top of page

Bogotá - Parte I - Colômbia - 2011

  • Foto do escritor: Roberto Caldas
    Roberto Caldas
  • 24 de mai. de 2023
  • 17 min de leitura

Atualizado: 26 de mai. de 2023


ree

Catedral Primada (estilo neoclássico, 1823), Casa Capitular (três andares, 1630), Capilla del Sagrario (portal colonial, 1700) e Palacio Arzobispal (estilo neoclássico, 1959). Plaza de Bolívar, carrera 7, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


A Colômbia, ao contrário de outras regiões do continente americano, nas quais houve domínio de grandes impérios pré-colombianos, como asteca e inca, foi ocupada por pequenos grupos de povos, como os taironas (que se encontravam em áreas que correspondem atualmente aos departamentos colombianos de Magdalena, Guajira e Cesar) e os muíscas (atualmente departamentos colombianos de Cundinamarca e Boyacá), que se caracterizaram pela elaboração de peças da mais fina ourivesaria.


E foram essas peças em ouro que atraíram a ambição dos europeus. Os espanhóis, sob o comando de Alonso de Ojeda, ao chegarem na costa caribenha da Colômbia, no Cabo de la Vela, em 1499, observaram com grande interesse a incrível "riqueza" da população indígena local e logo escutaram histórias sobre uma cidade de ouro em algum lugar no interior do continente, as quais inspiraram a lenda de "El Dorado".


Após algumas tentativas de criar assentamentos nos primeiros anos do século XVI, mas que duraram pouco tempo, os espanhóis, capitaneados por Rodrigo de Bastidas, fundaram em 1525 Santa Marta, a segunda cidade mais antiga da América do Sul, servindo esta como base para a conquista do resto do território.


Cartagena de Indias foi fundada por Pedro Heredia, em 1533, se convertendo no principal centro comercial da história colombiana. A partir daí, os espanhóis procuraram incessantemente por "El Dorado", até se depararem com os muíscas, que jogavam ritualmente oferendas de ouro nas águas da lagoa Gautavita.


Duas expedições independentes se dirigiram ao interior: Gonzalo Jiménez de Quesada partiu da zona costeira, conseguindo estabelecer controle sobre as regiões que atravessou até fundar Santafé de Bogotá, em 1538; Belalcázar saiu do atual Equador, também conseguindo dominar as regiões pelas quais passou, porém chegando em Santafé depois de seu concorrente, o que gerou uma batalha política, resolvida em 1540, por Carlos I, rei da Espanha (Carlos V, imperador do Sacro Império Romano-Germânico, dinastia Habsburgo), o qual deu ganho de causa a Belalcázar, ficando o território subordinado a Real Audiencia de Santo Domingo.


Mas essa solução administrativa não se mostrou eficiente, em razão das grandes distâncias e a geografia montanhosa, resultando em dificuldades para que o poder centralizado em Santo Domingo (atual capital da República Dominicana) conseguisse gerir a região. Por isso, em 1549, foi estabelecida a Real Audiencia del Nuevo Reino de Granada, que, posteriormente, foi elevada, em 1717, no reinado de Felipe V (dinastia Bourbon), a Virreinato de Nueva Granada, abarcando aproximadamente os atuais territórios dos países Colômbia, Panamá, Equador e Venezuela.


Na época colonial, os habitantes locais - índios, negros, mestiços e criollos (descendentes de espanhóis e de outros europeus, nascidos na América, que normalmente eram ricos proprietários rurais, de minas e de comércios, mas não podiam ter participação na alta administração colonial) eram muito ressentidos com a exploração promovida pelo Reino da Espanha, que praticamente sugava toda a riqueza da região e a empregava na Europa; particularmente na Colômbia, não havia investimento público na educação e no desenvolvimento das manufaturas.


É o que se verifica no texto do escritor e poeta colombiano William Ospina:


"(...).


"Três séculos havia durado aqui a dominação espanhola. E se o primeiro foi de massacre e rapina, os dois seguintes se foram contando, em rosários solenes e ambientado em missas de galo, o contínuo saque dos recursos.


"O tesouro do norte permaneceu no norte; El Dorado, ao contrário, cruzava o oceano nos incansáveis galeões da casa de Áustria [Habsburgo], derivava para as mãos aneladas dos banqueiros alemães e genoveses, se trocava pelas manufaturas dos antecessores da indústria. A coroa britânica se interessou menos pelas riquezas de suas próprias colônias que pelo butim dos galeões espanhóis, assim a epopeia, sob a asa do trono, dos piratas ingleses, saqueando os portos e os comboios de Tierra Firme, foi a versão barroca de um conto velho, o conto do ladrão que rouba ladrão. E assim também a luta pela liberdade da América foi para os ingleses uma suculenta oportunidade de novos negócios". (fls. 45/46, tradução livre do espanhol) - "En Busca de Bolívar", de William Ospina; Grupo Editorial Norma, Bogotá, 2010.

Tal situação que causava grande insatisfação entre os então "granadinos" também foi observada pelo historiador Andrés Olivos Lombana:


"(...) A Coroa espanhola considerava Nueva Granada como uma colônia de segunda classe. Em meados do século XVIII, a situação geral se caracterizava pelo atraso econômico, a deficiência administrativa e a estagnação na cultura e na educação (...).


"(...)


"A produção agrícola somente respondia ao consumo interno, por autoabastecimento intrarregional, e sem intercâmbio interregional (...).


"O intercâmbio com o interior de Nueva Granada era mínimo e, em algumas partes, inexistente. A economia se mantinha atada à monoexportação do ouro e a compra de mercadorias provenientes da metrópole.


"(...)


"Até meados do século XVIII era muito pouco o que havia feito a Coroa espanhola pela educação em Nueva Granada. Existiam em todo o território cerca de 18 colégios e 4 universidades (três delas na capital), em sua maioria por iniciativa e empenho das comunidades religiosas. Não existia universidade pública. Não havia colégio feminino". (tradução livre do espanhol - págs. 11-15) "Caldas: precursor del patriotismo científico", de Andrés Olivos Lombana, direção editorial: Alberto Ramírez Santos, Panamericana Editorial, Santafé de Bogotá, 1998.


Assim, a insatisfação dos locais com os dominadores espanhóis cada vez aumentava mais, porém não havia ainda uma situação amplamente favorável ao início do movimento pela libertação; esta surgiu com o fenômeno pessoal conhecido como o "Ogro da Córsega": Napoleão Bonaparte. Na esteira das guerras resultantes da eclosão da Revolução Francesa, Napoleão deu o golpe na república e, em 1804, foi sagrado "Imperador dos Franceses". Em seguida, passou a promover guerras de conquista, apossando-se, assim, do trono espanhol.

Como os franceses foram derrotados na Batalha Naval de Trafalgar, tendo, na ocasião, sua marinha praticamente exterminada, o novo rei espanhol, José Bonaparte, irmão de Napoleão, não tinha como projetar seu poder militar fora do velho continente; assim, os colonos sul-americanos viram uma ótima oportunidade para deflagrar seus movimentos de independência, como bem observou William Ospina:


"(...).


"Depois de tanto sangue, o laço que mantinha as colônias atadas ao poder espanhol era menos a força que o costume. Nem sequer os que padeciam com a dominação logravam conceber uma vida sem ela, e somente o ingresso daquela tempestade desmensurada que estava transtornando a ordem física e mental da Europa, Napoleão, produziu as rupturas necessárias para que um mundo despertasse da letargia dessa dominação de três séculos, e alguns chegassem a pensar que era possível criar nações e instaurar repúblicas sobre o barro ainda mole do Mundo Novo.


"(...)


"Ante a força da modernidade também o mundo ibérico cairia. Em novembro de 1807, Napoleão avançou sobre Portugal: a casa de Bragança teve que abandonar-se à clemência do mar. Um barco inglês permitiu ao imperador de Portugal instaurar seu trono nas matas da costa atlântica brasileira, e isso foi definitivo para a sorte do Brasil: por um breve tempo o corpo e a alma do império coincidiram em solo americano. Hoje não há festa nem empresa brasileira que não deva algo àquele acidente histórico.


"Outra foi a sorte da Espanha, e seus reis se tornaram reféns do novo amo do mundo. (...) aquele homem que haveria de transformar em reis seu irmãos, e foi por esse espírito que José Bonaparte terminou convertido em monarca da Espanha.


"O plano de Napoleão era apoderar-se também dos territórios da América, mas as colônias estavam fartas da dominação colonial, e quando souberam que o seu rei era prisioneiro dos franceses, optaram por assumir sua maioridade e declarar, de modo incruento, a independência em todo o continente. O primeiro movimento foi protagonizado pelas cidades do que pelos, ainda, indefinidos países. Caracas declarou sua independência em 19 de abril de 1810, e Bolívar, cuja casa era sede de muitas conspirações, deveria ter sido um dos signatários da Ata, mas a iniciativa havia sido dos rebeldes moderados, e Bolívar era visto como um radical nacionalista. Naquele dia se encontrava em sua fazenda, sob vigilância, e os fatos se consumaram na sua ausência. Os distintos cargos da nova administração estavam providos, e se [Bolívar] foi nomeado embaixador em Londres, com a missão de fazer o governo inglês reconhecer o território emancipado, acaso se deveu a que ele mesmo prometeu cobrir os gastos da viagem". (fls. 46/48, tradução livre do espanhol) - "En Busca de Bolívar", de William Ospina; Grupo Editorial Norma, Bogotá, 2010.


Mas a efetiva independência não se deu de maneira tão simples e incruenta como parecia inicialmente. Em 1814, após os espanhóis, com a ajuda dos ingleses, liderados pelo Duque de Wellington, expulsarem os franceses do território da Espanha, Fernando VII, da casa de Bourbon, retomou a coroa e, a partir daí, envidou todos os esforços para extinguir os movimentos independentistas coloniais, tendo enviado tropas reais expedicionárias, sob o comando do general e marinheiro Pablo Morillo y Morillo para pacificar e reconquistar Nueva Granada e Venezuela.


Morillo conseguiu várias vitórias sobre os rebeldes, tomando, em 1815, a importante cidade de Cartagena de Indias, e, em 1816, as tropas reais conquistaram Santafé de Bogotá. Morillo, então, impôs um regime de terror, determinando o fuzilamento ou enforcamento dos patriotas que ousaram implantar um regime republicano em Nueva Granada, dentre eles, Manuel María Carvajal, Antonio Villavicencio, José Maria Carbonell, Jorge Tadeo Lozano, Miguel de Pombo, Camilo Torres, Manuel Rodríguez Torices, Custodio García Rovira, Antonio Baraya, José Maria Cabal e Francisco José de Caldas.


Mas a Espanha não tinha mais capacidade para manter suas colônias sul-americanas, e, Nueva Granada obteve sua independência definitiva em 1819, após a Batalha de Boyacá, vencida pelo Ejército Libertador de la Nueva Granada, comandado por Simón Bolívar.


No entanto, o sonho da Gran Colombia, unindo os territórios dos distritos norte (Venezuela), centro (Nueva Granada) e sul (Quito) e acalentado por Bolívar, foi realidade apenas de 1821 a 1830, quando neste último ano foram criadas as Repúblicas do Equador e da Venezuela, passando o distrito central a chamar-se, a partir de 1832, República de la Nueva Granada.


Em 1863, o país passou a denominar-se Estados Unidos de Colombia, e, a partir de 1886, República de Colombia.


Em 2011, nós resolvemos conhecer duas cidades colombianas: Bogotá e Cartagena de Indias.


1 - Bogotá


Santafé de Bogotá foi fundada por Gonzalo Jiménez de Quesada, em 6 de agosto de 1538, provavelmente no local conhecido hoje como Plazoleta del Chorro de Quevedo, após conquistar dos índios muíscas a região da Sabana de Bogotá.


Em 1540, Carlos I, rei da Espanha (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico) concedeu a Santafé a categoria de cidade e, dez anos depois, ela adquiriu o título de capital, centralizando os poderes administrativos, judiciais e eclesiásticos da Real Audiencia del Nuevo Reino de Granada.


Com a criação do Virreinato de Nueva Granada, em 1717, a cidade permaneceu como capital e também moradia dos vice-reis.


Com a independência, em 1819, Santafé de Bogotá passou a ser a capital da Gran Colombia, até 1830, e, a partir de 1832, da República de la Nueva Granada, hoje, República de Colombia.


Atualmente adota apenas o nome Bogotá; é a terceira capital mais alta do mundo, ficando atrás apenas de La Paz (Bolívia) e Quito (Equador), estando 2.625 metros acima do nível do mar.


É uma cidade moderna e acolhedora, possuindo um razoável sistema de transporte, incluindo o TransMilenio, um BRT (Bus Rapid Transit), composto de estações e corredores nas vias públicas principais, em que os ônibus públicos se deslocam sem disputar com os demais veículos.


Também pode-se desfrutar de uma boa gastronomia regional e internacional, como os asados do grupo Andrés Carne de Res e espetáculos culturais de altíssimo nível.




ree

Croqui de Santafé de Bogotá, por volta de 1800; no mapa, pode-se observar o traçado urbano em tabuleiro de damas, próprio das colônias hispânicas; a cidade colonial encontrava-se em torno da Plaza Mayor (n. 1), onde estavam reunidos os poderes civil (sede da Real Audiencia) e religioso (n. 2 - Catedral), constituindo-se no centro das dinâmicas urbanas; o mapa também revela a importância do catolicismo, evidenciada pelo grande número de igrejas e conventos (sinalizados pela +) em relação ao tamanho da cidade. https://babel.banrepcultural.org/digital/collection/p17054coll13/id/713/


Começamos nosso passeio pela Iglesia de la Veracruz (n. 12 do croqui); sua fundação se deu no início de 1546, quando ainda não existiam a de São Francisco nem a da Ordem Terceira; sua forma original se manteve até 1631, quando a Hermandade de la Santa Veracruz, uma confraria formada pelos comerciantes locais, empreendeu a construção de um templo maior, o que existe até hoje.


La Veracruz é famosa por ser o lugar onde se encontram os restos mortais dos patriotas fuzilados por ordem do general Pablo Morillo: entre junho e novembro de 1816, cerca de 80 próceres da independência de Nueva Granada, fuzilados durante a reconquista promovida por Morillo, foram enterrados nessa igreja, em razão de a Hermandade de la Veracruz ser a responsável por assistir os condenados à morte e dar-lhes sepultura em sua cripta.


No início do século XX, foi declarada "Panteão Nacional".




ree

Lateral da Iglesia de la Veracruz , sobre a porta, vê-se uma inscrição em espanhol, que traduzida, assim diz: "Neste augusto recinto acharam descanso os despojos dos próceres sacrificados para dor e glória da República". Carrera 7, 15-98, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


Ao lado de la Veracruz, nos deparamos com a Iglesia de San Francisco (n. 11 do croqui), cuja construção possivelmente foi iniciada em 1557, tendo sido consagrada em 1566, pelo frei Juan de los Barrios.


Em 1785, a igreja foi bastante danificada por um terremoto. A torre de 1627 e a fachada principal tiveram que ser reconstruídas. Nesta última foram empregadas pedras de cantaria (rochas brutas talhadas), e foi ornamentada com quadro colunas dóricas, escudos emblemáticos e uma estátua de pedra de São Francisco no frontão.


Seu maior tesouro é o imenso retábulo do século XVII, instalado no altar-mor, recoberto com lâminas de ouro.


Uma curiosidade do templo é que nele se encontra a caveira do vice-rei José Manuel Solís Folch de Cardona, terceiro de Nueva Granada, que governou de 1753 a 1761, e, após terminar o seu mandato, se converteu em frei franciscano com o nome José de Jesús María.




ree

Iglesia de San Francisco, com sua fachada de pedra de cantaria, reconstruída no final do século XVIII, ornamentada com quatro colunas dóricas nas laterais da porta, escudos e a imagem de São Francisco em pedra no alto, no frontão. Avenida Jiménez com a carrera 7, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


Na sequência, passamos na Iglesia de Nuestra Señora de la Candelaria (n. 7 do croqui), mas conhecida como Iglesia de la Candelaria; sua construção foi iniciada em 1686, por iniciativa da Orden de Agustinos Recoletos, com consagração em 1703; ao lado, foi erguido o convento da referida ordem religiosa.


Em 1861, por determinação do governo colombiano, os bens eclesiásticos foram expropriados e vendidos em hasta pública, culminando na expulsão dos freis do conjunto sagrado no mesmo ano; o convento, depois, foi utilizado como quartel e escola de engenharia. Em 1896, o complexo retornou às mãos dos Agustinos Recoletos, que o administra até hoje.




ree

Iglesia y Convento de la Candelaria, administrados pela Orden de Agustinos Recoletos (Ordem dos Agostinianos Recolhidos). Calle 11 com carrera 4, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


Seguimos, então, para conhecer o belíssimo Museo Botero.


O espaço encontra-se no edifício do antigo Palacio Arzobispal, instalado em prédios comprados na primeira metade do século XVIII, contíguos à Casa de Moneda, por iniciativa do então arcebispo de Bogotá Antonio Claudio Álvarez de Quiñónes e praticamente reconstruídos pelo arcebispo Caballero y Góngora; mas, em 9 de abril de 1948, por conta do assassinato do líder liberal Jorge Eliécer Gaitán, houve uma série de levantes populares na cidade, conhecida como "Bogotazo", resultando em saques e destruição de imóveis, dentre eles o referido palácio; mas, na sequência, o Banco de la República en Colombia adquiriu o terreno e, com base em fotografias aéreas e imagens da fachada, reconstruiu a casa em duas etapas, concluindo-a em 1955; após o edifício ser utilizado para outras finalidades, recebeu, em novembro de 2000, o acervo de obras de arte doado pelo pintor e escultor colombiano Fernando Botero Angulo.


Fernando Botero é famoso internacionalmente pela representação de figuras rotundas, tendo por isso ganhado o reconhecimento de um estilo singular, chamado "boterismo".


Botero já foi citado neste blog, no post "Santiago, Parte II", quando falamos sobre sua escultura "El Caballo", que se encontra em frente ao Museo de Arte Contemporáneo, Parque Forestal Rubén Darío, Santiago, Región Metropolitana de Santiago, Chile.

O museu exibe as obras da coleção de arte do Banco de la República que foram doadas pelo mestre Botero, constituídas de 208 peças, 123 de sua autoria e 85 de destacados artistas internacionais, como Monet, Dalí, Picasso, Giacometti, dentre outros.




ree

Pátio interno do Museo Botero, sediado no antigo Palacio Arzobispal. Calle 11 n. 4-41, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

"Madre superiora", à esquerda, 1996, e "Naturaleza muerta con sandía", 1993, obras de autoria de Fernando Botero. Museo Botero, calle 11 n. 4-41, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

"Manos", 1998, de autoria de Fernando Botero. Museo Botero, calle 11 n. 4-41, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

"La Carta", 1976, de autoria de Fernando Botero. Museo Botero, calle 11 n. 4-41, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

Escultura "Mano izquierda", de autoria de Fernando Botero. Museo Botero, calle 11 n. 4-41, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


No mesmo complexo, em outra casona colonial, funciona o Museo Casa de Moneda, também administrado por la Red Cultural del Banco de la República en Colombia.


Em 1620, Felipe III, rei da Espanha, da dinastia Habsburgo, determinou ao engenheiro Alonso Turrilo de Yebra a fundação de uma casa da moeda em Santafé de Bogotá, com a finalidade de cunhar moedas de ouro, prata e cobre, e, para isso, Turrillo deveria construir uma casa para cunhagem, guarnecendo-a com todos os instrumentos e as ferramentas necessárias para seu funcionamento.


Quando Turrillo chegou a Nueva Granada, se instalou em uma das primeiras casas de Santafé, tendo iniciado em 1621 os trabalhos de cunhagem que lhe haviam sido encomendados e, desde então, aquela fábrica foi uma espécie de forja para a fabricação artesanal de moedas, com fornos para fundi-las e afiná-las.


Durante o reinado de Fernando VI, da dinastia Bourbon (1746-1759), o prédio foi ampliado, e a produção se mecanizou para fazer peças circulares de melhor qualidade; em 1756, o vice-rei Solís reinaugurou a casa, como ficou registrado na portada de pedra do edifício; todas as moedas colombianas, até 1987, foram manufaturadas nesta casa, quando a atividade foi transferida para a Fábrica de Moneda, localizada em Ibagué.


A partir de 1961, o prédio passou a abrigar o Museo Casa de Moneda, com a Coleção Numismática do Banco de la República, composta de variados conjuntos de moedas e cédulas que contam a história da moeda colombiana desde a colônia até o período republicano.




ree

Fachada do Museo Casa de Moneda. Calle 11, n. 4-93, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia. Bogotá.




ree

Pátio de passagem da Casa de Moneda para o Museo Botero. Calle 11, n. 4-93, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia. Bogotá.


Em seguida, fomos até a frente da casona conhecida como Casa Liévano.


A casa pertenceu ao general Pedro Alcántara Herrán, um aguerrido militar, diplomata e presidente da República de 1841 a 1845; na companhia do general Herrán, então ministro da Guerra, e da família dele, o generalíssimo Simón Bolívar, el Libertador, passou seus últimos dez dias em Bogotá, de onde saiu, em 8 de maio de 1830, em direção à costa colombiana para nunca mais voltar. Na ocasião, desiludido, doente e sem dinheiro, teve o consolo de receber a visita do vice-presidente Domingo Caycedo, do arcebispo Fernando Caycedo y Flórez e de outras personalidades da cidade; em seguida, despediu-se dos visitantes, montou a cavalo e, com sua comitiva, seguiu para a cidade de Facatativá.


O fato é relatado, de forma romanceada, no livro "General em seu Labirinto", de Gabriel García Márquez:


"(...) O general Pedro Alcántara Herrán, ministro da guerra e marinha do novo governo, levou-o para sua casa na rua La Enseñanza, menos para dar-lhe hospedagem do que para o proteger das ameaças de morte cada vez mais terríveis.


"(...).


"O novo presidente não se encontrava, pois o congresso o elegera em ausência, e precisaria mais de um mês para chegar de Popayán. Em seu nome e lugar estava o general Domingo Caycedo, vice-presidente eleito, do qual se dissera que qualquer cargo da república lhe ficava pequeno, porque tinha o porte e a prestância de um rei. O general o cumprimento com grande deferência (...)".


"(...)


"A comitiva oficial estava formada pelo arcebispo da cidade e outros homens notáveis e funcionários de alta categoria com suas mulheres. Os civis vestiam calções de montaria e os militares calçavam botas, pois iriam acompanhar por várias léguas o proscrito ilustre. O general beijou o anel do arcebispo e as mãos das senhoras, e apertou sem efusão as dos cavalheiros, (...). Cumprimentou a todos na ordem em que os foi encontrando no percurso da sala, e para cada um teve uma frase aprendida com toda aplicação nos manuais de etiqueta, mas não olhou ninguém nos olhos. Sua voz era metálica e com laivos de febre, e seu sotaque caribe, que tantos anos de viagens e mudança de guerras não tinham conseguido amansar, fazia-se sentir mais cru ainda, diante da dicção viciosa dos andinos.


"(...)


"(...) Delegados do governo, da diplomacia e das forças militares, com barro até os tornozelos e as capas ensopadas pela chuva, o esperavam para acompanhá-lo na primeira jornada. Ninguém sabia ao certo, porém, quem o acompanhava por amizade, quem para protegê-lo e quem para ter confirmação de que ia embora mesmo.


"A besta que lhe estava reservada era a melhor de uma tropa de cem que um comerciante espanhol tinha dado ao governo em troca da destruição de sua ficha de ladrão de gado. O general estava com a bota no estribo, que o cavalariço segurava, quando o ministro da guerra e marinha chamou: 'Excelência.' Permaneceu imóvel, pé no estribo, agarrando a sala com as duas mãos.


"- Fique - disse o ministro - Faça um último sacrifício para salvar a pátria.


"- Não, Herrán - respondeu. - Já não tenho pátria pela qual me sacrificar.


"Era o fim. O general Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios ia embora para sempre. Tinha arrebatado ao domínio espanhol um império cinco vezes mais vasto que as Europas, tinha comandado vinte anos de guerras para mantê-lo livre e unido, e o tinha governado com pulso firme até a semana anterior, mas na hora da partida não levava sequer o consolo de acreditarem nele. O único que teve bastante lucidez para saber que na realidade ia embora, e para onde ia, foi o diplomata inglês, que escreveu num relatório oficial a seu governo: 'O tempo que lhe resta mal dá para chegar ao túmulo.'" (págs. 37/44) - "O General em seu Labirinto", de Gabriel García Márquez, tradução Moacir Werneck de Castro; Editora Record, Rio de Janeiro, 1989.


A casa, uma das poucas com duplo pátio central, se encontra no centro histórico de Bogotá, nas proximidades da Plaza de Bolívar, e sua estrutura básica remonta ao período colonial, mas foi muito modificada no século XIX, ao estilo "republicano" (inspirado no neoclassicismo), quando então lhe foram acrescentados os gabinetes da fachada e as ornamentações em madeira e gesso do interior.


No tempo em que a visitamos, havia na sua fachada uma placa com os seguintes dizeres: "Esta casa foi a última que acolheu em Bogotá ao Libertador. Daqui saiu no dia 8 de maio de 1830 para não voltar jamais" (tradução livre do espanhol).


Hoje o imóvel, com sua fachada toda em branco, faz parte do complexo novo Centro Nacional de las Artes - Teatro Colón, e é usado pela Orquestra Sinfónica Nacional de Colombia.




ree

Casa Liévano, que pertenceu ao general Pedro Herrán e última casa em que Bolívar ficou em Bogotá, de onde saiu em 08 de maio de1830. Calle 11 n. 5-51, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

Casa Liévano, vista a partir do pátio superior do Centro Cultural Gabriel García Márquez. Calle 11 n. 5-51, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.




ree

Casa Liévano, em cuja fachada destacam-se os três balcões centrais e os dois gabinetes laterais. Calle 11 n. 5-51, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


Em frente à Casa Liévano, encontra-se o Centro Cultural Gabriel García Márquez, sede matriz do Fondo de Cultura Económica de México en Colombia (fce), erguido no bairro La Candelaria, no local onde funcionava anteriormente o Convento-colégio La Enseñanza" (n. 6 do croqui), primeiro estabelecimento educativo para mulheres em Nuevo Reino de Granada.


O centro foi uma iniciativa da Casa Matriz en México e foi batizado de Gabriel García Márquez em homenagem ao famoso escritor colombiano, em razão de sua grande ligação com o México.


O conjunto foi projetado pelo arquiteto colombiano Rogelio Salmano e inaugurado em 30 de janeiro de 2008, com a participação da Secretaria de Educação Pública do México, da Embaixada do México na Colômbia, do Ministério da Cultura, da Prefeitura Maior de Bogotá (Alcaldía Mayor de Bogotá) e do arquiteto mexicano Teodoro González de León.

Gabriel García Márquez, o homenageado, conhecido como Gabo, nasceu em Aracataca, no departamento de Magdalena; trabalhou como jornalista em Cartagena de Indias e Barranquilla e foi correspondente internacional na Europa, e, a partir de 1961, exerceu a mesma função em Nova Iorque, Estados Unidos da América; depois, passou a residir no México; iniciou sua carreira como escritor em 1955, tendo publicado obras de grande aceitação pelo público e pela crítica, como "Cem Anos de Solidão" (cujas estórias se passam na cidade fictícia de Macondo), um dos maiores exemplos do estilo literário conhecido como "realismo fantástico", "Crônica de uma Morte Anunciada", "O Amor nos Tempos do Cólera" e o "General em seu Labirinto", este último reportando, de forma dramática, a última viagem do generalíssimo Bolívar, saindo de Bogotá em maio de 1830 com destino a Venezuela, mas morrendo, em dezembro do mesmo ano, no caminho, em Santa Marta, ainda território da Colômbia; em 1982, Márquez foi laureado com o Nobel de Literatura.


O centro cultural que leva seu nome abriga expressões da arte e da cultura, particularmente literatura, cinema, música, dança e teatro, tendo vários espaços disponíveis para isso: Sala de Exposições Débora Arrango; Auditório Rogelio Salmona; Auditório Porfirio Barba Jacob; Salas María Mercedes Carranza e León de Greiff; e a Plazoleta México, utilizada para apresentações, exposições e encontros ao ar livre. No centro há também uma livraria pertencente ao fce, a Librería México.




ree

Centro Cultural Gabriel Garcia Márquez. Calle 11 No. 5 - 60, Bogotá, Distrito Capital, Colômbia.


No próximo post, seguimos em Bogotá, visitando a belíssima Plaza de Bolívar, antiga Plaza Mayor.


Fontes:


Wikipedia;










Comentários


Obrigado por se subscrever!

SUBSCREVER

bottom of page