Berlim - Parte II - Alemanha - 2010
- Roberto Caldas
- 2 de mar. de 2022
- 18 min de leitura
Atualizado: 15 de abr. de 2022

Portão de Brandemburgo, erguido entre 1788 e 1791 e com decoração concluída em 1793, o maior símbolo da capital alemã. Pariser Platz, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Na sequência do post "Berlim - Parte I", eu e Eunice continuamos nosso passeio pela capital alemã, desta vez, no lado oriental da cidade, cuja maior parte, na época da Guerra Fria, era território da então República Democrática Alemã (1945-1990), democrática apenas no nome, posto que era satélite da União Soviética.
Na verdade, Berlim ficava toda no interior da Alemanha Comunista, sendo que seu lado ocidental, controlado pelos aliados ocidentais França, Reino Unido e Estados Unidos da América, era um enclave, que se ligava com a República Federal da Alemanha por meio de ponte aérea.
A maior parte das atrações históricas ficava exatamente no lado oriental de Berlim: Portão de Brandemburgo, avenida Unter den Linden, Catedral católica, Universidade Humboldt, Bebelplatz, Museu Histórico dos Povos Alemães, Ópera do Estado, Gendarmenmarkt, Ilha dos Museus, Rotes Rathaus, Alexanderplatz, Nikolaiviertel, dentre outras.
Berlim se originou, no século XIII, de dois povoamentos que se estabeleceram nas margens do rio Spree: à direita, Kölln (Colônia) e, à esquerda, Berlim, coincidindo com a área atual da Nikolaiviertel.

Reconstituição histórica dos povoamentos de Colônia Velha (Alt-Kölln) e Berlim Velha (Alt-Berlin), por volta de 1230. Von de:Karl Friedrich Klöden (1786-1856) - Richard George (Hrsg.) Hie gut Brandenburg alleweg!, Verlag von W. Pauli'sNachfahren, Berlin 1900, page 101, Gemeinfrei, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2071998.
Por volta de 1415, Frederico I de Brandemburgo, senhor de Hohenzollern, tornou-se príncipe-eleitor da Marca de Brandemburgo, mantendo essa função até 1440. Os príncipes da linhagem dos Hohenzollern reinaram sem interrupção até 1918, inicialmente como margraves de Brandemburgo, a partir de 1701, como reis na e da Prússia, e, com a unificação do país, em 1871, como imperadores da Alemanha.
Em 1451, Berlim passou a ser a sede dos margraves e do príncipe-eleitor de Brandemburgo, tendo que renunciar a seu status de vila livre da Liga Hanseática.
O rei Frederico I da Prússia, em 1710, tornou Berlim capital da Prússia e sua residência oficial.
Com a unificação da Alemanha como império (II Reich), a cidade foi escolhida como capital do país, continuando a sê-lo com a transformação da Alemanha em uma república, em 1918.
Após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, com a criação de dois países alemães, Berlim Oriental ficou como capital da República Democrática Alemã (comunista), Berlim Ocidental sob o poder da República Federal da Alemanha, que escolheu como capital Bonn.
Somente com a reunificação da Alemanha, pela articulação do chanceler (correspondente a primeiro-ministro) alemão Helmut Kohl, em 3 de outubro de 1990, Berlim voltou a ser capital do país unificado. Mas, na prática, aguardou-se por uma decisão tomada pelo Parlamento Alemão em 20 de junho de 1991, determinando a transferência das instituições de Bonn para Berlim, mas a do governo e da chancelaria ocorreu apenas em 1999.
Iniciou-se nosso novo passeio, neste post, pelo local onde ficava a sede da Geheime Staatspolize - Gestapo, a polícia secreta nazista, bem como celas das tropas da Schutzstaffel - SS (unidade paramilitar). O prédio ficou bastante danificado durante a Segunda Guerra Mundial, e, após o fim desta, suas ruínas foram demolidas. O lugar ficou desocupado até 1987, quando então foi instalada uma exposição fotográfica a céu aberto chamada Topografia do Terror. Em 2010, foi inaugurado um prédio moderno, para abrigar o centro de documentação e exposição museu Topographie des Terrors (Topografia do Terror), que abriga um local para exposições e um centro de pesquisa e documentação com objeto central os registros de perseguição política e de minorias e crimes perpetrados durante o regime nazista na Alemanha.

Sede da Gestapo, polícia política nazista, localizada na antiga Prinz-Albrecht-Strasse, hoje, Niederkirchnerstrasse. Par Bundesarchiv, Bild 183-R97512 / Auteur inconnu / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5368800

Topographie des Terrors (Topografia do Terror), onde se erguia a antiga sede da Gestapo, museu de exposição e centro de documentação dos horrores do regime nazista. Niederkirchnerstrasse, 8, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Em seguida, passeando pela Wilhelmstrasse, em frente ao Welt Balloon, nos deparamos com uma das lembranças mais interessantes para os turistas que visitam Berlim: vários carros Trabant (chamados pelos alemães de Trabi), veículos produzidos pela VEB Sachsenring Automobilwerke, sediada em Zwickau, na antiga Alemanha Oriental (comunista), entre 1957 a 1991.
A carroceria do Trabant era de plástico, reforçado com fibras de madeira e restos de tecido de algodão, como se fosse uma fibra de vidro. Apesar de leve, pesando um pouco mais de meia tonelada, o desempenho do motor era fraco, alcançando no máximo 100 km/h, e sua carroceria não suportava muita carga, chegando a partir-se caso fosse ultrapassada sua capacidade. Segundo especialistas, é um dos piores carros já fabricados.

Carros Trabant, fabricados na então Alemanha Oriental (comunista) entre 1957-1991; nas proximidades do Welt Balloon, Wilhelmstrasse, Berlim, cidade-estado, Alemanha.

Carros Trabant, os Trabi, nas proximidades do Welt Balloon, Wilhelmstrasse, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Continuando nosso passeio pela Wilhelmstrasse, nos deparamos com o logradouro conhecido como Wilhelmplatz e sua extensão Zietenplatz, locais onde estão as estátuas de bronze de quatro generais prussianos mortos na Guerra dos Sete Anos ou em consequência de ferimentos sofridos nela: Kurt Christoph von Schwerin , Conde von Schwerin; Friedrich Wilhelm Freiherr von Seydlitz-Kurzbach; James Francis Edward Keith; e Hans Karl von Winterfeldt.
A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) teve como motivo as disputas territoriais e econômicas em regiões localizadas hoje nos Estados Unidos da América, Índia e Canadá (Terra Nova e Nova Escócia), que colocavam em lados opostos a França e a Inglaterra. A guerra terminou por se espalhar por grande parte do mundo, sendo considerado o primeiro grande conflito em escala mundial, envolvendo quatro continentes: África, Ásia, América e Europa.
Na Europa, a guerra arrastou Prússia e Hanôver para o lado da Inglaterra, enquanto Áustria, Suécia, Saxônia, Rússia, e, em alguns momentos, Espanha, se aliaram à França.
Hans Karl von Winterfeldt, militar respeitado e admirado pelo rei da Prússia Frederico II, conhecido como o Grande, lutou nas três Guerras da Silésia, travadas principalmente contra a Áustria, tendo falecido na última, conhecida como Guerra dos Sete Anos, no posto de tenente-general, após ferimentos mortais sofridos na Batalha de Moys, em 1757.

Estátua do tenente-general prussiano Hans Carl von Winterfeldt, herói da Guerra dos Sete Anos (Vanselow 1707 - Görlitz 1757), Zietenplatz, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Na continuação de nossa caminhada, nos deparamos com um dos maiores símbolos de Berlim e também da Alemanha: o famosíssimo Portão de Brandemburgo, na Pariser Platz (Praça de Paris).
As portas existentes nas muralhas das cidades eram as saídas para os caminhos que levavam a determinados destinos; no caso, a porta de Brandemburgo indicava exatamente a saída para estrada que ligava Berlim a Brandenburg an der Havel (cidade de Brandemburgo).
Frederico Guilherme II, então rei da Prússia no final do século XVIII, resolveu reestruturar a cidade, com o fim de embelezá-la. Dentro desse projeto, havia a ideia de substituir as portas antigas por outras mais bonitas. A nova porta de Brandemburgo teve sua construção iniciada em 1788 com término parcial em 1791, com base no projeto de Carl Gotthard Langhans, em estilo neoclássico, inspirada na Athenian Propylaea (entrada da Acrópole de Atenas, Grécia), mas sua decoração escultural somente foi concluída em 1793 com a instalação da quadriga (um carro puxado por quatro cavalos), obra do escultor Johann Gottfried Schadow.
As colunas são estriadas e em estilo dórico, com suas bases alcançando 1,75 metros de diâmetro. A parte superior e as áreas de passagem estão recobertas com relevos que representam Hércules, Marte e a deusa Minerva.
Sobre o carro da quadriga, pode-se ver Victoria, a deusa romana da vitória. Originalmente ela foi batizada de Irene, a deusa da paz, em razão do portão levar esse nome, porém, após a vitória sobre Napoleão, os alemães transformaram a deusa da paz em deusa da vitória.
Fato curioso é que, após vencer a Batalha de Iena, em 1806, Napoleão levou a quadriga para Paris. Quando Napoleão foi derrotado em 1814, Paris foi ocupada pelo exército prussiano, comandado pelo general Ernst von Pfuel, que providenciou o retorno do conjunto escultórico a Berlim. Nessa ocasião, acrescentou-se uma coroa de folhas de carvalho sobre a cabeça da deusa, bem como ela foi equipada com uma águia prussiana e a Cruz de Ferro em sua lança.

Portão de Brandemburgo, erguido entre 1788 e 1791 e com decoração concluída em 1793, o maior símbolo da capital alemã. Pariser Platz, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Após a queda do Muro de Berlim, em 1989, França e Estados Unidos instalaram representações diplomáticas em prédios modernos, na Pariser Platz, bem próximos ao Portão de Brandemburgo.

Uma das sedes da Embaixada dos Estados Unidos em Berlim, projeto do arquiteto Moore Ruble Yudell de 1996, o prédio foi inaugurado em 04 de julho de 2008. Pariser Platz, 2, Berlim, cidade-estado, Alemanha.

Embaixada da França em Berlim, projeto dos arquitetos Christian e Elizabeth de Portzamparc (interiores) de 1997, o prédio foi ocupado em 2002, mas inaugurado oficialmente em 23 de janeiro de 2003. Pariser Platz, 5, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
No início da avenida mais importante e famosa de Berlim, Unter den Linden, encontra-se também o hotel mais famoso da cidade, o Adlon Kempinski Berlin.
No final do século XIX e no início do XX, tornou-se moda nos Estados Unidos da América e na Europa os afortunados promoverem recepções, bailes, jantares e outras festas nos grandes estabelecimentos hoteleiros.
Seguindo o exemplo das metrópoles europeias, como Paris, com o Hotel Ritz, Londres, com o da mesma rede, São Petersburgo, com o Hotel Astoria, Viena, com o Hotel Imperial, Roma, com Grande Hotel de Roma, Berlim ganhou o seu grande endereço: a inauguração do Hotel Adlon, em 23 de outubro de 1907, por iniciativa do empresário Lorenz Adlon, com o projeto dos arquitetos Carl Gause e Robert Leibniz. Participaram do ato o imperador Guilherme II, acompanhado da imperatriz Augusta Vitória e parte da corte alemã.
Nos primeiros anos, frequentavam o hotel Adlon reis e imperadores da Europa, o czar russo e o marajá de Patiala; também eram assíduos grandes industriais, políticos e artistas internacionais, como o cantor de ópera italiano Enrico Caruso, os empresários norte-americanos Thomas Edison e Henry Ford, e o presidente norte-americano Theodore Roosevelt, dentre outros.
Entre as décadas de 1920 e 1930, mais personalidades internacionais passaram pelo hotel, como as artistas norte-americanas Louise Brooks e Joséphine Baker, o inglês Charlie Chaplin, a sueco-americana Greta Garbo, a alemã Marlene Dietrich, o escritor alemão Thomas Mann e o cientista também alemão Albert Einstein.

O antigo Hotel Adlon, em 1926. Por Bundesarchiv, Bild 102-13848F / CC-BY-SA 3.0, CC BY-SA 3.0 de, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=5481219.
No final da Segunda Grande Guerra, o hotel sofreu um incêndio, tendo sido restaurado em 1964, pela administração da República Democrática Alemã (comunista), mas, em 1984, ele foi demolido.
Após a reunificação da Alemanha, em 1990, construiu-se um prédio muito semelhante ao original em 1997, que é o atual Hotel Adlon Kempinski Berlin.
Um dos fatos curiosos mais recentes ocorridos no hotel foi quando o cantor norte-americano Micheal Jackson apresentou, em novembro de 2002, seu filho recém-nascido suspenso na parte externa do balcão da suíte, segurando-o apenas com as mãos, o que causou muito polêmica.

Carruagens expostas na frente do novo Hotel Adlon Kempinski Berlin, inaugurado em 1997. Unter den Linden, 77, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Frederico II, conhecido como o Grande (1712-1786), foi o terceiro rei da Prússia, após os reinados de seu avó, Frederico I, o fundador do reino e idealizador do Palácio Charlottenburg, e de seu pai Frederico Guilherme I, conhecido como rei-soldado, pela sua vida frugal e sua obsessão em transformar a Prússia em uma potência militar.
A relação com o pai sempre foi conflitiva, já que, influenciado por sua mãe Sophie Dorothea von Braunschweig-Lüneburg, que lhe deu uma educação estilo francês, Frederico II tinha interesse por poesia, literatura e música, artes desprezadas pelo pai, que queria educá-lo com disciplina militar.
Para livrar-se do que considerava tirania paterna, o então príncipe Frederico, na companhia de seu amigo Hans Hermann von Katte, tentou fugir para Inglaterra, onde reinava seu tio Jorge I, mas seu plano foi frustrado, o que levou à condenação à morte de seu amigo Katte, por traição, execução que o príncipe assistiu pessoalmente, causando-lhe profundo horror.
Com a morte de seu pai, Frederico ascendeu ao trono da Prússia, em 1740, um país com território fragmentado, e, para corrigir isso, teve que travar guerras com quase todos os seus vizinhos Áustria, Saxônia e Polônia e também com a França, a Suécia e a Rússia.
Mas sua grande adversária foi a Áustria, com a qual manteve três conflitos, conhecidos como Guerras da Silésia, sendo que a última é denominada Guerra dos Sete Anos. Com a vitória final da Prússia, esta incorporou os territórios da Silésia e Glatz, cerca de 35.000 km². Por conta desses êxitos militares, frutos da reorganização do exército prussiano, das táticas e manobras inovadoras, o rei recebeu o epíteto "o Grande".
Assim, apesar de sua oposição, quando príncipe, à política militar paterna, paradoxalmente, Frederico II tornou-se um monarca com vida militar muito mais atuante do que a do pai, ao ponto de se transformar em uma das maiores referências militares de ninguém menos que Napoleão Bonaparte, que o considerava o maior gênio tático de todos os tempos, ombreando com Alexandre Magno e Júlio César. Tanto que, possivelmente, Frederico II e Napoleão são os dois líderes que mais influenciaram na ambiciosa e grandiosa obra sobre a arte militar do prussiano Clausewitz: "Da Guerra".
Apesar dessa herança guerreira, Frederico II não abandonou suas paixões pela literatura, poesia e música, sendo flautista e compositor barroco, tendo composto, por exemplo, "Sinfonia nº 1 em sol maior", até hoje executada.
Ademais, é considerado um dos déspotas esclarecidos do século XVIII, ao lado de Catarina II da Rússia, Maria Teresa e José II da Áustria, Carlos III da Espanha e José I de Portugal. O despotismo esclarecido denominava a política dos monarcas que, não obstante tenham exercido seu governo de forma absoluta, fizeram reformas político-econômicas fundadas nas ideias iluministas em voga na época.
Fez construir, na cidade de Potsdam, o palácio Sanssouci, em estilo rococó, no qual recebia um dos iluministas mais famosos, o filósofo Voltaire, bem como um dos maiores compositores do barroco, Johan Sebastian Bach.
Implantou um grande projeto de desenvolvimento da agricultura no país, que, hoje, seria considerado um desastre ecológico, mas na época, foi visto como um passo para o progresso nacional. Introduziu novos cultivos, especialmente os do nabo e da batata, por isso, é chamado de Der Kartoffelkönig, o "Rei da Batata". Isso, possivelmente, trouxe uma maior segurança alimentar ao povo prussiano, tanto que, no seu túmulo, em Sanssouci, sempre são colocadas batatas, em homenagem à sua iniciativa.
Na educação pública, Frederico II manteve e ampliou a política de seu pai, que, segundo especialistas, foi quem criou o primeiro sistema de educação obrigatória. O terceiro rei da Prússia, que era formalmente protestante, de orientação pietista (denominação luterana), incluiu no sistema aqueles que tinham uma fé diferente, influenciado pela política de tolerância ensinada pelos iluministas.
Por outro lado, Frederico é visto como misógino, ou mesmo misantropo. Casado com Élisabeth-Christine de Brunswick-Wolfenbüttel-Bevern, imposta pelo pai, conviveu muito pouco com ela. Após a construção do Palácio Sanssouci, em Potsdam, ele ficou residindo nele, enquanto a esposa permaneceu em Berlim. Viam-se raramente e não deixaram descendência, tanto que o sucessor no trono foi o sobrinho de Frederico II, denominado Frederico Guilherme II.
Dizem que preferia a companhia de seus galgos que a admiração de seu povo, tanto que, antes de falecer, pediu que fosse enterrado junto aos seus animais de estimação, no vinhedo do palácio Sanssouci. No entanto, seu sobrinho Frederico Guilherme II não atendeu ao pedido, fazendo que os seus restos mortais repousassem na companhia do pai dele, na igreja de Potsdam. Somente em 1991, cumpriu-se o desejo de Frederico II, e hoje ele está inumado no pátio do Palácio de Sanssouci, sob uma simples lousa de pedra, na companhia de seus cães.

Estátua equestre de Frederico II, o Grande, obra do escultor alemão Christian Daniel Rauch, instalada em 1851; ao fundo a Staatsbibliothek (Biblioteca Pública). Avenida Unter den Linden, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
A Bebelplatz é resultado do plano urbanístico idealizado por Frederico, o Grande, conhecido como Forum Fridericianum, que determinou que o arquiteto da corte prussiano Georg Wenzeslaus von Knobelsdorff construísse, ao longo da avenida Unter den Linden, um espaço imponente que compreendesse instalações artísticas e científicas. Inicialmente, no centro e no entorno do logradouro, foram erguidas uma ópera, uma das maiores da Europa, na época, com capacidade para 2.000 espectadores, uma catedral católica, em homenagem aos súditos católicos, demonstrando a tolerância religiosa do rei luterano, e uma biblioteca real.
Logo após sua instalação, o espaço era conhecido como Platz am Opernhaus ou Opernplatz (Praça da Ópera); em 1910, foi rebatizado para Kaiser-Franz-Josef-Platz, em homenagem ao imperador austro-húngaro Francisco José.

Opernplatz , atual Bebelplatz, década 1880, Von Photographische Gesellschaft (“photographic society”) - Collection of the Technical University of BerlinScanned from Janos Frecot & Helmut Geisert: Berlin in frühen Photographien 1857–1913. Schirmer/Mosel, Munich 1984. ISBN 3-88814-984-3., Gemeinfrei, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=3211494.
A praça ficou marcada na história mundial em razão do episódio conhecido como a "Queima de Livros". Lá, em 10 de maio de 1933, grupos de jovens nazistas e membros da Sturmabteilung - SA (milícia paramilitar nazista), instigados pelo ministro da propaganda do regime, Joseph Goebbels, queimaram cerca de 20.000 livros "não alemães", tomados das bibliotecas e livrarias, de diversos autores, como Karl Marx, Karl Kautsky, Bertolt Brecht, Sigmund Freud, Heinrich Mann, Carl von Ossietzky, Erich Maria Remarque, Kurt Tucholsky, Franz Werfel, Arnold Zweig et Stefan Zweig.

Fotografia que registrou a "Queima de Livros" realizada por membros e simpatizantes do regime nazista em 10/05/1933, na Bebelplatz. By Unknown author - United States Holocaust Memorial Museum, Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1253020.
Em 1947, o lugar passou a ser denominado Bebelplatz, em homenagem ao cofundador do Partido Social-Democrata da Alemanha, August Bebel.

Vista da Bebelplatz; da esquerda para direita, Staatsoper (Ópera do Estado), St-Hedwigs-Katedrale (Catedral Católica de Santa Edwiges), a antiga sede do Dresdner Bank, erguido entre 1887-89, atualmente Rocco Forte Hotel de Rome, e um pedacinho da antiga Biblioteca Real ou Antiga, conhecida como "Cômoda" (1775-1780), atualmente Faculdade de Direito da Universidade Humboldt. Avenida Unter den Linden, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Demonstrando tolerância em relação a seus súditos católicos, Frederico, o Grande, determinou a construção de uma catedral católica no seu Forum Fridericianum, atual Bebelplatz: Catedral Católica de Santa Edwiges (St-Hedwigs-Katedrale).
Inspirada no Panteão de Roma, a construção, em estilo Friderician Rococó, foi iniciada em 1747, mas suas obras duraram até 1887.
Muito danificada durante a Segunda Grande Guerra, foi restaurada entre 1952-1963, com seu interior seguindo o estilo modernismo pós-guerra.

Catedral Católica de Santa Edwiges (St. Hedwigs-Kathedrale), 1747-1887. Bebelplatz, Berlim, cidade-estado, Alemanha.

Interior da Catedral de Santa Edwiges. Bebelplatz, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Humboldt-Universität zu Berlin (Universidade Humboldt) tem sede no antigo Palácio de Henrique da Prússia, irmão de Frederico, o Grande.
O palácio, em estilo Friderician Rococó, foi erguido entre 1748-1753, com base no projeto de Johann Boumann, mas, após o falecimento do príncipe Henrique, em 1802, e de sua esposa Guilhermina, em 1808, o rei prussiano Frederico Guilherme III destinou o prédio para a Universidade de Berlim, fundada em 1809, por iniciativa do linguista Wilhelm von Humboldt. A instituição o ocupou efetivamente em 1810.
A partir de 1828, a universidade passou a chamar-se Friedrich-Wilhelms-Universität zu Berlin, em homenagem ao monarca.
Em 1949, o seu nome foi alterado para Universidade Humboldt, colocando-se sob a égide de Wilhem von Humboldt (seu idealizador) e seu irmão mais famoso Alexander von Humboldt, naturalista, geógrafo e explorador prussiano, cujas estátuas se encontram na entrada do prédio.
Como alunos ou professores, passaram pela Universidade Humboldt várias personalidades de renome internacional como os irmãos Grimm, Albert Einstein, Karl Marx, Friedrich Engels, Otto von Bismarck, Arthur Schopenhauer, Georg Wilhelm Friedrich Hegel, Walter Benjamin, Max Weber, Georg Simmel, Karl Liebknecht, Heinrich Heine, Max Planck, etc.

Universidade Humboldt (Humboldt-Universität zu Berlin). Unter den Linden, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Alexander von Humboldt, o grande naturalista e explorador alemão da primeira metade do século XIX, é mais conhecido no Brasil por ter dado o nome à corrente do Pacífico Sul, também chamada Corrente do Peru, da qual foi o descobridor. A referida corrente marítima nasce próximo à Antártica e passa nas costas do Chile e do Peru, e, em razão de sua temperatura baixa, atrai mais peixes, tornando, particularmente, as águas costeiras do Peru altamente piscosas.
Entre 1799 e 1804, Alexander von Humboldt, na companhia do botânico francês Aimé Bonpland, com autorização do rei Carlos IV da Espanha, partiu de la Coruña, na Galiza, e percorreu as então colônias espanholas correspondentes hoje aos países Venezuela, Cuba, Colômbia, Equador, Peru, México. Também foi aos Estados Unidos da América, onde encontrou o então presidente da República Thomas Jefferson.
De 1805 a 1806, na companhia do cientista Gay-Lussac, Alexander von Humboldt fez uma expedição científica à Itália, para estudar o magnetismo terrestre, tendo acompanhado uma erupção do vulcão Vesúvio, na região de Nápoles.
Em 1829, Alexander von Humboldt, a convite do governo russo, realizou uma expedição aos Monte Urais e à Sibéria; nos Montes Urais, ele predisse que havia diamantes na região, o que foi confirmado posteriormente; na Sibéria, realizou estudos magnéticos e meteorológicos. Nessa viagem científica, ele e sua equipe percorreram cerca de 19 mil quilômetros, sendo que em muitas regiões consideradas, na época, selvagens.
Dentre as muitas contribuições para a ciência deixadas pelo explorador prussiano estão: o profundo estudo da geografia botânica, comprovando que as espécimes vegetais variam conforme o clima; o campo magnético da Terra tem sua intensidade diminuída dos polos à linha do Equador; seus estudos sobre vulcões nos Andes originaram a sismologia, bem como a análise dos oceanos contribuiu para a descoberta das correntes marítimas.
Na nossa visão, a passagem de Alexander von Humboldt pelas Américas não trouxe somente contribuições no campo científico, mas reflexos nas áreas política e social, já que seu contato com personalidades políticas e estudiosos da ciência no continente trouxeram uma maior consciência da importância das riquezas geológicas da região e a falta de sentido de essas colônias continuarem vinculadas à matriz europeia, no caso, a Espanha.
É o que se pode concluir dessas passagens abaixo transcritas, particularmente os contatos do cientista com o autodidata Francisco José de Caldas, natural de Popayán, na época Nueva Granada, atual Colômbia, considerado um dos mártires da independência daquele país, e Simón Bolívar, um dos maiores heróis militares da América espanhola, o libertador dos atuais países Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia.
"Outro fator que contribui para a consolidação da formação de Caldas é seu encontro e diálogo científico com Frederico Alexandre Barão de Humboldt e Aime Bonpland.
"Estes viajantes e exploradores europeus chegam a Santafé [Bogotá] em 15 de julho de 1801, dispondo-se logo a seguir a rota em direção ao sul por Popayán, Quito, Guayaquil e Lima". (pág. 55)
"(....)
"O encontro se produz em Ibarra (Equador), em 31 de dezembro de 1801, e dura até 8 de junho de 1802, data em que os viajantes continuam em direção a Guayaquil e Lima. Durante os meses de fevereiro e março de 1802, Caldas convive com Humboldt e Bonpland, primeiro na Quinta de Selva Alegre, em Chillo, e logo em Antisana e, finalmemnte, em Quito.
"O proveitoso desta convivência científica de Caldas com Humboldt e Bonpland e seus efeitos, se pode resumir em quatro aspectos:
"1) De Humboldt
'Proporcionou-me grandes conhecimentos em astronomia; ensinou-me o uso do octante; forneceu-me um catálogo de mais de quinhentas e sessenta estrelas; a fórmula para o cálculo da declinação, tabelas de refração para diferentes alturas sobre o nível do mar; os métodos de La Borda para o cálculo das distâncias da Lua, enfim, ajudou-me com milhares de pormenores práticos para o aperfeiçoamento de minhas observações'" (tradução livre do espanhol - págs. 57-58) "Caldas: precursor del patriotismo científico", de Andrés Olivos Lombana, direção editorial: Alberto Ramírez Santos, Panamericana Editorial, Santafé de Bogotá, 1998.
"Estivera pensando no barão desde antes de recolherem o alemão, pois não podia imaginar como sobrevivera naquela natureza indômita. Conhecera-o em Paris, quando Humboldt voltava de sua viagem pelos países equinociais, e tanto como a inteligência e o saber surpreendeu-o o esplendor de sua beleza, como jamais tinha visto igual numa mulher. Mas o que o convenceu menos foi a certeza manifestada por Humboldt de que as colônias espanholas estavam maduras para a independência. Dissera-o assim, sem um tremor na voz, quando a ele isso não ocorria nem como um devaneio dominical.
"- Só o que falta é o homem - disse Humboldt.
"O general o contou a José Palacios muitos anos depois, em Cusco, vendo-se talvez a si mesmo por cima do mundo, quando a história acabava de demonstrar que o homem era ele. Não repetiu a ninguém, mas, cada vez que falava no barão. aproveitava a oportunidade para render homenagem à sua clarividência.
" - Humboldt me abriu os olhos." (págs. 101-102) "O General em seu Labirinto", de Gabriel García Márquez, tradução de Moacir Werneck de Castro, Editora Record, Rio de Janeiro-RJ, 1989.
"O hóspede desconhecido do salão era um barão alemão de uns trinta e cinco anos. Pelo que dizem seus retratos e seus livros, bem podia eclipsar a Bolívar naquela sala, porque tinha sua elegância e um certo brilho de predestinação, mas o superava em toda classe de conhecimentos e não era inferior na capacidade de expressar-se com convicção e de subjugar ao auditório. E algo mais desconcertante: aquele alemão, quatorze anos mais velho que ele, sabia mais da Venezuela e da América hispânica que todos os homens de seu tempo e, certamente, infinitamente mais que Bolívar.
"Era Alexandre de Humboldt, e acabara de regressar de uma viagem de cinco anos que o levara pela Venezuela e por Cuba, por Nueva Granada, a província de Quito e o vice-reinado do Peru; depois havia passado um ano inteiro no México, a Nueva España, e acabara de cruzar o território norte-americano e de conversar com os grande homens que haviam alcançado a independência dos Estados Unidos.
"(...)
"Mas mais definitivo para a história foi o encontro de Humboldt com Bolívar: a versão da América equinocial que pregavam seus lábios foi uma revelação para o jovem. Ele cria saber a que mundo pertencia, mas os olhos de Humboldt eram os olhos da Ilustração [Iluminismo] e do romantismo (...).
"O próprio Bolívar disse que Humboldt havia visto em três anos no novo continente mais do que haviam visto os espanhóis em três séculos. O sábio alemão combinava lucidez e paixão (...)
"Sonhava com a emancipação mas não acabara de concebê-la, e talvez o momento mais decisivo daquele encontro foi quando Humboldt, ouvindo-lhe exclamar que o Novo Mundo somente poderia cumprir seu destino se conseguisse se livrar do domínio espanhol, lhe assegurou ao jovem, que seguia pensativo após escutá-lo, que as colônias americanas estavam em condições de tornarem-se independentes. Depois, Humboldt, com o rosto resoluto e o olhar de quem havia visto tudo, acrescentou, sem imaginar que fogo estava acendendo com esse olhar: 'Seu país está maduro para a independência, mas eu francamente não vejo quem poderia encarregar-se de dirigir essa empresa'"
(...) a mensagem de Humboldt ficou cravada sem dúvida na sua carne como um espinho irremediável, e a partir daquele momento Bolívar somente sonhou com a liberdade de sua terra, e começou a pressentir que seria ele esse homem que Humboldt reclamava e que não acreditava ter encontrado (...)" (tradução livre do espanhol - págs. 23-28) "En busca de Bolívar", de William Ospina, Grupo Editorial Norma, Bogotá, 2010.

Estátua de Alexander von Humboldt; frente da Universidade Humboldt. Unter den Linden, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
Seguindo pela Unter den Linden, encontramos o edifício mais antigo da avenida, Zeughaus, em estilo barroco, o antigo Arsenal da Prússia, onde atualmente funciona o Museu Histórico Alemão (Deutsches Historisches Museum).
A construção do prédio do arsenal, com a colaboração dos arquitetos Johann Arnold Nering, Martin Grünberg e Andreas Schlüter, iniciou em 1685, por ordem do então príncipe-eleitor de Brandemburgo, Frederico III - que a partir de 1701, tornar-se-ia Frederico I, rei na Prússia -, e terminou em 1706, mas seu aspecto atual somente foi concluído em 1729, no reinado do filho dele, Frederico Guilherme I, o rei-soldado.

Zeughaus (Arsenal do Exército Prussiano), estilo barroco, quadro do pintor Wilhelm Brücke de 1828. Par Wilhelm Brücke — Scan of a postcard, Domaine public, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=6624053
A partir dos anos 2000, passou a funcionar no Zeughaus o Museu Histórico Alemão (Deutsches Historisches Museum), criado em 1987 pelo então chanceler alemão Helmut Kohl, que tem por finalidade ilustrar a história dos povos alemães desde o início da Idade Média até os dias de hoje, por meio de diversos objetos, como armas, armaduras, livros, documentos, pinturas, vestuários e mobiliários.

Interior do Zeughaus (Deutsches Historiches Museum - Museu Histórico Alemão). Unter den Linden, 2, Berlim, cidade-estado, Alemanha.

Pintura "A Abertura do Parlamento Alemão no Salão Branco do Palácio Imperial de Berlim presidida por Guilherme II em 25 de Junho de 1888", de autoria de Anton von Werner (1893); no centro do quadro, ao pé dos degraus, o chanceler Otto von Bismarck, e, à sua direita, com capacete prussiano e capa vermelha, no tablado, o imperador alemão Guilherme II. Zeughaus (Deutsches Historiches Museum - Museu Histórico Alemão). Unter den Linden, 2, Berlim, cidade-estado, Alemanha.
No post seguinte, mais passeios por Berlim, começando pela Catedral Luterana de Berlim e a Ilha dos Museus. Vamos em frente.
Fontes:
Wikipedia;
"Alemanha", Guia Visual, PubliFolha, São Paulo, SP, 7ª edição, 2012; 1ª reimpressão: 2013.
"Frommer's Alemanha Dia a Dia", por George McDonald e Donal Olson, Alta Books, Rio de Janeiro, RJ, 1ª edição, 2014.
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