao centro a pintura da Madonna col Bambino, do século XIV ou XV, atribuída ao artista Stefano da Ferrara, parede norte. Chiesa degli Eremitani, Piazza Eremitani, 9, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Tumba de Jacopo II (ou Giacomo II) da Carrara, senhor de Pádua de 1345 a 1350, ano em que foi assassinado, com epitáfio de Francesco Petrarca, famoso intelectual e poeta italiano, trazido pelo nobre para Pádua e de quem se tornou amigo; obra de Andriolo de Sanctis (de Santi), provavelmente de 1351; na frente, sob uma moldura decorada com palmetas, encontra-se a estátua da Virgem com o Menino; acima da tampa do sarcófago estão a estátua esculpida de forma realista do falecido; o monumento foi transferido para o atual local, no início do século XIX, quando a antiga Igreja de Santo Agostinho foi derrubada. Parede norte, Chiesa degli Eremitani, Piazza Eremitani, 9, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

A Urna de Ilario Sanguinacci (ou Sangonaciis ou Sanguinazzi), podestà e capitão de Bologna e Florença, em 1379, e morto em 1381; autor anônimo. Cappella Sanguinacci, parede norte, Chiesa degli Eremitani, Piazza Eremitani, 9, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Capela Maior da Chiesa degli Eremitani; o afresco superior, à direita, a "Crucificação de São Filipe", embaixo, à esquerda, a "Conversão de Santo Agostinho" e, à direita, "O Batismo e a Vestição de Santo Agostinho", na qual ele acaba de colocar o hábito de monge, na presença de Santa Mônica, sua mãe, ajoelhada à esquerda, e à frente, provavelmente de Santo Ambrósio; embaixo, os sete planetas e as sete eras do homem, sendo que no detalhe da foto vemos a representação de Mercúrio, Vênus e Sol; todas obras de Guariento di Arpo. Chiesa degli Eremitani, Piazza Eremitani, 9, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

O Crucifixo da Capela Maior, obra provavelmente de 1367, pintado em têmpera sobre madeira, atribuído ao artista veneziano Nicoletto Semitecolo. Chiesa degli Eremitani, Piazza Eremitani, 9, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Na via Cesare Battisti, 2, próximo ao Caffè Pedrocchi, encontra-se afixada uma lápide comemorativa que lembra um evento nefasto ocorrido em Pádua, em 8 de fevereiro de 1848, ano conhecido na Europa como "Primavera dos Povos", em razão das revoluções populares que se contrapunham aos governos que eram vistos como opressores.
Era um época de forte tensão política, e, em Pádua, era mais intenso o sentimento anti-habsburgo, ou seja, contra a família que controlava o Império Austríaco e seus territórios satélites, entre os estudantes e os cidadãos paduanos; naquele dia, uma delegação de notáveis, cidadãos e estudantes apresentou alguns pedidos ao comando austríaco, que foram rejeitados; a tensão era maior ainda devido às provocações contra o governo austríaco ocorridas no dia anterior, e, em razão disso, eclodiu uma espécie de guerrilha; os soldados austríacos abriram fogo também em direção aos estudantes, que se refugiaram no Caffè Pedrocchi e no Palazzo Bo; houve dezenas de feridos e também algumas mortes, dentre elas as dos estudantes Giovanni Leoni e Giambattista Ricci; é a primeira insurreição impulsionada por razões políticas, na qual os estudantes se colocaram na linha da frente, tornando-se protagonistas, o que levaria a uma verdadeira época de renovação.

Placa alusiva ao episódio ocorrido em 8 de fevereiro de 1848, nas proximidades do Caffè Pedrocchi, que terminou no ataque de tropas austríacas aos estudantes e cidadãos paduanos, rendundando em lesões e mortes no lado dos revoltosos; diz a placa: "Aqui os estudantes e o povo, numa concordância instantânea temerária, com os seus peitos indefesos, opondo-se às impetuosas hordas estrangeiras, aguardaram com sangue a redenção da Itália. O Município de Pádua." (tradução livre do italiano). Via Cesare Battisti, 2, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Ao chegarmos na esquina da Piazza dei Frutti (Praça das Frutas) com via Gugliemo Oberdan, nos deparamos, no térreo do edifício, com o Caffè Bar Margherita; é um dos cafés mais famosos de Pádua, mas a sua data de inauguração é desconhecida; provavelmente ele passou a funcionar no final do século XIX; o local onde se encontra era um dos mais movimentados da cidade, na Piazza dei Frutti, perto da esquina do "canton delle busie", conhecido como ''angolo delle bugie", ou seja, "cantão ou esquina das mentiras", local de negociação de corretores comerciais (que mentiam sobre os pesos e medidas dos produtos ali comercializados) e escala de mercadorias que chegavam por via fluvial (por isso a via Gugliemo Oberdan, era chamada de "via delle Sale", isto é, rua do Sal); na década de 1920, o café também era famoso por ter um aparelho, semelhante a um radiador (aspiratore – immitatore termosifone), que aspirava o ar frio e o introduzia quente no ambiente, uma novidade tecnológica para a época.

Elegante edifício em cujo térreo funciona o Cafè Bar Margherita, provavelmente do final do século XIX. Piazza dei Frutti, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Os Palazzi Comunali são um complexo de edifícios (Palazzo del Podestà, Palazzo degli Anziani, Palazzo del Consiglio e Palazzo della Ragione) erguidos em diferentes épocas para abrigar os serviços públicos da Comuna.
O núcleo original mais interno do Palazzo della Ragione foi iniciado em 1218, por iniciativa do podestà Giovanni Rusca e terminado no ano posterior, já sob a administração do podestà Malpelo de San Miniato de Tuscia. Para construí-lo, alguns edifícios importantes foram demolidos; as cabeças românicas esculpidas nas ombreiras dos arcos de acesso ao mercado, no âmbito do Salone, são desta época;
As medidas do cóppo (vasilhame vazio para medir farinha), do stàio (cesto vazio utilizado para mensurar grãos), do mattóne (tijolo) e do braccio padovano (braço padano, para medir o comprimento dos tecidos) estão esculpidos na base do pilar do canto esquerdo do edifício, numa pedra branca conhecida como "brazzolaro", ali incrustada em 1232, para servir de referência nas negociações entre mercadores e compradores.
O pórtico junto às Logge, contruído por ordem do Conselho em 1433, esconde, em grande parte, os arcos do térreo.

Pórtico da Loggia, construído por ordem do Conselho Comunal, em 1433, que termina encobrindo os arcos do térreo do Palazzo della Ragione. Piazza dei Frutti, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Também fazendo parte do complexo dos Palácios Comunais, o Palazzo del Consiglio foi construído em 1285 pelo arquiteto conhecido como Leonardo Bocaleca, quando Fantone de Rossi (Fantono d'Rubeis de Florencia) era podestà (espécie de prefeito), como se pode ler na lápide aposta no pilar do edifício ao lado da Volto della Corda, uma passagem aérea construída no início do século XIV para ligar o Palazzo della Ragione aos demais palácios comunais.

Lápide instalada no pilar do Palazzo del Consiglio, ao lado da passagem aérea conhecida como Volto della Corda, com o brasão de Fantone de Rossi ou Fantone de Rubeis de Florentia, então podestà de Pádua, responsável pela construção do referido palácio sob o comando do arquiteto Leonardo Bocaleca, em 1285: inscrição em latim ao redor do escudo: "Fantono d'Rubeis de Florencia, pod'nobili milite'ono, anno'oni MCCLXXXV" "Fantone de Rubeis de Florença, nobre soldado, ano 1285" (tradução livre do latim); a escritura empregada é uma epigrafia gótica, elegante, requintada, decorada com pontas finas ornamentais nas extremidades das letras. Palazzo del Consiglio/Palazzo degli Anziani, Piazza dei Frutti, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Por fim, visitamos o espaço conhecido como Prato della Valle, iniciando pela Loggia Amulea.
É um palácio de estilo neogótico localizado em Prato della Valle, a maior praça de Pádua; a frente do edifício é caracterizada por uma elegante loggia.
O prédio leva o nome do proprietário inicial do palácio, que serviu de colégio para jovens nobres venezianos: o cardeal Antonio da Mula ou Amuleo; além disso, por volta do século XVII, o palácio era utilizado como local de acolhimento de personalidades importantes em ocasiões especiais, como espetáculos, circos ou corridas de cavalos.
Um incêndio, em 1822, destruiu o antigo edifício, e a Câmara Municipal da cidade de Pádua decidiu construir um novo com fachada Loggia, porém isso demorou a se concretizar.
Em 1860, foi finalmente erguido o novo prédio, que segue o modelo dos edifícios venezianos, em estilo neogótico, com dois pisos com dupla loggia que recupera elementos medievais, como se pode verificar pelas decorações arquitetônicas em terracota das arquitraves, azulejos e pilastras.
Em frente ao pórtico, entre os arcos, erguem-se as estátuas criadas pelo escultor Vincenzo Vela em 1865, que retratam Dante Alighieri e o líder da pintura italiana Giotto.
No primeiro andar, uma sala, elegante e intimista, é utilizada para pequenos eventos e cerimônias, como casamentos civis, graças à sua maravilhosa posição que permite desfrutar da vista de Prato della Valle, a segunda maior praça na Europa, depois da Praça Vermelha, em Moscou.
A Loggia Amulea foi sede dos bombeiros de 1906 a 1989, mas hoje abriga alguns escritórios da Prefeitura da cidade de Pádua.

Loggia Amulea, edifício erguido em 1860, estilo neogótico veneziano, é caracterizado por dupla loggia, nos dois pisos, tendo abrigado os bombeiros de Pádua de 1906 a 1989. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Loggia Amulea, edíficio neogótico veneziano de 1860; no alinhamento da loggia do térreo, veem-se as estátuas de, à esquerda, Dante Alighieri e, à direita, Giotto, esculpidas por Vincenzo Vela, em 1865. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Prato della Valle, um dos símbolos de Pádua, é uma grande praça elíptica que, além de ser a maior praça da cidade, é uma das maiores da Europa, com cerca de 88.620 metros quadrados.
O espaço sempre foi grande; na época romana, foi sede de um vasto teatro, o Zairo, cujos vestígios foram encontrados no canal que rodeia a Isola Memmia, e de um circo de corridas de cavalos; na Idade Média, foi palco de feiras, justas, festas públicas e competições populares; dizem até que os sermões mais populares de Santo Antônio foram realizados em Prato della Valle.
Mas, no último quarto do século XVIII, tranformou-se num grande espaço monumental caracterizado por uma ilha central verde, chamada Isola Memmia, em homenagem ao podestà Andrea Memmo, que determinou a realização das obras de reformulação do local, iniciadas em 1775, com projeto do arquiteto Domenico Cerato, rodeada por um canal adornado com uma base dupla de estátuas numeradas de figuras famosas do passado que, segundo o projeto original, deveriam ser 88.
Hoje, podem ser observadas apenas 78 estátuas sobre pedestais, 8 pedestais encimados por obeliscos e 2 vazios.
4 avenidas atravessam o Prato em pequenas pontes e depois encontram-se no centro da ilha, onde está instalada uma fonte.

Detalhe da área da praça Prato della Valle a partir da planta desenhada por Giovanni Valle, final do século XVIII.

Ponte do acesso oeste da praça Prato della Valle, no qual se veem quatro obeliscos sobre pedestais. Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Ponte do acesso norte da Prato della Valle; à esquerda, estátua representando Antonio Diedo, patrício (nobre) veneziano, arquiteto, estudou no seminário de Pádua, obra de Felice Chiereghin de 1795; à direita, Andrea Memmo, nobre veneziano, literato, arquiteto, político e diplomata italiano, projetou e executou a transformação da Prato della Valle no atual formato de ilha oval, hoje chamada de Memmia em sua homenagem, com canal de escoamento de águas, antes estagnadas e insalubres, contorno duplo de estátuas e quatro pontes, obra de Felice Chiereghin de 1794. Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

O canal e os conjuntos das estátuas vistas da entrada oeste em direção ao norte da Prato della Valle; na parte externa do canal, à esquerda, a primeira estátua representa Opsicella, lendário herói troiano, que, após a destruição de Troia, teria atravessado o Adriático e fundado a cidade de Monselice, na Itália, obra de Pietro Danieletti de 1777; atrás dela, a estátua representando Lucio Arrunzio Stella, poeta latino, imitador de Catullo, tendo sido pretor, no tempo do imperador Domiciano, e cônsul, no do imperador Trajano, obra de Francesco Andreosi de 1776. Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Canal e conjuntos das estátuas vistas da ponte oeste em direção sul; no lado externo do canal, à direita, as estátuas representando: Vettor Pisani, almirante (capitão do mar) da Sereníssima (Veneza), que guiou a frota veneziana na vitória sobre as forças genovesas, na Guerra de Chioggia, iniciada em 1379, obra de Francesco Rizzi, 1779; Lodovico Sambonifacio, expoente da nobre e poderosa família veronesa de mesmo nome, tornou-se inimigo de Ezzelino III da Romano, que o obrigou a deixar Verona e mudar-se para Pádua, ocasião em que pediu ajuda ao papa Alexandre IV para derrotar seu desafeto; obra de Luigi Verona, 1781; Antonio Michiel, nascido em Veneza em 1700 em uma família antiga e nobre que inclui três doges e muitos cargos nas magistraturas da Sereníssima; Cavaleiro da Estola de Ouro, uma das maiores honrarias, foi nomeado em diversas ocasiões embaixador de Veneza nas cortes europeias, incluindo Madrid, obra de Giuseppe Ferrari, sem data; no lado interno do canal, à esquerda, representando: Jacopino de’ Rossi, nobre de Parma, da família dos condes de San Secondo, foi duas vezes podestà de Pádua, em 1266 e 1273, obra de Luigi Verona, 1782; Gustavo Adamo Banér, conde sueco, estudante de Direito em Pádua, em meados do século XVII, e, segundo os costumes da época, vice-reitor aos 26 anos graças aos méritos do pai e da família, obra de Giovanni Ferrari, il Torretti, 1778; Gustavo II Adolfo Rei da Suécia; nasceu em Estocolmo em 1594; com a morte de seu pai Carlos IX, tornou-se rei em 1611; impetuoso e muito valente, reformador da estratégia e das armas, apelidado de Leão do Norte, lutou na Guerra dos Trinta Anos contra o império e em defesa do protestantismo, conquistou grande parte da Alemanha e morreu em batalha em 1632, obra de Giovanni Ferrari, il Torretti, 1784. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.

Estátua do papa Alexandre VIII na ponte da entrada sul; nascido Pietro Ottoboni, de família nobre veneziana, formou-se muito jovem em Pádua em utroque iure (direito civil e direito canônico) e depois mudou-se para Roma, onde recebeu ordens religiosas, tendo sido eleito papa aos 79 anos, em 1689, governando a Igreja Católica por menos de dois anos; obra de Giovanni Ferrari, il Torretti, 1787. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
Em 1926 foi inaugurada a fonte do centro da ilha que, embora prevista no projeto de Andrea Memmo, até então não havia sido construída.

Fonte no centro da Isola Memmia, prevista no projeto original, mas construída apenas em 1926. Prato della Valle, Pádua, capital da província homônima, Região de Vêneto, Italia.
O próximo post falará sobre a famosa Veneza, de importância histórica mundial.
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.
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