Lago di Garda - Regiões de Trentino-Alto Adige e de Vêneto - Norte da Itália - 2023
- Roberto Caldas

- 3 de set.
- 16 min de leitura

Lago di Garda visto do alto do Monte Baldo. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
Continuando nossa viagem pelo Norte de Itália, particularmente nos territórios em que se fala também alemão, ingressamos na Província de Trento e pousamos na bela cidade de Riva del Garda, na margem norte do famoso Lago di Garda.
Lago di Garda ou Benaco é o maior lago italiano, com uma superfície de aproximadamente 370 km²; articulada entre três regiões, Lombardia (província de Bréscia), Vêneto (província de Verona) e Trentino-Alto Adige (província autônoma de Trento), está localizado paralelamente ao rio Ádige, do qual é separado pelo maciço do Monte Baldo; ao norte parece estreito como um funil, enquanto ao sul se alarga, rodeado por colinas que tornam a paisagem mais suave; o lago é um importante destino turístico e é visitado por milhões de pessoas todos os anos.
1 - Riva del Garda ( em alemão Reiff am Gartsee)
Segundo maior assentamento no Lago di Garda, com quase 16.000 habitantes, Riva del Garda é há muito tempo vista como uma cidade estrategicamente importante; a cidade controlava a metade norte do lago e também influenciava as rotas comerciais de norte a sul, que cruzavam os Alpes; não é de surpreender, portanto, que grande parte de sua história e seus importantes pontos turísticos estejam relacionados a guerras e fortificações.
Acredita-se que o assentamento original tenha ocorrido na época romana. embora haja vestígios arqueológicos na área que possam apontar para uma data anterior, na época dos etruscos; Ripa - como era conhecida naquele tempo - era um importante local de mercado para os romanos.
Como muitas cidades nas rotas comerciais da região, o assentamento sofreu ondas de invasão vindas do norte após a queda do Império Romano, particularmente por tribos germânicas (godos, lombardos e francos); mesmo entrando em um período de relativa estabilidade na Idade Média, ainda precisava se preocupar com as potências guerreiras das cidades italianas de Trento e Verona, nas proximidades, e com as reivindicações de Veneza e Milão, mais distantes.
Em 983, o imperador Otão II, o "Vermelho", do Sacro Império Romano-Germânico, a concedeu como feudo ao bispo de Verona; no século XII, tornou-se propriedade dos bispos de Trento; em 1349, passou para o domínio dos Scaligeri (Mastino II della Scala), senhores de Verona, e depois (1388) tornou-se propriedade dos Visconti (senhores de Milão); após a morte de Gian Galeazzo Visconti (1402), ficou sob poder dos Condes do Tirol, que governavam a partir de Merano e depois de Innsbruck (atual Áustria), mas foi duramente disputada pelos milaneses, trentinos e venezianos, até que estes últimos tomaram posse dela (1440 a 1509); à Veneza, a comunidade deve a reconstrução da Rocca (pequena fortaleza) e a construção do atual Palácio Municipal e do Bastião (1508), que pode ser visto emergindo da floresta de pinheiros e azinheiras nas encostas do Monte Rocchetta.
Devolvida pela Serenissima aos bispos de Trento (1509), foi declarada, em 1575, cidade pelo imperador Maximiliano II, do Sacro Império Romano-Germânico; foi saqueada, durante a Guerra da Sucessão Espanhola, pelos franceses (1703), comandados por Luís José de Bourbon-Vendôme, Duque de Vendôme; durante as Guerras Napoleônicas, foi incorporada à Baviera (1806), depois ao Reino da Itália (1810); ocupada em 1813 por tropas austríacas; pelo Tratado de Viena, foi cedida finalmente, juntamente com Trentino, à Áustria (1815) e, por fim, no final da Primeira Guerra Mundial, foi ocupada em 1918, de fato, pelos italianos e, após o Tratado de Versalhes, anexada oficialmente ao Reino da Itália (1919).
Além do interesse estratégico, Riva del Garda também se desenvolveu como centro turístico a partir de meados do século XIX, particularmente sob o domínio do Império Austríaco e, depois, do Império Austro-Húngaro, com o advento do turismo "Kur" no mundo de língua alemã (o termo mais próximo é provavelmente "tomar as águas" em cidades termais como Bath ou Leamington); a cidade tornou-se popular entre a nobreza, os ricos e a elite cultural – como Thomas Mann, Frederick Nietzsche e até mesmo D.H. Lawrence – conferindo à cidade um ar refinado.
Atualmente, Riva é um dos resorts mais populares do Lago di Garda, enquanto seus vizinhos menores, Torbole, a leste, e Arco, ao norte, são especialmente apreciados pelos visitantes mais jovens e esportistas – Torbole, pelo windsurfe, e Arco, pela escalada.

Vista de Riva del Garda, a única cidade às margens do lago que fez parte do Condado do Tirol, após o retorno à jurisdição imperial austríaca em 1815; em destaque, a atual Piazza Tre Novembre, voltada para o Lago di Garda, e a Torre Apponale, na parte central da imagem, variando para a esquerda. Catalogue J--foreign section, Detroit, Mich.: Detroit Publishing Company, 1905.; Print no. "8301". https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/67/General_view%2C_Riva%2C_Lake_Garda%2C_Italy-LCCN2001700826.jpg/250px-General_view%2C_Riva%2C_Lake_Garda%2C_Italy-LCCN2001700826.jpg

Cidade Velha de Riva del Garda vista a partir do Bastião; em destaque, à esquerda, na parte central, a Chiesa dell’Inviolata; à direita, abaixo, a Piazza Tre Novembre e a Torre Apponale, e, um pouco acima, a Rocca di Riva del Garda. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Saindo do hotel em direção à cidade velha, nos deparamos com a Chiesa di Santa Maria Inviolata.
A Chiesa dell’Inviolata foi erguida, em estilo barroco, em 1603, tendo sido consagrada em 1636, graças aos esforços de Gaudenzio Madruzzo e sua esposa Alfonsina Gonzaga como local de peregrinação para abrigar um tabernáculo milagroso; possui planta inferior quadrada e superior octogonal; o exterior é simples, mas o interior está ricamente decorado com preciosos estuques, afrescos e pinturas; os estuques brancos, pretos e dourados são de Davide Reti da Lombardia, datados de 1609. As preciosas pinturas dos altares são de Martino Teófilo Polacco, que ali trabalhou entre 1615 e 1620, e de Pietro Ricchi, de Lucca - por isso conhecido como Lucchese - que concluiu os afrescos e pinturas entre 1640 e 1644; os afrescos da cúpula são atribuídas também a Teófilo Polacco; os altares contêm retábulos, representando São Carlos Borromeu e São Jerônimo, pintados por Jacopo Negretti, conhecido como Palma, o Jovem.
Em seguida, foi anexada ao Convento de Gerolimini (dos jerônimos), que foi concluído em 1682; hoje, é propriedade do município.
Ao lado da igreja encontra-se a fonte madruzziana de Moisés, construída em 1616.

Chiesa di Santa Maria Inviolata, 1603, estilo barroco; exterior simples, parte inferior quadrada e superior octogonal. Largo Guglielmo Marconi, 5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Nave octogonal com as paredes e os gomos da curvatura da cúpula ricamente adornados com estuques brancos, pretos e dourados, obra de Davide Reti da Lombardia (1609), e afrescos atribuídos a Martino Teófilo Polacco (1615 a 1620), e a Pietro Ricchi, o Lucchese, (1640 a 1644). Chiesa di Santa Maria Inviolata, Largo Guglielmo Marconi, 5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Presbitério belamente decorado com estuques e afrescos, separado da nave por gradil trabalhado, e altar-mor de mármore, com um tabernáculo central. Chiesa di Santa Maria Inviolata, Largo Guglielmo Marconi, 5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Cúpula também decorada com estuques e afrescos, estes atribuídos a Martino Teófilo Polacco (1615 a 1620). Chiesa di Santa Maria Inviolata, Largo Guglielmo Marconi, 5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Fonte madruzziana de Moisés (imagem sobre o muro), construída em 1616; Chiesa di Santa Maria Inviolata, Largo Guglielmo Marconi, 5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Ingressamos na cidade velha através da Porta San Michele, erguida no século XIII, na época do senhorio dos bispos de Trento.

Porta San Michele, século XIII. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Logo após a entrada na cidade velha, nos deparamos com a Chiesa Parrocchiale di S. Maria Assunta.
O templo católico foi citado pela primeira vez em 1106, mas o edifício atual é uma reconstrução barroca; as obras começaram em 1728, a partir de um projeto de Cipriano Tacchi, e continuaram por cerca de vinte anos; a antiga igreja foi demolida para ser ampliada, mantendo-se apenas a Capela do Sufrágio, construída entre 1692 e 1696 pela Confraternita della Buona Morte; o interior possui nave única e a referida capela lateral do Sufrágio; possui numerosos altares barrocos com frisos e estuques. Atrás do altar-mor ergue-se a grande pintura da "Assunção", de Giuseppe Craffonara, de 1834, da qual a igreja conserva a melhor obra, a Addolorata, no quarto altar à esquerda.

Fachada principal da Chiesa Parrocchiale di S. Maria Assunta; apresenta duas ordens; a inferior apresenta quatro colunas e um portal de entrada, este ladeado de colunas com capitéis coríntios; a superior, também com quatro colunas, e, no centro, uma janela emoldurada; no alto, um frontão curvilíneo fechando a fachada frontal. Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Fachada lateral sul da Chiesa Parrocchiale di S. Maria Assunta; ao seu lado está a Piazzetta Craffonara, tendo uma coluna encimada por um crucifixo; vê-se parte da Capela do Sufrágio se destacando do alinhamento da fachada. Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Nave da Chiesa di S. Maria Assunta; piso em mármore e paredes decoradas com estuques policromados. Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Presbitério e altar-mor da Chiesa di S. Maria Assunta; o altar-mor é de mármore e o seu retábulo representando a "Assunção" datado da primeira metade do século XIX (possivelmente de 1834), sendo atribuído a Giuseppe Craffonara de Riva. Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Um dos altares barrocos com uma bela imagem da Madona e Menino. Chiesa di S. Maria Assunta, Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Órgão de tubos da Chiesa di S. Maria Assunta. Piazza Cavour, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
A construção da Rocca di Riva del Garda foi autorizada em 1124 pelo Bispo Altemanno; em documentos antigos, é citada como castrum novum, para diferenciá-la do castrum vetus que se erguia em outra parte de Riva. Era considerada de fundamental importância para a defesa da cidade e foi continuamente reformada e modificada ao longo de vários eventos históricos. Foi inicialmente a residência do bispo e do capitão, e depois um quartel durante o domínio austríaco. Sua forma original é desconhecida devido às inúmeras reformas feitas pelos austríacos que a adaptaram para quartel. Durante a época dos Scaligeri, deve ter sido um modelo perfeito de um castelo-fortaleza medieval, inteiramente cercado por água, como o de Sirmione. Trabalhos de restauração trouxeram à luz, em seu interior, valiosos fragmentos de afrescos que datam do período clesiano (1514-1539).

Antiga Rocca di Riva del Garda, atual sede do Museo di Riva del Garda (um dos museus do sistema Museo Alta Garda); a primeira fortaleza provavelmente é do século XII, mas foi muito alterada no decorrer dos séculos. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
A Torre Apponale foi provavelmente construída no início do século XIII por uma família nobre de Riva, os Bonvicini, como era frequente nos centros urbanos medievais.
Com esta iniciativa, eles contrariaram a ordem do príncipe-bispo Federico Wanga, que ordenou que a destruíssem, mas foram perdoados e a torre, concedida como propriedade ao príncipe-bispo, tornou-se seu benefício feudal.
Localizada na principal rota de comunicação entre Ponale e Brione, era usada para controlar o porto mais importante da cidade, o ocidental.

Torre Apponale, século XIII, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Após a torre encontramos a Piazza Tre Novembre, à beira do Lago di Garda, cercada por edifícios notáveis, incluindo a Torre Apponale e o Palazzo Pretorio.

Prédio do Antico Caffè Maffei, Piazza Tre Novembre, 25, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Nas encostas do Monte Rocchetta, encontra-se o Bastione di Riva del Garda.
Esta fortificação pode ser vista do lago, na encosta arborizada, algumas centenas de metros acima da cidade de Riva del Garda; erguida nas encostas menos elevadas do Monte Rocchetta no início do século XVI, possivelmente em 1507 ou 1508, foi projetada como uma estrutura de proteção para a localidade abaixo, bem no final do domínio de Veneza; seu valor militar foi destruído pelo exército francês no século XVIII: atacada em 1703, durante a Guerra da Sucessão Espanhola, pelas tropas francesas, lideradas pelo general Vendôme, que minaram o corpo central, tornando a fortaleza inutilizável; suas ruínas agora servem como museu e restaurante com vista panorâmica.
Visitamos o local utilizando um elevador panorâmico inclinado, que liga o centro histórico de Riva del Garda ao Bastião Veneziano em apenas dois minutos (partida da Via Monte Oro).

Bastione di Riva del Garda; destaque para o brasão do príncipe-bispo de Trento, Giorgio Neideck, que foi colocado no Bastião após a derrota veneziana, ocorrida em 1509. Encosta do Monte Rocchetta, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Ruínas do corpo central do Bastião; bela vista do Lago di Garda. Encosta do Monte Rocchetta, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Alturas do Monte Rocchetta vistas a partir das ruínas do Bastione. Encosta do Monte Rocchetta, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

A Piazza Tre Novembre e a Torre Apponale vistas a partir do Bastião. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
Em seguida, fizemos um passeio nas ruas mais próximas do lago, onde nos deparamos com imponentes prédios de hotéis, provavelmente construídos durante a Belle Époque, ou seja, no final do século XIX, para atender ao turismo aristocrático e burguês germânicos, bem como visitamos os belos jardins que margeiam o hipnótico lago.

Grand Hotel Liberty, prédio do início do século XX, em estilo liberty (versão italiana do art nouveau), Viale Giosuè Carducci, 3/5, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Passeio frente à Rocca, a partir do qual se observam belos canteiros de flores; ao fundo, o prédio do Grand Hotel Riva (4 estrelas), provavelmente erguido na década de 1870. Piazza Garibaldi, 10, Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Giardini all'Italiana di Punta Lido; em destaque, os coloridos canteiros de flores; ao fundo, o prédio da Plenaria (auditório) do Riva del Garda Centro Congressi. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.

Giardini all'Italiana di Punta Lido; à esquerda, a cobertura do restaurante e do terraço do Hotel Lido Palace (1899 - cinco estrelas); à direita, o Bar Gelateria Punta Lido. Riva del Garda, Província de Trento, Região de Trentino-Alto Adige, Itália.
A próxima parada é Malcesine, também às margens do Lago di Garda, já na Região de Vêneto.
2 - Malcesine
Os primeiros dados históricos podem ser encontrados por volta de 500 a.C. e referem-se a assentamentos fixos e organizados de populações de origem etrusca e outros grupos mais ou menos sedentárias, que posteriormente foram incorporados, após 15 a.C., ao domínio de Roma.
Após as invasões bárbaras do Império Romano do Ocidente, a região foi conquistada pelos lombardos, uma tribo germânica; os lombardos, subordinados ao rei Alboíno, foram, provavelmente, os primeiros construtores do castelo original, erguido sobre a famosa rocha sobranceira ao lago, porém, este foi destruído pela primeira vez, por volta de 585 ou 590, pelas tropas do Childeberto II, rei dos francos, aliado, na ocasião, do Império Bizantino, enviado para vingar a afronta que Autário, rei dos lombardos, lhe fizera ao casar-se com Teodolinda, que lhe havia sido prometida.
O castelo foi reconstruído no final do século VIII, quando, após a derrota definitiva dos lombardos pelos francos, Malcesine passou para o poder de Carlos Magno, rei do francos e, posteriormente, o primeiro imperador do Sacro Império Romano-Germânico; mais tarde, para fazer frente às invasões bárbaras dos húngaros, foram erguidas grandes muralhas para defender a vila, construída em torno do castelo, sendo necessária a instalação de portas: Porta Orientale é talvez a mais conhecida.
No período feudal, por volta de 1145, Malcesine passou a fazer parte do senhorio do bispo de Verona, adquirindo uma certa independência como município e o direito de cunhar também o seu próprio dinheiro; seguiram-se, no poder, os senhores Della Scala de Verona, e, em 1277, Alberto della Scala, talvez mais como demonstração de força e domínio do que para verdadeiros fins militares, remodelou e restaurou o castelo com particular cuidado, passando, a partir daí, a ser conhecido como Castello Scaligero.
Em 1351, Carlos IV da Boêmia, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, concedeu a Mastino II della Scala a Capitania do Lago com o direito de nomear tutores e oficiais e, também, de revogá-los; este é o início da Federação Gardesana e da Capitania do Lago (Gardesana dell'Acqua) que durará até a criação da República Italiana, em 1802, controlada pelos franceses.
Gardesana dell'Acqua era uma federação de 10 municípios, localizados no entorno do lago, com grande autonomia; durante os 450 anos de sua existência, foi várias vezes palco de batalhas: a mais famosa foi a batalha entre Veneza e os Visconti de Milão, com o transporte das galeras venezianas do rio Ádige ao Lago di Garda.
Em 1387, os Visconti de Milão assumiram o domínio do país dos Scaligeri; depois foi a vez de Veneza, em 1405; em 1508, quando a Liga de Cambrai atacou Veneza, Malcesine caiu sob o domínio do Maximiliano I de Habsburgo, arquiduque da Áustria e imperador do Sacro Império Romano-Germânico, ficando com os austríacos até 1516; depois, novamente sob o poder de Veneza; porém as guerras travadas por Napoleão em 1796 contra a Áustria para expulsá-la da Lombardia e da Itália trouxeram primeiro tropas austríacas e depois francesas para Malcesine; a esta altura o domínio da Veneza deixou de existir, mas a estrutura administrativa do Município e da Gardesana dell'Acqua permaneceu intacta, tanto com os franceses como com os austríacos, que assumiram em 1798; em 18 de fevereiro de 1801, na sequência da Paz de Luneville, foi criada a República Cisalpina, à qual Malcesine também foi anexada; quando a República Italiana foi formada em 1802, a Gardesana dell'Acqua foi suprimida; após a queda de Napoleão, Malcesine tornou-se parte do Reino da Lombardia-Vêneto, criado em 1815, controlado pelo Império Austríaco; permaneceu sob domínio austríaco até ser unida ao Reino da Itália em 1866.

Malcesine vista a partir do alto do Monte Baldo; em destaque, centro, mais à esquerda, sobre a rocha à margem do Lago di Garda, o Castello Scaligero. Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
A maior atração da cidade, junto com o Monte Baldo, é o Castello Scaligero.
De acordo com alguns estudiosos, a Rocca di Malcesine (Forte) remonta aos últimos séculos do primeiro milênio a.C., mas dados mais confiáveis indicam que um castelo foi construído pelos lombardos, em meados do primeiro milênio d.C.
Este castelo foi destruído pelos francos, por volta de 590, e reconstruído por eles próprios, no final do século VIII, tendo hospedado, em 806, Pepino, rei da Itália, terceiro filho de Carlos Magno, quando este veio a Malcesine para visitar os Santos Benigno e Caro, dois eremitas agostinianos que viviam numa gruta a 800 metros acima do nível do mar, nas encostas do Monte Baldo; após as invasões dos húngaros, passou a fazer parte dos feudos episcopais veroneses.
Em 1277 passou a ser domínio de Alberto della Scala e permaneceu sob a família até 1387; intervenções que remontam a esse período deram origem ao nome atual: "Castello Scaligero"; os Visconti de Milão ocuparam-no de 1387 a 1403; a República de Veneza incorporou-o em 1405, o Sacro Império Romano-Germânico reconquistou-o em 1508, tendo sido retomado pela Sereníssima em 1516, ficando em seu poder até 1797; depois passou para as mãos dos franceses, comandados por Napoleão; Em 1798, os franceses foram substituídos pelos austríacos, que realizaram importantes obras de consolidação no interior do castelo e aí permaneceram até 1866; a partir desse ano seguiu-se o destino do Vêneto, incorporado ao novel Reino da Itália; em 22 de agosto de 1902, foi declarado monumento nacional.
Hoje, abriga dois museus de história natural.

Castello Scaligero, aspecto atual provavelmente resultado das intervenções da família Della Scala, nos séculos XIII e XIV. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Castello Scaligero erguido sobre a rocha, à beira do Lago di Garda. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
Ingressamos na Via Borre em direção ao Porto Vecchio de Malcesine.

Via Borre, na altura do n. 11; ao fundo, a porta que dá acesso ao Porto Vecchio. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
O pequeno porto de pesca Porto Vecchio, na praça Piazza Magenta, era o antigo centro da cidade de Malcesine; hoje, apenas pequenos barcos de pescadores partem de lá.

O Lago di Garda a partir do Porto Vecchio. Piazza Magenta, Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Caixa postal do Regie Poste (Correio Real); no centro da caixa, o brasão do Reino da Itália. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
Uma pausa para degustar um deliciosa pizza de Vêneto.

Pizzas de vários recheios no balcão. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
Outra grande atração de Malcesine é o Monte Baldo.
O Monte Baldo é o relevo mais ocidental dos Pré-Alpes de Vêneto; com 37 km de comprimento e 11 km, em média, de largura, orientado na direção nor-nordeste e sul-sudoeste, de acordo com o alinhamento paralelo àquele da Val Lagarina (Vale do Ágide) e da fossa teutônica benacense (Lago di Garda); localizado respectivamente a leste e a oeste deste ponto, a uma altitude de 1720 metros, cujo nome exato é Bocca Tredes Pin e não Tratto Spino como é comumente chamado.
Alcança-se a elevação por meio do teleférico da Funivia Malcesine Monte Baldo, iniciando na estação de partida, localizada na via Navene Vecchia, 12, e chegando na terceira estação, nas alturas do Monte Baldo, na região de Tratto Spino.
No alto, há vários tipos de atividades, durante as estações primavera, verão e outono: trekking, caminhada nórdica ou, simplesmente, um passeio tranquilo pelas trilhas com vegetação rateira; mountain bike; parapente; durante o inverno, esqui, snowboard ou caminhadas com raquetes de neve.
Nós fomos apenas para apreciar as belas vistas do Lago di Garda.

Cabine do teleférico na estação inicial da Funivia Malcesine Monte Baldo. Via Navene Vecchia, 12, Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Vista dos cabos que transportam a cabine do teleférico até a estação intermediária; em seguida, os cabos, em direção à direita, que a levam à terceira estação, nas alturas do Monte Baldo. Funivia Malcesine Monte Baldo, Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Lago di Garda visto do alto do Monte Baldo. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Vista do Lago di Garda a partir do alto do Monte Baldo; na mesma margem do lago, vê-se a mancha urbana de Malcesine.

Vista do Lago di Garda a partir do alto do Monte Baldo; na outra margem do lago, vê-se Limone sul Garda, pertencente à Província de Bréscia, Região da Lombardia, e, ao fundo, as alturas do Monte Traversole. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Diversas trilhas empregadas pelos trekkeiros no alto do Monte Baldo. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Um lanchinho no Restaurante e Bar Baita dei Forti, ao lado da terceira estação da Funivia Malcesine Monte Baldo, na região de Tratto Spino. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.

Descendo o Monte Baldo pelo teleférico da Funivia Malcesine Monte Baldo. Malcesine, Província de Verona, Região de Vêneto, Itália.
Próximo post, Gardione Riviera, Região da Lombardia, também às margens do Lago di Garda.
Fontes:
Wikipedia;
Guide: Fabuleuse Italie du Nord: Rome, Florence, Venise, pesquisa e redação de Louise Gaboury, direção de Claude Morneau, versão eletrônica, 2019, Guides de Voyage Ulysse, Québec, Canada.





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