Dachau e Munique - Parte I (Baviera) - Alemanha - 2010
- Roberto Caldas
- 4 de nov. de 2022
- 14 min de leitura

Parte mais à direita da fachada principal da Neues Rathaus (Nova Prefeitura de Munique), estilo neogótico. Marienplatz, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
1 - Dachau
Saindo de Regensburg para Dachau, também na Baviera, passamos por campos de lúpulos, utilizados na produção da cerveja, dando-lhe o amargor e o aroma característicos.

Plantações de lúpulos, na viagem de Regensburg para Dachau, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Dachau é uma simpática cidade, tendo como atração histórica o Schloss Dachau, construído no século XVIII, residência de verão da Casa dos Wittelsbach, que governou a Baviera de 1180 a 1918, tornando-se família real com a criação do Reino da Baviera em 1806, com a dissolução do Sacro Império Romano-Germânico.
Mas, infelizmente, a maior atração local é o Konzentrationslager Dachau ou KZ Dachau (Campo de Concentração de Dachau), o primeiro campo de concentração importante no regime nazista, aberto em 22 de março de 1933, tendo ficado ativo até 29 de abril de 1945, com a chegada do exército norte-americano.
Sob o pretexto de segregar pessoas malquistas pelo regime com o fim de controlar seus passos e realizar trabalhos forçados, contribuindo, posteriormente, com o esforço de guerra, foram criados os campos de concentração nazistas, mas que, na verdade, serviram como local de aprisionamento de "inimigos" do nazismo para, também, maltratá-los, alquebrar suas opiniões e reações e, até mesmo, sua vontade de viver, por meio de condições de vida extremamente duras: frio, calor, desnutrição, falta de higiene, trabalhos extenuantes, sevícias, doenças e discórdia entre os prisioneiros.
O Campo de Concentração de Dachau, erguido no lugar onde funcionara anteriormente uma fábrica de munições, recebeu inicialmente opositores políticos ao regime nazista, principalmente comunistas, mas, logo em seguida, judeus da Baviera, prisioneiros de guerra soviéticos, homossexuais e ciganos.
Sobre a porta de entrada do campo a inscrição motivadora Arbeit macht frei (em tradução livre, "o trabalho liberta"); no interior, um grande pavilhão que se poderia chamar "de comando", repartido em várias dependências, nas quais os prisioneiros eram recepcionados, passavam por uma triagem, deixavam seus pertences pessoais e roupas, recebiam os uniformes do campo, normalmente duas peças com listras azuis e cinzas, com um triângulo costurado na peça superior com cores para identificação (amarelo - judeu; vermelho - dissidentes políticos; roxo - objetores de consciência (motivos religiosos); castanho - ciganos, etc.), e, posteriormente, eram distribuídos entre os 34 (trinta e quatro) alojamentos, mobiliados com beliches de madeira.
Apesar de cada alojamento ter sido erguido para abrigar 208 prisioneiros, alguns acolhiam aproximadamente 1.600. O campo principal, que hoje é um memorial, chegou a ter, ao mesmo tempo, cerca de 10.000 detentos, mas, com a ativação de vários campos-satélites, o complexo de Dachau alcançou uma ocupação superior a 30.000 prisioneiros. Calcula-se que. durante seu funcionamento, de 1933 a 1945, cerca de 41.500 pessoas perderam a vida no Campo de Concentração de Dachau.
Cabe observar que ao redor do perímetro do campo, próximo à cerca e entre esta e o muro externo, havia uma faixa coberta de brita branca, e, caso algum prisioneiro tentasse empreender fuga à noite, a cor da faixa contrastava com o corpo mais escuro do fugitivo, facilitando a sua localização e execução pela sentinela, normalmente, agente da Schutzstaffel - SS.
Com a aplicação do que se conhece como Endlösung (Solução Final da Questão Judaica) pelo regime nazista, a partir de 1941, milhares de segregados morreram em razão das más condições em que viviam no lugar, ou fuzilados por agentes da SS, e outros foram transferidos para unidades diversas, onde pereceram nas câmaras de gás.
A partir de 1942, médicos da SS, comandados pelo cirurgião Sigmund Rascher, selecionaram prisioneiros para experimentos cruéis no Campo de Concentração de Dachau, como testes em uma câmara de baixa pressão, para determinar em que altitude a tripulação de um avião poderia sobreviver sem oxigênio, e pesquisas com hipotermia, para entender os efeitos do frio no corpo humano, dentre outros, que levaram à morte mais de uma centena de prisioneiros.
Quando os americanos chegaram ao campo, no final da guerra, encontraram alguns detentos que os alemães não conseguiram evacuar, a maioria deles esquelética.
Hoje, o local abriga o KZ-Gedenkstätte Dachau (Memorial do Campo de Concentração de Dachau), no qual foram mantidos o Prédio de Serviços ou de Administração (Pavilhão de Comando), e reconstruídos os 2 alojamentos da primeira linha; as bases dos outros 32 alojamentos estão sinalizadas no solo por retângulos formados por linhas de alvenaria.

Konzentrationslager Dachau (antigo Campo de Concentração de Dachau), 1933 - Prédio da Administração (Pavilhão de Comando). Alte Römerstrasse 75, Dachau, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Entre o Prédio da Administração e a primeira linha de alojamentos foi inaugurado, em 8 de setembro de 1968, o Memorial Internacional de Nandor Glid, tendo no seu centro a escultura batizada de "Esqueletos em Arame Farpado", em memória ao sofrimento e à morte dos prisioneiros. O escultor era um judeu, nascido na antiga Iugoslávia (em região localizada atualmente na Sérvia), e fora perseguido pelos nacional-socialistas em sua terra natal.

"Esqueletos em Arame Farpado", Monumento ou Memorial Internacional, obra do escultor judeu iugoslavo Nandor Glid, representando seis pessoas extremamente magras e com seus corpos contorcidos no arame farpado. Konzentrationslager Dachau (Campo de Concentração de Dachau), Dachau, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na parte exterior do campo, no interior de um prédio conhecido como Baracke X, encontra-se uma câmara de gás, constituída de uma antessala para que os prisioneiros se despissem, a câmara de gás em si, onde eles pereciam após inalarem gás mortífero, e uma sala para acolhimento dos cadáveres, dos quais eram extraídos, eventualmente, dentes de ouro.
Não há certeza se a referida instalação foi empregada para o extermínio massivo de prisioneiros, particularmente judeus; acredita-se que, com base em carta encaminhada pelo médico Rascher ao chefe da SS Heinrich Himmler, serviu para realizar experimentos com prisioneiros utilizando gases de combate.
Tem-se, também, no mesmo prédio, o crematório, com 4 câmaras, onde os corpos dos mortos eram queimados.

Câmara de Gás, instalada no interior do prédio conhecido como Baracke X, provavelmente empregada para experimentos com gases de combate, utilizando alguns prisioneiros do campo como cobaias, que, normalmente, morriam durante a experiência. KZ-Gedenkstätte Dachau (Memorial do Campo de Concentração de Dachau), Dachau, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Em razão do mal que ocorreu no local, a Igreja Católica, como forma de purificar espiritualmente o lugar, fundou em 1964, por iniciativa da Madre Maria Teresa, prioresa do convento carmelita de Pützchen/Bonn, e pelo esforço de Dom Johannes Neuhäusler, bispo-auxiliar do Arcebispado de Munique e Freising, que fora prisioneiro em Dachau, o Karmel Heilig Blut (Carmelo do Precioso Sangue ou do Sangue Sagrado). O convento, que fica na parte posterior do campo de concentração, é administrado por religiosas contemplativas (que não têm contato com o mundo exterior) da congregação das Irmãs Descalças da Ordem da Santíssima Virgem Maria do Monte Carmelo
No interior do próprio Memorial do Campo de Concentração foram inauguradas a Katholische Totenangst-Christi-Kapelle (Capela Católica Agonia de Cristo), em 1960; a Evangelische Versöhnungskirche (Igreja Evangélica da Reconciliação), em 1967; também no mesmo ano, o Jüdischen Gedenkstätte (Memorial Judaico); e, em 1995, a Russisch-orthodoxe Kapelle (Capela Ortodox QZ\Z C a Russa), provavelmente em homenagem aos prisioneiros que professavam essas religiões.
Após essa tétrica visita, partimos para Munique, capital do Estado Livre da Baviera.
2 - Munique I
Munique é a maior cidade do Estado Livre da Baviera e sua capital, tendo cerca de 1.500.000 habitantes.
A primeira referência histórica feita à cidade como forum apud Munichen foi em um documento de 1158 intitulado Arbitragem de Augsburg, expedido pelo imperador do Sacro Império Romano-Germânico Frederico I, o Barba-ruiva, concedendo ao duque Henrique, o Leão, duque da Saxônia e da Baviera, direito de operar uma ponte sobre o rio Isar, em uma disputa contra o bispo Oto I, de Freising.
A cidade tornou-se sede do Ducado da Baviera em 1255, tendo sido residência real de 1314 a 1328 e daí até 1347, residência imperial.
Em 1506, Munique passou a ser a única capital da Baviera.
Na arquitetura, a cidade se destaca por prédios em estilo barroco e rococó que rivalizam com os existentes na Itália e França. Já no século XIX, o desenvolvimento da cidade passou a empregar linhas neoclássicas, valendo-lhe o apelido de "Atenas do rio Isar".
A arte sempre foi e é bem acolhida em Munique; no final do século XIX, foi erguida a Academia de Belas-Artes, que se destacava entre as melhores escolas de arte da Europa; também a cidade oferece muitas opções entre teatros, óperas e museus.
Aqui também é que ocorre a maior festa folclórica da Alemanha, desde 1818; a conhecidíssima Oktoberfest, com apresentação de desfiles, músicas, parques de diversões, além da degustação de Sauerkraut (chucrute) com salsichas, tudo acompanhado com as cervejas locais.
A Munique moderna é sede de várias corporações empresariais, dentre elas seis DAX (rol das 30 companhias abertas de melhor performance financeira da Alemanha): Allianz, BMW, Munich Re, Siemens, MTU e Siemens Energy.
Na entrada da cidade, nos deparamos com o estádio de futebol Allianz Arena, o oficial do famosíssimo - e potência mundial na modalidade - Bayern de Munique. Inaugurado em 2005, é fruto do projeto do escritório suíço Herzog & de Meuron.

Allianz Arena, a Casa do Fußball-Club Bayern München (Bayern de Munique), localizada no distrito de Fröttmaning. Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A sede da famosa fabricante de automóveis BMW (Bayerische Motoren Werke AG - Fábrica de Motores da Baviera) fica em Munique, onde funciona também um museu da marca, o BMW Welt (Mundo BMW).

Prédio com propaganda da BMW, à esquerda: Freude am Fahren (Prazer em dirigir); e outro, à direita, com propaganda da Cervejaria Franziskaner. Studentenstadt, Ungererstrasse, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
O portão oriental da cidade velha de Munique, o Isartor, foi erguido entre 1285 e 1347 por determinação do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Luís IV, o Bávaro, quando se promoveu uma grande expansão da cidade.
Entre 1833 e 1835, o portão foi restaurado por Friedrich von Gärtner, que o colocou nas dimensões e na aparência originais; no final, em 1835, foram realizados os afrescos por Bernhard von Neher, retratando o retorno vitorioso do imperador Luís IV, o Bávaro, após a Batalha de Ampfing ou de Mühldorf, em 1322.
Um fato curioso é que os relógios da torre principal giram no sentido anti-horário.

Isartor (Portão de Isar), com os afrescos representando a procissão triunfal do imperador Luís IV, o Bávaro, depois da batalha de Ampfing. Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A Neues Rathaus (Nova Prefeitura de Munique), localizada na principal praça da cidade, Marienplatz, foi erguida em três fases, entre 1867 e 1905, com projeto do arquiteto Georg von Hauberrisser, para substituir a antiga, que, em razão de seu pequeno tamanho, já não comportava a estrutura burocrática da administração municipal.
Optou-se pelo estilo neogótico, tão popular na época, e, diz-se, o edifício foi inspirado no da Prefeitura de Bruxelas, Bélgica.
A fachada do edifício é impressionante: são quase cem metros de comprimento e nela estão representados, entre outras figuras, desde o suposto fundador da cidade, o duque Henrique, o Leão, até o último representante da família governante da Baviera, Wittelsbach, sendo considerada a mais extensa exposição de príncipes de uma prefeitura alemã.
Diferentemente da maioria dos edifícios góticos, sua fachada não é feita de pedra natural maciça, mas de tijolos com revestimento de pedra.
Mais de 600 servidores municipais trabalham nas cerca de 400 dependências do prédio monumental.
A sacada da prefeitura é o local escolhido pela equipe do Bayern de Munique para comemorar sua importantes vitórias no futebol, acompanhada por seus torcedores, que se reúnem na frente da fachada, na praça Marienplatz.

Parte mais à esquerda da fachada principal da Neues Rathaus, na qual podem ser observadas algumas imagens representando governantes do ducado e depois reino da Baviera. Marienplatz, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na torre da Neues Rathaus de Munique, que alcança 85 metros de altura, está instalado o Glockenspiel, um carrilhão que pontualmente, às 11h e 12h, mostra dois eventos da história da cidade: 1) na engrenagem superior, o casamento do duque Guilherme V da Baviera com Renate von Lorraine, em fevereiro de 1568; na ocasião, foi realizado um torneio de cavaleiros, na Marienplatz, no qual o cavaleiro bávaro venceu o seu oponente de Lorraine; 2) na inferior, é representada uma dança de tanoeiros (fabricantes de barris), em 1517, comemorando o fim de uma peste que assolou a cidade.

Parte mais à direita da fachada principal da Neues Rathaus, onde se vê o Glockenspiel, instalado na torre, onde são representados dois eventos significativos para a capital bávara: o casamento do duque Guilherme V (engrenagem superior) e a dança dos tanoeiros comemorando o fim de uma peste (inferior). Marienplatz, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
A Münchner Dom (Catedral de Munique) ou Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora) tem sua origem, por influência da família governante Wittelsbach, com a instalação da terceira paróquia da cidade, na parte noroeste, e a construção nessa área, em 1271, da Igreja de Nossa Senhora, em forma de basílica românica tardia, já com duas torres de frente, que foi ampliada no início do século XIV para incluir um espaço maior para o coro.
Danificada pelo tempo, em 1468, foi iniciada sua reconstrução, sob a direção do "Mestre Jörg, pedreiro de Halspach", agora em estilo gótico tardio, mas as cúpulas das torres (cúpulas de cebola, estilo oriental), inspiradas no edifício islâmico Cúpula da Rocha ou Domo da Rocha, em Jerusalém, somente foram concluídas em 1525, após a morte de Jörg von Halspach, em razão da Guerra de Sucessão de Landshut, ocorrida entre dois ramos da família governante Wittelsbach.
Praticamente destruída durante a Segunda Guerra Mundial, restando somente ruínas em 1945, ela foi reconstruída primorosamente aos longo dos anos posteriores, até 1994, com a criação de novas estruturas para os retábulos, reinterpretando de forma lúdica o esquema básico dos altares barrocos.

A Münchner Dom (Catedral de Munique) ou Frauenkirche (Igreja de Nossa Senhora), templo católico, estilo externo gótico tardio, com suas tradicionais cúpulas de cebola de inspiração oriental, no alto das torres de quase 100 metros de altura. Frauenplatz, 1, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Em 4 de maio de 1294, na Neuhauser Gasse, foi posta a primeira pedra do mosteiro agostiniano. Em 1328, está documentado que naquele tempo o mosteiro já tinha uma fábrica de cerveja; portanto, a Augustiner Brauerei é a mais antiga cervejaria de Munique.
Em 1803, o mosteiro foi dissolvido, no curso da secularização ocorrida na Baviera, e os prédios conventuais foram profanados. A cervejaria foi privatizada e transferida para Neuhauser Strasse em 1817.
Em 1857, outra instalação foi adquirida em Landsberger Strasse, tendo a produção da cerveja sido transferida para o novo local, ficando na Neuhauser Strasse um restaurante patrocinado pela cervejaria.
De 1896 a 1897, sob a direção do arquiteto Emanuel von Seidl, foi construído no local um complexo composto por uma nova cervejaria e uma pousada, que ficou famoso com os nomes "Zum Augustiner" e "Augustiner Großgaststätten".
Hoje, no local, funciona o Augustiner Stammahaus, um restaurante de comida típica alemã que também serve as famosas cervejas fabricadas pela Augustiner Bräu. Na sua fachada, ainda está impresso Augustiner Bräu Ausschank, fazendo referência à pousada.

No salão da cervejaria (Beer Hall) do restaurante Augustiner Stammahaus, na companhia de um colega de excursão; sobre nossas cabeças, a Schäfflerwagenkranz, uma luminária de teto com figuras históricas, representando os tanoeiros que realizaram uma dança em 1517, para passar uma mensagem positiva aos outros habitantes de Munique, após o término de uma peste que assolou a cidade. Neuhauser Strasse, 27, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

No salão da cervejaria (Beer Hall) do restaurante Augustiner Stammahaus, degustando o Prato de Embutidos "Augustiner" (Augustiner Wurstplatte), composto por uma salsicha vienense, uma de porco e uma de Regensburg, purê de batatas e chucrute, tudo acompanhado da cerveja Augustiner Edelstoff. Neuhauser Strasse, 27, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Quase em frente ao restaurante Augustiner Stammahaus, na Neuhauser Strasse, encontramos a Bürgersaal, também conhecida como Bürgersaalkirche, a sala de oração e de reunião da Marianische Männerkongregation (Congregação Mariana dos Homens Nossa Senhora da Anunciação), uma das congregações marianas masculinas espalhadas pelo mundo.
Em 1563, o sacerdote jesuíta Jean Leunis fundou a Congregatio Mariana em Roma, composta por alunos do Collegio Romano. A Mãe de Deus Maria foi escolhida como seu modelo de santidade e tornou-se sua padroeira, e a festa da Anunciação como o dia de honrá-la. Seguindo esse padrão, comunidades de estudantes foram surgindo nos locais onde existiam instituições da Ordem dos Jesuítas, em toda a Europa, como em Paris, em 1567, e em Viena, em 1573. Em 1584, o Papa Gregório XIII reconheceu a Congregação Mariana do Collegio Romano como uma "comunidade eclesiástica leiga" e a elevou à "mãe e chefe" de todas as congregações marianas masculinas.
A Congregação Mariana foi fundada na cidade de Munique em 6 de junho de 1610, e, após funcionar em um lugar pequeno, foi providenciada a construção de uma sala de oração e reunião maior, a Bürgersaal, em 1709/10, por ocasião do seu centenário, de acordo com os planos do arquiteto Giovanni Antonio Viscardi, tendo como mestre de obras Johann Georg Etenhofer.
A Bürgersaal tem sua fachada barroca dividida em dois andares, correspondentes à cave ou cripta (igreja inferior) e ao piso superior (igreja superior).
Em 1948, os restos mortais do Beato Rupert Mayer, sacerdote jesuíta, que chefiou a congregação por 24 anos e atuou na resistência católica contra os nazistas, foram depositados em frente ao altar, na igreja inferior da Bürgersaal, sobre uma laje de mármore vermelha. A partir daí, esta sala tornou-se um local de peregrinação, onde muitos moradores de Munique lembram o trabalho do prefeito da Congregação Mariana para os Homens e pedem sua intercessão.

Bürgersaal, também conhecida como Bürgersaalkirche, inaugurada em 1710, estilo barroco, é a sala de oração e de reunião da Marianische Männerkongregation (Congregação Mariana dos Homens Nossa Senhora da Anunciação); em sua fachada está escrito em latim DIVI MATRI VIRGINI DEVOTI FILII DD.CC. MONAC. ANNO MDCCX ( Os senhores e cidadãos de Munique [ergueram] este edifício como filhos dedicados à Virgem Mãe de Deus em 1710 ). Neuhauser Strasse, 14, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Na sequência, nos encontramos com o Karlstor (Portão de Carlos), anteriormente conhecido como Neuhauser Tor, que fazia parte da muralha de Munique, que existia desde a Idade Média até o final do século XVIII.
A primeira menção que se faz do referido portão em documento é de 1302, ainda chamado Neuhauser Tor.
Era constituído, em uma primeira linha de muralha, de duas torres de flanco, e, na segunda, de uma torre principal, mais alta.
Em 1791, foram reconstruídas as torres laterais por ordem do conde Rumford, comandante do exército bávaro durante o reinado de Carlos Teodoro (em alemão, Karl Theodor), duque da Baviera a partir de 1777; assim, ainda em 1791, em homenagem ao duque, passou a chamar-se Karlstor.

Desenho do Karlstor datado de cerca de 1820. Unknown authorUnknown author, Public domain, via Wikimedia Commons
Em 1857, a pólvora armazenada na entrada da torre principal explodiu, danificando tanto a estrutura que houve necessidade de demoli-la.
Em 1861/62, Arnold Zenetti projetou o portão no estilo neogótico, com as duas torres laterais orientadas para o exterior e um arco de ligação.
À sua frente, encontra-se a Karlsplatz (Praça de Carlos) um dos pontos mais movimentados de Munique.

Karlstor (Portão de Carlos), cujo nome faz referência a Carlos Teodoro, duque da Baviera; visto a partir da Karlsplatz, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.

Karlstor (Portão de Carlos), cujo nome faz referência a Karl Theodor (Carlos Teodoro), duque da Baviera; visto a partir da Karlsplatz, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Fora do perímetro da velha muralha, nos deparamos com o Justizpalast (Palácio da Justiça), que foi construído, no estilo neobarroco, entre 1890 e 1897, com projeto do arquiteto Friedrich von Thiersch; no prédio funcionam o Ministério da Justiça da Baviera e a maioria das câmaras cíveis do Tribunal Distrital de Munique.
No átrio do palácio, encontra-se uma enorme cúpula de vidro, com cerca de 67 metros de altura.

Justizpalast (Palácio da Justiça), 1897, estilo neobarroco, sede do Ministério da Justiça da Baviera e da maioria das câmaras cíveis do Tribunal Distrital de Munique. Prielmayerstrasse, 7, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Voltando ao centro histórico da cidade, podemos ver o imponente edifício Zum Schönen Turm, projetado pelos arquitetos Eugen Hönig e Karl Söldner, no estilo "tipicamente de Munique", uma mistura de elementos do Renascimento com formas locais tradicionais, que foi inaugurado em 1914, sendo originalmente propriedade da empresa de comércio têxtil Bamberger & Heart, cujos donos eram judeus.
Com a perseguição aos judeus engendrada pelo regime nazista, a partir de 1933, os irmãos Ludwig e Gustav Bamberger foram deportados para um campo de concentração, em 1938, do qual não saíram vivos, sendo que no mesmo ano, o prédio foi assumido pelo empresário Johannes Hirmer.
Após o final da Segunda Guerra Mundial, o negócio foi devolvido, em 1949, ao único irmão sobrevivente, Siegfried Bamberger, mas, como este não queria retornar a Munique, vendeu às ações à família Hirmer, em 1951, tendo o prédio sido reaberto em 1962, já como Hirmer-Haus, que faz parte de uma rede de lojas de moda masculina

O prédio da Hirmer-Haus, antigo Zum Schönen Turm, terminado em 1914, estilo "tipicamente de Munique", hoje ocupado pela grupo Hirmer, que é dono de uma rede de lojas de roupas masculinas. Kaufingerstrsse, 28, Munique, região da Alta Baviera, Estado Livre da Baviera, Alemanha.
Continuamos no próximo post Munique - Parte II, visitando o Museu Alemão de Caça e Pesca.
Fontes:
Wikipedia;
"Alemanha", Guia Visual, PubliFolha, São Paulo, SP, 7ª edição, 2012; 1ª reimpressão: 2013.
"Frommer's Alemanha Dia a Dia", por George McDonald e Donal Olson, Alta Books, Rio de Janeiro, RJ, 1ª edição, 2014.
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